Dom Schneider pede ao Papa um novo Syllabus.

Por Osservatore Vaticano – Vini Ganimara

Ciclo de conferências sobre o Vaticano II organizado pelos Franciscanos da Imaculada, em Roma, reúne expoentes da crítica ao Concílio. Dentre eles, Mons. Gherardini e Prof. Roberto de Mattei.
Ciclo de conferências sobre o Vaticano II organizado pelos Franciscanos da Imaculada, em Roma, reúne expoentes da crítica ao Concílio. Dentre eles, Mons. Gherardini e Prof. Roberto de Mattei.

Um verdadeiro furacão passou ontem, 17 de Dezembro de 2010, por Roma, a dois passos da basílica de São Pedro: um bispo propôs, nada mais nada menos, que… recolocar em prática o magistério infalível da Igreja.

Com efeito, desde 16 de dezembro, realiza-se em Roma um importante colóquio intitulado “Concílio Vaticano II, um concílio pastoral – Análise histórica, filosófica e teológica”. Organizado pelos corajosos Franciscanos da Imaculada, este colóquio se realiza nas salas de conferência de Santa Maria Bambina, atrás da colunata de Bernini, próximo ao Palácio do Santo Ofício, num quase silêncio midiático, apesar da atualidade do tema com relação ao pontificado de Bento XVI e da qualidade dos intervenientes.

Duas intervenções esperadas marcaram o primeiro dia: a de Mons. Gherardini, autor do livro Concilio Vaticano II, un discorso da fare, e a do professor Roberto de Mattei, historiador italiano, autor de um recente livro sobre o concílio, intitulado Il Concilio Vaticano II. Una storia mai scritta (disponível por ora apenas em italiano, edições Lindau). Ambos responderam às críticas que os seus trabalhos levantaram, aliás, muito paradoxalmente, do meio conservador, em cujo seio há alguns raros defensores da infalibilidade do Concílio.

Ontem, 17 de dezembro, Dom Schneider, bispo auxiliar de Karaganda, causou alvoroço com sua conferência sobre o tema do culto a Deus como fundamento teológico da pastoral conciliar. Propondo um longa coletânea de citações, teologicamente muito ortodoxas, extraídas dos textos conciliares, apresentou à assistência textos escolhidos de um Vaticano II, de certo modo, “mais ortodoxo que Trento”. A captatio benevolentiae foi particularmente eficaz: a assistência esperava o que estava por vir, suspenso nos lábios do bispo.

Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Karaganda, Cazaquistão.
Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Karaganda, Cazaquistão.

É então que, denunciando a interpretação errônea deste concílio no período pós-conciliar, o bispo conclui a sua intervenção sugerindo… a redação de um Syllabus que condene infalivelmente “os erros de interpretação do Concílio Vaticano II”.

Pois, segundo Dom Schneider, só o magistério supremo da Igreja (do Papa ou de um novo concílio ecumênico) pode corrigir os abusos e os erros nascidos do Concílio e retificar sua compreensão e sua recepção à luz da tradição católica. Respondendo um pedido de esclarecimento, fez a sua douta assistência cair no riso ao considerar que não era possível reunir um concílio em menos de 500 anos. Cabe, portanto, ao magistério supremo do Papa. Daí seu pedido por um novo Syllabus, onde figurariam face à face os erros condenados e a sua interpretação ortodoxa.

Como tantos e tantos outros há 40 anos, é, pois, ao juízo infalível do Papa “reformulando” o Vaticano II que se está apelando. Com exceção de que, desde a “liberação da palavra” operada por Bento XVI, são doravante os personagens oficiais que interpõe o pedido.

Tradução: Fratres in Unum.com

41 comentários sobre “Dom Schneider pede ao Papa um novo Syllabus.

  1. “a redação de um Syllabus que condene infalivelmente “os erros de interpretação do Concílio Vaticano II”.

    Bom, apesar de ser muito leigo nessa questão penso que condenar infalivelmente apenas os erros de interpretação seria pouco, deve-se condenar os textos ambíguos que permitiram esses erros tais como :

    O famoso “susbsistit” da Lumem Gentiun que abriu as portas para esse falso ecumenismo chamando as seitas protestantes de igrejas separadas sem fazer nenhum reparo, sem fazer nenhuma distinção. Desse modo o termo igreja era aplicado, em sentido unívoco, quer à única Igreja de Cristo, a Igreja Católica Apostólica Romana, quer às seitas protestantes.

