Oferecemos a tradução portuguesa (via tradução espanhola de La Buhardilla de Jerónimo) de uma valiosa entrevista de Monsenhor Domenico Bartolucci, de 92 anos, nomeado por Pio XII maestro “ad vitam” da Capela Sixtina, mas afastado do cargo em 1997 devido a uma intervenção de Mons. Piero Marini. Uma medida que foi vigorosamente rechaçada pelo então Cardeal Joseph Ratzinger. O título do post, de fato, faz referência às palavras do mesmo Ratzinger a Mons. Bartolucci meses antes de que este se retirasse do cargo.
A entrevista se trata de mais uma iniciativa do Abbé Stefano Carusi, do site Disputationes Theologicae, do Instituto do Bom Pastor. Em 2006, Mons. Bartolucci foi convidado a reger um concerto especial em honra ao Papa Bento XVI, concerto este que foi considerado como que um ato de desagravo tanto ao injustiçado Monsenhor como à verdadeira música sacra. Na mesma época, em entrevista concedida a Sandro Magister, Mons. Bartolucci declarou sobre Bento XVI: “Um Napoleão sem generais”.
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Maestro, a recente publicação do Motu Proprio “Summorum Pontificum” trouxe um sopro de ar fresco no desolador panorama litúrgico que nos rodeia; também o senhor pode agora, portanto, celebrar a “Missa de sempre”.
Mas, para dizer a verdade, eu sempre a celebrei ininterruptamente, desde a minha ordenação… Por outro lado, teria dificuldade em celebrar a Missa no rito moderno, uma vez que nunca o fiz.
Nunca abolida, então?
São as palavras do Santo Padre, ainda que alguns finjam não entendê-las e mesmo que muitos no passado tenham sustentado o contrário.
Maestro, será necessário conceder aos difamadores da Missa antiga que ela não é “participada”…
Não digamos disparates! Conheci a participação dos tempos antigos tanto em Roma, na Basílica, como no mundo, como aqui abaixo no Mugello, nesta paróquia deste belo povo, um templo povoado de gente cheia de fé e piedade. O domingo, nas vésperas, o sacerdote poderia se limitar a entoar o “Deus in adiutorium meum intende” e logo pôr-se a dormir sobre o assento… os camponeses continuariam sozinhos e os chefes de família teriam pensado em entoar as antífonas.
Uma polêmica velada, Maestro, a respeito do atual estilo litúrgico?
Não sei se – ai de mim! – já estiveram num funeral: “aleluia”, aplausos, frases risonhas, alguém se pergunta se essa gente leu alguma vez o Evangelho; Nosso Senhor mesmo chorou sobre Lázaro e sua morte. Aqui, com este sentimentalismo insosso, não se respeita nem sequer a dor de uma mãe. Eu lhes havia mostrado como o povo assistia a uma Missa de defuntos, com que compunção e devoção se entoava aquele magnífico e tremendo “Dies Irae”.
A reforma não foi feita por gente consciente e doutrinariamente formada?
Desculpe-me, mas a reforma foi feita por gente árida, lhes repito, árida. E eu os conheci. Quanto à doutrina, o Cardeal Ferdinando Antonelli, de venerável memória, costumava dizer com freqüência: “como fazemos liturgistas que não conhecem a teologia?”
Estamos de acordo com o senhor, Monsenhor, mas é certo também que o povo não entendia…
Caríssimos amigos, leram alguma vez São Paulo: “não importa saber mais do que o necessário”, “é necessário amar o conhecimento ‘ad sobrietatem’”? Daqui a alguns anos se tentará entender a transubstanciação como se explica um teorema de matemática. Mas se nem sequer o sacerdote pode compreender até o fundo tal mistério!
Mas como se chegou, então, a esta distorção da liturgia?
Foi uma moda, todos falavam, todos “renovavam”, todos pontificavam, na esteira do sentimentalismo, de reformas. E as vozes que se levantavam em defesa da Tradição bimilenar da Igreja eram habilmente caladas. Inventou-se uma espécie de “liturgia do povo”… quando escutava estas frases me vinham à mente as palavras de meu professor do seminário que dizia: “a liturgia é do clero para o povo”, ela descende de Deus e não de baixo. Devo reconhecer, contudo, que aquele ar fétido se fez menos denso. As gerações de sacerdotes jovens são, talvez, melhores que as que as precederam, não têm os furores ideológicos dominados por um modernismo iconoclasta, estão cheios de bons sentimentos, mas lhes falta formação.
