Demissão na certa. Padre rompe o tabu sobre transplante de órgãos.

Nota do Editor: indagamo-nos porque até agora no Brasil, mesmo os membros de movimentos pró-vida mais engajados, se recusam a abordar este tema. Inúmeros seminários e congressos sobre bioética tem sido realizados com apoio de bispos locais, mas nenhum deles chegou a discutir essa questão tão delicada e urgente.

Um sacerdote, que pertence oficialmente à Fraternidade de São Pedro, publicou uma crítica ao polêmico transplante de órgãos em sua carta pastoral e, portanto, foi demitido.

padre fssp(Kreuz.net, Augsburg) Sete semanas atrás, o Padre Andreas Hirsch (40), da tradicionalista Fraternidade de São Pedro, assumiu a igreja de peregrinação Violau no distrito de  Augsburg.

O Padre Hirsch foi ordenado segundo o Rito Antigo em 2001, em Wigratzbad, na diocese de Augsburg. Posteriormente, ele trabalhou como capelão prestando cuidados pastorais na diocese de Eichstätt. Lá, de acordo com as fotos de sua despedida, no outono de 2007, ele também celebrava a Missa Nova.

A recusa do transplante de órgãos é algo católico

Em 10 de outubro, o Pe. Hirsch escreveu em sua carta pastoral de Violau a respeito do transplante de órgãos. O sacerdote abordou o tema porque em setembro uma médica da Clínica de Augsburg, juntamente com o Decano de Dinkelscherben, o Pe. Karl Freihalter, haviam realizado um evento de incentivo à doação de órgãos.

O Pe. Hirsch esclareceu que, pelo contrário, a pessoa era assassinada no momento da retirada dos órgãos. Esse procedimento seria uma violação ao mandamento de Deus e algo “eticamente inadmissível”.

O sacerdote esclareceu que de acordo com a posição atual da ciência, o “corpo do doador reage [durante a retirada dos órgãos] tanto com movimento quanto com contorções e se encolhe, a não ser que antes seja administrado um anestésico ao doador”.

Os freqüentadores da missa e conselhos paroquiais protestaram contra essa carta pastoral junto ao Bispo Walter Mixa, de Augsburg, segundo informou o jornal regional ‘Augsburger Allgemeine’. Mons. Mixa é um bispo liberal de tendência neo-conservadora. Ele exigiu do Pe. Hirsch que este publicasse um desmentido de suas opiniões na próxima carta pastoral. O bispo auxiliar Anton Losinger, de Augsburg, redigiria uma declaração contrária sobre o tema.

O Pe. Hirsch se negou a fazê-lo. O bispo optou imediatamente pela conseqüência mais grave e demitiu o padre. No último sábado à noite o sacerdote anunciou a sua demissão em sua paróquia Violau.

O porta-voz da diocese de Augsburg, Christoph Gold, afirmou ao ‘Augsburger Allgemeine’, que a crítica à doação de órgãos supostamente “não seria o ensinamento teológico da Igreja Católica”. Este supostamente não teria nada a objetar contra a doação de órgãos.

Uma vez que o padre seguiu a sua consciência, “nada poderia ser tratado de modo diferente” – enfatizou o porta-voz. A diocese trabalhou de maneira enfática na substituição do cargo. Gold esclareceu perante a “Agencia de Notícias Católicas” alemã que definitivamente o Pe. Hirsch não poderia atuar mais na diocese de Augsburg.

35 comentários sobre “Demissão na certa. Padre rompe o tabu sobre transplante de órgãos.

  1. Lamentável é perceber a ignorância de muitos. Não existe transplantes de órgãos de cadáveres. A retirada dos órgãos são realizadas com o paciente vivo, pois, de outra forma, o transplante seria inviável. O conceito de morte encefálica é uma fraude. Aquele que se atreve a falar sobre o assunto é retaliado.

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  2. Caros Moisés e Felipe,

    A questão precisa ser entendida bem. Até há pouco tempo, o critério de morte utilizado pelos médicos era o cárdio-respiratório (espelhinho no nariz para ver se estava respirando, toque do pulso para ver se o coração estava batendo). Caso não houvesse respiração ou batida do coração o sujeito era considerado morto oficialmente.

