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Consciente da grandeza e importância do momento da sagrada comunhão, a Igreja em sua bimilenária tradição procurou encontrar uma expressão ritual que pudesse testemunhar do modo mais perfeito sua fé, seu amor e seu respeito. Isto verificou-se quando, na esteira de um desenvolvimento orgânico, no Ocidente, a partir dos séc. VIII-IX, e no Oriente, já alguns séculos antes, a Igreja em todas as suas tradições litúrgicas começou a adotar o modo de distribuir as sagradas espécies eucarísticas diretamente na boca. Na tradição dos ritos latinos se ajuntou ainda o gesto de ajoelhar-se, uma expressão ritual própria do cristianismo ocidental. Este desenvolvimento se pode considerar como um fruto da espiritualidade e da devoção eucarística do tempo dos Padres da Igreja. Existem várias exortações ardentes dos Padres da Igreja sobre a máxima veneração, delicadeza e cuidado para com o Corpo eucarístico do Senhor, em particular a respeito dos fragmentos do pão consagrado. Quando se começou a notar que não existiam mais as condições que garantiam o cumprimento das exigências de máximo respeito e do caráter altamente sagrado do pão eucarístico, a Igreja, seja no Ocidente, seja no Oriente, com um admirável consenso e quase instintivamente percebeu a urgência de modificar o rito então vigente, isto é, passando da distribuição da comunhão na mão à distribuição na boca. A este desenvolvimento contribuiu igualmente um crescente aprofundamento da fé na presença real, que se expressou no Ocidente na praxe da adoração do SS. Sacramento solenemente exposto.
[…] Nos últimos decênios se difundiu em várias Igrejas locais do Rito latino (sobretudo no Ocidente) o uso de distribuir a comunhão na mão. A partir de uma análise serena e imparcial deste uso em muitíssimos lugares, se deve necessariamente constatar o que se segue: um dos momentos mais importantes e, portanto, mais sagrados e solenes da liturgia eucarística, como é a sagrada comunhão, torna-se sempre menos sacral e fonte de contínua profanação involuntária e até voluntária. Onde hoje mais se evidenciam as sombras na celebração eucarística e uma alteração do sentido do sagrado é precisamente o modo de distribuir a comunhão.
O modo da distribuição da comunhão na mão é realizado nos nossos dias infelizmente em condições históricas bastante desfavoráveis, quer dizer: notável diminuição da fé na presença real, do respeito e da sensibilidade pelo sagrado, mentalidade consumista, aproximação indiscriminada e incontrolável à sagrada comunhão, muitas vezes de todos os presentes na liturgia, também das pessoas não bem dispostas, não católicas e até não batizadas (um fenômeno que se verifica de maneira mais marcante nas celebrações de massa), e, enfim, um crescente fenômeno de profanações de hóstias consagradas por parte de grupos esotéricos e satânicos.
O próprio rito de distribuição na mão contribui, no hodierno contexto histórico, a uma progressiva e bastante difundida negligência com relação aos fragmentos, o que, juntamente com o não-uso da patena de comunhão, faz com que os fragmentos caiam por terra e se percam com grande facilidade. Assim acontece com freqüência, e sempre mais vem aumentando, que os fragmentos eucarísticos, as pérolas mais preciosas que existem sobre esta terra, são literalmente pisoteados nas igrejas católicas, sem os fiéis disso se aperceberem.
Como contrasta este fenômeno, minimizado ou silenciado por não poucos pastores da Igreja nos nossos dias, com a preocupação dos Padres da Igreja para que não se perdesse nem mesmo o mínimo fragmento do pão eucarístico!
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[…]
Num tempo em que se dava a comunhão somente na boca e era prescrito até o uso da patena de comunhão, o Papa Pio XI ordenou a publicação da seguinte premente exortação:
“Na administração do sacramento eucarístico se deve mostrar um particular zelo, a fim de que não se percam os fragmentos das hóstias consagradas, já que em cada uma delas está presente o Corpo inteiro de Cristo. Por isso, tome-se o máximo cuidado para que os fragmentos não se separem fácilmente da hóstia e não caiam por terra, onde – horribile dictu! – se poderiam misturar com a sujeira e ser pisoteados com os pés”.
O grande Papa João Paulo II, já há 25 anos, falando exatamente do uso da comunhão na mão, constatou deploráveis faltas de respeito para com as Espécies eucarísticas, faltas que pesam… também sobre os Pastores da Igreja, que terão sido pouco vigilantes quanto à compostura dos fiéis em relação à Eucaristia.
[…]
São numerosos os exemplos das Igrejas locais, onde já se pratica há algum tempo a comunhão na mão, comprovando o fato inegável que este modo de distribuir o Corpo do Senhor produziu, em larga escala, um dano à vida espiritual da Igreja. Nos seus gestos, o rito hodierno não corresponde à praxe da Idade patrística, mas evoca mais facilmente a mentalidade consumista e anti-sacral do fim da década de 60, exatamente quando foi introduzido em alguns países da Europa setentrional, em desobediência às normas da Igreja, e em seguida, obtida a legitimação com uma maciça pressão sobre o Papa Paulo VI.
