Prezados leitores, temos a alegria de publicar uma entrevista gentilmente concedida a nosso blog pelo Pe. Michael Rodriguez, Pároco da igreja de San Juan Bautista, da Diocese de El Paso, Texas (já conhecido por nossos leitores). Mesmo enfrentando algumas oposições internas e externas, Pe. Michael tem feito um trabalho excepcional e bastante corajoso na promoção do Rito Antigo entre seus paroquianos. Agradecemos especialmente à Sra. Rodriguez, mãe do Pe. Michael, que teve o trabalho de anotar as respostas que agora traduzimos para os nossos leitores. Pedimos a todos que rezem uma Ave-Maria pelas intenções do Pe. Michael, que deseja visitar o Brasil em breve. Que o trabalho desenvolvido na paróquia de San Juan Bautista sirva para encorajar nossos sacerdotes diocesanos a efetivamente implementar a Forma Extraordinária da Santa Missa em suas paróquias. Coragem, caros sacerdotes brasileiros que conhecem e amam o Rito Antigo!
Primeiramente, Padre, muito obrigado por nos atender. Quando o senhor percebeu que Deus o estava chamando para o sacerdócio? Como a sua família reagiu à sua decisão de entrar para o seminário?
À medida que eu crescia em El Paso, Texas, minha mãe sempre considerou a vocação para o sacerdócio como um chamado grandioso e santo. Entretanto, mesmo tendo sido criado em um ambiente familiar onde o sacerdócio era compreendido como a vocação mais elevada, eu nunca pensei muito seriamente nesse assunto. Isso só até o verão depois do meu primeiro ano do Ensino Médio, quando então percebi que Deus estava me chamando para o sacerdócio. Naquela época eu tinha dezesseis anos de idade. No verão de 1987 eu participei de um programa acadêmico na Universidade do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em Cambridge, Massachusetts, onde me preparava para um futuro na área de engenharia e ciências. Porém, Deus tinha outros planos! O chamado de Deus ao sacerdócio veio como uma grande surpresa, tanto para mim quanto para a minha família. Quando voltei para casa, para El Paso, expliquei à minha família que estava pronto para entrar para o seminário no ano seguinte (após concluir o ensino médio). Minha mãe ficou radiante de alegria. Meu pai ficou cético; ele pensou que eu estava traumatizado e reagindo excessivamente a eventos que ocorreram durante o verão. Meu irmão mais velho, que ficou tão surpreso quanto todos os demais, pareceu ficar de alguma forma decepcionado. Todavia, penso que tenha sido uma grande benção de Deus que durante os anos em que continuei no seminário todos os membros da minha família (tenho dois irmãos e três irmãs) aumentaram o seu apoio à minha vocação sacerdotal. Um sinal do apoio da minha família à minha vocação chegou no dia da minha ordenação ao diaconato. Uma vez que estudei quatro anos em Roma, fui ordenado diácono na Basílica de São Pedro, em outubro de 1995. Meu pai e minha mãe, bem como minhas duas irmãs viajaram o percurso todo até Roma, Itália, especialmente para a ocasião.
O senhor poderia falar um pouquinho sobre a paróquia de San Juan Bautista? Quantas pessoas o senhor ajuda lá na paróquia?
San Juan Bautista está localizada no que se chama região central de El Paso. Ela é uma das paróquias menores e mais pobres da Diocese de El Paso, Texas. Há, aproximadamente, 600 paroquianos aqui na Igreja de San Juan Bautista. A população geral de San Juan é de alguma forma mais idosa, visto que as famílias mais jovens tendem a se mudar para as partes mais novas da cidade. Uma vez que a população tende a ser mais idosa e de origem mexicana, o idioma primário falado em nossa paróquia é o espanhol. Com a restauração da Missa Tradicional em Latim, a demografia de nossa paróquia tem mudado de alguma forma. Devido ao fato de que San Juan Bautista é a única paróquia em toda a diocese (uma diocese com mais de 600.000 católicos) onde a Missa Tradicional em Latim está sendo celebrada, um bom número de jovens e famílias que falam inglês passaram a fazer parte de nossa paróquia ao longo dos últimos três anos.
Como os paroquianos reagiram às mudanças trazidas pela implementação ou reintrodução da Missa Tradicional em Latim?