O que quer dizer, Maestro, com “lhes falta formação”?
Quero dizer que queremos os seminários! Falo daquelas estruturas que a sabedoria da Igreja elegantemente cinzelou durante os séculos. Não se dá conta da importância do seminário: uma liturgia vivida, os momentos do ano são vividos “socialmente” com os irmãos… o Advento, a Quaresma, as grandes festas que seguem a Páscoa. Tudo isso educa, e não se imagina quanto! Uma retórica tonta deu a imagem de que o seminário arruína o sacerdote, de que os seminaristas, afastados do mundo, permanecem fechados em si mesmos e distantes do povo. Todas fantasias para dissipar uma riqueza formativa plurissecular e para substituí-la depois com nada.
Retornando à crise da Igreja e ao fechamento de muitos seminários, o senhor é partidário de um retorno à continuidade da Tradição?
Olhe, defender o rito antigo não é ser do passado, mas ser “de sempre”. Veja, comete-se um erro quando a missa tradicional é chamada “Missa de São Pio V” ou “Tridentina”, como se fosse a Missa de uma época particular: é nossa Missa, a romana, é universal em todos os tempos e lugares, uma única língua desde a Oceania até o Ártico. Mas no que diz respeito à continuidade nos tempos, gostaria de lhes contar um episódio. Uma vez estávamos reunidos em companhia de um bispo, cujo nome não me lembro, numa pequena igreja de Mugello, e chegou a notícia da morte repentina de um irmão nosso, imediatamente propusemos celebrar uma missa, mas nos demos conta que só havia missais antigos. O bispo rechaçou categoricamente celebrar. Não o esquecerei nunca e reitero que a continuidade da liturgia implica que, salvo minúcias, se possa celebrar hoje com aquele velho missal empoeirado pego de uma estante e que há quatro séculos serviu a um predecessor meu em seu sacerdócio.
Monsenhor, se fala de uma “reforma da reforma” que deveria limar as deformações que vêm dos anos sessenta…
A questão é bastante complexa. Que o novo rito tenha deficiências é já uma evidência para todos e o Papa disse e escreveu várias vezes que deveria “olhar ao antigo”; contudo, Deus nos guarde da tentação das bagunças híbridas; a Liturgia, com o “L” maiúsculo, é a que vem dos séculos, ela é a referência, não se deve corrompê-la com compromissos “a Dio spiacenti e a l’inimici sui”. [que a Deus despraz e ao inimigo seu]
O que quer dizer, Maestro?
Tomemos como exemplo as inovações dos anos sessenta. Algumas “canções populares” beat e horríveis e tão em moda nas igrejas em 68, hoje já são fragmentos de arqueologia; quando se renuncia à perenidade da tradição para se afundar no tempo, se está condenado ao mudar das modas. Me vem à mente a Reforma da Semana Santa dos anos cinqüenta, feita com certa pressa sob um Pio XII já cansado. E bem, só alguns anos depois, sob o pontificado de João XXIII (quem, além do que se diga, em liturgia era de um tradicionalismo convencido e comovente), me chegou uma chamada de Mons. Dante, cerimoniário do Papa, que me pedia preparar a “Vexilla Regis” para a iminente celebração da Sexta-feira Santa. Respondi: “mas a aboliram”. No que me respondeu: “O papa quer”. Em poucas horas organizei as repetições de canto e, com grande alegria, cantamos de novo o que a Igreja havia cantado pelos séculos naquele dia. Tudo isso para dizer que, quando se fazem rasgos no tecido litúrgico, esses buracos são difíceis de cobrir e se vê! Em nossa liturgia plurissecular, devemos contemplá-la com veneração e recordar que, no afã de “melhorá-la”, corremos o risco de apenas lhe fazer danos.
Maestro, que papel teve a música neste processo?
