Por Diogo Ferreira
Excelência,
Sua Benção!
Como leigo Católico residente na circunscrição eclesiástica da Diocese de Jales venho respeitosamente tecer alguns comentários que reputo importantes acerca de um dos últimos artigos de Vossa Excelência, intitulado “Pela liberdade de consciência”.
No referido texto Vossa Excelência parece reagir aos pronunciamentos de Bispos e Padres, secretarias e institutos religiosos que ultimamente têm conclamado os fiéis católicos a não contribuírem com o voto à candidatura de Dilma Roussef à Presidência da República.
Tanto assim que em meio a uma ode à liberdade de consciência Vossa Excelência pontua que se difundem “cartas procedentes de sub-comissões, de sub-regionais, ou cartas individuais de determinados bispos ou padres, e pretendem invocar sobre estes escritos a autoridade de toda a instituição, quando o Presidente da CNBB, D. Geraldo Lyrio Rocha já esclareceu, enfaticamente, que a CNBB não apóia nenhum partido e nenhum candidato, nem igualmente proíbe nenhum partido ou candidato.”, aludindo aos vídeos e textos que se lançaram recentemente, como o de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, Dom Alberto Taveira Correia, Dom Manoel Pestana, ou a nota da Comissão Episcopal representativa do Conselho Episcopal Regional Sul 1 da CNBB entre outros nobilíssimos Bispos e Padres.
Pode-se confirmar que o intento era mesmo o de defender mais especialmente a legitimidade de voto em Dilma Roussef observando o texto seguinte, publicado alguns dias depois no mesmo site da Diocese, em que se lê sob o título “o fato relevante” que, entre outras coisas “Esta autonomia frente à grande imprensa, se traduz também em liberdade diante das recomendações de ordem autoritária. Elas também já não influenciam. Ao contrário, parecem produzir efeito contrário. Quando (sic) mais o bispo insiste, mais o povo vota contra a opinião do bispo.”.
Diante de tudo isso, sinto-me no dever moral de lançar algumas ponderações atinentes ao assunto, o que faço primeiramente a Vossa Excelência, mas também a tantos mais quantos tiverem lido os supracitados artigos, daí esta carta aberta.
O dever de todo católico de colaborar – conforme suas condições e estado de vida – ao Bem Comum na Polis é algo deveras relevante, e em vista de que “a Graça não destrói, mas aperfeiçoa a natureza[1]”, esse mesmo católico encontra na Sã Doutrina e na disciplina da Igreja uma apurada e renovada força para cumprir com seus deveres de cidadania, bem como fazer valer seus direitos.
Assim é que, os problemas de ordem natural em crivo político e econômico, enquanto estão sob aspectos técnicos, carregam consigo uma maior liberdade decisória quanto a maneira de resolvê-los.
Entretanto, a face política dos problemas de ordem natural pode ter, e regularmente têm, um outro aspecto além do meramente técnico, trata-se do sobressalente aspecto moral, sobre o qual deve a Igreja instruir os fiéis, como múnus próprio entregue por Cristo aos Apóstolos e seus sucessores.
Por isso é que se lê na Encíclica Immortale Dei, de Leão XIII, a explicitação do que sempre fora crido:
“Destarte, tudo o que, nas coisas humanas, é de certo modo sagrado, tudo o que pertence à salvação das almas ou ao culto de Deus, que seja assim por natureza própria ou, ao invés, se entenda como tal pela causa a que se refere, tudo isso abrange do poder e arbítrio da Igreja” (Denzinger-Hunermann, 2007, p. 678).
É ainda mais clara a Instrução Libertatis conscientia (título bem a calhar ao assunto em pauta), que sob o reinado do Papa João Paulo II e retomando as grandes chaves de leitura da Doutrina Social da Igreja, asseverou:
“Nesta missão, a Igreja ensina o caminho que o homem deve seguir neste mundo para entrar no Reino de Deus. Por isso, sua Doutrina abarca toda ordem moral e, particularmente, a justiça, que deve regular as relações humanas. […] Quando propõe sua doutrina acerca da promoção da justiça na sociedade humana ou exorta os leigos ao engajamento, segundo sua vocação, a Igreja não excede seus limites […] Na mesma linha, a Igreja é fiel à sua missão, quando denuncia os desvios, as servidões e as opressões de que os homens são vítimas; quando se opõe às tentativas de instaurar, seja por oposição consciente, seja por negligência culposa, uma vida social da qual Deus esteja ausente, enfim, quando exerce seu julgamento a respeito de movimentos políticos que pretendem lutar contra a miséria e a opressão, mas são contaminados por teorias e métodos de ação contrários ao Evangelho e ao próprio ser humano.” (Idem, p. 1122)
Ora, o pedido de muitos Bispos e Padres para que os fiéis não incidam no erro de votar em candidatos que, pessoalmente ou por força do partido, defendam a legalização do aborto é totalmente justificado pela própria hediondez do crime que não pode ter chancela governamental sem grave prejuízo a toda a nação.
