Por Dom Antônio de Castro Mayer
Em todos os tempos, os hereges, com a doutrina tradicional, rejeitaram também a disciplina do celibato sacerdotal, igualmente tradicional. Não admira, pois, que o Vaticano II tenha suscitado, nos nossos tempos, movimentos contrários ao celibato dos padres. O Vaticano II marca um afrouxamento da doutrina e da vida católica tradicional. Quanto ao celibato, no mesmo Concílio, o Sr. D. Pedro Paulo Kop, então Bispo de Lins, pleiteou a ordenação de homens casados. Seria a abolição pura e simples do celibato sacerdotal. Teve quem o contraditasse, e o escândalo não consumou-se.
Paulo VI, por sua vez, estabeleceu normas a serem seguidas nos caso de dispensa da Lei do Celibato por parte de padres. Em outras palavras, deixou considerar tais concessões exceções raríssimas.
Com João Paulo II, apareceram como naturais fatos de si destruidores da disciplina do celibato sacerdotal. Nos Estados Unidos, com inteira aprovação de João Paulo II, um Bispo do Missouri, D. Bernardo Law, em 29 de Junho de 1982 ordenou sacerdote um homem casado de 51 anos, na presença da sua esposa e filhos. A porta abria-se, com alguma estupefação. Por isso, passou-se a aplainar a estrada com a ordenação de diáconos permanentes. A Lei do Celibato atinge também os diáconos, e até os subdiáconos quando ainda os havia. Paulo VI introduziu os diáconos permanentes, com a possibilidade de se constituírem diáconos também homens casados. Daí à ordenação de padres casados há apenas um passo. E o povo, com esse relaxamento gradual da disciplina, vai se habituando à Igreja secularizada inaugurada pelo Concílio.
– Mas, dirão, os apóstolos não eram casados?
– A Escritura jamais fala das esposas dos Apóstolos. Se eram casados deveriam ser péssimos cristãos que assim relegam suas esposas. Na realidade, pelos Evangelhos, só consta da existência da Sogra de S. Pedro, o que leva a deduzir que realmente S. Pedro fora casado. Mas os evangelhos também dizem que os Apóstolos deixaram tudo, para seguir ao Senhor. E a norma para os sacerdotes é dada por S. Paulo 1 Cor. VII, 32: “Quem não é casado cuida das coisas de Deus, procura agradar ao Senhor”. E logo depois acrescenta o Apóstolo : “Quem é casado cuida das coisas do mundo, procura agradar à mulher”.
A razão do celibato exprime-a muito bem Pio XII (Enc. “Menti Nostrae”, 1950): “É exatamente porque deve estar livre das preocupações profanas, para se dedicar todo ao serviço divino, que a Igreja estabeleceu a Lei do Celibato, a fim de que ficasse sempre manifesto a todos que o Padre é ministro de Deus e pai das almas”.
(Monitor Campista, 20.03.1983)