Teve um rol importante por várias razões. O melindroso cecilianismo, ao qual certamente Perosi não foi alheio, introduziu com seus ares pegadiços um sentimentalismo romântico novo, que nada tinha a ver com aquela densidade eloqüente e sólida de Palestrina. Certas extravagâncias de Solesmes haviam cultivado um gregoriano sussurrado, fruto também daquela pseudo restauração medievalizante que tanta sorte teve no século XIX. Difundia a idéia da oportunidade de uma recuperação arqueológica, tanto na música como na liturgia, de um passado distante do qual nos separavam os assim chamados “séculos obscuros” do Concílio de Trento… Arqueologismo, em suma, que não tem nada a ver com a Tradição e que quer restaurar o que talvez nunca existiu. Um pouco como certas igrejas restauradas em estilo “pseudo-românico” por Viollet-le-Duc. Portanto, entre um arqueologismo que queria remeter-se ao passado apostólico, prescindindo dos séculos que nos separam deles, e um romantismo sentimental, que despreza a teologia e a doutrina numa exaltação do “estado de ânimo”, se preparou o terreno para aquela atitude de suficiência com relação ao que a Igreja e nossos Padres nos haviam transmitido.
O que quer dizer, Monsenhor, quando ataca Solesmes no âmbito musical?
Quero dizer que o canto gregoriano é modal, não tonal; é livre, não ritmado, não é “um, dois três, um dois três”; não se devia desprezar o modo de cantar de nossas catedrais para substituí-lo com um sussurro pseudo-monástico e afetado. Não se interpreta um canto do medievo com teorias de hoje, mas se o toma como chegou até nós; ademais, o gregoriano sabia ser também canto do povo, cantando com força nosso povo expressava sua fé. Isso Solesmes não entendeu, mas tudo isso seja dito reconhecendo o grande e sábio trabalho filológico que fez com o estudo dos manuscritos antigos.
Maestro, em que ponto estamos, então, da restauração da música sagrada e da liturgia?
Não nego que haja alguns sinais de recuperação. Contudo, vejo o persistir de uma cegueira, quase uma complacência por tudo que é vulgar, grosseiro, de mal gosto e inclusive doutrinariamente temerário… Não me peça, por favor, que dê um juízo sobre as “chitarrine” e sobre as “tarantelle” que ainda nos cantam durante o ofertório… O problema litúrgico é sério, não se deve escutar aquelas vozes que não amam a Igreja e que se lançam contra o Papa. E se se quer curar o enfermo, há de recordar que o médico piedoso faz a chaga purulenta…
Li e reli a entrevista do maestro Dom Bartolucci e estou encantado com a clareza da exposição, apesar de ser apenas uma entrevista. O sentido é o mesmo em que o cardeal Antonelli (à época, sacerdote) se expressou em suas memórias. Em sentido inverso, conferem com os relatos do Mons. Anibal Bugnini, representado os “reformadores”.
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“Um Napoleão sem generais”.
O Motu Proprio e uma prova disso.
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“Quero dizer que o canto gregoriano é modal, não tonal… não se devia desprezar o modo de cantar de nossas catedrais para substituí-lo com um sussurro pseudo-monástico e afetado”
Antonio,
Se não for inconveniente e nem incômodo, vc podeira dar uma explicação aqui detalhada para nós, ignorantes na teoria musical, sobre o que Mons. Domenico quis dizer com modal e tonal e a afetação na música.
Creio que seria interessante.
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Bravissimo Maestro, Bravissimo!
Em meio a tantos mornos pareceres, a clareza e a franqueza de mons. Bartolucci a serviço da verdade e da tradição ecoam como a música de Palestrina a que tanto tece elogios! Magnificat ánima mea Dóminum!
Et exsultávit spíritus meus in Deo salutári Deo!