    Agora, com toda essa promoção para doação de órgãos vitais (aqueles sem os quais ninguem pode viver) o critério de morte mudou para “detecção de ondas cerebais”. Assim, alguem pode ser considerado com “morte cerebral” ainda que apresente sinais cárdio respiratórios.

    Não há consenso entre a comunidade científica quanto ao conceito de morte cerebral. Muito pelo contrário, muitos cientistas de renome o contestam, pois para a retirada dos órgãos vitais de acidentados para fins de transplante chegam até a aplicar anestésico (por que um defunto precisaria de anestésido?).

    Os dois papas fizeram discursos para sociedades de transplantes (creio que italianos). Eles nunca ratificaram o conceito de morte cerebral como sendo a morte absoluta. Eles apenas entregaram a peteca para os cientistas e o Papa João Paulo II ainda disse algo prudentíssimo, ou seja, que os critérios para determinar a morte da pessoa deveriam ser “claramente determinados e comumente aceitos” . Como a morte cerebral não é comumente aceita pela comunidade científica, logo não há uma aprovação oficial por parte da Igreja.

    Acho que o Ferretti publicou um artigo sobre isso no passado. Seria bom se ele desse o link. Me lembro que era uma conferência em Roma ou coisa parecida.

    Também vi que o Prof. Humberto Vieira, Presidente do Próvida familia pubicou alguma coisa no sítio dele http://providafamilia.org (Eutanásia “Morte Cerebral – Inimigo da Vida e da Verdade”)

    Achei um texto em inglês, também muito interessante, http://lifeguardianfoundation.org/action=join_us.html

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  3. Caro Paulo,

    Sua resposta está parcialmente incorreta ao dizer ‘Não existe transplantes de órgãos de cadáveres.’ Na verdade, as córneas podem ser retiradas de cadáveres.

    Os órgãos VITAIS é que não, pois estes não resistem mais que poucos minutos após a morte definitiva.

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  4. Interessantíssimo tudo isso!

    Nunca imaginei nem tinha tido informações assim…

    Olhem só o que diz o Catecismo da Igreja Católica

    [2296 O transplante de órgãos é conforme à lei moral se os riscos e os danos físicos e psíquicos a que se expõe o doador são proporcionais ao bem que se busca para o destinatário.

    A doação de órgãos após a morte é um ato nobre e meritório e merece ser encorajado como manifestação de generosa solidariedade. O transplante de órgãos não é moralmente aceitável se o doador ou seus representante legais não tiverem dado seu expresso consentimento para tal.

    Além disso, é moralmente inadmissível provocar diretamente mutilação que venha a tornar alguém inválido ou provocar diretamente a morte, mesmo que seja para retardar a morte de outras pessoas.]

    Abraços e até mais ‘ver’.

    André Víctor

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  5. Confesso minha ignorância no assunto. Sempre soube que era possivel a doação de um Rim, por exemplo, sem com isso significar a morte de nenhum dos dois pacientes.

    Um transplante de coração não pode ser feito de uma pessoa viva, ou evidentemente a mesma morreria, pois ser humano algum vive sem coração.
    Sempre soube que, constatada a morte, mediante autorização prévia, o órgão era retirado imediatamente, para que não se deteriorasse e fosse aproveitado por algum necessitado.

    Não entendi a polêmica.

    Estão tirando órgãos vitais de pessoas vivas, e matando-as para manter a vida de outros?

    Ou estão considerando a morte cerebral como morte definitiva, a pretexto de aproveitar os órgãos?

    Até agora desconhecia essa polêmica acerca de transplante de órgãos…

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  6. Isso é mais um exemplo da ignorância e dos mitos que permeiram parte do movimento tradicionalista.

    O padre foi demitido e nisso se fez muito bem.

    Em primeiro lugar, não cabe à Igreja dizer quando ocorre a morte física, mas a medicina. Esse é o magistério de Pio XII.