O partido dos trabalhadores conseguiu evidente destaque negativo nessa seara ao encaminhar, em 2004, um relatório ao Comitê de Direitos Humanos da ONU que afirma o compromisso do governo do PT na luta em “revisar a legislação repressiva” contrária ao aborto no Brasil; o governo Lula, publica ainda em 2004, o plano nacional de políticas para mulheres, em que apresentava como algo de ação prioritária no item 36.1 do referido documento “revisar a legislação punitiva” do aborto, tais diretrizes conforme os dizeres do próprio documento oficial foram aprovados pelos ministros de estado e pelo presidente da República; em seguida, o governo por meio de sua base parlamentar na câmara dos deputados, lutou pela aprovação do projeto de lei nº 1135/91, de autoria dos ex deputados petistas Eduardo Jorge e Sandra Starling, que liberaria o aborto no país a ser financiado pelo governo com o dinheiro dos impostos, através do sistema único de saúde, e sem qualquer restrição; a rejeição do projeto de lei retro indicado ocorreu somente em 9 de julho de 2008 com parecer em contrário da Comissão de Constituição e Justiça, entretanto, para que não houvesse o arquivamento do mesmo, o deputado do PT José Genoíno apresentou o recurso 201/2008 solicitando a liberação do projeto para ser votado em plenário, apesar dos pareceres contrários de duas comissões internas da câmara, assim o deputado pretende que o projeto seja aprovado no momento oportuno, o que vale dizer, depois de manobras e visível maioria com mínimo legalmente possível de quorum.
Agora, o mais aviltante ainda está por vir: em 21 de dezembro de 2009, o governo Lula sanciona o Plano Nacional de Direitos Humanos, que apresenta como objetivo estratégico (item III) o apoio à aprovação de projeto de lei que descriminalize o aborto, além de defender projetos que equiparem ao casamento a união homossexual e propostas de retirada obrigatória de todos os símbolos religiosos de qualquer repartição pública. Isso também é reafirmado em 22 de fevereiro de 2010, em que o site oficial do PT publica a Resolução sobre as diretrizes de programa 2011 a 2014 (portanto a ser implantada com a eleição de Dilma Roussef, o apoio ao aborto é especialmente citado na diretriz nº 57 do documento).
Em 16 de Julho de 2010, um ministro e uma chefe de secretaria do governo, e “companheiros” de Dilma Roussef, assinaram em nome do Estado Brasileiro o denominado “Consenso de Brasília”, em que se assume o compromisso pela legalização do aborto (item 6, alínea f).
Dilma Roussef, em recente entrevista filmada aos editores da revista “istoé” (que pode ser vista na íntegra quanto ao tema, até mesmo pelo youtube), se reportou ao aborto dizendo que o fato negativo do mesmo é apenas o de provocar dores na mulher, disse ela: “além de ser uma agressão ao corpo da mulher, dói… eu imagino que a mulher sai de lá baqueada (sic)”, nenhuma palavra fora dita sobre o sofrimento e morte da criança no ventre, o que, além de tudo, mostra uma cruel insensibilidade.
O fato emblemático, entretanto, é outro, pois “nunca antes na história desse país”, deputados tinham sido perseguidos e forçados a sair de um partido mediante processo disciplinar, por terem se mostrado contrários à legalização do aborto. Foi talvez uma das maiores façanhas ocorridas durante o governo petista: os deputados federais Luiz Bassuma e Henrique Fontes sofreram processo disciplinar no PT e foram punidos pelo partido por serem contrários à legalização do aborto! (de fato, o PT não é lugar para pró-vida). Isso fora possível, pois, no PT o aborto é programa de partido e fora institucionalizado como meta em Congresso Nacional partidário (definida a legalização do aborto a ser realizado nos hospitais públicos sem restrições, pelo III Congresso Nacional do PT, em 2007, entre outros anteriores e com confirmação posterior do Congresso de número IV, de 2009).