E por falar em alegria… De Gregorio Allegri, que seguiu com não menos virtude a escola polifônica romana, convido todos a suceder os mistérios dolorosos do terço de hoje com a audição de sua magnífica música para o Salmo 51, Misérere mei Deus:
http://www.youtube.com/watch?v=x71jgMx0Mxc (parte I)
http://www.youtube.com/watch?v=EgZ0K8vCdbo (parte II)
Particularmente com respeito a uma das afirmações musicais do mons. Bartolucci em sua entrevista, gostaria apenas de complementar, data maxima venia, que o movimento ceciliano teve virtudes. Creio que ele, por justiça, falaria delas, caso a entrevista fosse convenientemente mais longa. Na segunda metade do século XIX, época em que as celebrações da Santa Missa encharcavam-se de canto de técnica e estética operística — com melodias e solos por vezes copiados literalmente de óperas, foi também em sede de tal movimento que a Igreja combateu essa aberração, buscando simultaneamente resgatar (e universalizar tal resgate) o canto gregoriano e a boa polifonia à liturgia católica. A intenção, portanto, não era revolucionária nem iconoclasta. Muito pelo contrário! Preparou o resgate do canto gregoriano, entregando parte desses trabalhos a pessoas ligadas à abadia francesa. O problema é que eles acabaram imprimindo nesse resgate um certo arqueologismo, às cegas das inerentes limitações e falhas da ciência arqueológica, e que pouca consideração teve com o legado a eles entregue ao longo dos séculos, como bem lembrou mons. Bartolucci. Ainda, esse trabalho deixou-se contaminar pela tradição secular musical francesa de frases (musicais) longas, afetadamente expressivas, e, em geral, de um rebuscamento estilístico um tanto contrastante com a maneira eclesiástica romana. O resultado de tudo isso foi um gregoriano de certa “ruptura”, fruto de especulações históricas, e de algumas interferências estilísticas modernas longe de terem o respectivo berço santo e medieval.
Sem pormenorizar, a Missa Nova e os demais sacramentos reformados são produtos de um processo semelhante, levado a cabo, entretanto, a patamares de intensidade e ruptura muitíssimo maiores. E com interferências de fontes incomparavelmente mais censuráveis do que aquelas quase inertes às quais Solesmes se deixou levar. Mal menor teriam causado Bugnini e cia. se tivessem se restringido àquela dosagem.
Embora para alguns possa parecer mais uma entre várias outras filotradicionais, essa entrevista com o mons. Bartolucci é um sumário de densidade ímpar, digna de uma enorme dose de oração e estudo.
AMDG.
Salve Maria!
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“…O problema litúrgico é sério, não se deve escutar aquelas vozes que não amam a Igreja e que se lançam contra o Papa. E se se quer curar o enfermo, há de recordar que o médico piedoso faz a chaga purulenta…”
Muito boa resposta !!! Recordar que o Espírito Santo guia a Igreja e não o “magistério paralelo”.
Nunca devemos escutar aquelas vozes que não estão em plena comunhão com a Santa Sé.
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Lucas,
Esta foi a melhor reflexão que conseguistes após a leitura de tão rica entrevista?
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Isso só confirma que a FSSPX está verdadeiramente do lado do Papa e da Santa Igreja. Lançar-se contra o Papa não significa necessariamente atacá-lo, mas, por exemplo, simplesmente abster-se de falar e denunciar o erro. A verdadeira fidelidade ao Papa não é legalista, mas é sobrenatural e combativa, mesmo que signifique se opor a um ensinamento do próprio Santo Padre. Quem ousaria dizer que alguém está contra seu pai quando se opõe a uma ordem sua contrária à razão e que lhe trará prejuízo? Sim, a FSSPX está do lado do Papa e da Santa Igreja, como sempre esteve.
E de fato, não podemos jamais ouvir as vozes que não estão em comunhão com Roma. Isso só reforça a certeza! Como a FSSPX está em comunhão, sempre esteve, está com o Papa!
Neste sentido, é necessário corrigir a falsa idéia que muitos sustentam de que pode existir “comunhão imperfeita” com Roma. Não, isso não existe. Ou se está em comunhão ou não está. A comunhão se dá pela mesma fé. Por isso é errado dizer que a FSSPX, por exemplo, não está em plena comunhão, isso é falso. Está sim numa situação jurídica irregular, mas isso é o de menos na situação que nos encontramos. Esta expressão “comunhão imperfeita” tem sido utilizada nos últimos tempos visando favorecer o ecumenismo, trocando a “heresia e cisma” por “comunhão imperfeita”; o “herege ou cismático” por “irmão separado”.
Vale sempre lembrar como devemos nos portar perante os hereges. Não podemos ter contato com eles, exceto para tratar de assuntos civis ou para convertê-los. Isso nos ensina a teologia moral. E apesar de muitos hoje estarem de boa fé, em heresia material, mesmo assim convém conservar distância, pois heresia é heresia e expor a fé ao perigo é pecado. Antes morrer do que pecar!!! Quem é indiferente a isso é indiferente a Cristo, que é a própria Verdade e tem direitos sobre os homens, seus súditos. É um falso amor o que se coloca acima da verdade!
