Dom Athanasius Schneider: 54 linhas para descrever como pode ser enriquecida a Nova Missa. Para a Missa Tradicional, 7…

Apresentamos um excerto da entrevista concedida por Dom Athanasius Schneider, ex-professor do seminário de Anápolis, GO, e hoje bispo auxiliar de Karaganda, no Cazaquistão, à Paix Liturgique.

No Motu Proprio que decretou, Summorum Pontificum, Bento XVI formulou um convite explícito ao recíproco enriquecimento das duas formas do único rito romano. Na opinião do Senhor Dom Atanásio, que de bom grado celebra nas duas formas do rito, em que aspectos poderia este enriquecimento manifestar-se de modo mais frutuoso?

AS: Temos de levar o Papa a sério. Não se pode continuar a agir como se ele não tivesse dito essa frase. Ou, aliás, como se ele não a tivesse escrito. Claro está que, mesmo sem que haja necessidade de rever os missais, há meios para proceder a uma aproximação das duas formas do rito.

Uma primeira ideia poderia ser a de celebrar versus Deum a partir do Ofertório, como de resto é previsto pelas rubricas do novo missal. Com efeito, o missal de Paulo VI indica claramente dois momentos em que o celebrante se deve voltar para o povo. Uma primeira vez, no momento do “Orate fratres”, e uma segunda, quando o sacerdote diz “Ecce Agnus Dei”, por altura da comunhão dos fiéis. Que significado dar a estas indicações senão a de que o sacerdote deverá estar voltado para o altar durante o Ofertório e o Cânon? Em Setembro de 2000, a Congregação para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos publicou uma resposta relativa a um quesito sobre a orientação [posição] do sacerdote durante a Missa. Ao explicar que «a posição versus populum parece a mais cómoda na medida em que ela torna mais fácil a comunicação», ela precisava, no entanto, que «supor que a acção sacrificial deve ser orientada principalmente para a comunidade seria um grave erro. Se o sacerdote celebra versus populum, coisa legítima e frequentemente aconselhável, a sua orientação espiritual deve estar sempre voltada para Deus por Jesus Cristo».

Parece-me que, hoje e dia, esta resposta que vinha defender a celebração face ao povo poderia ser adaptada à nova realidade criada pelo MP Summorum Pontificum mediante uma recomendação no sentido de se celebrar voltado para o Oriente a partir do Ofertório.

No que toca à comunhão, a Santa Sé também poderia publicar uma recomendação universal a fim de lembrar o que está previsto na Instrução Geral do Missal Romano, no seu artigo 160°: «Os fiéis comungam de joelhos ou de pé, segundo a determinação da Conferência Episcopal. Quando comungam de pé, recomenda-se que, antes de receberem o Sacramento, façam a devida reverência, estabelecida pelas mesmas normas.» Cabe pois sublinhar que a primeira forma de comunhão a ser referida pelo texto oficial da Igreja destinado a comentar o Novus Ordo é a forma de comunhão de joelhos…

Uma outra possibilidade de enriquecimento da nova liturgia seria a de que as leituras da Bíblia Sagrada fossem feitas por homens em vestes litúrgicas e em caso algum por mulheres ou homens vestidos à civil. E isto porque as leituras são feitas no presbitério, um lugar que desde os tempos apostólicos é reservado ao sacerdote e aos ministros ordenados, aí se incluindo os clérigos com ordens menores. Só na falta destes últimos é que um leigo (homem) podia vir suprir. O serviço do altar, de leitor ou de acólito, não é um exercício do sacerdócio comum, fazendo antes parte do sacerdócio sagrado, em especial do diaconato. É por esta razão que, pelo menos a partir do século III, a Igreja concebeu as ordens menores como uma espécie de introdução às diferentes funções contidas no exercício do diaconato, como, por exemplo, a guarda do santuário e o chamamento dos fiéis à liturgia (ostiário), a leitura da palavra de Deus durante a liturgia (leitor), expulsar os espíritos malignos (exorcista), transportar a luz e servir ao altar (acólito). Assim, é-nos mais fácil compreender porque é que, tradicionalmente, a Igreja reservou a atribuição das ordens menores e a instituição de leitores ou de acólitos apenas a fiéis homens.

