O caso Mindszenty (I): “Arranquem suas línguas”.

Link para o original.Segunda-feira, 14 de Fevereiro de 1949 – Hungria

Agitado e cheio de maus pressentimentos, o Arcebispo Joseph Mindszenty apressou-se até o Vaticano há apenas três anos. Estava uma semana atrasado; o exército Vermelho havia atrasado seu visto.

No dia seguinte, o Papa Pio XII colocou o chapéu vermelho de cardeal na cabeça do nascido camponês Joseph Mindszenty e outros 31 prelados. Enquanto o fazia, o Papa pronunciava uma antiga formula: “Recebei… este chapéu vermelho, sinal da inigualável dignidade do cardinalato, pela qual é declarada que vós deveis mostrar-vos corajoso até a morte em derramar vosso sangue pela exaltação da bem-aventurada fé…”

Depois, de acordo com um relato dado por padres Americanos, o Papa disse a Mindszenty: “Você pode ser o primeiro a ver esta cor vermelho-sangue tornar-se sangue vermelho”.

Historicamente, é curioso encontrar menção ao martírio mantido no ritual da criação de um cardeal. A lista de mártires da Igreja contém grande quantidade de bispos, mas apenas um cardeal 1. Quando o cargo evoluiu (provavelmente no século V), os cardeais ficavam a cargo de importantes igrejas na própria cidade e em torno de Roma. Enquanto existisse o mal no mundo, existiria perigo, mesmo no centro da Cristandade. Os cardeais eram relembrados que deles, assim como daqueles que iam para junto dos infiéis, se esperava fidelidade até a morte.

Santo Stefano Rotodon, Roma.
Santo Stefano Rotondo, Roma.

A igreja em Roma da qual o Cardeal Mindszenty tornou-se titular era a do protomártir (cerca de 50 A.D.) Santo Stefano [Estevão] Rotondo al Monte Célio, do século V 2. Nas paredes de Santo Stefano estão 34 afrescos mostrando cenas do martírio Cristão – Santa Margareth, seus seios despedaçados com ganchos; o Bispo Artemius, esmagado entre grossas placas de pedra; Bispo Simeon, cortado aos pedaços com facas. Mas nem todos os martírios envolvem morte. Um afresco em Santo Stefano conta a perseguição dos cristãos do século IV pelo Rei Unericus, no norte da África. Diz a descrição: “Aqueles que falaram e levantaram suas mãos contra o Rei tiveram suas línguas e mãos cortadas fora”.

Joseph Mindszenty viveu por três anos com a ameaça do martírio contra si. Sabia disso e falava disso, e dizia que estava pronto para aceitá-lo. Ele até se preparou para a forma de martírio que o alcançaria na semana passada, o martírio inventado pelo Rei Unericus – o martírio da língua que não poderia claramente professar aquilo a que ele dedicou sua vida.

Os comunistas, que têm seus próprios mártires, bem entendem o ditado “sangue dos mártires, semente da Igreja”. Eles procuraram remover Mindszenty, que permanecia em seu caminho, mas acima de tudo procuraram afastá-lo de sua coroa do martírio. Desse modo, Mindszenty apareceu no tribunal “confessando” e “se retratando”.

Como os comunistas armaram isso ninguém no Ocidente sabe (até hoje ninguém sabe o segredo das confissões na “Grande Limpeza” de 1937 na Rússia). De algum modo eles quebraram Joseph Mindszenty, homem de coragem incendiante. De algum modo eles fizeram-no dizer coisas que ele havia negado com radical veemência, e com pleno conhecimento das conseqüências, até sua prisão 40 dias antes.

Desde que o Rei Unericus cortou línguas, os homens não diminuíram em maldade, mas aprenderam artes sutis e torturas mais refinadas que faca e ganchos. Ninguém pode provar que Mindszenty estava drogado ou açoitado. Tudo que pode ser dito com certeza é que toda a vida de Mindszenty provou que ele era um homem bravo e teimoso, um homem que em toda encruzilhada em sua vida orgulhosamente tomou o mais perigoso, o mais íngreme caminho; ter feito tal homem “arrepender-se” foi uma espécie de milagre do mal.

A casa do pai. Joseph Mindszenty vem de uma região de combatentes – o baixo Dunantul, na barragem ocidental do Danúbio, a trincheira onde por 150 anos os Húngaros lutaram contra invasores Turcos do leste. Nasceu (1892) na cidade de Csehimindszenty, filho de Janos Pehm. Os comunistas fazem muito do fato de os Pehmns serem de origem Alemã, apesar de terem vivido na Hungria por três séculos. Janos Pehm era um camponês. Também era prefeito da cidade, um homem destemido, devoto, que perpetuamente se rebelava contra os patrões da região e insignificantes poderosos. Diz um padre húngaro: “O Primaz é um grande homem, é verdade. Mas seu pai – ele era realmente um grande homem”.

Com suas duas irmãs, Joseph trabalhava o dia todo nos 20 acres de terra de seu pai, vivendo no casebre de seu pai que foi construído de tijolos secos ao sol. Quando foi para o seminário numa cidade vizinha, muitos de seus companheiros de classe o olhavam com desprezo como um filho de camponês. Era um intenso, sério e brilhante estudante.

O Doente & O Preso. Aos 23 anos, Joseph Pehm foi ordenado e voltou para Csehimindszenty, onde sua mãe orgulhosamente o viu celebrando sua primeira Missa. Em 1917 foi ensinar na pequena cidade de Zalaegerszeg, tornando-se mais tarde seu pároco. A paróquia por ele assumida estava em pobre estado. Ele criava quatro vacas e distribuía leite às crianças desnutridas. Consumiu muito tempo visitando os doentes e presos. Logo ele mesmo se tornaria preso. Quando Bela Kun estabeleceu seu reino Comunista de terror por quatro meses em 1919, Padre Pehm o atacou em um panfleto. Os Comunistas o conduziram pelas ruas da cidade “em desonra”, e então o aprisinoram na corte judicial da cidade.

Padre Pehm era um padre austero. O povo de Zalaegerszeg, como a maioria dos Húngaros, amava festas que bem duravam até o dia seguinte. Ele, indignado, determinou que não houvesse mais casamentos aos Sábados; queria todo seu rebanho pronto para a Missa de Domingo. Certa vez chamou um jovem capelão e disse: “Na última noite o observei andando junto à margem do rio com uma viúva. Primeiro, não penso ser correto que um jovem capelão ande sozinho em uma rua deserta à noite; segundo, não penso ser correto para ele andar com uma jovem viúva; e terceiro, se você fez essas coisas, você deve pedir sua transferência. Por favor o faça”

Chegaram a chamá-lo de “Papa de Zalaegerszeg”. Quando o Ministro da Fazenda, Janos Bud, começou a reduzir os gastos para a religião e trabalhos sociais, ele observou que a região de Zala seria melhor se deixada sozinha: “Aquele padre é um camarada duro para se entrar em confusão”.

1500 peças de roupas íntimas. A oposição de Mindszenty aos Nazistas o fez uma figura nacional. Ele tomou novamente o caminho mais penoso. Pregou contra o “novo paganismo” Nazista. Quando eles ocuparam a Hungria, muitos Húngaros descendentes de Alemães retiraram seus nomes húngaros e começaram a usar seus antigos nomes alemães novamente. O severo Padre Joseph Pehm fez o contrário. Renunciou ao nome alemão e tomou o Húngaro, derivado de sua cidade natal – Mindszenty.