Ou seja, basta uma pequena olhada ao redor para se constatar o estado de necessidade na Igreja. Isto é, a Igreja como um todo está em meio a uma crise talvez sem precedentes!
Por exemplo, ao nos confessarmos, não vamos para receber tão somente a absolvição, mas conselhos eficazes e penitências salutares. Ao ir na missa, não vamos tão somente para uma ceia ou refeição comunal; vamos assistir ao Santo Sacrifício, além de receber, pelo sermão, a instrução tão necessária para nossa edificação espiritual. Na catequese, devemos receber os ensinamentos do catecismo, uma sólida instrução religiosa. E poderíamos continuar…
O que se encontra, porém, são padres hereges, missas inválidas ou sacrílegas, catequeses protestantizadas…
Vale lembrar também que a assistência do Espírito Santo à Igreja no magistério ordinário está condicionada ao desejo explícito de estar em continuidade com a tradição precedente.
Abramos bem os olhos! Com a fé não se brinca.
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Caro Lucas, você é mais um daqueles tradicionalistas radicais que não aceitam o Concílio Vaticano II??
Pois veja o que ele diz dos “nossos irmãos separados” e compare com sua postura “crítica”:
“Pois que crêem em Cristo e foram devidamente baptizados, estão numa certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica”. (Unitatis Redintegratio nº 3)
“Também não poucas acções sagradas da religião cristã são celebradas entre os nossos irmãos separados. Por vários modos, conforme a condição de cada Igreja ou Comunidade, estas acções podem realmente produzir a vida da graça. Devem mesmo ser tidas como aptas para abrir a porta à comunhão da salvação”. (Unitatis Redintegratio, nº 3)
“Nem se passe por alto o facto de que tudo o que a graça do Espírito Santo realiza nos irmãos separados pode também contribuir para a nossa edificação.” (UR, 4)
“Por essa cooperação, todos os que crêem em Cristo podem mais facilmente aprender como devem entender-se melhor e estimar-se mais uns aos outros, e assim se abre o caminho que leva à unidade dos cristãos”. UR nº 12
“Também das culpas contra a unidade, vale o testemunho de S. João: «Se dissermos que não temos pecado, fazemo-lo mentiroso e a sua palavra não está em nós» (1 Jo. 1,10). Por isso, pedimos humildemente perdão a Deus e aos irmãos separados, assim como também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam”. (UR, 7)
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Prezado Adilson
Apesar de ser apenas prático no canto gregoriano – (e não deveria. Mea culpa!) – tenho alguns apontamentos de um minicurso que nossos padres deram há uns bons anos passados.
Vai lá. O canto gregoriano é chamado modal pois deriva-se de modos, isto é, na sua linha melódica há sempre uma nota dominante. Essa característica é herança dos gregos e orientais e permaneceu até o Renascimento. Sua melhor expressão é no canto chão. Ainda na Antiguidade, os gregos, muito teóricos, batizaram cada modo de acordo com o ritual litúrgico. Me lembro aqui do frígio, do dórico, do lídio (acho que são sete). Está vendo como deveria estudar mais?
Cada um dos modos está ligado a um tema litúrgico. São a mais pura expressão do canto religioso, pois, sua linha melódica que estreita com o texto de maneira natural, sem precisar de harmonizações, numa verdadeira expressão do movimento da alma: Para Deus.
Já a música tonal se caracteriza pela divisão de tons menores e maiores. Sua linha melódica sempre anseia por acordes em harmonia. Durante sua execução o tom é alterado por várias vezes para retornar ao tom original. É caracterizada também pelo ritmo.
Para completar, pois, é claro, são muito mais bem explicados, há bons estudos sobre música na internet, entre eles, um do P. Bertrand Labouche, “De Bach a Pink Floyd”, que conhece bem do assunto.
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Se até os protestantes estão em “certa comunhão com a Igreja”, por que os modernistas batem tanto na tecla de que a FSSPX não está?