Neste sentido, bem se compreende que um dos enriquecimentos permitidos pela aproximação das duas formas litúrgicas consistisse em retornar à sã tradição de reservar o presbitério apenas aos homens: diáconos, acólitos, leitores e crianças de coro (ou coroinhas), todos eles devem ser do sexo masculino. De nada adianta que nos lamentemos do descalabro das vocações quando os rapazes deixam de ser chamados para o serviço do altar.

Por fim, a oração dos fiéis deve ficar reservada apenas aos diáconos, acólitos ou leitores, todos com hábitos litúrgicos. Até seria mais coerente com a tradição bimilenar da Igreja, tanto ocidental como oriental, que esta oração dos fiéis, ou oração universal, fosse proclamada, ou melhor ainda, cantada, unicamente pelo diácono, pois que antes ela recebia o nome de “oratio diaconalis”. Na falta de diácono, seria bom que fosse o próprio sacerdote a lê-la, como de resto acontece com o evangelho. O termo oração dos “fiéis” não significa que a sua proclamação seja uma função dos fiéis. Acreditar nisso seria um erro histórico e litúrgico. De facto, o que isso indica é que ela decorria ao início da missa dos fiéis, depois que tivessem saído os catecúmenos, e quando o diácono ou o sacerdote oferecia à Majestade Divina as intenções de toda a Igreja, e portanto de todos os fiéis, daí o seu nome.

7) E no que respeita à forma extraordinária? De que maneira poderia ela enriquecer-se ao contactar com a forma ordinária do rito romano?

AS: Eu diria que se poderia aplicar à forma extraordinária o espírito que anima os últimos elementos que citei a propósito do Novus Ordo. As leituras sagradas deveriam ser sempre acessíveis aos fiéis, logo, na língua local e não apenas em latim, salvo em ocasiões especiais. Assim, também nesta forma, as leituras poderiam ser feitas por um leitor ordenado ou instituído, isto é, um fiel homem em hábitos litúrgicos. Uma iniciativa bela e útil seria a introdução de alguns prefácios do novo missal, e o mesmo se diga da introdução de novos santos no calendário litúrgico tradicional.

12 comentários sobre “Dom Athanasius Schneider: 54 linhas para descrever como pode ser enriquecida a Nova Missa. Para a Missa Tradicional, 7…

  1. Quero ver conseguirem tirar do “costume do povo” a presença das mulheres no altar (ministras, coroinhas). Vai ser aquele lenga-lenga de feministas e modernistas dizendo que o Papa é machista e ultrapassado, que a Igreja precisa se modernizar e aquele “bla bla bla” todo. Não vai demorar muito a surgir mulheres reivindicando as “ordenações menores” sob o pretexto de “direitos iguais”…

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  2. Meu Deus, através de Jesus e Maria, dai-me a Graça da humildade para não me irritar com tantas “recomendações” e ações conjugadas no futuro do pretérito.

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  3. Prezados, minha humilde opnião: com relação ao 7, creio que leituras sagradas em vernáculo, após a leitura das mesmas em latim, seriam bem vindas e também a inclusão de novos santos no santoral. Afora isso, nada.

    Salve Maria a todos!

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  4. Concordo com Dom Athanasius. Muito prudente sua posição quanto a reforma da reforma. Mas infelizmente há sempre aqueles que já estão beirando o sedevacantismo para levantar-se contra opinião daquilo que foge das suas ideologias. Acho impressionante, o orgulho de alguns amigos que escrevem comentários neste blog. Se a reforma nao acontecer do jeito que ele pensa, logo aparece a mente revolucionária em ação.
    Lembro dos movimentos litúrgicos na década de quarenta que foram ganhando força, apoio e espaço, em seguida estavam eles lá no Vaticano II, ganhando todos com os seus discursos.
    Falta isso nos dias atuais, UNIÃO, por isso que a reforma da reforma vai ficar parada, porque há mais desunião do que união.
    Parabéns Dom Athanasius.