Prevendo realisticamente os danos espirituais desse uso, o Papa Paulo VI e a maioria do episcopado católico (do qual a grandíssima maioria participou do Concílio Vaticano II) julgaram não introduzí-lo. Pensando que não se poderia fazer parar este uso já difundido, o Papa Paulo VI o concedeu contra sua vontade.
Os prognosticados danos espirituais de um novo generalizado rito da comunhão na mão, indicados pela maioria dos bispos no ano de1968 e da Santa Sé na Instrução Memoriale Domini do ano de 1969, foram os seguintes:
• grande perigo de profanações e sacrilégios,
• negligência para com os fragmentos do pão consagrado,
• o fato que cada um toma o Corpo do Senhor com as suas mãos e dedos contribuirá a igualar o pão eucarístico ao pão comum,
• perda do caráter sagrado do gesto,
• falta de respeito,
• falsas opiniões sobre o sacramento eucarístico,
• dano à fé das crianças e das pessoas simples.
O Papa Paulo VI e a maioria do episcopado do ano de 1968 expressaram o juízo de que a comunhão na boca assegura e garante mais eficazmente o respeito, o caráter sagrado, o decoro, a fé na presença real e a devoção dos fiéis. O documento Memoriale Domini de 29 de maio de 1969, expressando o pensamento do Papa Paulo VI, fazia esta observação acertada:
“Uma mudança em coisa de tamanha importância, baseada numa tradição antiquíssima e venerável, não se refere somente à disciplina; poder-se-ia demonstrar fundado o receio de eventuais perigos derivados desta nova maneira de distribuir a Comunhão: o perigo, por exemplo, de diminuir o reverência para com o SS. Sacramento do altar, ou o perigo de uma sua profanação ou também de uma alteração da sã doutrina.”
O mesmo documento diz que se deve excluir qualquer impressão de que a consciência da Igreja cedeu no que diz respeito à fé na presença eucarística, como também qualquer perigo ou simplesmente aparência de perigo de profanação.
E numa carta da Secretaria de Estado ao episcopado católico, do dia 28/10/1968, se dizia que o novo rito de comunhão representava uma coisa grave em si mesma e nas suas conseqüências.
Os temores do Papa Paulo VI e da maior parte do episcopado católico dos anos 1968-1969 foram mais que fundados e encontraram plena confirmação na praxe do modo hodierno de distribuir a comunhão na mão. Este rito, visto sobre larga escala, produziu e continua infelizmente a produzir um dano espiritual não insignificante para a Igreja. E assim se dá uma situação contraditória e espiritualmente dolorosa na vida eucarística de muitas Igrejas locais: no momento da sagrada comunhão, que exige por sua natureza o máximo respeito, decoro, caráter sagrado, delicadeza, máxima vigilância, se verifica uma preocupante banalização do Santo dos Santos.
As tentativas de harmonizar ou minimizar este estado das coisas equivaleriam a fechar os olhos sobre a realidade. Já há mais de 20 anos, o Cardeal J. Ratzinger fez a seguinte constatação preocupante a respeito do momento da comunhão em vários lugares: “Nós não nos elevamos mais à grandeza do evento da comunhão, mas arrastamos o dom do Senhor para baixo, ao ordinário da livre disposição, à cotidianidade”.
Conseqüentemente, existe uma verdadeira urgência pastoral que exige uma modificação na situação atual da distribuição da sagrada comunhão. Levando em conta a dinâmica inata das coisas novas e mais cômodas a impor-se em proporções gerais e da pressão psicológica da “moda”, a comunhão na mão está suprimindo de fato sempre mais a comunhão na boca. Para que um fiel continue, em tais circunstâncias, a receber a comunhão na boca e ajoelhado, é verdadeiramente necessária uma grande maturidade espiritual e uma coragem não comum. A liberdade de escolha é, de fato, reduzida ao mínimo, como comprovam tantos testemunhos de fiéis. Não se deve negligenciar a intenção do Papa Paulo VI, expressa tão nitidamente no documento Memoriale Domini: “O Sumo Pontífice não julgou oportuno mudar o modo tradicional de distribuir a sagrada Comunhão aos fiéis. Portanto, a Sé Apostólica exorta ardentemente aos bispos, sacerdotes e fiéis a observar com amorosa fidelidade a disciplina em vigor”. Diante da milenar tradição de distribuir a comunhão na boca – fruto feliz de um desenvolvimento orgânico da fé e da piedade eucarística do primeiro milênio – essa inovação não trouxe uma verdadeira utilidade para a Igreja.
Prezados, salve Maria!
Excelente livreto prefaciado de Mons. Ranjith.
Segue link para vídeo entrevista de Mons. Schneider.
http://www.gloria.tv/?media=27459
Edwin Lima
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Caríssimo Edwin, Salve Maria. Obrigado pela indicação. Acrescentamos sua indicação ao post original.