    Deve-se condenar a Gaudium et Spes, que começa dizendo:

    “As alegrias e a esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”

    É muito dificil compreender que as esperanças do homem moderno, esperanças centradas no mundo e no bem estar, sejam também as esperanças e alegrias dos discípulos de Cristo.

    A tese da Colegialidade tal como foi exposta na Lumen gentium:

    O Concílio Vaticano II, na Lumen Gentium, afirma que o Supremo poder sobre toda a Igreja foi dado a Pedro. Depois diz que o supremo poder foi dado também ao Colégio dos Bispos:

    “Mas a ordem dos Bispos, que sucede ao Colégio Apostólico no magistério e no regime pastoral e na qual em verdade o Corpo Apostólico continuamente perdura, junto com o seu chefe o Romano Pontífice, e nunca sem ele, é também detentora do poder supremo e pleno sobre a Igreja inteira. Todavia este poder não pode ser exercido senão com o consentimento do Romano Pontífice” (Lumen Gentium, 22).
    E, logo em seguida, se lê:

    “O supremo poder que este Colégio tem sobre toda a Igreja é exercido de modo solene no Concílio Ecumênico” (Lumen Gentium, 22).

    Enfim gostei muito dessa notícia.

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  2. A ideia desse bispo não é ruim…

    Ficaria, de uma vez por todas, bem claro o joio e o trigo.

    Só que, com isso, alguns entrariam em depressão ao não ter mais o que criticar…

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  3. Apesar das últimas infelizes declarações do Santo Padre, e a confusão reinante entre os conservadores acerca da letra e o espírito do Vaticano II, são notícias como essas que fortalecem minha esperança. Rezemos.

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  4. “Só que, com isso, alguns entrariam em depressão ao não ter mais o que criticar… ”
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Ótimo Lampedusa ,

    Pensando bem:
    Será mesmo uma boa idéia corrigir o CVII ???
    Será mesmo uma boa idéia anatematizar o Concílio ??
    Graças ao Concílio temos Dom Lefebvre , Dom Castro Mayer , a FSSPX .
    Graças a ele temos o Fratresinunun, o Sucessão Apostólica e tantos outros blogues tradicionalistas onde podemos criticar os modernistas e os textos ambíguos dos documentos conciliares…

    É aquele velho ditado popular cão sem pulga morre de tédio. Sem o Vaticano II o que será de nós ??

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  5. Boa intervenção de S. Excia., com quem tenho a honra de confabular semanalmente por e-mail, já que é um amigo e protetor do Salvem a Liturgia.

    D. Scheider, ORC, é um santo e zeloso Bispo, e em sua diocese só se distribui a Santíssima Comunhão na boca e com os fiéis de joelhos. É um incentivador do latim e do versus Deum, e celebra em ambos os ritos conforme a tradição romana.

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  6. “textos escolhidos de um Vaticano II, de certo modo, ‘mais ortodoxo que Trento’.”

    Alguém imagina como ele fez isso??

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  7. À primeira vista PARECE uma boa sugestão.

    Só que Bento XVi não me parece o papa adequado para tal empreitada.
    Não falo com arrogância. Falo baseado no Bento XVI que conhecemos nos últimos 5 anos. Falo no papa que, por muito conservador que seja, não solta o osso do ecumenismo, da colegialidade e da liberdade religiosa.

    E estes três temas foram redigidos e aplicados no Concílio Vaticano II contrariando o magistério anterior.
    Mas o papa a quem D. Schneider pede o Syllabus é favorável a estes temas conciliares, e já admitiu, quando cardeal, que o Vaticano II é um anti-syllabus…
    Imagine-se que espécie de syllabus sairía de Bento XVI? Sairia um syllabus que tentaria agradar a gregos e troianos, porque todo o governo de Bento XVI é uma constante busca em responder favoravelmente a todos. Uma hora dá um agrado aos conservadores, uma hora faz pose de moderno para o mundo, e assim segue…

    Minha esperança é que Bento XVI coloque mais e mais cardeais de perfil conservador (ou ultra-conservador), e algum destes seja o próximo papa, e seja mais objetivo para a Tradição do que nosso atual pontífice.