    Em segundo, o critério hoje não é de morte cerebral, mas de morte encefálica (que é uma outras coisa).

    Em terceiro, é evidente que as conclusões da medicina têm de ter um respaldo racional. E elas têm. A morte clínica (encefálica) de uma pessoa já nascida é um signo irremediável de morte natural – não há possibilidades de “reanimar” o encéfalo – e de que, portanto, a alma já abandonou o corpo. Se a vida é um processo de animação que começa em um determinado momento – o da concepção, logo após o processo de fecundação, que dura alguns minutos –, a morte é um processo de “desanimação” que também começa em um determinado momento, no qual a unidade da pessoa humana já se rompeu – é o momento da morte cerebral. A intervenção cirúrgica para extrair um órgão antes de que esse “morra” ocorre em um momento onde só há vida puramente biológica, material, progressivamente “desanimando-se” porque a virtude que lhe era comunicada pela alma do falecido já se esvai. Entretanto, esse órgão, ainda “vivo”, pode ser integrado na unidade de outra pessoa humana.

    Portanto, parem de ficar repetindo, sem estudar, essas mistificações do Sim Sim Não Não.

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  7. Ao invés de brigar por algo que, se bem estudado, não gera tanta dúvida, por que esse membro da FSSP não briga por causa da escandalosa aprovação de Roma da Anáfora de Addai e Mari? Que eu saiba, no seminário germânico da FSSP, o professor responsável pela parte de Sacramentos, numa perspectiva absurdamente legalista (neo-conservadora), defende tal aberração.

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  8. O comentário do Thiago transpira aquela arrogância da qual a verdade sempre mantém prudente distância. Diz ele:

    “Em primeiro lugar, não cabe à Igreja dizer quando ocorre a morte física, mas a medicina. Esse é o magistério de Pio XII.”

    Bom, então, “em primeiro lugar”, siga você mesmo aquilo que sugere: veja o que diz “a medicina”.

    O Dr. Paul Byrne, organizador da Conferência sobre “morte cerbral” havida em Roma em fevereiro/2009 forneceu ao site LifeSiteNews.com uma cópia de sua Apresentação (íntegra aqui: http://www.lifesitenews.com/ldn/2009/feb/09021608.html). Nela, ele demonstra que a utilização dos critérios de “morte cerebral” resulta na retirada de órgãos de pacientes vivos e equivale a assassinato.

    Será que o douto Thiago aceita a Apresentação do Dr. Byrne como uma voz “da medicina” ou como apenas mais uma “dessas mistificações do Sim Sim Não Não”?

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  9. Caro Bruno,

    Leia os links que você vai entender tudo. Sugiro especialmente os textos do Dr. Byrne.

    Não há problema algum na doação de 1 rim (muitos parentes fazem isso para salvar a vida de entes queridos e estão certos em fazê-lo), assim como sangue e medula e tudo que não venha a causa a morte direta do doador, pois o doador não morre em virtude disso. O problema são os órgãos vitais (coração, por exemplo).

    A mesma coisa ocorre com as córneas onde o doador já está morto definitivamente. Nesse caso não tem problema.

    A questão que se discute nesse artigo – a demissão injusta de um padre porque ele ousou reverberar aquilo que muitos cientistas famosos estão dizendo, ou seja, o conceito de morte cerebral está sendo forçado para auxiliar na indústria de transplantes – é que um fiapo de vida ou uma incerteza de morte, ainda que sem chance de ir muito longe, deve ser respeitada. Há também que se considerar o teste de apneia (para detectar se a pessoa está morta). Segundo o Dr. Byrne e outros mais esse teste é que acaba resultando na morte cerebral porque priva a pessoa em estado crítico de oxigênio.

    O texto que o Ferretti pulicou e o do Professor Humberto Vieira são muito elucidativos.

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  10. Prezado Bruno:

    Você pergunta: “Estão tirando órgãos vitais de pessoas vivas, e matando-as para manter a vida de outros?”
    Resposta: SIM.

