O Papa Bento XVI deseja dar o exemplo na liturgia, porém, ele não planeja nenhuma diretriz nova.
Por Guido Horst / Die Tagespost
Roma (Kath.net/DT) Um breve encontro com um homem agitado na Praça de São Pedro: Durante uma Missa celebrada na Basílica de São Pedro, o jovem de Hamburgo ficara na fila de fiéis, na qual um sacerdote distribuía a Comunhão. Quando, finalmente, ele estendeu a mão em direção ao “seu” padre, este se negou a dar a Comunhão na mão e lhe deu a hóstia consagrada na boca. O alemão indignado voltou para o seu lugar, entretanto, ele pode ainda observar como os outros sacerdotes não criavam nenhum problema em dar a Comunhão aos fiéis também na mão. Mais tarde em uma conversa o católico hamburguês deu azo à sua raiva: ele não conhecia absolutamente nenhuma outra maneira de receber a Comunhão que não fosse na mão, e aquela deveria ser então uma prática diferente de um único padre na Basílica de São Pedro.
Limbo Litúrgico no Centro da Igreja Mundial
Esse pequeno incidente, a que, felizmente, o hóspede do norte sobreviveu sem danos espirituais, é característico de um estado de incerteza nos assuntos litúrgicos, que de tempos em tempos desperta certas atenções no centro da Igreja mundial. Enquanto na Igreja Católica da Alemanha o altar do povo, a Comunhão recebida na mão e de pés e o uso do vernáculo são coisas óbvias raramente questionadas, em Roma sopra uma brisa suave de mudança no que tange essas questões. De alguma maneira, isso tem a ver com o Papa: Bento XVI distribui a Comunhão apenas na boca em um genuflexório, e causou sensação ao celebrar uma Missa de costas para os fiéis na Capela Sistina. O latim está avançando nas missas celebradas pelo Papa. De vez em quando, os observadores indagam se – após a liberação do missal romano segundo o “Rito Antigo”–se poderia esperar agora uma reforma fundamental da reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano Segundo.
Assim, não foi uma surpresa quando o diretor em exercício da sala de imprensa do Vaticano, padre Ciro Benedettini, no início da semana passada falou sucintamente à Radio Vaticano: “No momento, não existem quaisquer sugestões institucionais para uma alteração dos livros litúrgicos em uso atualmente.”
A expressão foi cunhada de um artigo do vaticanista do jornal italiano “Il Giornale”, Andrea Tornielli, que recentemente informou da assembléia plenária da Congregação para o Culto Divino e dos Sacramentos, realizada no último dia 4 de abril, sobre a conclusão de um suposto primeiro passo para a “Reforma da Reforma Litúrgica” e uma respectiva Nota que teria sido encaminhada ao Papa Bento XVI. O dicastério dirigido pelo cardeal espanhol Antonio Cañizares Llovera teria decidido quase que unanimemente, segundo Tornielli, sugerir ao Papa uma sacralidade maior do rito, uma recuperação tanto do espírito da adoração eucarística como também da língua latina, bem como uma reformulação dos textos introdutórios da missa, a fim de impedir experimentos e criatividade no início da Missa.
Igualmente, a Congregação do Cardeal Cañizares, que, devido aos estreitos laços de afinidade com o Papa, também é chamado de “pequeno Ratzinger”, recomendou a Bento XVI que, pelo menos, no momento da consagração eucarística, os sacerdotes celebrassem em direção ao oriente (“versus orientem”), ou olhassem para a cruz juntos com os fiéis. Tornielli escreveu explicitamente que os membros da Congregação para o Culto Divino se expressaram a favor da Promoção da Comunhão na boca, uma vez que a Comunhão na mão estaria prevista somente em razão de um indulto, também como exceção. Contudo, ao final de sua contribuição, Tornielli acrescentou uma observação “significativa”, que, provavelmente, remonta às informações adicionais do Vaticano: “Para a realização da “Reforma da Reforma” seriam necessários muitos anos. O Papa está convencido de que passos precipitados igualmente em vão são como uma promulgação simples de diretrizes do alto – com o risco de que mais tarde elas permaneçam como letras mortas. O estilo de Ratzinger é antes de tudo o do equilíbrio e, sobretudo, do exemplo. Isso mostra também o fato de que há mais de um ano aqueles que vão à Comunhão com o Papa precisam se ajoelhar em um banquinho colocado com antecedência pelo cerimoniário.”
O estilo do exemplo. Isso explica também a confusão do jovem hamburguês, que experimentou uma prática diversa durante a distribuição da Comunhão na mão ou na boca quando estava na Basílica de São Pedro.
Nem todos guardam o desejo do Papa no coração.
Uma pesquisa desse jornal junto aos canonistas da Basílica de São Pedro revelou que todos os sacerdotes que auxiliam na distribuição da Comunhão estariam cientes do desejo do Papa de promover a Comunhão na boca. Apenas uns mais e outros menos seguiriam essa orientação.
Ao ser indagado, Andrea Tornielli afirmou na semana passada que ele confirmava o conteúdo de sua contribuição sobre a Nota da Congregação para o Culto Divino. Igualmente, ele não se sentiria desmentido pelo porta-voz do Vaticano em exercício, Ciro Benedettini, uma vez que ele mesmo teria finalmente escrito que o Papa Bento não tinha planos de novas diretrizes.
No entanto, nesse meio tempo, canonistas enfatizaram que a expressão “Reforma da Reforma” utilizada por Tornielli não seria totalmente correta. Todas as sugestões, que a Congregação para o Culto Divino teria submetido ao Papa, não representariam nenhuma revogação ou modificação da reforma na liturgia, mas simplesmente a implementação do Direito em vigor. Nem o Concílio nem o regulamento pós-conciliar da Igreja teriam abolido a Comunhão na boca, o latim na Missa ou a celebração “versus Dominum”.