Dez dias depois da tomada Alemã, Joseph Mindzenty tornou-se bispo de Veszprem. Em seu gracioso palácio rococó, Dom Mindszenty escondeu muitos judeus que estavam sendo perseguidos pelos nazistas. Na última semana, uma testemunha falou – mas não nas salas de julgamentos Comunistas. Ela era a senhora Janos Peter, uma judia Húngara que escapou do campo de concentração de Auschwitz. Agora vive em Viena. “Fui aconselhada a fugir para Veszprem”, relatou. “Coloquei-me sob a proteção do Bispo Mindszenty. Ele recebeu-me calorosamente e me escondeu no porão de seu palácio. Ao menos 25 pessoas estavam lá. Mindszenty nos trazia comida. Ele vinha até nós várias vezes ao dia e nos confortava com palavras apostólicas”.

Os Nazistas Húngaros finalmente prenderam Mindszenty. Todo Húngaro conhece a história de como ele caminhava até a prisão todo paramentado, abençoando o povo enquanto ia. Quando os Nazistas tomaram seu palácio, encontraram depósitos de roupas que ele coletou para os pobres. Sobre este fato os Vermelhos agora baseiam uma acusação de que Mindszenty foi preso por acumular 1500 peças de roupas íntimas. Por cinco meses, os Nazistas mantiveram Mindszenty na prisão de Sopron-Kohida.

Quando os Russos vieram, abriram as portas das prisões a todos os prisioneiros políticos. Mindszenty tomou uma carona de volta a Veszprem. Logo o Vaticano lhe daria uma nova sé, Esztergom, que carrega consigo a primazia sobre todas as outras do país.

Em três anos, Mindszenty ascenderia rapidamente de pároco a Princípe-Primaz. A Igreja sabia que estava entrando numa luta inevitável na Hungria. Mindszenty era inexperiente, com pouco conhecimento do mundo ou da diplomacia. Tinha, entretanto, duas características que devem tê-lo recomendado ao Vaticano: 1) um passado anti-nazista tão claro que os comunistas não poderiam manchar, e 2) uma extraordinária firmeza de caráter.

Mas nessa combinação de firmeza e inexperiência está o causador da tragédia.

Logo após tornar-se Primaz de Hungria, um amigo perguntou à mãe de Mindszenty se ela estava feliz pela ascensão de seu filho. A velha senhora disse: “Estive feliz muitas vezes por meu filho, e mais feliz ainda quando ele se preparava para o sacerdócio. Mas lamentei quando eles o levaram para Esztergom”.

“Eu sou a Igreja”. De muitas maneiras, o Príncipe-Primaz vivia como um pároco. Em seu enorme e sombrio palácio em Esztergom, ele usava apenas uma mesa de jantar e um quarto (nunca aquecido) onde recebia visitantes. Na mesa onde os predecessores de Mindszenty saboreavam excelentes cargas de gansos e faisões e ricos vinhos Húngaros, apenas uma refeição quente por dia era posta diante do Primaz. Nas sextas, comia apenas pão e água como um sacrifício pela libertação da Hungria do Comunismo.

Como em seus dias de vila, mantinha uma vaca que sua mãe havia lhe enviado. “Agora o Príncipe-Primaz tem leite”, disse certa vez, “isso é mais que suficiente”. Já que ele não tinha mais um jardineiro, trabalhava nos jardins do palácio, onde frangos agora ciscavam entre as verduras já meticulosamente aparadas. Um dia uma delegação veio a ele pedir uma contribuição para caridade: “Não tenho dinheiro aqui”, disse Mindszenty. “Levem o tapete”. A delegação surpresa saiu carregando um tapete oriental.

Incansavelmente inspecionou as paróquias em sua diocese. Seus olhos atentos nada deixavam passar. Certa vez ele confirmara um grupo de garotos e garotas da igreja da vila. Durante as cerimônias, deu uma olhada no telhado da igreja e repentinamente murmurou ao padre local: “Duas telhas estão faltando”.

Era profundamente fiel à sua mãe e escreveu um livro sobre maternidade. A visitava todo verão e trabalhava na velha fazenda em Csehimindszenty. No inverno, ela vinha ficar com ele. Mesmo no palácio do Cardeal, ela sempre vestia o tradicional véu preto de camponesa sobre a cabeça.

Ainda, a seu rebanho, Joseph Cardeal Mindszenty parecia como um prelado frio e distante. Um companheiro padre recorda suas visitas, como na ocasião de uma festa para as crianças pobres; o Cardeal se movia lentamente entre as criancinhas intimidadas, sorrindo friamente e entregando aqui e ali um contido tapinha em suas pequenas cabeças. Ele nunca se esqueceu para quê seu chapéu vermelho lhe fora dado.

Era ávido pelo martírio – até mesmo invejoso. Um dia, enquanto cavalgava por Budapeste seguido por vários outros padres, o carro que conduzia seu cortejo foi apedrejado por Comunistas. Mindszenty imediatamente parou seu próprio carro e furiosamente aproximou-se do agrupamento Vermelho: “Eu sou a Igreja!”, gritou o Cardeal Mindszenty: “Se vocês querem algo da Igreja, me apedrejem!”

O confronto entre Mindszenty e os Comunistas que governavam seu país não era daqueles que pudessem ser resolvidos ao “dar a César [o que é de César]”. Esse novo César era devorador de tudo. Em Estados que não tentam abocanhar profundamente as vidas pessoais de seus cidadãos, Estado e Igreja podem seguir seus caminhos em paz separados; o Estado Comunista é o instrumento de uma igreja – a igreja secular do Comunismo internacional. Ela ensina um sistema ético diretamente oposto ao de Mindszenty. Ativamente procura afastar de Deus quantos homens ela possa. Usa a plena força de seu poder político, seu sistema educacional e sua economia socializada para fazer seus convertidos e destruir seus rivais religiosos. Numa luta na qual Mindszenty se encontra não há linha lógica entre Igreja e Estado. Tudo isso era claro desde o que ocorreu na Rússia.

Por volta do fim da II Guerra Mundial, outros nove países 3 (sem contar as zonas Russas da Alemanha e Áustria) caíram nas garras do exército Vermelho. Essas terras continham 80 milhões de pessoas, das quais 42 milhões pertenciam a igrejas ligadas a Roma. A maioria dos outros habitantes pertencia à Igreja Ortodoxa Grega. Os Comunistas sabiam o que fazer com eles; na Rússia eles esmagaram a Igreja Ortodoxa, depois se utilizaram dos remanescentes. As igrejas Protestantes, em geral, permaneceram afastadas da batalha. 4

Na Romênia, 1.500.000 Católicos Romanos do rito Grego foram forçados à ingressar na Igreja Ortodoxa. O mesmo fato sobreveio a 3.500.000 Católicos Rutenos, agora cidadãos da U.R.S.S. Em países predominantemente Católicos, os Comunistas seguiram um caminho diferente; o passo intermediário em seu plano era instituir igrejas Católicas “nacionais”, separadas de Roma.