    “Ou estão considerando a morte cerebral como morte definitiva, a pretexto de aproveitar os órgãos?”
    Resposta: SIM.

    Prezado Tiago

    Você poderia nos dar exemplos “da ignorância e dos mitos que permeiram parte do movimento tradicionalista.”?

    Quanto ao fato de caber à medicina dizer quando ocorre a morte, isso é válido para tempos normais. Mas infelizmente estes não o são. O processo de Revolução atual tem tentado alterar fatos com a desculpa de “ciência”. Veja por exemplo que o homossexualismo não é mais considerado doença, cientistas já não consideram o embrião como ser humano (agora ele pode ser usado para pesquisas), fala-se sobre aborto “humanitário” e médicos assassinam bebês no ventre materno pois têm mal-formações (!). Nem Pio XII imaginaria a quão baixo nível a medicina chegou.

    Infelizmente, nem todas as conclusões da medicina tê respaldo racional. A cada semana saem conclusões de pesquisas que vão de encontro umas às outras. Um dia o adoçante emagrece, no outro engorda. Dr. Randas fez fama fazendo cirurgias de redução do coração. Depois apareceu que 3/4 dos pacientes morriam. Além disso, há cientistas que divergem da opinião (sim, é uma opinião) de morte encefálica. Se fosse tão racional assim, não haveria discussões entre cientistas. Uma das correntes de reversão da “morte encefálica” é o tratamento com hipotermia.

    Tenho uma amiga que presenciou o diagnóstico de morte encefálica feita por um neurologista em um CTI na cidade onde moro. O paciente acordou no dia seguinte. Sou farmacêutico, vejo e ouço coisas referentes à “ciência” todos os dias que me deixam de cabelo em pé. É triste mas é a realidade.

    “não há possibilidades de “reanimar” o encéfalo” – já vimos que isso não procede – “e de que, portanto, a alma já abandonou o corpo.” – quanto à isso, vejamos uma situação tirada dos Atos dos Apóstolos, capítulo 20:

    9. Acontece que um moço, chamado Êutico, que estava sentado numa janela, foi tomado de profundo sono, enquanto Paulo ia prolongando seu discurso. Vencido pelo sono, caiu do terceiro andar abaixo, e foi levantado morto.
    10. Paulo desceu, debruçou-se sobre ele, tomou-o nos braços e disse: Não vos perturbeis, porque a SUA ALMA ESTÁ NELE.
    11. Então subiu, partiu o pão, comeu falou-lhes largamente até o romper do dia. Depois partiu.
    12. Quanto ao moço, levaram-no dali vivo, cheios de consolação.

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  11. Caro Thiago.

    Desculpe-me, mas o assunto é controverso e precisa ser melhor estudado. Não há absoluto consenso entre os médicos, logo, a Igreja não pode firmar posição clara.
    Penso que o catecismo e outros documentos do Magistério estabelecem as premissas básicas, indicando condições em que se daria a licitude dos transplantes. Acho que se deveria investigar mais para entender o contexto em que foi feita a crítica do padre da FSSP. Pelo que entendi ele não é contras os transplantes, mas contra a retirada ilícita de órgãos. Também é preciso verificar o conteúdo da proganda feita pela diocese, ora ninguém pode ser obrigado a doar seus órgãos…
    Enfim, caro Thiago, acho que não procede a sua crítica aos movimentos tradicionalistas.
    Por favor, seja mais comedido.

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  12. Thiago, não compreendi bem.
    Então um anencéfalo é um corpo sem alma?
    Não sei se foi isso o que você quis dizer. Quem está em morte cerebral ou quem nasce com anencefalia perde com isso a alma, restando apenas o corpo?

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  13. Evidente que não Bruno Santana, o anencéfalo tem encéfalo, ou melhor, parte dele (o bulbo, o tronco cerebral e parte do cérebro – http://apologetica.ning.com/forum/topics/aborto-de-anencefalos?page=1&commentId=2616359%3AComment%3A7210&x=1#2616359Comment7210 ). Quem quer dar uma volta no desenvolvimento da questão, fazendo a repristinação do conceito de morte cerebral, são os abortistas. Pelo fato mesmo de hoje o critério ser de morte encefálica, é que os “anencéfalos” não podem ser considerados nati-mortos.