    Imaginemos um syllabus nos obrigando em relação à Missa de Bugnini, àquela que ele construiu e avisou por carta ao grão-mestre da maçonaria “que havia feito o possivel”.

    De arrepiar, não?

    Nestas últimas décadas houve uma sanha incrível em modificar tudo o que existisse na Igreja. E não acabou ainda!!!! Vejam que se chegou ao cúmulo de propor um rosário com 4 terços, e se jogou lenha no assunto limbo, que Bento XVI renegou, indo de encontro ao juízo da maioria dos papas e doutores da Igreja de tantos e tantos séculos, como Santo Agostinho e Pio VI…

    Desgraçadamente, se servir de consolo, a última coisa que os papas conciliares desejam é usar definições obrigatórias. Talvez porque, usando da infalibilidade pontifícia, eles seriam obrigados a repetir o que sempre foi ensinado, e decididamente, repetir o ensinamento constante da Igreja não parece ser o “hobby” dos últimos romanos pontífices…

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  8. ERRATA: onde escrevi “o Vaticano II é um anti-syllabus”, leia-se “a Gaudium et spes é um anti-syllabus”. Terminei generalizando muito rapidamente, embora a Gaudium et spes seja um exemplo de “anti-syllabus” que consta no Vaticano II. Mas atenção: é UM exemplo. E os textos do Concílio têm VÁRIOS exemplos…

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  9. Lampedusa, quem seriam esses que ficariam com depressão por não ter mais o que criticar? Não entendi. Poderia usar da clareza objetiva, a qual não existe no CVII, e nos explicar?

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  10. Seria ótimo um Syllabus condenando as interpretações errôneas do Concílio Vaticano II. Assim, calaria-se de vez as vozes dos radicais tradicionalistas e dos radicais progressitas, fazendo a fé da Igreja ser a fé da Igreja.

    Té mais

    João Marcos

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  11. “Jesus propôs-lhes outra parábola: O Reino dos céus é semelhante a um homem que tinha semeado boa semente em seu campo. Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e partiu. O trigo cresceu e deu fruto, mas apareceu também o joio. Os servidores do pai de família vieram e disseram-lhe:
    — Senhor, não semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio?
    Disse-lhes ele:
    — Foi um inimigo que fez isto!
    Replicaram-lhe:
    — Queres que vamos e o arranquemos?
    — Não, disse ele; arrancando o joio, arriscais a tirar também o trigo. Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifadores: arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para o queimar. Recolhei depois o trigo no meu celeiro.” (Mt. 13, 24)

    No que depender do Felipe e de alguns outros, arrancamos o joio, o trigo e até um pedaço da terra também…

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  12. Caros irmãos, caro Ferreti, a paz!

    Gostaria de contar com a ajuda de vocês na divulgação da Santa Missa no Rito Gregoriano que teremos na Vigília do Natal, que será no dia 24 as 17:30 na Catedral da nossa Diocese de Franca e para a missa do dia 26, Domingo da Oitava de Natal e Martírio de Santo Estevão, também na Catedral ao meio dia.
    Para maiores informações acessar: http://www.missatridentinaemfranca.com.br.

    Deus abençoe a todos e um Santo Natal.
    Pe. Michel Rosa

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  13. O Magistério solene e não liberal de Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII já é bem suficiente àqueles que têm boa fé para perceber que as vozes neoconservadoras que reeditam a pior espécie de catolicismo liberal deviam ser e/ou estar caladas. A Fé da Igreja sobre o assunto já foi definida; basta que um Papa, na atualidade, tenha a coragem de meramente repetir seus predecessores, pois não existe nenhuma questão sobre liberalismo e ecumenismo propriamente em aberto na Igreja.

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  14. Bruno, concordo com vc.

    ***********

    Vão pincelar a letra e deixar intócavel o espírito, quando o certo é exorcizar o espírito e colocar no lixo a letra – devidamente picada para que nenhum idiota queira achar que se salva alguma coisa.