Há poucos meses, o Chefe Comunista da Hungria, Matyas Rakosi, teve uma entrevista com Istvan Barankovics, líder do Partido Católico Democrático do Povo. Ele assegurou a Barankovics que os Comunistas não tinham intenção de destruir a religião na Hungria. Perguntou como Barankovies se sentiria a respeito de “libertar a igreja Católica Húngara de Roma”. Disse Barankovics: “Uma religião baseada em linhas nacionais é sem significado. Você, que atacou Tito, deve apreciar isso.”

O negócio de viver. Os Húngaros Católicos tinham três caminhos abertos: colaborar com os Comunistas, despistar por um tempo ou lutar.

Poucos tomaram o primeiro caminho. Entre eles Padre Istvan Balogh, um padre gordo com apetite Rabelaisiano por comida e boa vida. Padre Balogh tinha variado seus deveres clericais com trabalhos como um publicar anúncios em cinemas e editor de jornais. Organizou o comércio de ovos e galinhas em torno de Szeged e gostava de ajudar nas festas de verão – na capacidade de tesoureiro. Padre Balogh tornou-se um membro do governo dominado por Comunistas. Dizia ele: “Tenhamos uma reconciliação para que todos possam dormir em paz em suas camas. Para o Cardeal Mindszenty, aceitar o martírio é uma coisa. Mas e os 6.000.000 de Católicos Húngaros para os quais o negócio é continuar vivendo?”

O segundo grupo, que queria retardar as coisas, era liderado por Laszlo Banass, que sucedeu Mindszenty como bispo de Veszprem, e Gyula Czapik, arcebispo de Eger. Sua política era desenvolvida por dois Jesuítas, Padre Joseph Janasi, um dos maiores intelectuais da Hungria, e Padre Kerkai, organizador de movimentos da juventude. Argumentavam que não importava o quão duramente os Católicos Húngaros se opusessem aos Comunistas, eles não tinham imediata perspectiva de resistência bem-sucedida. O jeito era fazer algumas concessões e esperar para ver o que aconteceria. Uma considerável parte do clero Católico e talvez a maioria do Corpo de Bispos tomaram essa postura. Ela estava de acordo com a política adotada por Adam Cardeal Sapieha na Polônia e pelo Arcebispo Joseph Beran, na Checoslováquia.

A terceira visão – total resistência intelectual – foi adotada pelo Príncipe-Primaz Mindszenty. O maior grupo do clero Católico e leigos o seguiram. Os Comunistas agora dizem que Mindszenty acreditava que uma guerra entre Estados Unidos e Rússia estava próxima. Há motivos, inteiramente alheios às afirmações Comunistas, para se crer que Mindszenty realmente mantinha essa posição. Se isso determinou sua postura, não é claro. Um homem de natureza lutadora poderia ter adotado uma postura de batalha acreditando ou não que a ajuda estava próxima.

Por qualquer razão, Mindszenty golpeou. Pouco antes das eleições de 1945 ele circulou uma carta pastoral na qual afirmava: “… Foi a tirania que trouxe a Europa a essa terrível guerra… Foi a tirania que pisoteou os mais sagrados direitos humanos… Foi a tirania que negou mesmo em teoria que os indivíduos têm direito de desenvolver suas habilidades, seus talentos, seus gostos… Mas não devemos ter o tipo de ‘democracia’ que substitui uma brutalidade, uma facção faminta pelo poder, por outra [ndt: no caso, o Nazismo pelo Comunismo] … Pedimos, irmãos, que pesem estas palavras antes de lançar seus votos… Não fiquem amedrontados pelas ameaças dos filhos do mal. Quanto menos oposição encontrar, mais forte crescerá a tirania…”

Um alaúde sem cordas. Depois disso, grandes multidões enchiam igrejas e praças públicas quando ele falava; milhares seguiam-no quando liderava a procissão na festa de Santo Estevão, Rei da Hungria, carregando a mão mumificada do Santo da capela de Santo Estevão em Budapeste até a igreja da coroação.

Mindszenty não combateu a reforma agrária dos Comunistas, o que custou à igreja Húngara quase nove décimos de seus pertences. Ele fez-se presente quando os Comunistas começaram suas manobras para nacionalizar as escolas da Hungria e fazê-las ferramentas da propaganda Comunista. A igreja dirigia e mantinha com seus próprios fundos mais de 60% de todas as escolas Húngaras.

Após perder a maior parte de suas receitas como resultado da reforma agrária, a Igreja tinha problemas para manter as escolas abertas. O governo solicitamente ofereceu pagar os professores Católicos, o que os fariam servidores do Estado Comunista. Mindszenty veementemente recusou. Então, sob direta ordem de Moscou, os Comunistas decidiram nacionalizar as escolas absolutamente. Quando o Parlamento Húngaro formalmente aprovou a lei de nacionalização, Mindszenty ordenou que os sinos das Igrejas por toda a Hungria fossem tocados como um sinal de dor e alarme.

Os Comunistas tentaram silenciar Mindszenty ao oferecê-lo condução segura para fora da Hungria. Ele recusou: “O lobo não tem mais segurança no estrangeiro do que um Cristão honesto no Estado Comunista Húngaro hoje”, disse a um visitante na época. “Em quatro meses devo provavelmente estar esperando minha vez na cela da forca. Mas eu nunca mudarei minhas atitudes ou voltarei atrás em qualquer dessas coisas que disse contra o governo Comunista. Deus ordenou meu destino e coloco-me em suas mãos”.

Disse: “Estamos sentados sobre as águas da Babilônia. Eles querem que aprendamos canções tão estrangeiras a nós como os sons de um alaúde sem cordas”.

Esse tipo de conversa alarmava muitos Católicos na Hungria. Em Roma, Monsenhores agitavam suaves mãos em agonia pela “falta de tato” do Príncipe-Primaz. Não era muito o que ele dizia, mas o modo como ele dizia.

Entretanto, Roma notou que a política conciliatória do Cardeal Sapieha e do Arcebispo Beran não estava sendo bem-sucedida ao frear o avanço Comunista contra a Igreja. O Papa Pio XII apoiou Mindszenty contra os moderados Húngaros.

Da Justiça & Caridade. Em novembro passado, os Comunistas começaram a aproximar-se de Mindszenty. Sua residência era vigiada noite e dia. Os Vermelhos tomaram uma fábrica próxima e a transformaram num dormitório para os 80 agentes secretos apontados para guardar o palácio do cardeal. Mindszenty sabia o que estava vindo. Escreveu: “Não acuso meus acusadores… Estou rezando por um mundo de justiça e caridade e também por aqueles que, nas palavras de meu Mestre, não sabem o que fazem”.

Ele pediu a sua mãe que ficasse com ele. Clérigos que os visitavam afirmavam que a mãe Mindszenty e seu filho estavam calmos e felizes. Padres diziam que quando os oficiais do governo vinham ver o Cardeal, ele orgulhosamente erguia suas mãos cada vez mais alto enquanto eles se inclinavam para beijar seu anel.

Mindszenty escreveu sua última carta pastoral. Em seu envelope, ele escreveu a agora famosa nota a seu clero, advertindo que qualquer “confissão” que possa aparecer algum dia com sua assinatura seria apenas resultado da “fragilidade humana”. Em outras cartas, alertou que ele poderia ser drogado e assim levado a confessar algo que não cometeu.