Tendo diante de si todas essas amostras de desrespeito ao bem natural mais fundamental que é a vida, em vista ainda da pretensão do PT de que esse bem mais fundamental possa ser diretamente atacado e tolhido através do aborto financiado pelo Estado via SUS, os religiosos conscientes e zelosos de seu dever opuseram-se a tal plano que “clama aos céus por vingança” conclamando os católicos a não contribuírem nessa tenebrosa empreitada.
Pois quem colabora com o pecado, mesmo por omissão, é réu da mesma culpa e prestará contas a Deus, assim ensina o Catecismo da Igreja. Muito claramente expressa essa lição do catecismo o Padre Marcelo Tenório:
“colaborar com o pecado grave, nem que seja por omissão é comete-lo também. O aborto é pecado grave que brada aos céus por justiça. Votar em qualquer candidato que o apóia é ser réu diante de Deus, é ficar com as mãos sujas do sangue dos inocentes que será derramado mais ainda se esta lei iníqua um dia for aprovada.”[2]
Afinal, se lê na Lumen Gentium que tanto os clérigos quanto os leigos, por óbvio, “se devem guiar em todas as coisas temporais pela consciência cristã, já que nenhuma atividade humana, nem mesmo em assuntos temporais, se pode subtrair ao Domínio de Deus.” (Idem, p. 958. parágrafo 36 do doc.).
Para atacar os prelados que atacaram o PT, Vossa Excelência repetidamente lançou mão em seu texto da expressão “liberdade de consciência” – com a qual, segundo Vossa Excelência, os católicos poderiam votar sem receio em Dilma Roussef.
Ocorre que a liberdade de consciência que Vossa Excelência evoca não se parece nesse ínterim com a sã liberdade católica, pois verdadeira liberdade não é aquela que se satisfaz em ser livre, mas sim aquela que se vale do ser livre para abraçar e prover a Verdade e o Bem.
Ou, noutras palavras, não se trata de obnubilar a consciência para usá-la de maneira contrária ao Bem sob a bandeira da liberdade, a isso melhor seria chamar libertinagem ou arbitrariedade.
A liberdade é um bem, mas é um bem “meio”, e não um bem “fim” em si mesmo, ela deve estar a serviço da Verdade e do fim último do ser humano, Este sim Bem Absoluto, Deus mesmo.
Vale mais uma citação de Leão XIII, o grande Papa da Doutrina Social da Igreja, dessa vez na Encíclica Libertas Praestantissimum:
“Em conseqüência disso, numa verdadeira sociedade humana, a liberdade não consiste em cada um fazer o que bem entende,… mas nisto, que, por meio das leis civis, se possa viver mais facilmente de acordo com as prescrições da Lei Eterna.” (Ibidem, p. 691).
Do contrário a liberdade se torna auto destrutiva e destruidora de seu fundamento terreno participado, o ser humano.
Desta forma a liberdade não tem a prerrogativa de tudo legitimar, nem foros absolutos.
Diga-se ainda que, nenhum dos clérigos que apontaram o dever moral do católico de não contribuir com a legalização do aborto, irá porventura coagi-los ou obriga-los por intermédio da força, isso sequer é factível no sistema de voto secreto e muito menos fora esse o intento que manifestaram os reverendíssimos religiosos, eles apenas alertaram sobre o grave problema ético que envolve a questão. De fato, a possibilidade de votar em partidos pró-aborto se mantém, por isso mesmo é que devemos reafirmar ao católico que não deve anuir nesse projeto contra a vida, ou seja, o dever de não votar nesses partidos é decorrência lógica da posição católica contra o aborto, é dever por coerência cristã… não uma obrigação imposta por armas e avessa ao exercício da liberdade de consciência, mas se trata exatamente de fomentar o uso consciencioso da liberdade de maneira autenticamente cristã.
Por tudo isso é que o católico não deve votar no PT e em políticos pessoalmente favoráveis ao aborto, pois o tema atinge o bem natural maior – que é a vida – daqueles mais indefesos, os nascituros.
Defender posição em sentido contrário e votar em candidatos legalizadores do aborto é se tornar ipso factum cúmplice (seja em maior ou menor grau) do assassinato de inocentes por nascer, pois a Santa Igreja Católica Apostólica Romana sempre proibiu o aborto e isso pode ser atestado historiograficamente já pelos documentos patrísticos.