    Imagine, salvar a liturgia do CVII é lavar ferida com lama!

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  15. Interpretações ortodoxas podem ser dadas para textos ambíguos É certo que nem estes deveriam ter sido propositalmente inseridos em um concílio da Igreja, como o foram no CV II. Mas, e os textos que contêm não somente ambiguidades, mas verdadeiros erros?

    Que interpretação ortodoxa poderia, por exemplo, ser dada para esta coisa:

    Tudo quanto existe sobre a terra deve ser ordenado em função do homem, como seu centro e seu termo: neste ponto existe um acordo quase geral entre crentes e não-crentes. (Gaudium et spes, n. 12)

    Esta é a perfeita negação do teocentrismo católico. É a mais aberta declaração da religião do homem, absolutamente incompatível com tudo o que ensina nossa santa religião. Um católico jamais pode aceitar uma porcaria dessas. O lugar disso é a lata do lixo.

    Será que os neo cons que gostam de criticar os tradicionalistas conseguem dar uma interpretação ortodoxa para este trecho da GS? Ou para tantos outros?

    Seria bem mais útil se lessem os absurdos textos do CV II do que ficar repetindo retóricas sobre “radicais” que não o aceitam. Não o aceitamos porque ele rompeu gravemente com a Tradição. Não é por mero prazer de discutir ou de criticar, mas por obrigação de denunciar o erro, que mantemos o combate.
    ______

    Quanto à celebração em conformidade com a tradição romana, isto somente pode ser aplicadado ao rito tridentino. A missa nova foi totalmente fabricada na década de 1960. Ela jamais pode ser celebrada de forma tradicional simplesmente porque não faz parte da bi-milenar Tradição da Igreja. O máximo que ela pode é ser celebrada de acordo com as rubricas. Mas, mesmo assim, ela ainda contém todos os defeitos denunciados pelo cardeal Ottaviani.

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  16. Bruno,

    Você não está sendo arrogante e sim um católico realista. Penso semelhante. Se a noticia sobre o debate acerca do Vaticano II em Roma me agrada é porque o Vaticano percebe de alguma forma que existe um problema, existe uma crise, e essa crise eles já perceberam que não está em nós, os radtrads. Dom Fellay é quem está certo em guiar a FSSPX para essa direção do debate, sem acordismos. Agradecemos a Deus por ter um grande bispo como ele.

    Bento XVI abriu caminho, mas convenhamos, não é o restaurador da Tradição. Aliás, é muito difícil pensar em Bento XVI, com seu apego ao liberalismo, exercendo o magistério ordinário, imagine então ele pronunciar-se ex-cathedra. Se vier outro Papa, que venha um Papa verdadeiramente católico. Eu é que não peço em minhas orações um Papa mais ou menos.

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  17. O Syllabus é um catálogo contendo os principais erros da época, notados nas alocuções consistoriais, encíclicas e outras letras apostólicas do nosso santíssimo padre, Papa Pio IX. Considerando-se isto, para se fazer um novo Syllabus condenando as interpretações errôneas do Concílio, seria preciso catalogar estes erros, notados nas alocuções consistoriais, encíclicas e outras letras apostólicas dos Santos Padres pós-conciliares. Neste ponto surgem as seguintes questões:

    Existem a condenação de erros interpretativos nos documentos papais pós-conciliares?

    Todos os documentos de Pio IX, abordam objetivamente os problemas de que tratam. Mas qual documento magisterial pós-conciliar, aborda objetivamente os problemas do Concílio Vaticano II?

    Devem ser condenados os erros de interpretação do Concílio, ou as filosofias e teologias, responsáveis por estes erros?

    Quais filosofias e quais teologias, foram condenadas solenemente, pelo magistério pós-conciliar?

    Ficam as perguntas…

    Fiquem com Deus.

    Abraço

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  18. Hum…Lembrei de um trecho de uma conversa ente Dom Lefebvre e Card. Ratzinger, só para ilustrar essa questão…”Eu disse um dia ao cardeal Ratzinger: ”eminência, é necessário ecolher: ou liberdade religiosa como está no concílio ou então o syllabus de Pio IX. Eles se excluem um ao outro e é necessário escolher” Então ele me disse : “Mas excelência,nós não estamos mais no tempo do syllabus”

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  19. fonte: conferência dada à imprensa em Ecône em 15 de junho de 1988 e publicada na revista Fideliter em número especial- II edição-1988

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  20. Mas, mesmo assim, ela ainda contém todos os defeitos denunciados pelo cardeal Ottaviani.