No dia seguinte ao Natal, a polícia Comunista chegou a Joseph Cardeal Mindszenty. Sua mãe lhe disse calmamente: “Filho, não tenha medo da morte, se necessário”.

Em todas as igrejas Húngaras (exceto as da diocese do Arcebispo Czapik) padres leram a carta pastoral de Mindszenty. Era também sua resposta àqueles que, como Czapik, queria o compromisso com os filhos do mal. “Depois de tomar tantas coisas, o mundo ainda pode nos roubar isso ou aquilo, mas não pode retirar nossa fé em Jesus Cristo”, dizia Mindszenty.

Esse era o Mindszenty que os Comunistas prenderam. Ninguém o pressionou para a sua oposição perigosa. Ele não se enganou pensando que estava seguro. Ele tomou, por conta de seu caráter que não se rende, o íngreme caminho para o martírio.

Livre de pressão? Cinco semanas depois, um outro Joseph Mindszenty sentou-se no tribunal 5 . Estava vestido de preto, como um padre comum. Antes do julgamento começar, o juiz presidente leu uma carta do acusado ao Ministro da Justiça.

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Cardeal Mindszenty em seu julgamento.

“Quero amenizar a presente tensão”, Mindszenty teria escrito. “Eu voluntariamente admito que, em princípio, cometi os atos presentes na denúncia… Depois de 35 dias de constante meditação… eu considero que um acordo entre a Igreja e Estado seja necessário… Por isso, de bom grado declaro – livre de qualquer pressão, é claro – que desejo me retirar do exercício de minhas funções por um tempo…”

Na corte Mindszenty novamente e novamente declarou que lamentava o que fizera. Quando ele admitiu receber doações em dólar do estrangeiro e permitir seus subordinados vendê-los no mercado negro, disse: “Peço desculpas. Quero repor o dano feito ao Estado Húngaro”.

O juiz presidente perguntou: “Alguém o forçou a fazer esta confissão?” Mindszenty respondeu: “Não”. O juiz então mencionou a carta que Mindszenty escreveu antes de sua prisão, repudiando qualquer confissão que pudesse ser feita. Disse o Cardeal: “Quero afirmar que hoje vejo as coisas de outra maneira. Quero repetir – Eu lamento meu erro. Quero que a carta seja considerada nula e inválida.”

Os Comunistas publicaram o “Livro Amarelo”, contendo o que eles chamavam de confissão escrita de Mindszenty. Ele incluía passagens de ávidas auto-acusações quase infantis muito remanescentes do estilo dos tribunais de limpeza de Moscou, e sem nenhuma relação com o caráter de Joseph Mindszenty. Exemplos: “Eu organizei todas aquelas forças, em casa e fora, cujos interesses eram derrubar a república, suas instituições e realizações… Esperava a restauração da monarquia após a III Guerra Mundial… Eu mesmo queria coroar Otto [de Habsburg] porque isso me asseguraria todos aqueles privilégios que são garantidos a quem é o primeiro na nobreza…”

Se isso era tudo que os Comunistas tinha a oferecer, o mundo poderia estar certo que a consciência de Mindszenty foi atacada por drogas ou tortura. Mas os sucessores do Rei Unericus trabalharam mais habilmente do que isso. O Mindszenty que apareceu no tribunal não parecia ter sido drogado ou torturado. Confiáveis observadores Ocidentais que estavam presentes notaram (como as fotografias confirmaram) que ele parecia pálido e tenso. Entretanto, ele deu a impressao de um homem em posse de suas faculdades. Nenhuma droga conhecida à ciência Ocidental poderia dar conta destas repetidas “confissões”. Ninguém que conhecia qualquer coisa sobre Mindszenty poderia imaginar que a tortura poderia fazer este forte homem negar a si mesmo.

Os propagandistas Comunistas fizeram o máximo com a desistência do Cardeal. Transmissões dos procedimentos causaram grande impressão nos Húngaros, a maior parte dos quais grudados em seus rádios desde o começo do julgamento. Muitos, que antes acreditavam em sua inocência, agora mudaram de idéia quando ouviram a própria voz de Mindszenty.

“Rezei nesta manhã”. Uma vez, durante o julgamento, foi permitido a Mindszenty ver sua mãe. Com lágrimas dos olhos, ela lhe perguntou se eles haviam lhe tratado bem. “Não se preocupe, mãe”, disse ele, “tudo terminará bem”.

No último dia de seu testemunho, Mindszenty falou coerente e comoventemente, em voz lenta e firme:

“Tenho meio século sobre meus ombros, meio século de definitiva educação e princípios. Esta educação e estes princípios são postos na vida de um ser humano como os trilhos de uma linha de trem são ancorados na terra. Isso explica muitas coisas…”

“Permaneci por mais de 40 dias perante a polícia e o tribunal. Eles me perguntam e eu respondo. As perguntas e respostas não são apenas para aqueles que me questionam. Um homem também dá respostas à sua própria alma…”

“Se eu colidi com as leis do Estado, eu lamento. Estou certo que, enquanto permanecendo fiel aos princípios básicos, hoje faria certas coisas diferentemente na mesma situação. Nunca fui um inimigo do povo Húngaro. Não tenho disputas com os trabalhadores e com os camponeses aos quais eu e minha família pertencemos”.

“Rezei nesta manhã ao meu Senhor e pedi por paz. Não para amanhã, ou num futuro distante, mas para paz em nosso tempo”.

“Eu trouxe o amor de minha igreja a este tribunal, e peço este amor ao Estado Húngaro ao qual aqui mostro obediência. Também peço este amor a mim mesmo e possa o Senhor dar sabedoria à corte quando passarem a sentença…”

A corte retirou-se por dois dias. Então, pronunciou a sentença de Joseph Mindszenty: prisão perpétua.

Este julgamento seria lembrado e discutido por muitos anos. Uma lição estava presente e terrivelmente clara. Uma vez tendo os Comunistas estabelecido suas leis, nenhum homem, por mais forte que seja, pode estar certo de manter sua integridade. Mindszenty, olhando em direção ao martírio, citou São Paulo: “Para mim viver é Cristo e morrer é lucro”.

Eles não permitiram que Mindszenty morresse. Arrumaram um martírio mais amargo para ele.

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1] João Fischer, bispo de Rochester, foi nomeado cardeal em maio de 1535, após Henrique VIII o aprisionar. Henrique proibiu a entrega do chapéu vermelho na Inglaterra, declarando que, pelo contrário, ele enviaria a cabeça de Fisher a Roma para o chapéu.  Depois de pouco tempo, Fisher foi decapitado.

2] Não confundir com Santo Estevão, Rei da Hungria (975-1038.)

3] Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Checoslováquia, Romênia, Iugoslávia, Bulgária, Albânia.

4] Isso pouco ajudou aos protestantes onde suas escolas foram nacionalizadas na Hungria. O bispo Luterano Lajos Ordass, que tentou se opor aos Comunistas, está na prisão sob a falsa acusação de contrabando. Ferenc Nagy, um líder Presbiteriano que como Premier tentou colaborar com os Comunistas, foi forçado a deixar o país.

5] No tribunal com Mindszenty estavam outros seis homens também acusados de particular na “consipiração”. Todos eles “confessaram”, incluindo o secretário do Cardeal, Andras Zachar, e o Príncipe Paul Eszterhazy, que fora o homem mais rico da Hungria.