Desde o 1º Catecismo Cristão (Didaché) que data do ano 90-100, está escrito ‘não matarás criança por aborto, nem criança já nascida’ […] Em 220, Tertuliano diz uma frase genial: ‘É homem o que deve tornar-se homem, tal como o fruto inteiro está contido na semente’ (apologética, cap.9)[3].
A condenação foi reafirmada em vários Concílios no correr dos séculos: Concílio de Ancara (ano 314, cânone 20); Concílio de Lérida (ano 524, cânone 2); Concílio de Constantinopla (ano 629, cânone 91); Concílio de Worms (ano 829, cânone 35). Também através de Bulas: Ephenatom (ano 1588), Sedes Apostólica, do Papa Gregório XIV (ano 1591) e Sedes Apostólica do Papa Pio IX (ano 1869) e assim, sempre, no exercício Perene do Magistério Eclesial[4].
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De quem lhe agradece imensamente por ter ministrado meu Sacramento da Crisma, cuja Graça Divina comunicada me fez – ainda que muito pecador – um soldado do Senhor dos Exércitos, subscrevo-me suplicando que reveja vossa posição acerca do que escrevera.
Ad Maiorem Dei Gloriam.
Diogo Ferreira.
[1] AQUINO, Santo Tomás. Summa Theologica, I, q. I, art. 8, ad. 2.
[2] Retirado de http://www.acidigital.com/noticia.php?id=20210
[3] MARTINS, Roberto Vidal da Silva. Aborto no direito comparado: uma reflexão crítica. In: A vida dos direitos humanos: bioética médica e jurídica.1999 p.409.
[4] Idem. p.409 e 410.
Que lição de moral Católica !!!
Converta-se Dom Demétrio Valentini.
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Sinal do tempos, quando cumpre a um fiel leigo ter que dar lições da Doutrina, do Magistério e da Moral Católicas ao um Bispo da Igreja… “O tempora, o mores”…
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Parabéns pelo artigo. A posição deste bispo mostra que os principais inimigos de Cristo, infelizmente estão dentro de sua casa. Como dizia Paulo VI, a fumaça de satanás entrou na cada de Deus.
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Queria demais que D. Demétrio se convertesse da ESQUERDA ATEIA e do LuLLo-Petismo e fosse um Pastor decente e não mais um lobo!!
:/ só um milagre para ele rever toda sua posição esquerdopata e TL, que destrói diretamente suas ovelhas!!
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http://angueth.blogspot.com/2010/09/carta-aberta-dom-demetrio-valentini.html
http://angueth.blogspot.com/2010/10/carta-aberta-dom-saburido-ou-ensinando.html
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Parabéns ao Diogo pela carta, ela colocou as coisas em seus devidos lugares. Dúvido, no entanto, que a carta terá pelo menos um agradecimento de Dom Demétrio Valentini. O problema é que o PT nasceu do casamento entre a CNBB e a Teologia da Libertação, nasceu praticamente nas sacristias da Igreja. Bispos como Dom Demétrio até entendem que não se apóie “O Partido”, mas não tolera que outros irmãos de episcopado, condenem seus cãodidatos.
Alguém sabe mais da relação materna entre a CNBB e o PT?
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Carta mais que oportuna. Aliás ela serviria perfeitamente para outros bispos.
Aqui no RJ a Arquidiocese fez aquela declaração covarde dizendo que não apoiava nem rejeitava nenhum candidato. Resultado: Crivela e Lindberg no Senado! Carlos Dias, que é católico pratiacante de missa regular e que sempre foi forte na defesa da vida nem sentiu cheiro dos votos. Molón petista, apoiado informalmente por ambientes eclesiais do RJ, ganhou como um dos deputados mais votados.
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Bravo!
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Prezados,
Salve Maria Santíssima.
Peço-lhes que rezem por mim e por minha família.
Grato desde já,
Diogo Ferreira.
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CARTA ABERTA A DOM SABURIDO. OU, ENSINANDO REZA A VIGÁRIO. OU, AINDA, UMA CORREÇÃO FRATERNA.
O que exige que falemos sem demora é, antes de tudo, que os promotores do erro já não devem ser procurados entre os inimigos declarados da Igreja; mas, o que é para deplorar e muito temer, se ocultam no seu próprio seio, tornando-se assim tanto mais nocivos quanto menos percebidos”.
(S. Pio X, Encíclica Pascendi Dominici Gregis, 08/09/1907)
Excia. Revma.