    Quais? O rito criticado pelo cardeal Alfredo Ottaviani não foi a versão final do Novus Ordo Missae. Depois da sua carta ao Papa Paulo VI, o Santo Padre promoveu duas audiências gerais em novembro de 1969. Mais tarde, Ottaviani alegou ter ficado profundamente alegre com os discursos do Papa sobre o Novus Ordo Missae nas audiências gerais, e que depois desses discursos doutrinalmente precisos, ninguém mais pode estar genuinamente escandalizado. Ottaviani defendeu que a legitimidade da sua origem o protege contra a infiltração de erros e garantiu a pureza e unidade da fé.

    O verdadeiro problema não é o propriamente o Novus Ordo, mas o que se fez dele. O próprio cardeal Francis Arinze reconheceu que o rito tridentino já era alvo de abusos antes mesmo do concílio.

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  21. Dizer que as realidades terrenas estão ordenadas para o homem é perfeitamente ortodoxo. A César o que é de César, não é? Pois bem, as realidades terrenas estão ordenadas para o homem e o homem para Deus. Não é essa a expressão de São Paulo (cf. 1Cor III, 21b-23), como comentando a ordem do Senhor no Gênesis de o homem submeter todas as coisas? Submeter e ordenar para si são uma só e mesma coisa, filosoficamente falando. O problema é que os detratores insistem em ser short minded. Chegam a querer se escusar de um possível Syllabus de Bento XVI… Se isso não é escusar-se à autoridade, não sei o que mais é.

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  22. Não faz sentido.

    O movimento litúrgico, na melhor das hipóteses, degenerou de uma vez só nos tempos de Pio XII, e seus principais expoentes da época – Dom Beauduin e Romano Guardini.

    A cúria estava infestada de modernistas, e até agora encontrei o rastro deste precedente ao menos desde os tempos de Pio XI (conforme entrevista de D. Pestana publicada neste mesmo blog, que afirmou que o cardeal Billot já havia acusado o golpe, e era de conhecimento do papa).

    No tempo de Pio XII, o mesmo estava rodeado por acessores próximos chamados Montini, Bea, Kaas… Nomes reveladores…

    A coisa saiu de controle de tal forma, que Pio XII condenou os excessos do liturgicismo mais revolucionário através da gigantesca Mediator Dei de 1947… E um ano depois, 1948, o próprio Pio XII nomeia… Bugnini!

    Sim.

    Em 1948, Pio XII instituiu uma Comissão Pontifícia para a Reforma da Liturgia, para a qual nomeou Monsenhor Anibale Bugnini, nosso tão famigerado Bugnini…

    E a Mediator Dei passou a ser usada pelos próprios modernistas do Movimento Litúrgico para pedir ao episcopado mais e mais dispensas.

    Diante disso, o que se segue abaixo é reflexo de tudo o que chegava a Roma, e a mesma foi simplesmente dizendo sim, sim, sim!

    Em 6 de Janeiro de 1953, pela Constituição Apostólica “Christus Dominus”, Pio XII reduziu o tempo do jejum eucarístico antes da Missa ou da Comunhão, para três horas, apenas, para os alimentos sólidos, e de um hora, para os líquidos não alcoólicos.

    Resultado? Nos tempos de Paulo VI houveram ainda mais reduções, a ponto de hoje em dia os católicos DESCONHECEREM o que significa JEJUM EUCARÍSTICO!

    Pelo Motu Proprio, “Sacram Communionem”, de 19 de Março de 1957, Pio XII concedeu a permissão de celebrar a Missa vespertina.

    Pelo Decreto “Maxima Redemptionis”, de 18 de Novembro de 1959, Pio XII aprovou a reforma litúrgica da Semana Santa (pela primeira vez é feita uma intervenção tão significativa no rito, desde Clemente VIII, em 1604…);

    Em 23 de Março de 1955, Pio XII instituiu uma última reforma: a do Breviário. Claro que a reforma pretendia ter um fim elevado: tornar o Breviário mais “leve”, simplificando as rubricas.