    Leia o seguinte Bruno:

    http://apologetica.ning.com/forum/topics/catecismo-sobre-o-aborto?page=1&commentId=2616359%3AComment%3A832&x=1#2616359Comment832

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    No que se refere aos que falaram de “arrogância”, eu só tenho a dizer: vão estudar! Arrogância sectária é considerar opiniões minoritárias (e nós sempre a teremos) como o referencial e, disso, tirar resultados inconseqüentes. É a arrogância dos que não querem ver todos os lados de um problema antes de abrir a boca. O interessante é que ninguém aqui contestou o conceito de morte que dei! Conceito apoiado no melhor referencial médico atual (e não na agenda restrita do LifeSiteNews) e na razão. Se fosse para levar às últimas conseqüências o que vocês dizem, sequer poderíamos defender um transplante de córneas, visto que quando ele se dá a córnea tem de estar “viva”.

    Mito tradicionalista (e olhem que eu sou um)é achar que atrás de tudo há uma conspiração (no caso a indústria dos transplantes) e, com base nisso, ficar refratário ao aprofundamento das questões. A Igreja gostem ou não, não pode dar a última palavra sobre quando se dá a morte; o que ela pode fazer é dizer que só após a morte é que os transplantes de órgãos vitais pode ser feito, nada mais.

    De fato, alguns países, como o Japão, ainda adotam o critério cárdio-respiratório, e em outros, como na Itália, há uma contestação forte ao critério cerebral (que não é o mesmo que o encefálico), mas tudo isso é marginal e, fora de publicações pequenas ou sites muito comprometidos, nunca repercutiu seriamente no meio médico ou filosófico.

    O fato é que temos de lídar com o mais provável neste tipo de questão e, sem entrar nas colocações sobre a homossexualidade ou sobre o que os cientistas pensam sobre o aborto, na época de Pio XII a medicina e a filosofia já tinham feitos da sua! Pio XII exarou seu magistério sobre o ponto em debate na década de 1950, poucos anos depois da engenharia social (como base médica e filosófica) ter promovido o morticínio da Segunda Guerra. Mesmo assim, o Papa disse o que disse, e o fez por honestidade intelectual, já que, de fato, não cabe à Igreja dizer quando se dá a morte (a Igreja, tão só, indiretamente, deve fiscalizar os referenciais usados por quem pode fazer isso).

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  14. Agora, uma colocação coerente que alguém podia ter me feito aqui, seria:

    – Se esse tipo de coisa depende de investigação médica e reflexão filosófica, por que dogmatizar uma posição?

    Ora, não é isso que estou defedendo. Sou pessoalmente favorável ao critério encefálico, mas, exatamente por ser algo que depende da medicina e da filosofia, é que se pode refletir sobre o tema e, até mesmo, buscar outros critérios ou considerar os antigos como os melhores. O que não dá é um pároco defender perante seus fiéis algo exótico frente a praxe atual católica; ele pode fazer isso em círculos privados de estudo e, quando tal noção se firmar, apresentá-la a toda a Igreja e aos estudiosos da medicina e da filosofia. D. Walter Mixa fez muito bem em retirá-lo; talvez virar um acadêmico dedicado à bioética seja um caminho melhor para esse padre que o pastoreio de uma paróquia.

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  15. Pax et bonun!
    Eu como leiga da Nossa Igreja Católica, faço como S. Paulo nos diz” absorvo o que é bom e excluo o que é mal”, minha mãe sempre me dizia que um doador de orgão tem que esta vivo para que o orgão tenha mais saúde, tanto que ela me disse que um dia foram retirar os orgãos de uma mulher e no ato da cirurgia rolou lagrimas dos olhos da “morta” encefálica.
    Pelo que entendi dentro do catecismo e dentro que o blog diz que o Papa Bento XVI reiterou, não é pecado doar orgãos, é um ato de caridade desde que essa doação não tire a vida de ninguém, realmente somente Deus poderá julgar quem matou ou quem morreu, mas nós aqui na terra sabemos de uma máfia quanto a doação de orgãos.
    Por que por em questão a decisão desse padre? vamos buscar conhecimentos sobre o assunto com medicos que estão fora dessa máfia, talvez teremos algumas respostas.
    Fiquem com Deus!!