Dom Saburido, O.S.B.
Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife
Como vai no subtítulo, sem arrogância alguma de minha parte, vou dizer-lhe certas coisas que acredito V. Excia, não aprendeu no seminário. Afinal, V. Excia foi ordenado já em um momento em que a fumaça de satanás já havia entrado na Igreja segundo as palavras do próprio Paulo VI, o Papa querido dos modernistas: “Por alguma fissura, a fumaça de Satanás está no templo de Deus: a dúvida, a incerteza, o questionamento, a preocupação, a insatisfação, o afrontamento surgiram.”
Não são minhas intenções julgar as vossas, estas, só Deus as sabe e as julga corretamente. Não irei incorrer em juízo temerário. O que irei é comentar, à luz das Sagradas Escrituras, do magistério eterno da Santa Igreja Católica Apostólica Romana e do magistério dos Santos Doutores algumas ações e declarações públicas de V. Excia. que não estão “segundo a verdade do evangelho” (Gal. II,14).
Permita-me antecipar em minha autodefesa, em resposta aqueles que objetem minha insignificância ao escrevinhar estas linhas. Aqueles que me imputem desrespeitador de um príncipe da Igreja de Roma. Sei que da parte de Vossa Excia. Revma, que tem por lema episcopal, Secundum Verbum Tuum, não haverá espasmos de indignação, mas recolhimento para realmente viver o “segundo Tua palavra” divina (Fiat mihi secundum verbum tuum. (Faça-se em mim segundo a vossa palavra) (S. Lucas, I, 38).).
Alguns “católicos” dirão, antevejo, que é um absurdo um danado de um pecador, reles professor de coisas seculares querer se arrogar em apontar erros nos outros e mais ainda em um bispo. Dirão que este não é um tempo de imposições, de dogmas, mas sim um tempo de abertura, de acolhimento, de profetismo, de comunhão. Dirão que vejo ser o dono da verdade. Um absurdo! Ninguém é dono da verdade. Esta é uma construção coletiva. É comunitária. Não possuo a verdade, procuro permanecer nela, como prega Cristo. É para estes Vossa Excia. Revma. que antecipo os nomes de meus advogados. Os promotores de minha causa.
Miro-me em São Paulo, que, inferior hierarquicamente repreendeu publicamente a São Pedro. Em Catarina Benincasa, Santa Catarina de Sena que repreendeu rispidamente, mas respeitosamente, o Papa Gregório XI, fazendo-o voltar para Roma.
Tomei por parecerista o Doutor Angélico. Eis seu ensinamento:
Resistir na cara e em público ultrapassa a medida da correção fraterna. São Paulo não o teria feito em relação a São Pedro se não fosse de algum modo o seu igual (…). No entanto, é preciso saber que, caso se tratasse de um perigo para a Fé, os superiores deveriam ser repreendidos pelos inferiores, mesmo publicamente. Isso ressalta da maneira e da razão de agir de São Paulo em relação a São Pedro, de quem era súdito, de tal forma, diz a glosa de Santo Agostinho, que ‘o próprio Chefe da Igreja mostrou aos superiores que, se por acaso lhes acontecesse abandonarem o reto caminho, aceitassem ser corrigidos pelos seus inferiores (S. Tomás., Sum. Theol. IIa-IIae, q. 33, art. 4, ad 2m).
Excia. o senhor é tido, ao menos midiaticamente, como um moderado, um conciliador. O que viria a ser isto? Quererá um moderado a quadratura do círculo ou, a circularidade de um quadrado? Afinal de contas, é uma arrogância medonha um quadrado só ser quadrado, e o círculo ser somente circular. Não, um moderado tem de mesclar os dois. É a dialética diabólica. Como se dá isto no plano espiritual? Ouso uma conjectura. Seria conciliar as coisas de Deus e a coisas do mundo? (os valores de satanás) Um moderado em questões espirituais só pode agir assim desta forma.
Teriam os jornais e “católicos” progressistas alcunhado o senhor de moderado devido a esta declaração, que segundo o Jornal Diário de Pernambuco teria Vossa Excelência pronunciado:
A Igreja defende que o aborto deve ser evitado. Mas é claro que tem que ver as condições médicas. Se existe um risco muito grande, há um consenso nesse sentido, então é algo a se considerar.
