Apresentamos a nossos leitores uma entrevista que nos foi concedida pelo Reverendíssimo Padre Jonas dos Santos Lisboa, da Administração Apostólica São João Maria Vianney, por ocasição da celebração da primeira missa tradicional a cargo da Administração Apostólica no Mosteiro de São Bento, em São Paulo; missa que ocorrerá todos os domingos, às 18:30.
Fratres in Unum: Reverendíssimo Pe. Jonas, obrigado pela gentileza em nos atender. Primeiramente, fale ao público paulistano sobre o senhor. O senhor é de onde, fez seus estudos em que seminário e foi ordenado quando?
Pe. Jonas: Sou natural de Ribeira, SP. Aos 12 anos, no ano de 1964, ingressei no seminário menor da diocese de Campos. Em Campos também fiz meu seminário maior. Fui ordenado sacerdote por S. Ex.a Rev.ma Dom Antônio de Castro Mayer na catedral diocesana de Campos aos 12 de setembro de 1976. Fui nomeado vigário paroquial na mesma cidade de Campos logo após a ordenação. Em 1980 fui nomeado pároco de S. Fidélis, e confirmado no cargo após a nossa regularização canônica através da Administração Apostólica, cargo que exerço até o presente momento.
Fratres in Unum: Os paulistanos conhecem bem Dom Antonio de Castro Mayer, já que ele foi professor do seminário de São Paulo e vigário geral da Arquidiocese antes de ser nomeado bispo de Campos. Quais ensinamentos de Dom Antonio são mais necessários aos católicos hoje?
Pe. Jonas: Dom Antônio, de notoriedade reconhecida, teólogo renomado, se destacou pela retidão de caráter, pelo amor à Santa Igreja, pela segurança doutrinária. Escreveu inúmeras cartas pastorais, cujas publicações ultrapassaram as fronteiras da diocese e até do país, dado o interesse que despertavam. Soube governar a diocese com sabedoria e prudência. Nós, sacerdotes por ele formados, aprendemos dele a submissão ao magistério da Igreja. Mesmo se atendo à liturgia tridentina, administrava a diocese respeitando a opção que vários sacerdotes fizeram pelo uso do Missal de 1969. Participou e assinou todos os documentos do Concílio Vaticano II, escrevendo importante carta pastoral sobre a aplicação dos documentos deste concílio, dando-lhe a verdadeira interpretação conforme a tradição da Igreja e não a dos modernistas. Denunciou abusos e como pastor atento, alertava contra os perigos modernistas que solapavam a fé e os bons costumes. Não podemos esquecer a lição que nos legou de uma devoção filial e profunda a Nossa Senhora.
Fratres in Unum: Conte-nos um pouco a história da Administração Apostólica.

Pe. Jonas: Com a saída de Dom Antônio da diocese, instalou-se infelizmente uma crise, em que um grupo de sacerdotes teve que deixar suas paróquias. Formou-se uma sociedade sacerdotal intitulada União Sacerdotal S. João Maria Vianney. Este sacerdotes davam atendimento a uma grande parcela do povo católico afeito à liturgia e à disciplina tradicionais. Lamentavelmente a situação era anômala. Por isso rezávamos para que esta situação tivesse uma solução que não fosse demorada. A resposta a estas orações veio em forma de convite que S. Santidade o Papa João Paulo II fez a Dom Licínio Rangel, superior da União Sacerdotal, para que fosse conversar com os dicastérios romanos competentes. Já bem adoentado, Dom Licínio nomeou o então sacerdote, hoje Dom Fernando Arêas Rifan, como seu representante, o qual, seguindo as instruções do seu superior conduziu as conversações com Roma de modo tão brilhante que a S. Sé não demorou em erigir a União Sacerdotal em Administração Apostólica, uma espécie de Diocese pessoal, conservando o nome de São João Maria Vianney, concedendo-nos generosamente a celebração da Missa no rito tridentino segundo o missal de 1962, bem como o uso do breviário, ritual dos sacramentos segundo a reforma realizada por João XXIII. A Santa Sé autorizou um seminário próprio para a Administração e um bispo coadjutor com direito à sucessão. Este bispo é Dom Fernando A. Rifan sagrado especialmente por um enviado do Papa, o Cardeal Castrillon. D. Rifan então sucedeu a Dom Licínio que veio a falecer logo em seguida. Hoje ele é o Administrador Apostólico, que com competência e muita sabedoria conduz os sacerdotes e fiéis que usufruem das riquezas da liturgia tradicional em consonância com a autoridade máxima da Igreja, o S. Padre o papa.
Fratres in Unum: Muito se fala nos meios “tradicionalistas” que a Administração Apostólica teria atenuado seu ardor na defesa da doutrina e da liturgia tradicional. Como o senhor responde a essas críticas?