Summorum Pontificum no Brasil: Missa Gregoriana em Niterói (RJ).

Santa Missa em Niterói

Conforme noticiado no prestigioso sítio tradicionalista kreuz.net, atualmente, tornam-se conhecidos os bispos que levam a sério o Motu Proprio ‘Summorum Pontificum’ e reintroduzem a Missa de Sempre em suas próprias catedrais.

Desde o dia 2 de dezembro de 2007, a Missa de São Pio V vem sendo celebrada todos os domingos às 16:30h na Capela do Santíssimo Sacramento da Catedral de Niterói  com o apoio do arcebispo local, Dom Alano Maria Pena. Atendendo ao pedido de um grupo de fiéis afeiçoados à Forma Extraordinária do Rito Romano, Dom Alano havia concedido um indulto para a celebração da Missa de São Pio V em sua arquidiocese bem antes do surgimento do Motu Proprio ‘Summorum Pontificum’.

A princípio, por designação do próprio Dom Alano, a missa era habitualmente celebrada pelo Pe. Cármine Pascale (41), pároco da Igreja de São Judas Tadeu, localizada no sofisticado bairro de Icaraí. Um pouco mais tarde, ela ganhou novo impulso e vigor com a vinda do jovem Pe. Anderson Batista da Silva (28), um grande admirador da Missa de Sempre.

Pe. Anderson auxiliou outros jovens sacerdotes da arquidiocese de Niterói que desejavam aprender a celebrar o Rito Antigo. Ele afirmou que a mudança da Missa Tridentina para a Catedral de Niterói significava um passo muito importante em nível arquidiocesano, pois, além de dar mais destaque ao Rito de São Pio V, possibilitaria que mais pessoas tivessem a oportunidade de conhecê-la e amá-la.

De volta do Rio Grande do Sul, onde morou durante vários meses a fim de freqüentar um curso de formação, Pe. Anderson pede a oração dos fiéis a fim de que seus planos catequéticos para 2009 sejam abençoados por Deus e protegidos pela Virgem Maria. Esses planos incluem iniciativas para a promoção da Missa de Sempre na arquidiocese e aperfeiçoamento da vida católica dos fiéis. Durante sua ausência, a Missa Tridentina foi celebrada pelo padre Demétrio Gomes da Silva da arquidiocese de Niterói (29). Pe. Demétrio, ordenado há pouco mais de um ano, continuará celebrando a Missa na catedral quando Pe. Anderson não puder fazê-lo.

Rezemos para que todos os bispos do mundo sigam o exemplo de Dom Alano e sejam verdadeiramente obedientes ao Santo Padre. Enquanto isso, fiéis da cidade do Rio de Janeiro e de outros municípios adjacentes onde o Motu Proprio ainda não foi implementado afluem à catedral de Niterói aos domingos atraídos pela beleza e sacralidade da Missa de Sempre.

A China reafirma a independência da sua Igreja católica.

Cinqüenta anos após as primeiras ordenações episcopais ilícitas, o governo recordou os princípios que regem a Igreja na China.

Link para o original.“O Vaticano não deve se intrometer nos assuntos políticos internos da China, incluindo utilizar-se da religião para fazê-lo”. Sexta-feira , 19 de Dezembro, Du Qhuinglin, diretor da Frente unida, que supervisiona os organismos da sociedade chinesa não diretamente filiados ao Partido comunista, recordou a linha oficial do governo diante da Assembléia nacional popular.

Diante de 45 bispos “oficiais” e 200 membros da comunidade católica chinesa convocados por ocasião do 50º aniversário das primeiras ordenações episcopais ilícitas (não autorizadas por Roma), ele insistiu nas condições para restabelecer o diálogo entre a Igreja católica da China e a Igreja universal: a ruptura das relações diplomáticas com Taiwan e a não ingerência nos assuntos internos da China, em particular sobre a espinhosa questão da nomeação dos bispos, informa a agência Églises d’Asie.

Se esta posição não é nova, ela surge enquanto a Santa Sé apela, há vários meses, à unidade da Igreja.

Princípios inconciliáveis com a doutrina católica

Em Junho de 2007, em sua carta aos católicos chineses, Bento XVI recordava que “os princípios da independência e da autonomia, da autogestão e da administração democrática da Igreja” (acentuados pelos estatutos da Associação patriótica dos católicos chineses criada em 1957 para pôr em prática a política de independência da Igreja da China) são “inconciliáveis com a doutrina católica”.

Em Abril, o Cardeal Tarcisio Bertone escreveu por sua vez aos bispos legítimos – “clandestinos” ou “oficiais” reconhecidos pelo papa – convidando-lhes “a agir em conjunto” para obter o direito de reunir-se como colégio episcopal. Uma carta não publicada por Roma, mas abundantemente comentada e reproduzida em sites de Internet e blogs católicos na China, sublinha Églises d’Asie, se refere à reação de um dos destinatários, um bispo que deseja manter-se anônimo e que afirma “apreciar o apelo do Cardeal Bertone em ver os bispos pedir a liberdade de se reunir sem vigilância por parte das autoridades”, mas que acrescenta “que é pouco provável que este apelo se concretize”.

A agência de informações das Missões estrangeiras de Paris conclui: “Ele mesmo, na sua diocese, encontra grandes dificuldades para obter que os seus padres uma reunião; uma reunião no âmbito nacional dos bispos católicos lhe parece ainda mais difícil de obter.”

Sophie LEBRUN

Rapidinhas de Natal.

Dos dez assuntos que menos receberam destaque na imprensa católica em 2008 listados pelo insuspeito de tradicionalismo John Allen Jr., destacamos estes dois:

O’Brien e os Legionários de Cristo

Em Junho, o Arcebispo Edwin O’Brien, de Baltimore, pediu maior transparência aos Legionários de Cristo e seu braço leigo, Regnum Christi, e os barrou da direção espiritual um-a-um com qualquer pessoa menor de 18 anos. O fato de O’Brien, que não é um liberal na mente de ninguém, tomar essas atitudes sugerem que a controvérsia em torno dos Legionários não é meramente sobre as tensões esquerda/direita. A história lança questões maiores sobre como equilibrar o zelo e o espírito missionário dos “novos movimentos” com a necessidade de própria vigilância e responsabilidade.

Pressões por identidade em instituições de caridade Católicas

Esforços para expressar um forte senso da identidade Católica tradicional representam uma principal “mega-tendência” na igreja nestes dias, e em 2008 esses esforços chegaram nas instituições de caridade Católicas. Em Janeiro, o Cardeal Paul Josef Cordes, o oficial mais importante do Vaticano para atividades de caridade, endossou a ameaça do Arcebispo de Denver, Charles Chaput, de encerrar as atividades de caridade mantidas pela igreja se o estado as proibisse de agir com bases de afiliação religiosa. Mais tarde no ano, Catholic Relief Services (Serviços de Alívio Católicos) encarou criticas de que alguns de seus materiais de prevenção de HIV/Aids promoviam camisinhas, e a Catholic Campaing for Human Development (Campanha Católica para Desenvolvimento Humano) caiu debaixo de fogo por suas ligações com a controversa comunidade organizadora da rede ACORN. Coletivamente, tudo isso sugere que as agências de caridade sofrerão pressões crescentes para ficar claro que elas consistentemente “pensam com a igreja”. [ndt: Há coisa parecida no Brasil]

Palavras do Vigário Geral da Diocese de Blois, Mons. Philippe Verrier:

“Bento XVI é conhecido por ser ligado à liturgia da sua infância, na qual ela por muito tempo exerceu o seu ministério sacerdotal. Não é um papa retrógrado no domínio teológico, mas certamente no domínio litúrgico.” 