A reação deles foi mista. Um número muito pequeno se opôs de maneira veemente, e, provavelmente, todos estes deixaram a paróquia. Do outro lado do espectro, um pequeno número “chorou lágrimas de júbilo”, e essas pessoas nos apóiam de maneira extremada e estão gratas pela restauração de nossa Missa Católica Tradicional. A maioria dos paroquianos está em algum lugar entre essas duas reações. Há muitos paroquianos que continuam freqüentando o Novus Ordo Missæ (a Missa Nova); eles preferem o “conforto” daquilo que se lhes tornou familiar e preferem permanecer “onde estão”. Por outro lado, um outro grupo de paroquianos está se esforçando para compreender melhor e apreciar o Rito Antigo. Graças a Deus, eles estão experimentando um crescimento espiritual significativo e estão se regozijando diariamente com a beleza e riqueza de nossa Tradição Católica. Algo extraordinário sobre o que vejo aqui em minha paróquia é o seguinte: todos os fiéis que rejeitaram imediatamente a Missa Tradicional em Latim o fizeram por ignorância e/ou por falta de disposição para envidar um esforço espiritual genuíno. Tanto quanto eu saiba, não há um único paroquiano, nem um sequer, que tenha feito um esforço real (isso inclui perseverança!) para aprender mais sobre a Missa Tradicional em Latim e não tenha chegado a apreciá-la e amá-la. Creio que isso é uma indicação clara da verdade e poder universais da nossa Missa Católica Romana Tradicional.
Por favor, padre, o senhor poderia falar a respeito das aulas de liturgia que estão sendo oferecidas aos paroquianos? Quais são os tópicos que estão sendo tratados nessas aulas.
Mesmo antes que a Carta Apostólica Summorum Pontificum (emitida em forma de Motu Proprio) do Papa Bento XVI entrasse em vigor, em 14 de setembro de 2007, era óbvio que a prioridade devia ser instruir os fiéis, a fim de guiá-los e ajudá-los a apreciar e amar a Missa Antiga. Assim, em agosto de 2007, eu preguei um retiro paroquial (em inglês e espanhol), a fim de preparar e “apresentar” a Missa Tradicional em Latim aos paroquianos. Naquele mesmo mês, comecei também a dar aulas semanais (em inglês e espanhol) explicando a Missa Tradicional em Latim, aulas essas que continuam até os dias de hoje. Um dos maiores problemas na nossa Igreja hoje em dia é a ignorância abissal da Fé por parte da grande maioria dos católicos. A ignorância disseminada é a principal razão pela qual a maioria dos católicos hoje em dia não aprecia a Missa Tradicional em Latim. Os católicos romanos não conhecem a sua Fé; eles não estão familiarizados com as vidas dos santos, eles não conhecem os ensinamentos da Igreja; eles não sabem realmente quais são os Sacramentos… como então se pode esperar que conheçam e apreciem a Missa Tradicional em Latim? As aulas que atualmente estou dando na paróquia têm por objetivo auxiliar os fiéis a compreender, apreciar e participar do Rito Antigo, bem como ajudá-los recuperar muitos aspectos preciosos de nossa Fé Católica, que, tragicamente, foram perdidos ao longo das últimas décadas. A maior parte das aulas cobre tópicos como, por exemplo, o seguinte: a teologia da Missa em geral, como o sacerdócio e a Missa se relacionam, a história do Vaticano II e como efetivamente aconteceram determinadas mudanças na Fé, maneiras práticas sobre como participar da Missa Tradicional em Latim, um estudo detalhado das diversas orações da Missa Tradicional em Latim, uma comparação entre a Missa Antiga e a Missa Nova, uma comparação entre o Ano Litúrgico Antigo e o Ano Litúrgico Novo, como se beneficiar do uso de Missais diferentes para o Rito Antigo.
Padre, que conselho o senhor daria aos fiéis leigos que querem trabalhar pela restauração da liturgia Tradicional, especialmente, naquelas dioceses onde o Motu Propio está encontrando obstáculos pelos bispos locais? Em uma de suas palestras o senhor fala de lex orandi, lex credendi. O senhor poderia explicar mais o que isso significa?
Meu conselho aos fiéis que querem trabalhar pela restauração da Liturgia Tradicional seria triplo: (1) oração e jejum, (2) estudo, e (3) encorajamento de outras pessoas, praticando ao mesmo tempo as virtudes da paciência e confiança em Deus. Em primeiríssimo lugar, devemos rezar, jejuar e nos engajarmos em obras de caridade e penitência. A própria purificação espiritual e santificação de cada pessoa é essencial. Não há dúvida que a obra de restauração da Fé Católica é uma batalha espiritual monumental, assim, cada pessoa precisa se esforçar pela santidade pessoal. O nosso inimigo real é o próprio Satanás. O demônio sempre busca destruir o que é mais sagrado, como, por exemplo, o Santo Sacrifício da Missa, o Sacerdócio Católico e o Sacramento do Santo Matrimônio com a sua finalidade primária, a procriação. Precisamos rezar e jejuar também por nossos pastores, os bispos, para que estes possam ser verdadeiros pastores, prontos a sacrificar suas vidas se necessário para a restauração da Fé Católica. Além disso, precisamos rezar e jejuar especificamente pelo nosso Santo Padre, o Papa Bento XVI. Em segundo lugar, os fiéis leigos devem fazer tudo dentro de suas capacidades para crescer no conhecimento da Missa Tradicional em Latim. Quanto mais conhecermos e compreendermos a Missa Tradicional, mais iremos reverenciá-la e amá-la. Isso inclui envidar esforços para aprender as orações básicas em latim. Em terceiro lugar, os fiéis leigos precisam ser “missionários” e “espalhar a boa nova” sobre a Missa Tradicional em Latim. Precisamos encorajar os católicos à nossa volta a realmente aprender sobre o significado e finalidade da Missa. Isso não será algo fácil. Talvez demore muito, muito, para convencer alguns católicos da verdade e da beleza divina da Missa Tradicional em Latim. Porém, precisamos perseverar. Muitos católicos que estão promovendo a Missa Tradicional em Latim continuam sendo criticados, ridicularizados e atacados. Não podemos ficar desencorajados e “desistir.” O trabalho de “espalhar a boa nova” exigirá grande caridade, paciência e humildade. Precisamos perseverar. Precisamos continuar lembrando, encorajando e rezando pelos católicos a nossa volta que resistem à Missa Tradicional. Precisamos agir com caridade e invocar a ajuda e intercessão da Santa Mãe de Deus. À medida que mais e mais fiéis começam a se familiarizar com a Missa Tradicional em Latim e a solicitarem a seus bispos, as mudanças aumentarão gradualmente, no sentido de que mesmo um bispo anteriormente desfavorável começará a prestar atenção ao clamor de seu rebanho.