(http://www.diariodepernambuco.com.br/2010/04/10/urbana8_1.asp)
Hum! Confesso que não compreendi Excia. Tendo sido realmente o Senhor que pronunciou isto, pesa-me no coração dizer, mas o senhor não é mais católico, logo, não pode ser um Bispo da mesma Igreja Católica. Da “igreja” Universal, certamente.
Caro Dom Saburido, o Senhor leu o que dizem que o Senhor disse? Eu li. Não pode aquilo ali ter sido dito por um verdadeiro Bispo Católico Romano. O repórter foi incisivo nas perguntas. Mas o senhor foi tão evasivo, tão escorregadio, tão, como direi… MODERADO. O senhor diz que a Igreja “defende que o aborto seja evitado”. Isto soa tão romântico. Tão Concílio Vaticano II. Tão humano. Maldito respeito humano! A Igreja anatematiza e excomunga os abortistas e seus asseclas, e seus defensores, como o senhor. É isso. E nada pode ser acrescentado, nem retirado desta verdade.
O Senhor diz mais. Quando perguntado se condenaria o abortamento, o senhor diz: “Essa é uma decisão médica, muito mais do que eclesial […] Depende do parecer médico, da situação. Não pode radicalizar também as coisas”.
Então o Senhor está querendo dizer que Deus é radical, não é? Que uma verdade revelada por Deus está abaixo axiologicamente e ontologicamente de um parecer médico? Bendito sejas tu ò Deus, por não ser um moderado, como Dom Saburido.
Dom Saburido, os moderados são como a serpente: tem língua dupla. Bífida. São como os políticos que tem “currais” eleitorais. Dependendo da região que estejam, mudam seu discurso. Elegantemente isto se chama de sofistaria.
Pode parecer esnobe esta coisa de indicar leituras, que me vejam assim. Dom Saburido leia urgentemente a Carta Encíclica Vehementer Nos de São Pio X, que trata da relação entre Igreja e Estado, que é onde reside seu erro doutrinário e teológico. No Magistério deste Santo Papa, como qualquer Papa Pedro e Cristo redivivos, V.Excia. ainda encontrará a recomendação paterna e voltará a estudar a Teologia e Filosofia verdadeiras, a de Santo Tomás.
Dizem também os jornais, como o senhor é midiático, não é mesmo, que V. Excia. foi à uma passeata dos “excluídos”. Que V. Excia. foi o máximo orador desta passeata, que orgulho, não? O senhor é um Bispo de passeata? Fui ver quem eram esses excluídos e lá estavam, para resumir: abortistas (assassinos), homossexuais militantes, comunistas, sem-terra, PSOListas, CUTistas, PTistas et caterva. Salvo engano, todos estes defendem antivalores. São contrários e afrontam o que defende a Santa Igreja Romana, logo, o que Deus ordena. São mesmo, anticatólicos.
O Senhor se crê amigo desses movimentos? Lembra o senhor qual o conceito de amizade para Santo Tomás? “Amigos são aqueles que desejam e rejeitam a mesma coisa”. V. Excia. Quer as mesmas coisas que eles querem? Um Bispo da Santa Igreja não pode ser amigo destes “excluídos”, pelas razões expostas acima. Ou será o senhor capaz de moderar este conflito de interesses ao ponto de fazê-los confluir para um mesmo fim? Isto é, moderar os interesses divinos com os diabólicos.
Esta passeata dos “excluídos” é de uma alogia asinina, Excelência. Todos os seres criados, animados e inanimados tem, em certa medida uma ou mais exclusões nos seus acidentes em relação a uns com os outros. Uns são mais belos que outros, mais gordos, ou magros; com ou sem cabelo, com mais dinheiro, etc. É o que se chama de desigualdade material.
Dela diz Leão XIII na encíclica Quod Apostolici Muneris:
… a desigualdade de direitos e de poder provém do próprio Autor da natureza … “. Diz mais: “Por isso, assim como no Céu quis que os coros dos anjos, fossem distintos e subordinados uns aos outros, e na Igreja instituiu graus e diversidade de ministérios, de tal forma que nem todos fossem apóstolos, nem todos doutores, nem todos pastores (I Cor. 12, 27). Assim estabeleceu que haveria na sociedade civil várias ordens diferentes em dignidade, em direitos e em poder, a fim de que a sociedade fosse, como a Igreja, um só corpo, compreendendo um grande número de membros, uns mais pobres que os outros, mas todos reciprocamente necessários e preocupados com o bem comum.” (Leão XIII, Quod Apostolici Muneris, no 15, 17 e 18).