    Resultado: foi o primeiro passo para aliviar tanto os Padres do Breviário, tanto que, hoje, ele foi abolido, aliviando definitivamenteos padres. E No Vaticano II, houve um Bispo que exigiu sua abolição, para que os Padres tivessem mais tempo… para rezar…

    Daí em diante começa o começo do fim.

    João XXIII fez a última revisão, publicando em 1960 um novo código de rubricas e inserindo o nome de São José no Canôn Romano. Foi a última vez que a Missa foi revista (1962).

    Em 1963 a Constituição Sacrossantum Concilium manda rever a Missa e os demais livros litúrgicos. E foi neste momento que se contrariou o Concílio de Trento, permitindo-se a Comunhão sob duas espécies…

    Em 1965 apareceu o chamado “rito de 1965), que inclusive foi tratado de forma esplendorosa neste sítio (https://fratresinunum.files.wordpress.com/2010/12/algumas-notas-sobre-o-rito-de-1965.pdf)

    Eu ainda encontro esses lamentáveis missais por aqui… De nada servem, apenas como amostra para estudos…

    O que se destaca na existência deste HÍBRIDO é que a liturgia passou a ser inteiramente vernácula. A experiência durou de 1965 a 1967, e diante da Missa Nova – essa sim um horror de cabo a rabo – passaria por aceitável, visto que o ofertório e o cânon são os mesmos do rito romano dito “tridentino”…

    O seu diferencial reside no vernáculo integral, na primeira parte da missa (que já é toda novus ordo)a celebração da liturgia da Palavra fora do altar, o fato de do celebrante não recitar mais em privado os textos proclamados por um ministro ou cantados pela assembléia, e outras coisas que naquele tempo eram sensacionais…

    Em suma: conforme dizem os próprios especialistas, o rito de 1965 foi o primeiro divórcio entre a letra e o espírito. Ele conserva a linhagem, a estrutura do missal de 1570, mas já é animado por um espírito diferenciado.

    E em 1969 já não sobra nem sequer a letra. O rito de transição acabou-se. Paulo VI nos deu este Novus Ordo, com letra modernista e espírito modernista.

    Agora, Jucken…
    Diante de toda essa retrospectiva, você quer dizer que Ottaviani se escandalizou com o rito de 1965 (com razão) para se tranquilizar… Com um rito ainda pior (o de 1969)?

    Eu bem quereria ver a cara de Ottaviani com as ortodoxas promessas de Paulo VI, que autorizou a comunhão através da instrução “Memoriale Dómini” – redigida “por mandato especial de Paulo VI e por ele mesmo aprovada em razão de sua autoridade apostólica” (28/05/69).

    Bem, o velho e cego cardeal Ottaviani morreu quase ao mesmo tempo (agosto de 1969), e a tese que Juncken tenta nos fazer engolir já foi debatida inteligentemente pelo blog Pacientes na Tribulação
    http://intribulationepatientes.wordpress.com/2008/04/21/teria-o-cardeal-ottaviani-aceitado-a-missa-nova/

    Porque, claro, os neoconservadores e demais traidores da fé já tentaram demonstrar que Ottaviani se arrependeu, que voltou atrás… Tudo para salvar o rito que os protestantes tanto louvaram!

    Mais não digo.

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  23. Exceto que me perdoem a confusão e a falta de revisão ortográfica e gramatical.
    É cada uma… Agora a culpa da carta de Ottaviani é o missal de 1965… Porque, a menos que ele queira dizer que Ottaviani desejava a Missa Nova, é um absurdo dizer que o produto final (missa de Paulo VI) é MELHOR do que seu esboço (que ainda mantinha o cânon e o ofertório católicos)…

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  24. Os defeitos do novo rito, criticados pelo Cardeal Ottaviani, persistem sim na versão final do novus ordo:

    http://intribulationepatientes.wordpress.com/2008/04/21/teria-o-cardeal-ottaviani-aceitado-a-missa-nova/

    Se os problemas apontados persistem, o cardeal não tinha motivo nenhum para aceitar o novus ordo e muito menos para se alegrar com ele. É só ler a carta do cardeal e comparar com o rito que conhecemos para ver o quanto tinha razão o ilustre prelado.