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  16. As colocações acima foram respondidas, mas parece que os administradores do site apagaram o que foi colocado.

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  17. O critério “morte encefálica” é melhor que o antigo “parada cardio-respeiratória”, porém há dois problemas a se destacar: o teste de apnéia – que acaba por dar o empurrãozinho fatal, ao invés de somente auferir o estado de morte; e o tratamento por hipotermia – deveria se tornar um procedimento mais comum, pois já mostrou-se um resultado que contraria o diagnóstico através da atividade cerebral. Ou seja, seria um último recurso que, ou reanimaria o suposto morto, ou se não, serviria para firmar o estado de morte sem prejuízo do transplante… mas tal procedimento só atravancaria o transplante, então ninguém leva em conta… não que exista uma indústria de transplante, ou uma mentalidade ávida pelo transplante, que se tornou o ponto máximo da caridade vista nesses nossos tempos, nem que muitos preferem o atual critério sem o procedimento hipotérmico final para promover a eutanásia disfarçadamente… eu não insinuaria algo desse tipo (rsrsrsrs).

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  18. O principal problema foi o Sacerdote ter sido “demitido” por causa disso… numa remissão qwue parece boa para a situação poderia se dizer: o cisco no olho de alguém da FSSP (ou outras instituições tradicionalistas)é realmente inadmissível! Principalmente sob a vista dos que não querem enxergar a crise da Igreja,será por causa de uma trave?, cujos paradigmas ainda sustem (um punhadinho de modernismo, mesmo nos Bispos considerados conservadores).

    Noutras palavras, o Bispo em questão merece os parabéns…. do Thiago… os meus não valem nada, mesmo assim declino, pois tirar a Santa Missa Tridentina da Diocese, ou diminí-la, por causa de uma questão que seria “propriamente científica”, é por natureza, um tiquinho exagerada… será que não haviam outros padres a “demitir”?

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  19. Diogo e Sônia, concordo com vocês.

    Poderíamos também acrescentar à essa polêmica que os parentes dos doadores supostamente mortinhos da silva não fazem as doações por livre e espontânea vontade. Há nos hospitais uma equipe pronta e bem treinada para procurar os parentes assim que recebem um diagnóstico de morte cerebral. Justamente no momento em que as pessoas não têm a menor condição de decidir nada e estando totalmente despreparados, os agentes de saúde os abordam e dizem-lhes que estarão fazendo um grande gesto de caridade e que o coração do falecido continuará batendo no corpo de outra pessoa. Esquecem-lhe de informar no entanto que o critério utilizado no hospital é ainda bastante controverso, esquecem-lhe de pedir permissão para o teste de apnéia e não largam os parentes até que esses inocentemente e de bom grado assinem a permissão.

    Enfim, são vários fatores a serem pensados. Há ainda discussões legislativas para que todas as pessoas sejam consideradas doadoras em potencial caso não se oponham oficialmente em vida (nos documentos).

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  20. O que eu não entendi nos comentários arrogantes desse Thiago é porque coube a Igreja determinar o momento onde começa a vida, mas não cabe a ela nem de longe dar a palavra final sobre quando ocorre a morte. Se o caso depende da filosofia também, como o próprio admite, é claro que toda conclusão sobre isso precisa passar pelo crivo da Igreja, cabendo a Ela a palavra final.

    O que a medicina pode fazer é descrever o que está acontecendo fisicamente com o moribundo, mas a determinação do momento da morte cabe a filosofia, baseando-se nas informações que provêm da medicina. Portanto, a Igreja pode sim dar a palavra final sobre se as conclusões filosóficas que se tiram dos dados médicos são aceitáveis ou não.