Pe. Jonas: A Administração Apostólica se pauta pelo Magistério da Igreja e suas orientações. Pelos frutos se conhece a árvore. Através da Administração Apostólica, mais do que nunca no Brasil a liturgia tradicional está sendo conhecida e amada. Atualmente, além de todas as Igrejas e Paróquias da Administração Apostólica, damos, através dos nossos padres, assistência com a Missa tradicional a mais dez dioceses. E há mais quase uma dezena de outras dioceses que já têm a Missa tradicional por influência da Administração Apostólica, celebrada por padres que aqui vieram aprender a celebra-la. Dom Fernando Rifan, bem como seus padres, não estão preocupados com críticas infundadas. Estamos preocupados sim em estarmos unidos a Pedro, a quem Jesus concedeu o poder de governar, ensinar e santificar as almas, que goza de uma assistência especial do Divino Espírito Santo e a quem foi concedido o primado com o dom da infalibilidade. O importante é estar “cum Petro et sub Petro”. Alguns, e isso não é novidade na história da Igreja, se arvoram em árbitros da ortodoxia e lançam suspeitas sobre tudo o que vem da hierarquia instituída por Nosso Senhor. Dom Fernando escreveu uma instrução Pastoral sobre o “Magistério Vivo da Igreja” em que explica claramente a correta posição católica hoje dos fiéis ligados à liturgia tradicional e refuta magistralmente, através de documentos do Magistério vivo da Igreja, as acusações infundadas destes “teólogos” free-lancers. A Administração Apostólica pessoal S. João Maria Vianney não se preocupa com estas críticas, que aliás são contra o Magistério da Igreja, e vai acolher a todos com muita caridade. É oportuno lembrar o que disse Leão XIII, que a unidade de governo é tão importante quanto à unidade da fé. Bem como é oportuno lembrar as palavras de São Paulo, provavelmente também vítima de críticas, palavras que o nosso administrador apostólico certamente faz suas: ” Quanto a mim pouco me importa ser julgado por vós… O Senhor é quem me julga.”(1 Cor. 4,3 e 4).
Fratres in Unum: A missa no Mosteiro de São Bento em São Paulo é um marco importantíssimo para a aplicação do motu proprio Summorum Pontificum no Brasil. Como o senhor analisa este primeiro ano do documento e sua aplicação em nossas dioceses?
Pe. Jonas: O Papa João Paulo II já pedia que os bispos fossem generosos em conceder o indulto em suas dioceses a sacerdotes que preferissem a celebração no rito antigo. O Papa Bento XVI ampliou a concessão a todos os sacerdotes do mundo inteiro através deste documento citado na pergunta. Felizmente no mundo inteiro várias dioceses facilitaram a execução das ordens do Papa, contidas neste documento, erigindo inclusive paróquias pessoais em muitos lugares, seguindo aliás o exemplo do Santo Padre que reservou uma igreja em Roma, criando ali uma paróquia pessoal para a forma extraordinária do rito romano. O papa tem se referido inúmeras vezes ao Motu Proprio, reconhecendo os benefícios dele decorrentes. A última vez que o fez foi numa entrevista aos jornalistas em sua viagem a Lourdes, no mês passado. Infelizmente ainda há por parte de alguns, resistência na aplicação do Motu Proprio. Isto não impede que muitos sacerdotes aprendam a missa tradicional em vários pontos do país e do mundo. São vários os lugares em que nós sacerdotes da Administração Apostólica atendemos com a anuência dos bispos locais, inclusive em São Paulo, onde o Cardeal D. Cláudio Hummes, e agora seu sucessor, S. Em. o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, cederam horários na Igreja de S. Luzia, bem no centro da cidade para esta finalidade. Dom Odilo também pediu ao Abade do Mosteiro de S. Bento, também aqui em São Paulo, que ali houvesse também a Missa na forma extraordinária do Rito Romano. E Dom Abade agora pediu a Dom Rifan um sacerdote para a celebração da Santa Missa aos domingos, no horário das 19 horas.
Fratres in Unum: Por fim, Padre, o que o senhor espera desse novo passo no apostolado da Administração Apostólica fora de Campos?
Pe. Jonas: Agradeço em nome da Administração Apostólica S. João Maria Vianney ao Senhor Abade do Mosteiro de S. Bento da cidade de S. Paulo por esta deferência e confiança, e temos certeza que os bons resultados logo vão aparecer. São muitos os fiéis que vão poder assistir aos Santos Mistérios na forma extraordinária, com tranqüilidade de consciência, recorrendo a sacerdotes que estão em plena comunhão com a Igreja. O perigo do cisma existe infelizmente para os que recorrem àqueles que exercem o ministério sem as credenciais e as bênçãos da hierarquia da Igreja universal e particular. Esta Santa Missa é aberta a todos e todos serão bem acolhidos. Agradeço também a oportunidade que FRATRES IN UNUM me deu para apresentar a Administração Apostólica e a divulgação da Santa Missa aos seus leitores.
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