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  5. Para a purificação da missa moderna bastaria que fosse celebrada conforme o missal. As velas no altar com a cruz. Apenas as quatro orações eucaristicas aprovadas e revogadas as permitidas para um país. Sendo que a Oração eucaristica romana ou I fosse a dos domingos e festas e não permitir plamas após o evangeçlho e dancinhas segurando a folha de cantos, gritos e outros comportamentos que lembram um auditório de teelvisão. A missa celebrada nos mosteiros bendentinos propria da comunidade é um bom exemplo de uma celbração bem feita. Só que infleizmente aqui no CEará ja começaram a iniciar cantando o “Em nome do Pa, Em nome do Filho, Em npome do Espirito Santo estamso aqui”. A inclusão do Santo, do Agnus Dei e do Pai nosso em latim seria a contribuição da forma extraordinaria para a missa nova. Quanto a mudança da posição do padre não acho conviniente pois passará a ideia de que a Igreja errou; pode ate haver um cisma se isto for obrigado. Basta que a missa de São Pio V seja celebrada Versus Deum. Aqui em Fortaleza não é…

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  6. Impressionante mesmo é n respeitar a opinião alheia e dar uma classificação de beirar ao sedevacantismo e n perceber que pertence ao sedevegetatismo.

    Uma pessoa que se lembra dos anos 40 tem hoje 70 anos, então está com falha de memória, porque o que ganhou espaço no CVII foi: DESUNIÃO, destruição, maldição….

    Reformar a Missa Tradicional é estacionar nos quintos do inferno.

    Mas eu n sabia que postar no Fratres influencia ações do Vaticano, vou chamar os meninos que postam aqui então: aí manos, é nóis na fita!

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  7. Ana, com todo respeito, sou obrigado a discordar.

    A idéia de adicionar mais prefácios à missa tradicional, novos santos, admitir com certa liberalidade as leituras em vernáculo e mesmo colocar uma oração dos fiéis fixa (algo muito semelhante ao que existe no rito de S. João Crisóstomo, por exemplo, e que já existiu na liturgia romana) seria algo perfeitamente compatível com a tradição católica. Tudo isto faz parte de um desenvolvimento orgânico que sempre houve em liturgia.

    No entanto, o Novus Ordo requeriria uma reforma bem maior. Abolição das orações eucarísticas, retorno do antigo Cânon. Reestabelecimento do Ofertório e uso da língua latina, pelo menos no Cânon. Abolição dos MECs e das coroinhas meninas; abolição da permissão dada a mulheres na leitura (não havendo homens, o padre é que deveria ler). Retorno da orientação versus Deum e do costume de se colocar relíquias no altar. Uso obrigatório do gregoriano e/ou polifonia apropriada e proibição completa de gêneros mundanos. Uso apenas do órgão e violino na liturgia, exceto em casos especiais, onde o ordinário pudesse dar concessões (limitadas). O resto – abusos de toda sorte – já são proibidos.

    Nem um excesso, nem outro!

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  8. E adianto, uma reforma da reforma só faria sentido como etapa transicional até o retorno completo da missa dâmaso-gregoriana. Então, far-se-iam as ditas alterações, perfeitamente lícitas (e talvez outras, como restaurar alguns pontos da Semana Santa) e poder-se-ia abolir o novo rito.

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  9. Luiz certo.
    No Brasil não vão obedecer ajuste nenhum na missa nova. Há casos de padres que pulam partes da missa na cara dura. Isso é realidade. Veja quantos bispos se colocando contra Dom Bergonzini.

    N vai demorar, vai aocntecer missa tradicional por ia com ministras

    ********
    A Santa Missa que assisto quando vou na FSSPX em São Paulo, n tem espaço algum para leigo sambar no presbitério.

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  10. Eu sou do parecer que, ao invés de se criar celeuma com uma possivel atualização do Missal de S. Pio V, deveria-se debruçar sobre a Missa de Montini-Bugnini. No passado tudo era feito com máximo cuidado, haviam diversos dicastérios romanos que trabalhavam harmoniosamente com essas coisas, e eram 100% ortodoxos. Hoje em dia existe uma mentalidade equivocada que ainda reina por lá. Sinceramente, por mais que pareça um congelamento no tempo, mas quanto menos o clero intelectualmente mal-formado, sem formação tomista, se debruçar nas coisas tradicionais da Igreja, melhor.

    A questão dos santos canonizados depois do Concílio Vaticano II, a avalanche de canonizações de João Paulo II, a alteração de processos rigorosos no exame da vida dos candidatos… É outra coisa que eu tenho cá com meus botões que desencadeará tempestades, caso resolva incluí-los no calendário tradicional.

    Eu assisti missa nova “bem celebrada” por muitos anos antes de conhecer a Tradição. Todos os domingos, canto gregoriano em latim, incenso, órgão, velas acesas, sem palmas, sem danças… Tudo o que posso dizer é que é uma boa tapeação, um bom entorpecente.

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