“Seu cálculo era que a  autorização para celebrar a missa conforme o rito antigo traria os lefebvristas ao seio da Igreja. Fora quatro ou cinco padres da comunidade do Bom Pastor, os outros permaneceram em suas posições. Os bispos franceses haviam previsto,  mas não foram compreendidos.  Ao final, temo que o “motu proprio” tenha reavivado, na comunidade católica,  divisões estéreis, em detrimento da pregação do Evangelho. É um resultado lamentável”.

Bonjour, Monseigneur. Sua análise é tão fútil que erra de maneira infatil até ao analisar os resultados do motu proprio: a comunidade do Bom Pastor foi erigida em setembro de 2006, quase um ano antes de Summorum Pontificum.

O Leão de Campos (III): Dom Antonio e a CNBB.

 

A

dissecação de Dom Antonio de Castro Mayer ao movimento “cursillo” [Ndt: Cursilho em espanhol, em referência ao movimento Cursilhos da Cristandade, sobre o qual Dom Antonio escreveu uma Carta Pastoral em 1972] parecia ser aos outros bispos ainda uma nova afronta. Eles, é claro, não respondiam, não debatiam, não argumentavam. Adicionavam isso à sua lista de reclamações contra o Bispo de Campos e esperavam seu momento de atacar.

Esse momento chegou com um ataque ao Syllabus de Erros do Papa Pio IX. Essa vasta lista de heresias modernistas e erros de pensamento por anos gerou uma animosidade demoníaca por parte dos reformadores da Igreja, pois esse Papa, junto do Papa São Pio X em sua encíclica Pascendi, catalogou e documentou todos os pensamentos corrompidos e intenções destrutivas daqueles mesmos reformadores. Eles ressentiam tal exposição concisa e reluzente. Um jovem padre brasileiro modernista atacou abertamente o Syllabus por escrito e Dom Antonio, o cavaleiro da ortodoxia, levantou-se em sua defesa. Publicou uma resposta na qual demolia os argumentos do padre, explicava seus erros e expunha suas falhas intelectuais. Dom Antonio revelou a completa fraqueza do pensamento do jovem clérigo, mas este jovem padre tinha amigos poderosos em altas posições. No encontro seguinte da CNBB, um bispo levantou-se na assembléia e começou a publicamente atacar Dom Antonio, algo que muitos desejaram fazer no passado, mas que ninguém antes teve, na realidade, coragem. Isso foi uma violação do companheirismo oco que comumente reinava em tais encontros de bispos, assim como um claro ataque à noção modernista de colegialidade. A declamação aumentou em força e o bispo chegou mesmo ao ponto de demandar desculpas públicas de Dom Antonio de Castro Mayer. Dom Antonio permaneceu calado. Os outros bispos sentiram o cheiro do primeiro sangue que fora derramado. O ranger de dentes e as mordidas agora começaram de fato. Aqui finalmente estava a oportunidade de cravar os dentes na pele deste estrepitoso colega. Dom Antonio nada disse; manteve sua compostura ante seus acusadores e esperou pelo fim do ataque. Quando acabou, levantou-se, e sem expressar uma palavra, deixou a assembléia.

Nem apareceu no encontro seguinte programado. Sua ausência agora pesava em seus irmãos bispos tão severamente quanto sua presença no passado. De maneira curiosa, eles precisavam dele lá, pois sem ele já não tinham mais um foco para sua raiva. Entenderam sua partida como uma reprovação, e estavam certos. Outro bispo, de tipo gentil, amigável, agüado, procurou aliviar a tensão e fez uma visita ao Bispo de Campos. Ele implorou a Dom Antonio, dizendo: “Você deve voltar”. Dom Antonio respondeu: “Por quê? Minha posição é a expressa doutrina da Igreja Católica. Devo defender a doutrina da Igreja diante de meus irmãos bispos?”.

(The Mouth of the Lion – Bishop Antonio de Castro Mayer and the last Catholic diocese, Dr. David Allen White – Angelus Press, 1993)

 

Uma espécie de festival de rock, no sentido eclesiástico, com o Papa como sua ‘estrela’.

Focalizando no Dia Mundial da Juventude, que “cada vez torna-se mais um objeto para análises que procuram entender essas espécies, por assim dizer, de ‘cultura jovem'”, o Papa relembrou que alguns analistas o consideram uma “espécie de festival de rock, no sentido eclesiástico, com o Papa como sua ‘estrela‘”. Todavia, é necessário se ter em mente que aqueles dias “não consistem apenas naquela semana que é vista pelo resto do mundo” e que “antecipadamente existe uma longa jornada exterior e interior conduzindo-os a eles. A Cruz, acompanhada pela imagem da Mãe do Senhor, faz uma peregrinação pelo mundo. … O encontro com a Cruz, que é tocada e carregada pelos jovens, torna-se um encontro interior com Aquele que morreu na Cruz por nós”. Este encontro “desperta a memória de Deus que desejou tornar-se humano e sofrer conosco nas profundezas da juventude. E nós vemos a mulher que Ele nos deu como Mãe. O Dias da Juventude oficiais são apenas culminação desta longa jornada”.

VIS a respeito do Discurso de Bento XVI à Cúria Romana para os Votos de Final de ano, 2008.

PS.: O ponto a ser ressaltado é que Bento XVI não defende o Dia Mundial da Juventude da acusação que lhe é imputada pelos analistas; apenas defende o evento justificando-o nos preparativos que lhe antecedem.

Carta Apostólica ‘Laetare Colonia Urbs’.

Caríssimos leitores,

Foi tornada pública hoje, 20 de dezembro, pelo Vatican Information Service, uma Carta Apostólica de Sua Santidade, o Papa Bento XVI, ao Cardeal Joachim Meisner, a respeito de Duns Scoto. Abaixo apresentamos nossa tradução da versão italiana, visando especialmente dar publicidade a este ato de Sua Santidade que poderia passar em silêncio em muitos meios tradicionalistas ; alguns apenas divulgam as palavras do Papa que são convenientes para defender suas próprias idéias.

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Bento XVI

Sumo Pontífice

Carta Apostólica Laetare Colonia Urbs

pontifice

ao Nosso Venerável Irmão

Joachim S.R.E. Meisner, Cardeal,

Arcebispo de Colônia,

e a quantos de todas as partes do mundo participam do

Congresso Científico Internacional

por ocasião do VII centenário da morte do

Beato João Duns Scotus

 

Regozijai, cidade de Colônia, que um dia recebestes entre seus muros João Duns Scoto, doutíssimo e piedosíssimo homem, que em 8 de Novembro de 1308 passou da vida presente à pátria celeste, e tu, com grande admiração e reverência, preserva seus restos mortais.

Nossos veneráveis predecessores, os servos de Deus Paulo VI e João Paulo II, o exaltaram com elevadas expressões; queremos também nós cercá-lo por merecidos elogios e invocar-lhe o patrocínio.

