Uma súplica ao Papa Bento XVI. Monsenhor Brunero Gherardini, Concilio Ecumenico Vaticano II: Un discorso da fare.

O pensamento (que agora ouso submeter à Vossa Santidade) está em minha mente há bastante tempo. É o de se dar um grandioso e, se possível, final, esclarecimento sobre o último Concílio, a respeito de cada um de seus aspectos e conteúdos.

Com efeito, pareceria lógico, e a mim parece urgente, que estes aspectos e conteúdos sejam estudados em si mesmos e no contexto de todos os outros, com um exame atento de todas as fontes, e do ponto de vista específico da continuidade com o Magistério precedente da Igreja, tanto solene como ordinário. Será então possível, em comparação com o Magistério tradicional da Igreja e com base num trabalho científico e crítico — quão vasto e irrepreensível possível — retirar matéria para uma avaliação clara e objetiva do Vaticano II.

Isso permitirá responder às seguintes questões (entre outras):

  • Qual é a verdadeira natureza do Vaticano II?
  • Qual é a ligação entre seu caráter pastoral (uma noção que necessitará ser determinada com autoridade) e seu possível caráter dogmático? O caráter pastoral é conciliável com o dogmático? Ele o supõe? O contradiz? O ignora?
  • É verdeiramente possível definir o Concílio Vaticano II como “dogmático”? E conseqüentemente, é possível se referir a ele como um concílio dogmático? Basear sobre ele novas asserções teológicas? Em que sentido? E dentro de quais limites?
  • O Vaticano II é um “evento” no sentido dado à palavra pelos professores de Bologna* , i.e., algo que desata as ligações com o passado e estabelece uma nova era em todos os aspectos? Ou todo o passado revive nele “eodem sensu eademque sententia”?

Monsenhor Brunero Gherardini, padre da diocese de Prato (Itália), está a serviço da Santa Sé desde 1965, especialmente como professor de eclesiologia e ecumenismo na Pontifícia Universidade Lateranense até 1995. É autor de uma centena de livros e várias centenas de artigos em revistas, lidando com três campos concêntricos de pesquisa: a Reforma do século XVI, Eclesiologia e Mariologia. Monsenhor Gherardini atualmente é cônego da Arquibasílica Vaticana e editor da revista internacional de teologia “Divinitas”.


* Historiadores progressistas do Concílio Vaticano II agrupados em torno do Professor Giuseppe Alberigo (Ed.)

Mons. Brunero Gherardini – Concilio Ecumenico Vaticano II: Un discorso da fare. Fonte: DICI

12 comentários sobre “Uma súplica ao Papa Bento XVI. Monsenhor Brunero Gherardini, Concilio Ecumenico Vaticano II: Un discorso da fare.

  1. Quando alguém de dentro da Santa Sé (e com a projeção que tem) questiona de forma tão clara e objetiva o Concílio Vaticano II, é sinal de que os ventos estão mudando e de que os modernistas, progressistas, comunistas, bugninistas et caterva começam cada vez mais a perder terreno… Será que estes questionamentos não refletem o próprio entendimento e posicionamento do papa sobre o tema?

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  2. A idéia dos concilio infalível esta com os dias contados, e os modernistas sabem disso muito bem, até entre eles já não há defesa clara da infalibilidade….

    Que Nossa Senhora de Fatima ajude o Papa e a Igreja a definir rapidamente o que foi “desdefinido”…

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  3. Ííííííí…… O sr. Victor José vai dizer que Mons. Brunero não é obediente…
    Tadinho do Monsenhor: ele é rad-trad e não está em plena-comunhão!

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  4. Não posso entender o porquê da defesa insana de uma infalibilidade que não existe em se tratando do Vaticano II. Este debate infalibilidade/não infalibilidade é algo exasperante, pois que todos os que usam o bom senso sabem que não há sombra de infalibilidade neste concílio e tanto já foi dito sobre tal assunto, inclusive pelos papas que se seguiram à ele, que a insistência no mesmo assunto só mostra uma grande má vontade dos neo-conservadores e dos progressistas de plantão em enxergar o óbvio.

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  5. Logo-logo o sr. Victor José vai “excomungar” Mons Brunero por questionar ou levantar suspeitas sobre o sacro-santo CV-II…
    Não se pode pensar, mas deve-se, unicamente, obedecer e acatar, fazendo obséquio [e destituição] da inteligência, a tão glorioso Concílio!!!

    E mais não digo!

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  6. Quando essa definição acontecer quero ver como vão reagir algumas instituições ditas “conservadoras” que defendiam o CVII, diferenciando o concilio (que em tese seria bom) do chamado espírito conciliar (esse sim ruim)

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  7. Prezados amigos

    Venho acompanhando atentamente a repercussão do livro do Mons. Gherardini desde sua primeira resenha feita por Bruno Volpi (ou Tornielli, não me lembro agora). Depois, no site do P. João Batista (Santa Maria das Vitórias), bem como o Congresso teológico recém encerrado em Paris, onde foi apresentada sua edição francesa e, mais recentemente, aqui no “Fratres”, a contagotas. Paralelamente, há os comentários dos leitores, entre eles, um se destaca pela impertinência aos assuntos abordados pelo Doutor Gherardini e mantém seu foco de ataque para a Fraternidade S. Pio X.

