Quando Bartolucci chorou.

Do artigo de Paolo Rodari, do Il Foglio:

Cardeal Domenico Bartolucci celebrando missa prelatícia em Roma, no último dia 8, por ocasião da festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora.
Cardeal Domenico Bartolucci celebrando missa prelatícia em Roma, no último dia 8, por ocasião da festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora.

A música sacra da Igreja Católica sofreu uma grande revolução após o Concílio Vaticano II. Bartolucci relata: “Também Pio XII havia desejado convocar o Concílio. Assim o disse o Cardeal Achille Silvestrini, no décimo aniversário da morte do Cardeal Domenico Tardini. Ele se deu conta, porém, que os numerosos focos de rebelião presentes na Igreja poderiam começar um incêndio em Roma. Foi assim que o Papa João XXIII, depois do Sínodo Romano, convocou o Concílio. Sob o seu pontificado, a Capela Sistina pôde finalmente ser reconstituída. Eu mesmo apresentei um projeto de reforma geral e o Papa o aprovou integralmente. Obtivemos uma sede, o arquivo, um grupo fixo e assalariado de cantores adultos e especialmente a schola puerorum dedicada exclusivamente à formação dos nossos moços. O Papa João apreciava muito a Capela. No Natal, cantávamos em seu apartamento com os meninos diante do presépio. Com relação à liturgia, creio que ele não teria mudado nada, mas em seguida ele morreu. A reforma verdadeira e própria, com todas as mudanças, se deu sob Paulo VI”.

Sob o pontificado do Papa Montini e com o novo direcionamento litúrgico se verificou, de fato, a crise da música sacra. Bartolucci recorda ainda uma Páscoa em que voltou para casa em lágrimas. Disse: “Nos mandaram embora dizendo que a Sistina não deveria cantar, mas o povo. Foi uma revolução copernicana. O abandono do latim, que o próprio Concílio não desejava, na verdade, foi promovido por muitos liturgistas e assim todo o repertório tradicional do canto gregoriano e da polifonia, e, consequentemente, as schola cantorum, foram apontados como a causa de todo o mal. Ir ao povo havia se tornado lema, sem que se compreendesse as graves conseqüências dessa banalização dos ritos e da liturgia. Eu sempre me opus a isso e sempre defendi a necessidade da grande arte na Igreja, para sustento e benefício do próprio povo. Pensou-se que participar significasse cantar ou ler alguma coisa e assim se desprezou a sábia pedagogia do passado. Paradoxalmente, também o repertório dos cantos devocionais que o povo sabia e cantava desapareceu. Anos atrás, por exemplo, quando o povo assistia a uma missa por um morto, sabia cantar com devoção o Dies Irae, e recordo que todos se uniam para cantar o Te Deum ou as antífonas de Nossa Senhora. Hoje, dificilmente se acha alguém capaz de fazê-lo. Muitos hoje, felizmente, embora um pouco atrasados, começam a perceber o que aconteceu. Era necessário pensar naquela época, antes de proceder com tanta susposta sabedoria em favor de uma moda. Mas você sabe, na época todos renovavam, todos pontificavam. Felizmente, o Santo Padre está dando indicações muito precisas sobre a liturgia e esperamos que o tempo ajude as novas gerações”.

A Capela Sistina, depois do Concílio, no entanto, continuou a desempenhar uma importante atividade, pois Bartolucci quis promover suas execuções também em concertos. “Dei a volta ao mundo com a Sistina e nos concertos pude me sentir livre para programar as obras-primas que eram impossíveis de se realizar dentro da liturgia, in primis, as obras de Giovanni Pierluigi de Palestrina. Giuseppe Verdi o define como o “pai eterno” da música ocidental. Eu já disse isso uma vez em uma entrevista: “Palestrina é o primeiro patriarca que compreendeu o que significa fazer música; ele percebeu a necessidade de uma composição contrapontística vinculada ao texto, alheia à complexidade e aos cânones da composição flamenga. Não por acaso, o Concílio de Trento fixou o cânones da música litúrgica olhando para ele. Não há autor que respeite o texto sagrado como Palestrina. Eu, no que pude, tentei me referir a este mesmo espírito, à solidez do canto gregoriano e polifonia de Palestrina. Por isso pude continuar a escrever música, na esteira da tradição da Escola Romana”.

Um comentário sobre “Quando Bartolucci chorou.

  1. Igreja sem monarquia do Papa: “O Dr. Miguel Nicolelis, um neurocientista que foi nomeado ontem para a Pontifícia Academia de Ciências, é uma defensor público da ideologia pró-aborto e pró-homossexualismo da nova presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, conforme o LifeSiteNews ficou sabendo.” Eu, por minha vez, soube do Júlio Severo.
    Estou lendo o livro “O Problema da Reforma Litúrgica, Estudo Teológico e Litúrgico”, da FSSPX, editado pela Permanência e, principalmente, os últimos capítulos e o que explica a “Teologia do Mistério Pascal”, como uma ponte traiçoeira entre o catolicismo modernista e a teologia protestante, na qual foi fundamentada a reforma, é de estarrecer qualquer católico. Todos os sacerdotes católicos tinham de ler obrigatoriamente este livro, porque a exatidão teológica do autor não deixa nenhuma sombra de dúvida. Lá se vê que o Concílio de Trento, que se antecipou aos problemas e frustrações que vivemos, ao criticar a nova teologia nascente, foi desobedecido no seu âmago, apesar de decretar a excomunhão e o anátema para quem afirmasse o que afirma a nova teologia que construiu a reforma litúrgica.
    E, em outubro, o papa ainda vai realizar o “revival” daquela agressão de Assis. São Francisco vai se revirar tanto em seu túmulo que novo terremoto vai derrubar o resto dos edifícios sagrados a serem novamente profanados.
    Realmente, não dá para entender… Só mesmo para poder ser cumprida a profecia do grande engano (2 Tes2).

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