É justo e merecidamente que agora seja celebrado o sétimo centenário de seu piedoso trânsito. E enquanto, por esta feliz ocasião, em diferentes partes do mundo inteiro estão publicando artigos e obras em honra do Beato João Duns Scotus e conferências realizam-se, entre as quais está agora em preparação aquela solene de Colônia, que ocorrerá nos dias 5 e 9 do próximo mês de novembro, acreditamos ser o Nosso dever de serviço, nesta circunstância, dizer algumas palavras sobre um homem tão exímio, tanto benemérito no contribuir ao progresso da doutrina da Igreja como nas ciências humanas.

Ele, de fato, associando piedade com a investigação científica, de acordo com a invocação: “O primeiro Princípio do ser conceda-me acreditar, desfrutar e expressar o que é agradável à sua majestade e eleve a nossa mente à sua contemplação” 1, com o seu refinado talento tão profundamente penetrou os segredos da verdade natural e revelada e produziu uma doutrina tal a ponto de ser chamado de “Doctor Ordinis”, “Doctor Subtilis” e “Doctor Marianus”, se tornou professor e chefe da Escola Franciscana, luz e exemplo para todo o povo cristão.

Desejamos, portanto, chamar a atenção dos estudiosos e de todos, crentes e não-crentes, ao itinerário e ao método que Scoto seguiu para estabelecer uma harmonia entre fé e razão, no definir de tal maneira a natureza da teologia ao exaltar constantemente a ação, o influxo, a prática, o amor, em vez da pura especulação; ao fazer este trabalho, ele se fez guiar pelo Magistério da Igreja e por um saudável senso crítico em mérito do crescimento do conhecimento da verdade, e estava convencido de que a ciência tem valor na medida em que é aplicada na prática.

Firmado na fé católica, se esforçou para compreender, explicar e defender as verdades da fé à luz da razão humana. Portanto, não fez nada se não demonstrar a consonância de toda a verdade, natural e sobrenatural, que emana de uma única e mesma fonte.

Junto à Sagrada Escritura, divinamente inspirada, se coloca a autoridade da Igreja. Ele parece a seguir o dizer de S. Agostinho: “Não creria no Evangelho, se antes não cresse na Igreja” 2 . De fato, o nosso doutor não raro coloca especial ênfase na suprema autoridade do Sucessor de Pedro. Segundo ele, “embora o Papa não possa dispensar contra a lei natural e divina (pois o seu poder é inferior a ambas), todavia, sendo o Sucessor de Pedro, Príncipe dos Apóstolos, ele tem a mesma autoridade que Pedro tinha” 3 .

Por isso, a Igreja Católica, que tem como cabeça invisível o próprio Cristo, que deixou seus Vigários na pessoa do bem-aventurado Pedro e seus sucessores, guiada pelo Espírito da verdade, é guardiã autêntica do depósito revelado e de regra da fé. A Igreja é critério firme e estável da canonicidade da Sagrada Escritura. Ela, de fato, “estabeleceu quais são os livros a se considerar autênticos no cânon da bíblia” 4 .

Noutro lugar afirma que “as Escrituras foram expostas com o mesmo Espírito com o qual elas foram escritas, e por isso se deve crer que a Igreja Católica as apresentou com o mesmo Espírito com que a Fé nos foi transmitida, isto é, instruída pelo Espírito da verdade”5 .

Após ter provado com vários argumentos, a partir da razão teológica, o próprio fato de preservação da Bem-aventurada Virgem Maria do pecado original, ele estava absolutamente pronto a rejeitar sua persuasão, se esta não estivesse em sintonia com a autoridade da Igreja, dizendo: “Se não contrasta com a autoridade da Igreja ou com a autoridade das Escrituras, parece provável atribuir a Maria o que há de mais excelente”6 .

O primado da vontade põe em luz que Deus é acima de tudo caridade. Esta caridade, este amor, Duns Scoto tem presente quando pretende trazer a teologia a uma única expressão, que é a teologia prática. Segundo seu pensamento, sendo Deus “formalmente amor e formalmente caridade”7 , comunica com grandíssima generosidade aos fora de si os raios de sua bondade e de seu amor 8 . E na realidade, é por amor que Deus “escolheu-nos antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele na caridade, predestinando-nos a ser seus filhos adotivos por Jesus Cristo “(Ef 1, 3-4).

Fiel discípulo de São Francisco de Assis, o Beato João contemplou e pregou assiduamente a paixão e encarnação do Filho de Deus. Mas a caridade ou o amor de Cristo manifesta-se de um modo especial não apenas no Calvário, mas também no Santíssimo Sacramento da Eucaristia, sem o qual “desaparece toda piedade na Igreja, nem se poderia – não fosse através da veneração do mesmo sacramento – render a Deus o culto de latria” 9 . Este sacramento é também um sacramento de unidade e de amor; por meio dele somos levados a amar gratuitamente e a amar a Deus como bem comum e a ser co-amado pelos outros.

E como esse amor, essa caridade, foi o início de tudo, por isso, também no amor e na caridade estará a nossa beatitude: “O desejo ou a vontade amante é a vida eterna, beata e perfeita”10 .

Tendo Nós no início do nosso ministério iniciado pregando a caridade, que é o mesmo Deus, vemos com alegria que a doutrina singular deste Beato reserva um lugar particular a esta verdade, que maximamente consideramos digna de ser investigada e ensinada em nosso tempo. Portanto, alegremente indo ao encontro do pedido do Venerável Irmão Nosso S. E. R. Joachim Meisner, Cardeal Arcebispo de Colônia, enviamos esta Carta Apostólica com a qual desejamos honrar o Beato João Duns Scotus e invocar sobre Nós a sua celeste intercessão. Finalmente, para aqueles que de alguma forma participam nesta conferência internacional e a outras iniciativas sobre este filho ilustre de São Francisco, cordialmente damos Nossa Benção Apostólica.

Dado em Roma, desde São Pedro, no dia 28 de Outubro de 2008, quarto ano do Nosso Pontificado.

BENEDICTUS PP. XVI

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1 DUNS SCOTUS, Tractatus de primo Principio, c. 1 (ed. MULLER M., Friburgi Brisgoviae, 1941, 1).

 

2 Idem, Ordinatio I d.5 n.26 (ed. Vat. IV 24-25).

 

3 Idem, Rep. IV d.33 q.2 n. 19 (ed. VIVES XXIV 439 a.)

 

4 Idem, Ordinatio I d.5 n. 26 (ed. Vat. IV 25).

 

5 Ibid., IV d.11 q.3 n. 15 (ed. Vat. IX 181).

 

6 Ibid., III d.3 n. 34 (ed. VIVES XIX 167 b).

 

7 Ibid., I d.17 n. 173 (ed. Vat. V 221-222).

 

8 Cfr idem, Tractatus de primo Principio, c.4 (ed. MULLER M., 127).

 

9 Idem, Rep. IV d.8 q.1 n.3 (ed. VIVES XXIV 9-10).

 

10 Ibid., IV d.49 q.2 n. 21 (ed VIVES XXIV 630a).

 

Resenha: O Derradeiro Combate do Demônio.