Lex orandi, lex credendi, significa basicamente que a maneira como oramos determina a maneira de crermos. Lex orandi, lex credendi, nos diz que a nossa Fé é inseparável de nossa forma de oração. Aquilo em que acreditamos (e como vivemos as nossas vidas diárias) depende de como oramos! Isso traz conseqüências enormes para todo o debate sobre a Missa Nova versus a Missa Tradicional. Se levarmos o princípio lex orandi, lex credendi a sério, não temos outra escolha senão trabalharmos pela restauração da Missa Tradicional em Latim. A Missa é a fonte e o ápice de toda a nossa oração, culto e adoração. Em virtude do princípio lex orandi, lex credendi, qualquer grande mudança na Missa afetará diretamente as nossas convicções como católicos. Lex orandi, lex credendi, nos leva à conclusão lógica de que para restaurar a Fé Católica (lex credendi), precisamos primeiramente restaurar a Missa (lex orandi), que é o ato central do sacrifício, oração e adoração. Um exemplo excelente de lex orandi, lex credendi, em ação nas mudanças sofridas pela Missa, é a maneira pela qual recebemos a Santa Comunhão. As mudanças feitas na recepção da Santa Comunhão durante a Missa (por exemplo, recebendo a Santa Comunhão na mão e recebendo Nosso Senhor das mãos de um leigo) têm afetado diretamente a fé dos católicos, que acreditam cada vez menos na Presença Real e Substancial de Cristo na Eucaristia.
Padre, como o senhor administra os conflitos entre diferentes grupos e apostolados na paróquia?
Esse é um dos problemas mais difíceis em minha paróquia. Aqui em San Juan Bautista, além dos conflitos “normais” entre os diferentes grupos, existe o problema particular da tentação de classificar os paroquianos em um ou dois campos: o grupo da “Missa em Latim” ou o grupo da “Missa Nova”. É interessante refletir sobre a seguinte possibilidade: talvez o próprio fato de que tantas mudanças tenham sido feitas à Missa e à prática de nossa fé nas últimas décadas, tenha, por sua vez, criado paróquias que estão mais propensas a esses tipos de conflitos internos. Em outras palavras, provavelmente, muitos dos grupos e apostolados hoje em dia pensam que a fé deve ser adaptada aos seus planos e agendas particulares, e existe menos conscientização (e convicção) do fato de que a fé católica é uniforme, una e universal — uma Missa, um idioma sagrado, uma autoridade, uma meta de salvar almas e chegar ao Céu, etc. Cada grupo e apostolado precisa ser formado por essa permanência e unidade católica — uma noção que não apenas está faltando, mas que é bastante estranha em nossas paróquias hoje em dia. Penso que as ponderações acima são verdadeiras. Portanto, a restauração da Missa Tradicional em Latim será um grande auxílio para gerenciar esses conflitos. Em um nível muito prático, ao encarar esses conflitos entre grupos, eu lembro aos paroquianos (tanto individual quanto coletivamente) da necessidade de praticar a caridade, humildade e auto-sacrifício. Eu os lembro que a nossa meta primária não é aqui embaixo (o mundo), mas sim lá em cima (o Céu).
Para ouvir o sermão do último domingo do pe. Rodriguez sob o título “Espírito Santo, Uno – Combater a Confusão”, em espanhol, clique aqui.
Que belas palavras do Padre!
Senti-me mais encorajado ainda em trabalhar para obter a Missa Gregoriana na minha Diocese.
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Que entrevista maravilhosa, palavras realistas e sensatas.
O conselho dele para nós leigos é excelente. Oração, jejum, estudo, humildade e paciência.
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Realmente, oração e jejum são essenciais… Sem eles, a causa não será ganha…
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É disso que precisamos, de padres diocesanos que encontramos no nosso dia a dia e que querem ser católicos de verdade, seguir o que a igreja realmente ensina.
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