A pergunta que não quer calar.

De Rorate-Caeli:

Além de suas numerosas belas e profundas palavras, além de seus gestos simbólicos que escandalizaram a muitos, além de atos que afetaram a própria vida da Igreja e ainda criarão enormes problemas no futuro (como a permissão para “acolitas”, considerada por um Cardeal um dos pontos mais altos de seu Pontificado), um ato (ou melhor, uma omissão) ainda permanece: por que ele não agiu segundo o conselho expresso de seus Cardeais no Santo Ofício a respeito dos amplos direitos juridícos da Missa Tradicional? Este não é um assunto sobre o qual se possa dizer — como se faz acerca de muitos outros — que ele muito provavelmente desconhecia, que outros poderiam não lhe ter dado ciência a respeito. Eles discutiram o problema a seu pedido e, em  1982 (1982!), deixaram claro o que somente seria tornado público no motu proprio Summorum Pontificum, em 2007. Ele sabia; ele estava ciente; ele permaneceu calado.

Tanta dor, tantas lágrimas, tantos morreram esperando por isso, tantos podem ter se perdido para sempre esperando o que ele sabia ser legítimo, correto e justo. Tantos problemas causados, tanta injustiça, tanta perseguição, de um modo que lança novas luzes aos acontecimentos dramáticos de 1988 — que levaram à Ecclesia Dei Adflicta, um documento mais focado no sentimento de alguns fiéis do que no direito legítimo de padres e leigos.

Obrigado, Senhor, por, através de Paulo VI nos ter dado o Cardeal Ratzinger e, por João Paulo II, nos ter dado Bento XVI. Benedicite, omnia opera Domini, Domino!

Summorum Pontificum no Brasil: Missa Tradicional em Porto Alegre (RS).

Domingo, 8 de maio, às 9:30

Igreja São José – Rua Alberto Bins, 467

Informações: (51) 3224-5829

Informa o leitor Henrique Garcia, a quem agradecemos: “Esta passará a ser a única missa regular na cidade sob os auspícios do Summorum Pontificum. O celebrante será o Pe. Adilson Feiler SJ, recém chegado de Curitiba, onde pastoreava a florescente comunidade tradicionalista local. A princípio, a Missa está programada para ser quinzenal; com o tempo, entretanto, e dependendo do número e participação dos fiéis, poderá tornar-se até semanal”.

Liberdade religiosa, o debate.

Sandro Magister, em seu famoso site vinculado ao La Repubblica,  traz um extrato do artigo publicado pelo Padre Martin Rhonheimer, suíço, membro do Opus Dei, professor de ética e filosofia política na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma, sobre a questão da liberdade religiosa.

Rhonheimer defende, em suma, a descontinuidade doutrinal entre o magistério pré e pós-conciliar, rechaçando uma mal compreendida “hermenêutica da continuidade” para dar força àquela verdadeiramente citada por Bento XVI em seu discurso de Natal em 2005 à Cúria Romana, a da “hermenêutica da reforma na continuidade”. Tal descontinuidade, no entanto, seria apenas acidental e não envolveria uma afronta ao dogma:

“[Segundo Bento XVI,] ‘O Concílio Vaticano II, com sua nova definição da relação entre a fé e a Igreja e determinados elementos básicos do pensamento moderno, reelaborou ou corrigiu algumas decisões tomadas no passado…’. Esta correção não implica uma descontinuidade no nível da doutrina católica sobre fé e moral, que é competência do Magistério autêntico e na qual existe infalibilidade também como Magistério ordinário. Por isso o Papa Bento fala, nesta perspectiva, de uma descontinuidade só ‘aparente’, pois, apesar de ter rechaçado o velho peso de uma doutrina superada acerca do Estado, a Igreja ‘preservou e aprofundou sua verdadeira natureza e identidade: a Igreja era e é, antes e depois do Concílio, a mesma Igreja una, santa, católica e apostólica, que peregrina no tempo'”.

Trata-se, com efeito, de uma resposta da corrente “moderada”, na qual se inclui, salvo melhor juízo, o próprio Bento XVI, não só aos tradicionalistas que rechaçam esta abordagem controversa do Concílio, mas também aos chamados “neoconservadores” [dentre os quais poderíamos elencar os Padres do mosteiro do Barroux e da Fraternidade Saint Vincent Ferrier, na França, e, no Brasil, os ardentes defensores do “magistério vivo”] que de toda forma pretendem conciliar o texto de  Dignitatis Humanae com o magistério precedente em uma continuidade forçada e homogênea que, segundo Rhonheimer, “em última instância, falsificaria a continuidade verdadeira”. Continuidade absoluta que, ao fim e de modo rudimentar, comprometeria o verdadeiro caráter “reformista” do Vaticano II.