Por Ronald Magri

O Derradeiro Combate do Demônio

O Derradeiro Combate do Demônio é obra compilada e editada em 2003 pelo Padre Paul Kramer e a equipe de redação da “Missionary Association”, de Buffalo, Estados Unidos, consolidando aprofundados estudos sobre a Mensagem de Fátima e especialmente sobre o Terceiro Segredo. A mesma entidade, sob o nome de Associação Missionária, tem sede em Coimbra, Portugal, e é responsável pela tradução portuguesa.

A história de Fátima é sobejamente conhecida no Brasil, e praticamente não há católico que não tenha ouvido falar do chamado “Terceiro Segredo”. Todavia, para maior precisão, relembremo-nos de que em 13 de maio de 1917 Nossa Senhora apareceu no local chamado Cova da Iria, em Fátima, Portugal, a três pastorinhos – Lúcia dos Santos, Francisco e Jacinta Marto, crianças entre sete e dez anos de idade – pedindo-lhes que voltassem àquele local no mesmo dia dos meses subseqüentes, e entrementes, rezassem o terço e fizessem penitência.

Nos meses seguintes, a Virgem Maria fez-lhes diversos pedidos, revelou-lhes acontecimentos futuros e confiou-lhes três segredos, a serem oportunamente divulgados. Finalmente, na última aparição, a 13 de outubro, diante de 70.000 pessoas, que a notícia das aparições atraíra de todo o país, a Mãe de Deus realizou um prodígio espetacular: o sol, durante vários minutos, pareceu girar no céu e descer à terra em ziguezague, no que se tornou conhecido como “o Milagre do Sol”. Ficava assim patenteada a autenticidade das revelações e a seriedade dos pedidos feitos por Nossa Senhora ao gênero humano e à Igreja, por intermédio de três crianças inocentes e sinceras.

A Santíssima Virgem mostrou aos pequenos videntes um vislumbre do Inferno, aonde vão as almas dos pobres pecadores, por não terem quem reze e se sacrifique por elas;  revelou que as iniqüidades humanas já enchiam todas as medidas, sendo iminente um castigo dos Céus; profetizou diversos flagelos, como a eclosão da Segunda Guerra Mundial e grandes males para a humanidade, dentre os quais guerras, perseguição à Igreja e mesmo a aniquilação de várias nações, por conta de erros que se propagariam a partir da Rússia, valendo lembrar que tais revelações ocorreram em plena Primeira Grande Guerra e meses antes da revolução bolchevique, com cuja eclosão nem Lenine sonhava àquela altura.

Para impedir tais males, Nossa Senhora pediu coisas bastante simples: a reza diária do terço, com uma nova oração pelas almas, a comunhão reparadora durante cinco primeiros sábados, e a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, a ser oficiada pelo Papa em conjunto com todos os bispos do mundo. Isto feito, a Rússia converter-se-ia e o mundo teria paz.

Dos três pastorzinhos, os dois mais novos, Francisco e Jacinta, morreram durante a epidemia de gripe espanhola de 1918, conforme a promessa da Virgem, de que logo os levaria ao Céu. Lúcia sobreviveu-lhes por mais de 80 anos, tornando-se freira carmelita e permanecendo na terra durante todo o século vinte, como garante das revelações e guardiã do “Terceiro Segredo”, a mensagem pessoal de Nossa Senhora ao Papa reinante em 1960, a quem incumbiria a sua divulgação.

Os elementos basilares da Mensagem de Fátima são os seguintes:

  • Muitas almas vão para o Inferno por causa dos pecados que cometem.
  • Para salvá-las, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria.
  • Para tanto deverá a Rússia ser consagrada ao Imaculado Coração de Maria, em cerimônia pública oficiada pelo Papa, em comunhão com todos os bispos do mundo. Isto feito salvar-se-ão muitas almas e haverá paz; caso contrário, a Rússia espalhará seus erros pelo mundo, haverá guerras, fomes, perseguições à Igreja e o martírio do bons, o Papa muito sofrerá, e várias nações serão aniquiladas.
  • Além disto, a devoção ao Imaculado Coração de Maria manifestar-se-á pela comunhão reparadora, mediante a qual Nossa Senhora promete assistência na hora da morte a todos aqueles que, com o fim de a desagravar, durante cinco primeiros sábados, confessarem, comungarem, recitarem o terço e lhe fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do rosário.
  • Ademais, formulou a Senhora um pedido urgente, que na recitação do terço, ao final de cada dezena, inclua-se a oração: “Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do Inferno. Levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem”.

O milagre do Sol.A Igreja, com a cautela e o vagar de sempre, terminou por reconhecer a autenticidade das aparições e a validade das advertências e pedidos de Maria, tanto que autorizou a devoção da comunhão reparadora e a nova oração pelas almas, que passou a integrar a recitação do terço. Em Portugal e no Brasil no dia 13 de outubro, data do “Milagre do Sol”, festeja-se Nossa Senhora do Rosário de Fátima, e naquele país, já em 1931, o episcopado consagrou a nação portuguesa ao Imaculado Coração de Maria.

Com tantas mostras de reconhecimento oficial e oficioso, é de espantar que o mais fundamental pedido da Virgem Maria – a consagração da Rússia – condição “sine qua non” para poupar a humanidade e a Igreja de indizíveis flagelos, não tenha até hoje sido atendido, bem como tenha sido, ao que tudo indica, parcialmente escamoteado ao público o conteúdo do “Terceiro Segredo”, cuja divulgação a Senhora de Fátima autorizara a partir de 1960.

Esta é a temática do livro “O Derradeiro Combate do Demônio“, que com minuciosa cronologia e abundante documentação desvenda tudo quanto se fez e deixou de fazer a propósito da mensagem de Fátima. A obra é um candente libelo contra certos membros da alta hierarquia eclesiástica, responsabilizando-os pelos males que assolam a Igreja e o mundo, por conta do não atendimento do singelo desejo de Nossa Senhora.

Os autores analisam em especial a incompleta divulgação do “Terceiro Segredo”, que se pretendeu reduzir a uma simples aviso quanto ao atentado sofrido pelo Papa João Paulo II em 13 de maio de 1981, e a ausência da consagração da Rússia, demonstrando por que as “consagrações do mundo” feitas até o momento não preenchem as condições determinadas pela Santíssima Virgem, e assim não podem afastar as catastróficas conseqüências dessa inexplicável omissão.

Dentre tais conseqüências, as mais patentes são a descristianização do mundo ocidental, e a crise sem precedentes que atinge a Igreja Católica, causas primeiras de todos os males previstos por Maria, e que não poderiam deixar de constituir a parte não divulgada do “Terceiro Segredo”. O livro deixa entrever que este referir-se-ia a uma apostasia de parte do clero, a começar pelo cimo.

Todavia, esse quadro sombrio é amenizado pela esperança de que a mobilização dos fiéis católicos e sua estrita devoção ao Coração de Maria levem a alta hierarquia da Igreja a atender aos pedidos de Nossa Senhora de Fátima, cumprindo assim a Sua profecia, de que “por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará”.

Em suma, trata-se de um livro denso e instigante, demasiado extenso e minucioso para caber numa simples resenha, e cuja leitura integral se recomenda, portanto,  a todos que se afligem com os padecimentos da Igreja de Cristo nestes tempos tenebrosos.