Entendeu, Excia? Estes “excluídos” com quem V. Excia. Fez coro não lutam por dignidade alguma, eles querem e dizem abertamente isso é igualdade. Querem a igualdade material que Deus não quer. O que devemos combater, principalmente os bispos, é que esta desigualdade material seja transformada em ideologia para fazerem crer que os homens foram criados com naturezas diferentes, havendo espíritos e espíritos. É combater a idéia gnóstica de que Deus necessita de nós para completar sua obra. Medite o que diz ainda Leão XIII, Humanum Genus:
… se considerarmos que todos os homens são da mesma raça e da mesma natureza e que devem todos atingir o mesmo fim último e se olharmos aos deveres e aos direitos que decorrem dessa comunidade de origem e de destinos, não é duvidoso que eles sejam iguais. Mas, como nem todos eles têm os mesmos recursos de inteligência, e como diferem uns dos outros seja pelas faculdades do espírito seja pelas energias físicas; como, enfim, existem entre eles mil distinções de costumes, de gostos, de caracteres, nada repugna tanto à razão como pretender reduzi-los todos à mesma medida, a introduzir nas instituições da vida civil uma igualdade rigorosa e matemática.” (Leão XIII, Humanum Genus, no 22).
Em suma, devemos lutar pela semelhança e não pela igualdade.
Será que o Senhor acredita que quando Deus fala da pobreza na Bíblia ele quer se referir simplesmente à pobreza material? Quem ensinou a vossa excelência exegese bíblica? Terá sido Gutierrez? Leonardo Boff? Lubac? Hans Küng? Ou, algum outro celerado dessas teologias da danação?
O Senhor não pode ser tão ingênuo ao ponto de não perceber quem são os patrocinadores destes gritos dos excluídos. Pegam pobres miseráveis e manipula-os para servirem a causas espúrias que não ousam dizer o nome, se passando por defensores dos excluídos e explorados. Não direi o nome de cada um destes, posto serem rebanho, mas posso repetir a definição destes segundo o Santo Papa São Pio X: “Pestífera espécie de homens.”(Sacrorum Antistitum).
Vossa Excelência lembra-se do Decretum Contra Communismum (Decreto Contra o Comunismo), do Papa Pio XII? Já na sua primeira questão pergunta-se e responde-se a seguir:
Q. 1 Utrum licitum sit, partibus communistarum nomen dare vel eisdem favorempraestare. (Acaso é lícito dar o nome ou prestar favor aos partidos comunistas?) R. Negative: Communismum enim est materialisticus et antichristianus; communistarum autem duces, etsi verbis quandoque profitentur se religionem non oppugnare, se tamen, sive doctrina sive actione, Deo veraeque religioni et Ecclesia Christi sere infensos esse ostendunt.
Nas questões seguintes responde-se que a pena é a excomunhão, Excia, latae sententiae. Procure seu confessor, caro dom Saburido. Arrependa-se! Caso contrário o senhor estará impossibilitado de ser admitido nos sacramentos. Estará destituído de sua autoridade episcopal. Acredite, é com pesar que escrevo estas coisas.
Por fim, repito Pio XI, que por sua vez repete o magistério da Santa Igreja desde sempre: “Socialismo religioso, socialismo cristão, são termos contraditórios: ninguém pode ao mesmo tempo ser bom católico e socialista verdadeiro.” (Pio XI)
Então, de que lado o Senhor ficará?
Por favor, Excia. Não faça coro com os que dizem que a Igreja modernizou-se. Ah, não. Excelência, Deus não faz upgrades, aggiornamentos. Quem fez isto foi o Concilio Vaticano II, um Concílio herético e meramente pastoral, logo, não obrigatório em suas decisões para os católicos.
Lembra-se do Quo Vadis Domine?(Aonde vais Senhor?) de São Pedro à Cristo (João 16,5)? Humildemente pergunto-lhe: onde vais, Dom Saburido? Volte para a Barca de Pedro. Não tema ser rechaçado por este mundo. Não tema ser humilhado pela maioria. Não tema ser crucificado com o Rei dos Reis, o mais excluído dos excluídos, posto que lhe é negada a adoração devida pela maioria dos do seu clero. Lembra da Ladainha da humildade? Ensinaram-na no seminário? […] Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus. […] (Cardeal Merry del Val)
Excelência de tua própria vontade escolhestes o maior dos fardos, atendendo a um chamado Divino. Escolhestes ser pescador de almas. Escolhestes ser o sal da terra. O senhor esqueceu o que diz Santo Afonso Maria de Ligório, em seu A Selva, sobre a responsabilidade e dignidades de um de um sacerdote quanto à salvação ou danação das almas de seu rebanho?