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Também o Cardeal Hoyos fala de “comunhão imperfeita”, já os “tradicionalistas conservadores” sentenciam: são hereges. Sem conversa. Parecem discipulos do Cardeal Kasper (aquele que não acredita que Jesus é Filho de Deus), que do protestante ecumênico Roger, da comunidade de Taizé, só teve elogios, como: “Por respeito pela caminhada na fé do irmão Roger, seria preferível não aplicarmos a seu respeito categorias que ele próprio considerava desapropriadas à sua experiência e que aliás a Igreja católica NUNCA LHE QUIS IMPOR”, disse isso para ilustrar que este “monge”, por diversas vezes recebeu a Santa Comunhão sem nunca ter renunciado a heresia protestante. (a caixa alta é minha)
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Augusto Rômulo,
Carissímo o que seria aceitar o concílio Vaticano II, Hum? Francamente essa forma simplória de pensamento e tipico linguajar que adquiristes é dos que ‘pensam que venceram’. Idéia essa muito comum em “teólogos” que estão na TV e em outro becos. Mas uma outra questão surge. O Vaticano II deveria se aceitar com vendas aos olhos? Qual é a sua autoridade? Depois para não desenvolver muito texto aqui, aconselho que leia o que escreveu pe. alvaro calderon sobre esse seu pouco esclarecimento. Talvez isso seja novidade para você e para muitos que fazem ouvido mouco aos que resistem as inovações que fogem a regra de uma autêntica reforma. Para os que resistem ao Vaticano II aceitam sim o concílio. Não por aquelas ambiguidades e ruptura com que se faz do Magistério de sempre, e com que os documentos brumosos dizem ser algo é, mas não é. Convido você a descobrir onde é que se deve aceitar o Vaticano II e qual sua autoridade. Certamente você se surpreenderá.
A.M.D.G!
Rodrigo
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Juan,
O Augusto foi irônico!
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Caro Adilson,
Creio, a essa altura, já ter eu e outros respondido parcialmente sua pergunta.
Complementando o que o colega Antonio Maria lembrou, o gregoriano é também caracterizado por oito modos, que se diferenciam entre si: 1) na disposição de tons e semitons ao longo da sucessão de oito notas vizinhas (o que se chama de escala), 2) em certas notas características dessas mesmas escalas às quais se dá os nomes de tônica e de dominante, e, 3) por tudo isso e outras coisas mais, no “sabores” diferenciados que se empresta às melodias cantando-as em seus diferentes modos. O tonalismo, à exceção de moderníssimas experimentações, apresenta apenas dois modos: o maior e o menor.
Quando, então, à execução do canto gregoriano se aplica uma estética (musical) trazida da música tonal secular moderna e/ou um acompanhamento (de órgão) baseado em regras tonais de encadeamentos de acordes (o que se chama de harmonia), acaba-se por tirar, quando não totalmente, muito do “sabor” modal do canto gregoriano, além de aproximar o resultado geral à música secular. Por isso, e por outras questões que não cabe aqui narrar, é que a Igreja agiu bem em nunca permitir propriamente o uso do órgão no acompanhamento do gregoriano, mas apenas tolerá-lo. Um acompanhamento muito cuidadoso, e atento por diminuir o risco acima descrito, acabará por ter algum sucesso. Mas, embora possa soar belo, e até mais “palatável” a muitos ouvidos modernos, sempre descaracterizá em algum grau o modalismo intrínseco ao gregoriano, que é uma de suas mais belas e importantes peculiaridades, e que foi tão explorado pelos anônimos autores desses cantos ao longo de 1500 anos para sugerir aos ouvidos dos fiéis um certo estado contemplativo compatível com a respectiva oração cantada.
Pode parecer purismo de minha parte. Mas lhe garanto que não é. A partir de minha própria observação de repertório e platéia suficientemente comparáveis com o repertório de canto gregoriano e com a assistência da Missa, digo com alto grau de segurança que qualquer grupo de fiéis, mesmo ignorantes musicalmente, que seja submetido ao longo de seis ou doze meses ao canto gregoriano cantado “a cappella” (sem acompanhamento), reconhecerá a maior virtude dessa mais perfeita forma de cantá-lo, passando a ouvir novamente o gregoriano acompanhado com menos prezo do que fazia até antes disso.
Em Cristo e Maria,
Antonio
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Perfeito. Agradeço muito aos dois Antonio. Agora entendi a questão do tonal e modal e a crítica a Solesmes.
(Coincidência heim, os dois Antonios expert em música.)
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