    O problema é o novus ordo em si mesmo, e não somente os abusos. Ainda mais se lembrarmos que havia uma ordem de São Pio V para jamais se alterar o missal. E o novus ordo não somente foi uma fabricação artificial, como todas as suas mudanças foram direcionadas para aproximá-lo das crenças protestantes e afatá-lo da doutrina católica. O que o torna absolutamente inaceitável.

    Se o rito tridentino sofria abusos é porque já havia hereges modernistas. Agora, o novus ordo, mau já em si mesmo, ainda mais é um convite para abusos. Inclusive acrescentado a liberdade que a LETRA do CV II, na SC, concedeu para que se procedesse a inculturação e se fizessem experiências litúrgicas. Como havia abusos anteriores, a obrigação do CV II era dificultar o caminho dos profanadores, e não facilitá-lo, como ele desgraçadamente o fez.

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  25. O que dizer sobre a Bula de São Pio V, a Quo Primum Tempore?

    Diz ela abaixo:

    “E a fim de que todos, e em todos os lugares, adotem e observem as tradições da Santa Igreja Romana, Mãe e Mestra de todas as Igrejas, decretamos e ordenamos que a Missa, no futuro e para sempre, não seja cantada nem rezada de modo diferente do que esta, conforme o Missal publicado por Nós”.

    Porém, há esta excesão (e só esta):

    “Não obstante todas as decisões e costumes contrários anteriores, de qualquer espécie: Constituições e Ordenações Apostólicas, ou Constituições e Ordenações, tanto gerais como especiais, publicadas em Concílios Provinciais e Sinodais; não obstante também o uso das Igrejas acima enumeradas, ainda que autorizado por uma prescrição bastante longa e imemorial, mas que não remonte a mais de 200 anos”.

    Então, que peso tem a Missa conciliar que tem apenas 46 anos e muito menos é de 200 anos antes do decreto solene do antigo papa aos outros ritos ortodoxos, com mais propriedade cuja aproximidade é grande na época dos Apostólos em comparação a de hoje, e, pior, que foi fabricada para atender uma mentalidade liberal reinante depois da Bula?

    Vejai vós mesmos que situação dos neo-conversadores (falsitatis: são piores que hereges declarados) para salvar o Novus Ordo…

    E isso é somente um exemplo quando se compara a situação do Novus Ordo com a Bula.

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  26. Prezados amigos é interessante como os “conservadores” (seja lá o que isto seja) usam o Cardeal Ottaviani. Ora dizem que seus Breve exame crítico foi escrito por um sedevacantista, ora, dizem que ele aceitou a reforma litúrgica.

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  27. Qual o fim de todo crente (referi-me o católico, de acordo ao termo ortodoxo usado por séculos, não segundo essa mentalidade liberal de pós Concílio de hoje que é relativista) que vive sua Fé?

    Segundo a doutrina e vários santos doutores da Igreja, o homem tem um começo, meio e fim. Assim, o contemplar Deus por toda eternidade é seu fim último.

    Portanto, palavras, ações ou escritos, sem utilidade algum benefica, é inclinação somente para picuinhas…

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  28. André,

    Sim, a contemplação divina é o fim último do homem, mas não das realidades terrenas, que não podem entrar na vida sobrenatural. Essas são ordenadas ao homem, o homem para Deus. O problema é ver uma antítese quando os dois termos são de gêneros distintos.

    O fim último de um carro, v.g., é o transporte humano – foi para isso que ele foi criado -, ao passo que o que o homem faz com o carro é que deve ser ordenado para Deus, ao menos ultimamente. Até mesmo realidades sagradas foram criadas para o homem (“O Sábado foi criado para o homem, não o homem para o Sábado”), porque o fim imediato das prescrições relativas ao Sábado eram libertar o homem para que ele pudesse cultuar a Deus. São dois gêneros distintos, não o mesmo.