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Magníficas palavras de Schneider. Além de todos os argumentos contra a prática da Comunhão na mão, dificilmente, se observa a norma dos fiéis “cumungarem na frente do sacerdote/ministro”. Basta irmos às igrejas locais e constatarmos a pressa na distribuição da Eucarista e como as pessoas saem caminhando para seus bancos para então consumir a hóstia consagrada. Isso por si só já é um sinal significativo da facilidade com que o Santíssimo Sacramento pode ser profanado.
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Acho o artigo muitissimo bom, bem elucidativo sem se perder em pormenores, não fugindo à verdade, doutrinando seriamente sobre a sagrada Eucaristia.
Seria um documento extremamente útil a enviar aos padres, se é que ainda podemos pensar que eles o podiam tomar em consideração.
No entanto, o artigo é também dolorosamente demonstrativo da situação da Igreja.
Vê-se perfeitamente que o Papa Paulo VI e a grande maioria dos bispos (quase todos tinham participado do Concílio Vaticano II) não aceitavam que a Comunhão passasse a ser distribuida na mão, prevendo, realisticamente, os danos espirituais que a distribuição na mão iria provocar e, por isso, o Papa escreve na Memoriale Domini, de 29 de Maio de 1969, que “O Sumo Pontífice não julgou oportuno mudar o modo tradicional de distribuição da Comunhão aos fieis. Portanto, a Sé Apostólica exorta ardentemente aos bispos, aos sacerdotes e aos fieis para observar com amorosa fidelidade a disciplina em vigor”.
Mas essa prática tinha sido introduzida, já, de forma abusiva e em desobediência à normas da Igreja em alguns países da Europa setentrional e, então, o Papa, sujeito a uma maciça pressão e pensando que não poderia fazer parar este uso já difundido, acaba por aceitar.
Duas verdadeiras tragédia. Uma de menor importância, se bem que muito grave, de alguns sacerdotes terem introduzido uma prática não autorizada.
A outra imensa. De um Papa sabendo que há grave erro numa determinada prática, acabar por a autorizar, mesmo contra a sua vontade, porque estava sujeito a imensa pressão.
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Ah São Gregório Magno e um São Leão nessa hora! Por certo não teria feito isso nunca e ainda teriam dando um puxão de orelhas nos que o desejasse. Será que os papas atuais temem que Cristo não sustente a Igreja e que suas atitudes conforme a tradição e a doutrina de sempre por mais que contrariem uma parte ou mesmo a maioria jamais fará com que a mesma venha a sucumbir. rezemos para que Bento XVI tenha muito mais firmeza e decisão! Temem cismas? Cismas houve deste dos tempos apostólicos e nem por isso a Igreja acabou. Se saírem é porque já´não eram dos nossos…
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Se os Papas Paulo VI e João Paulo II criticavam a comunhão na mão porque não tiveram coragem de exercer o poder que tinham e proibiram esse abuso? Se o card Ratzinger era contra, por que agora como Papa, não faz nada contra também?
E de nada adianta bispos escreverem contra se não são tomadas medidas, pelo menos nas suas dioceses, para coibir esse fato.
Faltando coragem…
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Ricardo2,
Isso é mesmo um “mistério”. Não basta criticar. Deve-se lançar todos os esforços para erradicar o erro, o pecado, a heresia etc!
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Caro Ricardo2,
Quanto ao Papa Bento XVI, pessoalmente, creio que ele está fazendo alguma coisa ao introduzir a Comunhão na boca e de joelhos nas missas que celebra. Pode não estar fazendo tudo, mas certamente não podemos dizer que “não está fazendo nada”, uma vez que o EXEMPLO fala mais que mil palavras.
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Interessantíssimo o artigo, mas perdoem a ignorância, quem é este prelado?
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Fui aluno de Dom Athanasius, no Institum Sapientiae de Anápolis-GO. Li, também várias vezes este valioso opusculo. Felicito-o pela coragem e clareza ao expôr não sua teoria, mas a Verdade que nos foi Revelada por Nosso Senhor sobre o Sacramento da Eucaristia.Possa a Virge de Aparecida, devoção muito cara a este prelado, possa suscitar no Brasil, prelados doutos e corajosos como Dom Athanasius.
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Alguém saberia informar o e-mail ou endereço postal de Dom Athanasius? Obrigado.
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O opúsculo Dominus Est foi lançado no Brasil pela Editora Raboni.
No link a seguir há informações sobre o livro:
http://www.raboni.com.br/detalhes.asp?p=310&lang=port
Na edição brasileira de Dominus Est (da Editora Raboni), encontra-se o seguinte e-mail, que parece ser para contato com Dom Athanasius:
e-o-senhor@hotmail.com
P.S.: Prezado Dom Emmanuel Maria, se o senhor desejar mais informações sobre Dom Athanasius, ainda que poucas, pode contactar-me. Peça o meu endereço de e-mail ao Sr. Editor do bloque; ao qual, peço, por favor que informe reservadamente meu e-mail ao Dom Emmanuel Maria.
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