O Concílio Vaticano II não é mais um bloco.

Mons. Brunero Gherardini no Congresso dos Franciscanos da Imaculada. Na mesma foto (à direita), Dom Luigi Negri, bispo de San Marino.
Mons. Brunero Gherardini no Congresso dos Franciscanos da Imaculada. Na mesma foto (à direita), Dom Luigi Negri, bispo de San Marino.

I – O congresso dos Franciscanos da Imaculada.

Começa-se a ouvir falar muito, aqui e acolá, deste seminário teológico, de um elevado nível universitário, realizado em Roma, de 16 a 18 de dezembro. Em suma, ele conferiu — ou melhor: confirmou — um direito de cidadania efetivo, na Igreja, a uma análise crítica e contraditória dos enunciados do concílio pastoral Vaticano II.

Faz bastante tempo, com efeito, meio século depois de sua convocação; e cinco anos depois do discurso de 22 de dezembro de 2005 com o qual Bento XVI liberou a palavra para um debate necessário a esse respeito.

Esperamos uma próxima tradução francesa dos discursos pronunciados nesse congresso. Por ora, temos o relato publicado por Correspondance européenne de Roberto de Mattei.

II – Quem é, portanto, responsável pelo “pós-Concílio”?

– Foi fortemente debatido, durante o congresso, a fim de se saber se o pós-concílio pertence ou não ao concílio. Sobre este ponto, como nos outros, o simples fiel há muito tem uma opinião segura: o concílio foi bem ou mal aplicado, mas, em todo caso, foi aplicado por aqueles que o fizeram; isto é, qualquer que seja o texto de sua lei, esta lei foi aplicada pelo próprio legislador e segundo a sua intenção. Emile Poulat observava que na sociedade civil não é o legislador o encarregado de aplicar a lei. Seria melhor? Não é certo. De toda forma, foram efetivamente os bispos do concílio os responsáveis pelo pós-concílio. Assim como Paulo VI, que durante quinze anos, de 1963 a 1978, foi o Papa do concílio, do pós-concílio e das destruições cujas conseqüências sofremos.

III – O esforço doutrinal.

– Foi dito no congresso que o erro do pós-concílio foi o de “dogmatizar um concílio que quis ser pastoral”. Que quis? Digamos melhor: que pretendia não ser mais que pastoral. Mas é difícil acreditar que bispos e teólogos absolutamente não percebiam a ruptura doutrinal subentendida por aqueles que a criavam. O simples fiel ouviu perfeitamente que o Vaticano II se proclamava “pastoral” por distinção explícita do “doutrinal”. Mas ele observou imediatamente que esses enunciados pastorais tinham inevitáveis e dramáticas implicações doutrinais: assim constatavam, entre outros, pela supressão radical dos catecismos tradicionais, substituídos por nada. Constatavam também pela interdição ilegítima da missa secular, substituída por uma improvisação de alguns meses.

IV – Classificar e retratar.

– Naturalmente, em muitas passagens o Vaticano II recorda, em uma linguagem mais ou menos precisa, verdades dogmáticas: elas o são não por sua própria autoridade, que é apenas pastoral, mas pela autoridade dos concílios anteriores que as definiram. A página se vira sobre a invenção barroca de um “magistério pastoral” que se propõe como magistério não doutrinal, mas igual ou mesmo superior ao magistério doutrinal. O simples fiel se recorda que este “magistério não doutrinal” atribuía a seu concílio, em bloco, “tanta autoridade e maior importância” que o concílio de Niceia [ndr: não podemos deixar de recordar a frase de Paulo VI: “O Concílio Vaticano II não tem menor autoridade e em certo sentido é ainda mais importante que o de Niceia“]. O bloco se rompe, está rachado.

Sim, estes são verdadeiramente tempos em que os teólogos se pronunciam publicamente sobre os erros e os abusos de poder conciliares, de cujos espíritos seremos completamente libertados quando forem suficientemente retratados.

JEAN MADIRAN (extrato de Présent , sábado, 5 de fevereiro)

Fonte: Revue Item

Um comentário sobre “O Concílio Vaticano II não é mais um bloco.

  1. Apesar do Concílio Vaticano II ter sido um concílio pastoral, ele invadiu o campo do dogma. Por exemplo, a definição de que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica, até antes do concílio era uma definição dogmática. No concílio o dogmático “est”, é sustítuido pelo pastoral “subsist in”. Como é possível um Concílio pastoral substituir definições dogmáticas, por formulações pastorais? Isto não da para entender, e é apenas a ponta do iceberg. Vejam outro exemplo (na base do iceberg): na carta 62 de Dom Fellay, ele cita o pensamento do então Cardeal Ratzinger sobre o conceito de tradição da Dei Verbum com relação ao conceito de Trento e do Vaticano I:

    •Sobre o conceito de Tradição (Dei Verbum): “A recusa da proposta de tomar o texto de Lérins, conhecido e santificado, de certo modo, por dois concílios, mostra de novo que se deixou para trás Trento e o Vaticano I, e a contínua releitura de seus textos… [o concílio Vaticano II] tem outra idéia da maneira como se realiza a identidade histórica e a continuidade. O ‘semper’ estático de Vincent de Lérins não lhe parece apropriado para exprimir esse problema.” (Joseph RATZINGER, LThK, Bd 13, p. 521). Carta 62 de Dom Fellay – http://www.fsspx.com.br/exe2/?p=136

    Em alguns pontos o Concílio Vaticano II deu respostas pastorais, a questão para as quais já existiam resposta definitiva da Igreja. Isto é tão complicado, quanto os frutos do ecumenismo pastoral. Já não exigem de nós, a obrigação de fé divina e católica mas apenas religioso obséquio da inteligência e da vontade. Então, exigiram está obrigação aos anglicanos, por exemplo? Como falar de conversão sem adesão a fé divina e católica? Perguntas sem respostas…

    A cada dia que passa e a cada texto que lemos acerca do CVII, temos a impressão de que falta uma enormidade de elos entre a pastoral e a tradição. A definição de alguns Padres conciliares para pastoral (como Congar), faz parecer que na Idade Média, não houve pastoral ou que o dogma não é pastoral. A coisa virou uma bola de neve que está ficando cada vez maior. O pior é que da parte da autoridade não se vê sequer um movimento em direção a algo definitivo. Do jeito que as coisas estão, qualquer fiel pode duvidar da apostasia, pois é muito fácil fazer passá-la como um progresso ou uma evolução do dogma. Porque isto atualmente quer dizer que se trata de um aprofundamento para o significado oposto do dogma. É muito complicado…

    Fiquem com Deus.

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