O artigo está disponível para leitura em italiano, inglês, francês e espanhol.

Por que Wojtyla não se tornou ”santo logo”, imediatamente depois da morte?

João Paulo II e o então Cardeal Ratzinger.
João Paulo II e o então Cardeal Ratzinger.

(IHU) Muitos prelados queriam ignorar os tempos, mas Ratzinger preferiu o caminho da beatificação.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 27-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Nas primeiras semanas do seu pontificado, Bento XVI levou seriamente em consideração o pedido de proclamar o Papa Wojtyla “santo já”, isto é, de abrir diretamente um processo para a canonização, pulando o grau intermediário da beatificação. Um evento que teria sido sem precedentes na época moderna.

Ratzinger não disse logo que não: avaliou a proposta que dava forma a uma aspiração do próprio secretário particular de Wojtyla, Stanislaw Dziwisz. Pediu conselhos para alguns colaboradores da Cúria Romana e, no fim, estabeleceu que permitiria logo a abertura do processo, sem esperar os cinco anos da morte, mas sem pular o grau de beato.

É preciso voltar à grande emoção dos dias posteriores à morte de João Paulo II para compreender o que aconteceu nos sagrados palácios do outro lado do Tibre. Os cardeais, enquanto se reuniam para decidir o desdobramento dos funerais e para preparar o conclave no qual Bento XVI seria eleito, acompanhavam o rio ininterrupto de pessoas que desfilavam diante dos restos mortais de Wojtyla.

O cardeal eslovaco Jozef Tomko, prefeito emérito da Propaganda Fide e amigo do Pontífice recém falecido, fez-se promotor de uma coleta de assinaturas entre os colegas purpurados para pedir que o novo Papa, quem quer que fosse, abrisse a causa para levar o antecessor aos altares. O então decano do Colégio Cardinalício, Joseph Ratzinger, na homilia da missa fúnebre, falou de Wojtyla assomado à janela do céu, e as suas palavras foram consideradas como um viático para a auréola. Logo depois da eleição, foi o cardeal Ruini que lhe apresentou o abaixo-assinado dos purpurados. Da parte de Dziwisz, ao contrário, chegou a Bento XVI a sugestão de proceder à proclamação a “santo já”.

Ratzinger, que havia conhecido Wojtyla de perto e havia sido um dos seus mais longevos e estreitos colaboradores, quis avaliar com calma os prós e os contras: de um lado, a fama de santidade disseminada em nível popular e a excepcionalidade da figura do antecessor; de outro, as regras canônicas e o impacto que uma tal exceção teria, passando logo para uma proclamação de santidade.

O novo Papa sabia bem que algo semelhante havia sido levado em consideração apenas dois anos antes, em junho de 2003, quando o secretário de Estado Angelo Sodano havia escrito uma carta em nome de João Paulo II a alguns cardeais da Cúria Romana, pedindo-lhes um parecer sobre a possibilidade de logo proclamar santa madre Teresa de Calcutá, sem passar pela beatificação. Ao Papa Wojtyla não desagradava essa ideia, mas ele quis consultar os colaboradores, que o aconselharam. Assim, madre Teresa tornou-se beata, não santa.

Consultados alguns colaboradores, Bento XVI, portanto, seguiu a mesma linha. Decidiu anular aquela espera de cinco anos, mas estabeleceu que a causa do antecessor, mesmo seguindo um caminho preferencial enquanto aos tempos, ocorresse segundo procedimentos regulares, sem atalhos ou descontos. O fato de que a apenas seis anos da sua morte João Paulo II se tornará beato já é, por si só, um fato excepcional. Há mais de um milênio, de fato, um Papa não eleva aos altares o seu antecessor imediato.

O último Papa que foi desejado como “santo já”, antes de Wojtyla, foi João XXIII: os padres do Vaticano II propuseram ao seu sucessor Paulo VI que o canonizasse no Concílio, por aclamação. Também dessa vez, o Papa preferiu agir diferentemente e fez com que fosse iniciado um processo regular para Roncalli, colocando ao seu lado um outro processo para Pio XII.

Karol Wojtyla no Concílio Vaticano II.

Fonte: Agência Ecclesia

Antecedentes Romanos

O Arcebispo Karol Wojtyla em 1964.
O Arcebispo Karol Wojtyla em 1964.

