
A batina, a tradicional e venerável veste do Padre, Bispo e Cardeal, ao executar o ofício da caridade pastoral, sobretudo nos Sacramentos da Penitência e Sagrada Eucarístia, é um sinal de sua pertença total a Cristo através da consagração sacerdotal. Quando o Padre veste a batina, é lembrado, de uma maneira visível, que foi configurado a Cristo, Cabeça e Pastor do rebanho em todo tempo e lugar, e que é Cristo quem age nele, mais especialmente no oferecimento no Santo Sacrifíio da Missa e no perdão dos pecados no Sacramento da Penitência, para a salvação de todos os homens de todo o mundo. A batina também o ajuda a evitar a tentação de se ver, em vez de Cristo, como o protagonista nas obras de caridade pastoral, e, por isso, ela é uma ajuda prática na vida conversão diária de vida, no esvaziamento diário de si, de modo que seu ser sacerdotal possa ser preenchido com a graça de Cristo Sumo Sacerdote.
[…] No empenho em compreender o serviço do Cardeal na Igreja, naturalmente nos voltamos para as vidas de Cardeais que foram heroicamente virtuosos em cumprir as responsabilidades de seu ofício. Penso, por exemplo, em São João Fisher, que recebeu o chapéu Cardinalício quando já estava na prisão por sua recusa a assinar o Ato de Supremacia, do Rei Henrique VIII, pelo qual ele teria traído Cristo, negando que Cristo apenas é Cabeça e Pastor da Igreja através de Seu Vigário na terra, o Romano Pontífice, Sucessor de São Pedro. Quando o chapéu Cardinalício chegou a Calais, na França, em seu caminho de Roma para Londres, o Rei foi informado e enviou imediatamente seu secretário, Thomas Cromwell, para conversar com Dom Fisher na prisão. Quando Cromwell perguntou ao bom bispo se ele aceitaria o chapéu Cardinalício que o Santo Padre, o Papa Paulo III, deveria lhe enviar, São João Fisher respondeu:
“Reconheço-me mui indigno de tamanha dignidade, que não penso absolutamente nada sobre tais questões; mas se ele o enviar, esteja certo que trabalharei de todas as formas para que possa beneficiar a Igreja de Cristo, e a este respeito o receberei de joelhos”.
O Rei, cujo coração outrora pertencera ao Senhor, mas que então havia se voltado contra o Senhor, compreendeu o significado das palavras de São João Fisher e, em sua irada rebelião contra lei de Nosso Senhor escrita em seu próprio coração, declarou:
“Bem, deixem que o Papa lhe envie um chapéu quando desejar. Mas providenciarei para que, ao chegar, ele possa usá-lo sobre seus ombros, pois não terá mais cabeça para nela vê-lo”.
Em 22 de junho de 1535, São João Fisher foi decaptado, intrépido em doar-se totalmente a Nosso Senhor e Sua Igreja, até o derramamento do seu sangue.
[…]
Há muitos outros aspectos do ministério petrino do Papa Bento XVI aos quais um Cardeal deve observar e estar pronto também a oferecer sua assistência ao Vigário de Cristo na Terra.
Penso também no incansável trabalho de nosso Santo Padre para levar a cabo uma reforma da reforma litúrgica pós-conciliar, conformando a celebração da Sagrada Liturgia ao ensinamento perene da Igreja como fora apresentado novamente no Concílio Ecumênico Vaticano Segundo, de modo que em toda ação litúrgica possamos ver mais claramente a ação do próprio Cristo, que une céu e terra, mesmo agora, na preparação de Sua vinda final, quando inaugurará “novos céus e nova terra”, quando celebraremos todos a plenitude da vida e do amor na liturgia da Jerusalém celestial. O Cardeal hoje é chamado, de maneira especial, a assistir o Sucessor de São Pedro, em transmitir, em uma intacta linha orgânica, o que o próprio Cristo nos deu na Igreja, Seu Sacrifício Eucarístico, “fonte e mais alta expressão de toda a vida Cristã”. A correta ordem do Culto Divino na Igreja é a condição da possibilidade da correta ordem de seu ensinamento e da correta ordem de sua conduta.
Excertos da homilia proferida por Sua Eminência Reverendíssima, o Cardeal Raymond Leo Burke, Prefeito da Assinatura Apostólica, por ocasião da Santa Missa celebrada no Pontifício Colégio Norte-Americano, em Roma, em ação de graças pelo Consistório em que foi criado Cardeal.