    Esse leitor, que se intitula como Vitor José, apresenta uma argumentação SUA com uma prolixidade de textos e citações, mas, espertamente, não rebate diretamente ao Mons. Gherardini. Ora, o referido escritor faz parte do clero romano, onde é reconhecido pelo seu saber teológico. Está, para usar um termo comum atualmente, em “plena comunhão”.

    Seu livro poderia ser encaminhado à Congregação para a Doutrina da Fé, ali mesmo em Roma, para ser analisado pela equipe do Cardeal Levada e definido seu teor de erros. Claro que isso não aconteceu. Aí o sr. Vitor José destila sua sapiência contra a Fraternidade S. Pio X que vem, desde seu fundador, com a mesma argumentação sobre a crise da Igreja desencadeada após o Concílio Vaticano II.

    Na falta de uma argumentação sólida o sr. VJ transcreve longas citações dos bispos da Fraternidade já bem usadas (e abusadas), como, por exemplo, de 2003. E conclui que elas são heréticas, cismáticas, etc. Só se esquece que o Santo Padre Bento XVI já suspendeu os decretos de excomunhão que pesavam sobre eles e não mencionou nenhuma necessidade de abjuração de erros. Seria o Papa negligente em retirar uma pena de indivíduos que se recusam a manter comunhão com a Igreja?

    Para o sr. Vitor José, no meu entender, a Igreja vive em unidade doutrinária nunca vista. São concordantes com a Fé os ensinamentos marxistas da Teologia da Libertação, dos carismáticos P. Fabio, Jorjão, Joãozinho (e outros diminutivos e aumentativos), baseados nas interpretações dos docuemntos conciliares. A implantação da Sacrossantum Concilium (sobre a Liturgia) não “ultrapassou os limites do tolerável”.

    A única crise foi desencadeada por Mons. Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer ao sagrarem bispos sem mandato pontifício. Será que para ele as palavras do Papa João Paulo II denunciando que a Europa vivia uma “apostasia silenciosa”, que a Liturgia fora “violada” se referia a que período da História? Que as palavras do então cardeal Ratzinger sobre “ventos de doutrina”, da Barca a “fazer água por todos os lados, parecendo afundar”, sobre o Concílio Vaticano II ter sido o anti Syllabus, foram lançadas a esse “câncer” da Igreja, a Fraternidade S. Pio X?

    Àqueles que aqui refutam o Sr. Vitor sugiro não caiam na sua artimanha bem ao estilo protestante de argumentar. A tática de expor SUA argumentação tirando o foco do assunto principal e sem confrontar os pontos em desacordo já foi vista pelo célebre Padre Leonel Franca como desonestidade intelectual.

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  8. Caro sr. Antônio, cordiais saudações.
    Não compartilho de sua visão sobre os “poderosos apotegmas teológico-doutrinais” do sr. Victor José; creio que o senhor está equivocado nas suas acertivas.
    Não tenho dúvidas que o sr. Victor José NÂO É um desonesto, mas um chato.
    Em sua megalomania, considerando enormemente suas elucubrações provenientes de sua apoteótica cabeça-de-melão, o sr. Victor José nos apresenta o modus operandi da mente e do coração neo-católico; acredite, conheço muitos que são assim e fazem com absoluta convicção de estarem “prestando relevantes serviços à Igreja”.
    Infelizmente, o que possuem de “iniciativa”, carecem de precisão: não podendo se defender na razão de argumentos, apelam para o desesperismo puro e saem acusando o que é mais próximo e o que é mais fácil – como é o “sparing” da vez, a FSSPX.
    Perceba a gageira mental do sr. Victor José que contrasta com a sua “produção textual” imensa: mais, mais e mais das mesmas referências que todos sabemos serem inócuas, mas, no labirinto da mente do sr. Victor José, é já um “argumento de autoridade” para o descanço teologal de suas divagações. Como bem sabemos, pensar cansa muito, e o sr. Victor José adora uma sombrinha para se proteger do mormaço modernista.
    Não o leve à mal, muito menos o leve à sério!!!
    Um dia ele se cura dessa ressaca, cresce, aparece e nos dá a alegria da re-conversão!
    Digo e repito: ele não é mau; é só … digamos… “tapadinho”…

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  9. Meus caros amigos, sinceramente, essa discussão já estava a dar voltas no meu estômago. Não tinha mais paciência para ficar lendo os textos extensos se, ao menos, fosse algo inédito, mas trata-se das acusações de sempre e…só isso. Haja paciência (esta virtude tão boa e tão ardida de se ter), para ficar imerso nessa refrega mentalmente desgastante. Haja dedos para digitar, não? Como sou “catador de milho” inveterado, nem me atrevo a envolver-me em tais discussões, pois certamente, estaria em desvantagem motora. Mas, cumprimento aos amigos pela boa disposição em empunhar da espada e do intelecto afiado para o discorrer do tema em defesa do bom Monsenhor Gherardini.
    Perdoem o chiste deste amigo e admirador.
    Deus abençõe a todos!