Karol Wojtyla (18.05.1920 – 02.04.2005) não se ausentava da Polónia desde 1948, altura em que regressara de Roma, concluídos os seus estudos e o doutoramento na Pontificia Universidade de São Tomás de Aquino, conhecida por Angélicum. Durante a sua permanência como estudante em Roma, a figura principal da Faculdade de Teologia do Angélicum era o padre Reginald Garrigou-Lagrange (OP) (1877–1964), indiscutível mestre do neo-escolasticismo tradicional, exigente na sua filosofa e na sua teologia dogmática, participando das acesas controvérsias teológicas que deram origem à encíclica Humani Generis (12.08.1950) de Pio XII (1939-1958).

– Leia mais… >

Qual a pressa em beatificar João Paulo II?

(IHU) Ao longo desta semana, estou oferecendo uma série diária de perguntas e respostas em preparação à beatificação do Papa João Paulo II no próximo domingo. Hoje, começamos com a talvez mais frequente questão, tanto na mídia quanto na base: qual é a pressa? Por que isso está acontecendo tão rápido, enquanto outras causas, às vezes, padecem durante séculos?

A análise é John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 25-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Os números sobre a causa de João Paulo II são uma questão de recorde. A beatificação ocorre seis anos e 29 dias após a sua morte no dia 2 de abril de 2005, tornando-a a beatificação mais rápida dos tempos modernos, desbancando Madre Teresa em 15 dias. Em ambos os casos, a velocidade foi possível porque o Papa renunciou ao período normal de cinco anos de espera após a morte do candidato, a fim de iniciar o processo.

Porém, o fato de se isso equivale a “pressa” está nos olhos de quem vê.

Como o padre jesuíta James Martin observou, uma vez que haja um milagre documentado, teologicamente poderíamos dizer que Deus aprova esse ritmo. Além disso, para a grande faixa da população tanto dentro quanto fora da Igreja Católica convencida de que João Paulo II foi um santo em vida e que a canonização é uma formalidade, a questão-chave não pode ser por que isso está acontecendo tão rapidamente, mas sim porque está demorando tanto.

Um estudo oficial da vida de João Paulo II que levou a um “decreto das virtudes heroicas” em dezembro de 2009, autorizando João Paulo II a ser referido como “venerável”, coletou testemunhos de mais de 100 testemunhas formais e produziu um relatório de quatro volumes. George Weigel escreveu recentemente que, como resultado, os católicos têm “muito mais detalhes sobre a vida e as realizações de Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, do que o eleitorado norte-americano recebeu sobre a vida e as realizações de Barack Obama, ou do que o eleitorado britânico recebeu sobre a vida e as realizações de David Cameron e de Nick Clegg“.

Além disso, a beatificação de João Paulo II pode ser a mais rápida dos últimos tempos, mas dificilmente será o processo mais veloz a ser registrado. Essa distinção pertence a Santo Antônio de Pádua, que morreu em junho de 1231 e foi canonizado menos de um ano mais tarde pelo Papa Gregório IX. Antônio bateu ainda seu mestre, São Francisco de Assis, que foi canonizado 18 meses após a sua morte, em outubro de 1226 (também por Gregório IX).

Na verdade, os mais inclinados a questionar a “pressa” muitas vezes têm outras razões para o sentimento ambivalente com relação a João Paulo II – o seu histórico na crise dos abusos sexuais, por exemplo, ou o teor mais “evangélico” do seu pontificado, em oposição ao espírito de reforma interna da Igreja associada ao Concílio Vaticano II (1962-1965).

Aliás, é difícil imaginar que muitos progressistas católicos estariam em pé de guerra se, por exemplo, o arcebispo Oscar Romero, de El Salvador, tivesse sido beatificado apenas seis anos após seu assassinato em 1980. O debate sobre a “rapidez” da causa da canonização, em outras palavras, está quase sempre envolto com o “quem” e o “porquê”.

Dito isso, para uma instituição que normalmente pensa em séculos, seis anos e meio não deixa de ser espantosamente rápido. Certamente pode-se perguntar sobre o ritmo da beatificação sem soçobrar em dissenso teológico, ou pôr em causa a santidade de João Paulo II. Reportagens de 2008, por exemplo, sugeriam que o cardeal italiano Angelo Sodano, então secretário de Estado de João Paulo II, havia escrito à autoridade encarregada pela causa de João Paulo II para manifestar uma preferência a esperar enquanto os procedimentos à santidade estivessem em andamento para outros papas, incluindo Pio XII e Paulo VI.

Há pelo menos cinco fatores que explicam o ritmo em que as coisas estão se movendo no caso de João Paulo II.