    A medicina, como ciência natural que é, só tem uma autoridade independente do juízo da Igreja sobre o que é empírico. O momento da morte não se pode estabelecer com convicção por nenhum processo empírico, dependendo portanto de considerações filosóficas. Semelhante coisa acontece com o caso do momento onde começa a vida. E portanto, mesmo que a medicina diga que a morte acontece aqui ou ali, a Igreja pode julgar que aquela conclusão não é aceitável.

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  21. Fernando, à Igreja não cabe determinar quando começa a vida, isso é assunto filosófico e médico também. A Igreja, quando julga as conclusões filosóficas e médicas, não faz isso em termos teológicos, já que a Revelação não trata do assunto. Vocês misturam demais.

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    Diogo, o critério de morte cerebral é melhor que o de parada cárdio-respiratória, mas o de morte encefálica é melhor que o de cerebral.

    O que está errado está errado, independente de vir de um ambiente tradicionalsita, neo-conservador, carismático ou progressista. Esse padre não serve para pároco e o bispo foi prudente.

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    Ferreti, realmente me confundi por causa do esgotamento dos cookies.

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    Maria, você está completamente equivocada. Nos hospitais não há esse tipo de pressão que você descreveu (salvo possíveis excessões); já vi, inúmeras vezes, tanto em hospitais privados quanto públicos, a negação da doação por parte dos parentes do morto (aliás, isso é o mais comum). Não há grande controvérsia sobre a validade do critério de morte encefálica coisa nenhuma; como disse, só em ambientes muito restritos, marginais (no sentido literal da palavra), é que isso ocorre.

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    Sônia, um doador não tem que estar vivo, mas seus órgãos tem de estar. Existem três tipos de vida: a intelectiva, a sensitiva e a vegetativa. A vida intelectiva é própria do homem, que tem alma espiritual; quando ela não está mais lá, ou seja, quando a vida cessou (e o critério encefálico é o melhor critério para averiguar isso), não há mais pessoa, mas nos órgãos, pode existir vida sensitiva ou vegetativa.

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  22. RSegundo o Thiago, só em segmentos “marginais” se discute transplante de órgãos. O Japão, então, é um país marginal?
    Vários cientistas discutem o tema. Isso não me parece que sugira que exista “consenso” nem mesmo dentro da ciência.
    Rim e córnea não necessitam de “morte encefálica”; mas coração e pulmão, sim.O problema não é CONCEITUALMENTE morte cerebral (ou encefálica). O drama é como verificar EXATAMENTE na prática, ou seja, a execução do teste da apnéia.
    Na faculdade de medicina aprendi que “na dúvida, não prejudicar”.
    Precisamos de uma moratória urgente no transplante de orgãos como coração e pulmão, até que se tenha condições de comprovar morte encefálica sem prejudicar o paciente.

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  23. Ricardo, no Japão a pressão para a mudança do critério é forte; isso só não ocorreu ainda por motivos culturais.

    E minha pergunta sobre o transplante de córneas não tem relação com a morte encefálica, mas com o fato de que a resistência a ela que vocês apresentam ser baseada na movimentação, na “vida”, ainda existente em certos órgãos, mesmo quando o processo integrador do organismo não existe mais; ora, se é assim, enquanto há vida na córnea de uma pessoa com indicação de morte encefálica a conclusão deveria ser de que a alma ainda está presente e, portanto, tal transplante devia ser proibido.

    Falar de morte “encefálica ou cerebral” como se fosse a mesma coisa, é um equívoco.

    E uma coisa é discutir os métodos usados, como o teste de apnéia, outra o conceito em si de morte encefálica como melhor método para conprovar fisicamente a separação entre alma e corpo (morte).
    Quando as células do encéfalo morrem, o indivíduo morre; não porque o cérebro é a mesma coisa que a mente ou a personalidade, mas porque esse intermediário da alma, em suas funções operativa e dinâmica (como motor) dentro do corpo, foi removido. O problema, que aí sim merece atenção, é a aplicação do conceito em circunstâncias concretas, a realização do teste de apnéia em pessoas que podem não estar realmente mortas.