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  10. Caríssimo Antonio,
    Vc está certíssimo.
    Em cada post do Sr. Vitor José (ou F, vc sabe a quem me refiro) ele destila ódio contra a obra de Mons. Lefebvre. Neste ponto ele não segue o magistério de Bento XVI, e sim desse tal Sr. F, cujo pavor da FSSPX nós já conhecemos.
    O debate deixou de ser o livro do Mons, Brunero, que ele não leu e não gostou, para atacar a FSSPX, que Mons Brunero faz questão de distanciar-se.
    Meu caro Antônio, permita-me um brado:
    VIVA JESUS !
    VIVA NOSSA SENHORA !
    VIVA A SANTA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA !
    VIVA DOM ANTÔNIO DE CASTRO MAYER E DOM LEFEBVRE, QUE NÃO VEDERAM SUAS ALMAS AO DIABO, MAS CONSERVARAM INTACTA A FÉ DOS APÓSTOLOS !
    VIVA O BOM POVO DE ARRAIL NOVO, QUE EM BOM TEMPO SOUBE DAR UM BASTA NESSES MODERNISTAS !

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  11. É tão gratificante constatar como o tempo está do lado da Verdade Católica, que não é propriedade de ninguém.
    É simplesmente a realidade do dia-a-dia.

    Que o papado de João Paulo II teve uma face lamentável, assim como o de Bento XVI está a léguas de distãncia de considerar-se isento de críticas, mesmo assim a Verdade, por mais obscurecida, tende a brilhar cada vez mais, pois não pode ser aprisionada por muito tempo.

    E espero que não tarde a voltar a ser posta em destaque, para que ilumine a todas as coisas.

    Quando conheci a Tradição, isso lá para 2001, foi-me apresentada como cismática, herética e excomungada. Com efeito, precisei de tempo para compreender bem as coisas.
    Para aceitar a FSSPX, precisei de ainda mais tempo.

    Agora vejo cair anualmente todos os argumentos dos ignorantes e principalmente dos covardes, contra o que os tradicionalistas sempre bradaram: que o retorno à Tradição passa necessariamente pelo combate a tudo o que vai contra a mesma.

    De repente, as conversações foram aos poucos retomadas, no ano 2000 veio a concessão para que a FSSPX peregrinasse nos lugares santos de Roma, e a Santa Sé foi mudando o tom de suas exortações, encíclicas e decretos… Nada absolutamente impecável, mas notava-se uma mudança de tom, que sugeria mais que um apego à moderação.

    Veio a Dominus Iesus, a Ecclesia de Eucharistia, a Redemptionis Sacramentum… Depois chegou a hora de Bento XVI, a condenação da “Hermenetuica da ruptura”, o Motu Proprio Summorum Pontificum…
    Então as exigências comprometedoras para a FSSPX foram substituidas por um ultimato em que só se exigia a adesão da mesma à Igreja Romana, sem mencionar nenhuma novidade conciliar… E um levantamento de punição canônica GRATUITO.

    Então a Santa Sé resolve dar prosseguimento a discussões doutrinárias (imaginem!!!! Discutir doutrinas!!!!) acerca do Vaticano II.

    E diante deste clarríssimo indício de que o Vaticano II PODE ser questionado, de que o concílio NÃO está acima de discussões, ou seja, não é VERDADE IMUTÁVEL, há quem olhe para nós e nos taxe de extremistas.

    A covardia tem dessas…

    E nos bastidores, os mesmos são incapazes de constatar que tudo isso segue uma sequência lógica. Todos os simpatizantes das coisas da Tradição da Igreja voltaram a erguer a cabeça novamente, e questionamentos agora têm sido cada vez mais ouvidos aqui e acolá, por pessoas “de dentro”, que nem sequer têm vínculo com a FSSPX.
    E o que dizer da redescoberta do Iota Unum, de Romano Amerio?

    E o que dizer agora de Monsenhor Gherardini? Ele é “situação”. E deixa claro que não tem vínculo com a oposição (FSSPX).

    Apesar de muitos pesares, nesse passo, me pergunto o que será da Igreja se Bento XVI sobreviver aos próximos cinco anos… As conversações teológicas estão se dando numa velocidade assombrosa. Já não tenho certeza de que a FSSPX se incorporará ao direito canônico em anos, como disse Msgr Galarreta, mas pelo andar da carruagem, não será de surpreender se Roma fizer uma revisão solene do Concílio Vaticano II, e anunciar a reincorporação da FSSPX como uma espécie de prelazia com poderes ainda mais amplos do que uma Opus Dei.

    Realmente, diante do que tem acontecido nos últimos anos, a solução é deixar que os chatos pensem que convencem a qualquer um que não seja tão ou mais ignorante ou que tenha tanta má vontade quanto a deles.

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