A campanha presidencial em curso desencadeou uma guerra aberta e sangrenta intra muros na conferência episcopal brasileira. O monopólio da Teologia da Libertação na CNBB se viu ameaçado por algumas vozes dissonantes, que, em um primeiro momento, decidiram expressar claramente suas advertências. Constatando o perigo, uniu-se ela à grande mídia numa campanha aberta contra o que consideram “bispos conservadores”.
Acuados pelo uivo dos lobos, os bispos que, exercendo o múnus de mestres em fé e moral, inicialmente apontaram os candidatos que defendem propostas que contrariam a Lei de Deus, de maneira covarde decidiram ceder à pressão dos poderosos. Para maquiar o vexame da rendição, lamentaram ter suas declarações “instrumentalizadas”.
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, Dom Nelson Westrupp, presidente da CNBB-Sul 1, informou “que desautorizou a divulgação de uma nota assinada por ele, em 26 de agosto, condenando o voto em candidatos favoráveis ao aborto“; a distribuição seria “uma decisão tomada no primeiro turno das eleições que deveria ser reavaliada“. Reavaliação realizada neste último final de semana, após uma dramática reunião em Itaici (dizem que bispos saíram de lá chorando!), através de uma declaração que “desaprova a instrumentalização de suas Declarações e Notas e enfatiza que não patrocina a impressão e a difusão de folhetos a favor ou contra candidatos“.
Por sua vez, a Arquidiocese da Paraíba, através do site do Regional Nordeste 2 da CNBB, divulgou um estarrecedor comunicado que lança a responsabilidade do vídeo de seu Arcebispo, Dom Aldo Pagotto, a um grupo pró-vida: “Lamentamos que essas pessoas tenham agido de má-fé divulgando o vídeo na íntegra, e ainda fazendo entender que havia sido uma iniciativa do próprio Arcebispo. A Arquidiocese da Paraíba espera uma explicação para o ocorrido por parte das pessoas que fizeram a gravação. Até então, acreditamos que o Arcebispo foi vítima de uma armação para denegrir a sua imagem num momento tão delicado como este período eleitoral“.
Indagamo-nos como aquele texto enorme, que provavelmente demandou horas ou dias para a sua elaboração, poderia ser uma simples mensagem para satisfazer a um suposto documentário de um grupo pró-vida do Sudeste (cujo nome sequer é mencionado), quando Dom Aldo inicia sua mensagem dirigindo-se “aos diocesanos“, e apela, posteriormente, a “todos os meus diocesanos para que este vídeo seja divulgado junto ao maior número de fiéis“. E em que seu conteúdo poderia denegrir a imagem de Dom Aldo Pagotto? Afinal, ele não gravou a leitura de sua própria declaração com o objetivo de, na qualidade de pastor, alertar suas ovelhas do perigo iminente?
Desta batalha repleta de deserções vergonhosas, um combatente mantém sua integridade: Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, o corajoso bispo de Guarulhos, que vem enfrentando a perseguição dos poderosos e a covardia de seus confrades.
Em carta a seus irmãos bispos, Dom Bergonzini afirmou: “O relativismo na sociedade e na Igreja Católica, sempre lembrado pelo papa Bento XVI, também tem sido questionado: o meu sim é sim e o meu não é não“.
Exatamente, Excelência. Ao contrário do que as rasas mentes hodiernas podem compreender, sua atitude ultrapassa uma mera contenda eleitoral; ela atinge o cerne do dogma do liberalismo imperante, que repudia a clareza da verdade objetiva, o “sim, sim, não, não”, o chamar as coisas por seu devido nome, a submissão da vida terrena à ordem moral estabelecida por Deus.
Como não aplicar a Dom Bergonzini a história de Daniel contada nas Sagradas Escrituras?
“Que o Deus, que tu adoras com tanta fidelidade, queira ele mesmo salvar-te!” (Dn, 6, 17), exclamou o Rei Dario, movido pelos pares de Daniel a lançá-lo na cova dos leões. No entanto, o que atualmente os filhos da Serpente não consideram é que, como nos disse a Epístola da Missa de ontem, “não é contra a carne e o sangue que temos de travar combate, mas sim contra os principados e as potestades” (Ef, 6,12). Por isso, neste mundo — pois Dom Bergonzini cogitou recorrer ao Papa — ou no próximo, é Outro quem lhe fará justiça: “Meu Deus enviou seu anjo e fechou a boca dos leões; eles não me fizeram mal algum, porque a seus olhos eu era inocente…” (Dn, 6, 23).