    Um artigo em defesa do teste de apnéia:

    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=503JDB004

    Posição da Pontifícia Academia de Ciências sobre o critério de morte encefálica:

    Clique para acessar o excerpt_signs_of_death.pdf

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  24. E, ainda sobre o que falaram de equipes sedentas por declarar a morte das pessoas em busca de órgãos, pude vivenciar o contrário de modo muito forte:

    Minha irmã, após um atropelamento, ficou 51 dias em coma numa UTI, foi desenganada três vezes pelos médicos, teve uma alergia ao sedativo que foi a terceira do mundo (levando o coração e os rins a um quase colapso – o caso dela foi parar em revistas científicas), teve uma perfuração no pulmão durante procedimentos médicos, etc. e, mesmo assim, os médicos (num hospital público e num privado) trabalharam incansavelmente pela vida dela. No tempo que a acompanhei vi muitos pacientes morrerem, em alguns casos os médicos perguntaram às famílias sobre a doação de órgãos, uns aceitaram, mas a maioria não, e isso foi respeitado.

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  25. Thiago,

    Sinto muito por sua irmã, que Deus a tenha iluminado e acolhido em seu Amor Infinito.

    Não sei se me fiz entender em meus comentários, mas: 1 – deveria ser levado em conta a controvérsia do teste de apnéia; 2 – um tratamento final por hipotermia assistida deveria ser mais comum, pois seria a “regra de três” para o diagnóstico de morte encefálica (e não somente cerebral, como é feito em muitos lugares), tal procedimento em nada prejudicaria os órgãos, pelo contrário, o “resfriamento” os conservaria – o problema seria só o de se demorar mais para firmar o diagnóstico da morte; e 3 – Ainda acho que uma “demissão” tenha sido exagerada, fosse assim por muito mais graves razões 90% do clero brasileiro teria de ser demitido e mandado para uma ilha deserta sem botes para não voltarem.

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  26. A propósito, conheci um intensivista na pós-graduação em bioética, que afirmava que ele, por conta própria, aplicava o critério de morte cerebral, e não encefálica… disse ainda que apurar a morte do tronco encefálico, bulbo e cerebelo era muito difícil e aplicando o critério só com base na atividade cerebral, além de mais fácil era algo quase irrecorrível, ou seja, de difícil contestação… afinal como alguém provaria que embora o paciente estivesse sem atividade cerebral nenhuma ainda tinha ativos os demais órgãos do encéfalo??? Ele estava “protegido”, entre outros coisas, exatamente porque o tratamento por hipotermia não se populariza, não se aplica onde é possível (e isso ocorre em parte por causa da cultura do transplante como valor máximo da caridade – a propósito reconheço que seja algo meritório e expressão de caridade, mas não à maneira moderna, que assim o considera por tratar a vida física como o bem maior do ser humano).

    Acho que agora fui mais claro, um abraço a todos.

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  27. Diogo, eu levei em conta a questão da apnéia, tanto que acabei de indicar um artigo que a defende. A hipotermia pode vir a ser mais um elemento no diagnóstico da morte encefálica, mas isso não desmerece o conceito de morte encefálica em si e nem é um indicador de que o que tem sido usado até agora seja falho.

    Um erro não justifica outro; no caso concreto o padre tinha de ser afastado, já que sua luta por um tema marginal (mas possível) não se enquadra naquilo que se espera de um pároco.

    Não sei o que você quis dizer com o exemplo desse intensivista. Ele comete atos ilegais, nada mais; sobre a suposta “cultura do transplante” acabei de citar o exemplo de minha irmã e de pessoas que estavam com ela que desmente isso. Esse intensivista, antes de ser alguém influenciado por uma suposta “cultura dos transplantes”, é um profissional irresponsável (se por cultura dos transplantes entendemos a disponibilidade de órgãos doados livremente e com respeito aos atuais critérios de morte encefálica não há nada demais nisso).

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