Sou sacerdote, a minha dignidade está acima da dos anjos.
Um Deus digna-se de obedecer à minha voz; com melhoria de razão devo obedecer à sua.
O respeito humano e as amizades mundanas desonram o sacerdócio: logo devo ter-lhes horror.
Só devo procurar a glória de Deus, a minha santificação e a salvação do meu próximo; a isso, pois me devo dedicar, até com o sacrifício da minha vida, se tanto for necessário.
Reafirmo minha indignidade em apontar erros em qualquer ser humano, principalmente os de um Bispo, mas é que os fatos são gravíssimos, são escandalosos. Uma coisa é um escândalo provindo de um miserável pecador como eu, outra coisa é vindo de um pecador, como todos somos, Bispo. Não restam dúvidas que o escândalo se torna mais pernicioso. É lição de seu irmão de episcopado, Santo Afonso Maria de Ligório, em seu livro para a formação dos Sacerdotes A Selva: “Ensina Santo Tomás que o pecado dos fiéis é mais grave que o dos infiéis, precisamente porque os fieis conhecem melhor a verdade ora; as luzes de um simples fiel são bem inferiores às de um sacerdote.”
Seu modelo deve ser Cristo, São João Maria Batista Vianney; o Santo Pe. Pio de Pietrelcina; deve ser aquele pároco de uma pequena cidade, com batina preta com sol a pino, demonstrando seu luto por este mundo corrompido pelo pecado adâmico, nossa herança desgraçada.
Não pense que com estas heréticas concessões o Senhor estará trazendo de volta as ovelhas desgarradas, não! Estas atitudes só atraem as hienas, os chacais para agredirem, desde dentro, a Santa Igreja.
Excia. Revma. o Senhor é um beneditino. Permita lembrá-lo do Capítulo 5 (da obediência) das regras do Patriarca São Bento:
O primeiro grau da humildade é a obediência sem demora. É peculiar àqueles que estimam nada haver mais caro que o Cristo; por causa do santo serviço que professaram, por causa do medo do inferno ou por causa da glória da vida eterna, desconhecem o que seja demorar na execução de alguma coisa logo que ordenada pelo superior, como sendo por Deus ordenada. Deles diz o Senhor: “Logo ao ouvir-me, obedeceu-me”. E do mesmo modo diz aos doutores: “Quem vos ouve a mim ouve.
Obedeça a Deus, obedeça ao Santo Padre; Desobedeça aos pareceres de médicos abortistas (assassinos), desobedeça aos “excluídos”, desobedeça aos homens. Caso contrário, nós católicos é que deveremos por amor a Deus, por dever de consciência exercer o nosso direito à desobediência. Pedindo sua benção, despeço-me, in Corde Jesu et Maria, Semper.
P.S. Caso tenha errado aqui em qualquer comentário, se Fugi ao Magistério infalível da Santa Mãe Igreja de Roma, penitencio-me e desde já recuso o que escrevi.
Marcos Paulo do Nascimento Silva
Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
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Excelente texto!
Digno de ser reproduzido em outros blogs.
Non Nise Te!
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Parabéns! Muito bom o artigo.
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Vi aqui em minha cidade uma manifesto em que Dom Demétrio Valentini aparece como um dos autores e fiquei indignado.
Sou católico e não sou filiado a nenhum partido politico. Na eleição passada votei no Lula pq apesar do seu populismo, mensalão, caixa 2 e outras coisas do seu governo, q dizia não saber, achava q ele tinha feito um bom governo e deveria continuar. Mas desta vez não posso votar na candidata dele, não só porque ela é a favor da descriminalização do aborto e não acredita em Deus, e não adianta ela dizer o contrario agora porque está tudo gravado. Não voto também porque esta mulher tem um passado de crimes e mesmo que digam que ela lutou contra a ditadura, um erro não justifica o outro, não é a igreja que prega isto? E a verdade cristã que só Deus pode dar e tirar a vida?
Tenho prestado atençaõ nela a bastante tempo e vejo uma pessoa que não inspira confiança, tem um sorriso falso, mente quando quer esconder uma verdade, basta analiza-la sem paixão politica ou ideologica.
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