    Por isso é perfeitamente ortodoxo dizer que as realidades terrenas devem ser ordenadas para o homem, fazendo a distinção de que elas, em suma, devem ser orientadas pelo homem para Deus, que é exatamente o que diz o Vaticano II sobre o papel dos leigos no mundo.

    Não há motivo algum para insistir numa interpretação heterodoxa.

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  29. Juliano,

    Em primeiro lugar, ninguém está se escusando de um Syllabus. Se ele realmente viesse corrigir alguns erros ocasionados pela PROPOSITAL ambiguidade do CV II, seria bem vindo. O problema, além de todos já apresantados, é que este syllabus não seria suficiente, porque o CV II possui não somente ambiguidades, mas ele rompeu com a Tradição. Seria necessário corrigi-lo e não somente intrepretá-lo melhor.

    Sobre a sua interpretação da GS 12, devemos observar que o que diz literalmente o texto não foi o que você transcreveu.

    Você disse “que as realidades terrenas estão ordenadas para o homem”. O texto do CV II diz que “tudo quanto existe sobre a terra deve ser ordenado em função do homem, como seu centro e seu termo”. Você consegue enxergar a diferença ou será que um short minded vai ter que lhe mostrar?

    As realidades terrenas estão sim ordenadas para o homem. Mas não foi isso o que disse o CV II. Ele disse que TUDO O QUE EXISTE SOBRE A TERRA deve ser ordenado para o homem. Nem tudo o que existe sobre a Terra são meras “realidades terrenas”: todas as coisas religiosas são muito mais do que realidades terrenas. Elas existem sobre a Terra, mas não devem ser orientadas ao homem, senão a Deus. Você acha, por exemplo, que a Santa Missa é uma “realidade terrena” que deveria ser subordinada ao homem da mesma forma que o mundo material o foi no Gênesis?

    Além do mais, a letra do CV II prossegue dizendo “como seu CENTRO e seu TERMO”. Assim, TUDO o que existe sobre a Terra não somente deveria estar orientado para o homem, como ele deveria ser seu centro e seu termo. Se o termo é o homem, não sobra espaço para elevar o raciocínio até Deus, como você queria fazer crer. A interpretação ortodoxa que você deu não pode ser, portanto, extraída do texto do CV II, pois ela coloca o termo no homem, e não em Deus. Dúvidas?

    Outro erro poderia ser evitado se você não utilizasse a “tesoura” à moda protestante. Você citou o “dai a César o que é de César”, mas esqueceu-se do “dai a Deus o que é de Deus”. Se tudo o que existe sobre a terra deve ser ordenado em função do homem, como seu CENTRO e seu TERMO, o que sobra para Deus? O CV II não quis dar a César o que era dele, mas quis dar TUDO o que existe sobre a Terra.

    A realidade pós-conciliar demonstra o quanto os católicos mornos levaram a sério o malfadado CV II: vivem como se não houvesse Deus (além do próprio umbigo, claro). E a missa nova, não é a clara expressão do quanto se deu às costas para Deus e se voltou para o homem? A realidade antropocêntrica da igreja conciliar é tão evidente que dispensa comentários. Ainda mais de alguém que tem mentalidade curta como os rad trads, não é mesmo?

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  30. Não, não foi oportuna a medida solicitada por dom Schneider. O Papa só poderia promulgar um decreto desses se contasse com um clero santo ao seu redor, seguido de um conjunto de bispos também santos e de uma boa quantidade de leigos santos. A aplicação dos princípios emanados do documento seria mais factual. Não adiante existir a lei sem que também hajam pessoas que a vivam em seu dia a dia. A igreja de hoje necessita muito mais de santos do que de leis. No tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo também era assim: os ortodoxos pediam muito que se aplicassem a lei de Moisés, mas o Salvador só falava na lei do amor. Um documento que condenasse as interpretações erradas do Concílio, listadas com finalidade corretiva, não surtiria os efeitos de corrigir tais erros, embora fosse muito útil para aquietar a corrente conservadora e excitar ainda mais os progressistas a uma maior revolta. Ela teria que ser aplicada pela maioria dos bispos, hoje muito condescendentes com tais erros. Precisamos rezar e ter paciência para esperar que tipo de solução a Divina Providência tem para nos oferecer.

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