Primeiro, o próprio João Paulo II revisou o processo de canonização, em 1983, para torná-lo mais rápido, mais fácil e mais barato, com a ideia de levantar modelos contemporâneos de santidade para um exausto mundo moderno. Apesar de João Paulo II e Madre Teresa serem os únicos em casos em que o período de espera foi dispensado, eles são apenas dois de mais de 20 casos desde 1983 em que um candidato chegou à beatificação 30 anos após a morte – uma lista que inclui uma mistura de beatos famosos (Padre Pio, Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei) e relativamente obscuros (Anuarita Nengapeta, uma mártir do Congo, e Chiara Badano, um membro leigo dos Focolares).

Nesse sentido, o ritmo da beatificação de João Paulo II é um subproduto natural de suas próprias políticas de santificação, que valorizam a demonstração de que a santidade está viva aqui e agora.

Em segundo lugar, supõe-se que a santidade é um processo democrático, começando com uma convicção popular de que uma determinada pessoa viveu uma vida santa e digna de ser imitada. No passado, a fama de um candidato muitas vezes se espalhava só gradualmente, mas hoje o mesmo lapso de tempo nem sempre se aplica. O papado de João Paulo II explorou habilmente duas das marcas da aldeia global de hoje: a ubiquidade das comunicações e a relativa facilidade das viagens. Como resultado, pode-se argumentar que o ritmo de sua beatificação nada mais é do que um reflexo da maior velocidade com que tudo se move no século XXI.

Em terceiro lugar, apesar das reformas de João Paulo II, a santidade continua sendo um processo complicado. Causas que se movem rapidamente tipicamente têm uma organização por trás, capaz de fornecer os recursos e a experiência para fazer o sistema funcionar. O Opus Dei, por exemplo, pôde recorrer a alguns dos melhores advogados canônicos da Igreja Católica para promover a causa do seu fundador, e os Focolares têm membros motivados com boas ligações com o Vaticano por trás da causa de Badano. No caso de João Paulo II, a infraestrutura da Igreja Católica na Polônia, assim como na diocese de Roma, estão solidamente por trás da causa, garantindo que ela não definhe por falta de apoio institucional.

Em quarto lugar, os tomadores de decisão na Igreja de hoje são em grande parte nomeados e protegidos de João Paulo II, o que lhes dá uma motivação biográfica poderosa para querer ver o seu mentor elevado à santidade durante suas próprias vidas. Essa lista inclui o próprio Papa Bento XVI; assim como o cardeal Stanislaw Dziwisz, de Cracóvia, na Polônia, e antigo secretário particular de João Paulo II, para quem manter a memória de João Paulo vivo representa uma vocação sagrada. Dziwisz completa 72 anos no dia 27 de abril, tornando a beatificação do dia 1º de maio um presente de aniversário perfeito, e não há dúvida de que ele gostaria de ver a canonização acontecendo antes que ele saia dos holofotes aos 80 anos, a idade da aposentadoria.

Em quinto lugar, há o simples fato da demanda popular. O afeto por João Paulo II continua sendo palpável ao redor do mundo, e, em muitos casos, as pessoas não estão à espera de aprovação formal para considerá-lo como um santo. A revista italiana Epoca, por exemplo, estampou a manchete “O Santo Papa” em sua capa desta semana, sem trabalhar a diferença entre beatificação e canonização.

Será que o mesmo ritmo acelerado irá impulsionar João Paulo II para a linha de chegada da canonização em tempo recorde?

Há inúmeras variáveis envolvidas, uma das quais é a necessidade de um outro milagre documentado. O caso da Madre Teresa pode ser instrutivo: embora quase todo mundo considere a sua canonização como uma conclusão prévia, sete anos e meio se passaram desde a sua beatificação em outubro de 2003, e os organizadores de sua causa ainda estão procurando por um milagre que satisfaça os testes rigorosos da Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano.

Também é possível que isso eleve a precaução, especialmente se surgirem novas revelações sobre a resposta à crise dos abusos sexuais durante o papado de João Paulo II. Mesmo que nada disso ponha em causa a santidade pessoal de João Paulo II ou as altas conquistas do seu pontificado, alguns poderiam argumentar em favor da espera até que diminua a sensibilidade da reação das vítimas de abuso clerical.

Finalmente, um fato marcante sobre a abordagem de Bento XVI à canonização é que, embora não tenha abrandado o ritmo das beatificações, ele mostrou uma maior paciência quando se trata de canonizações. João Paulo aprovou 1.338 beatificações ao longo de 26 anos, uma média de 51 por ano. Bento até agora assinou 789, ou 131 por ano. No entanto, Bento XVI não está canonizando com o mesmo frenesi. As 482 canonizações de João Paulo equivalem a mais de 18 por ano, enquanto as 34 de Bento até agora representam uma média anual de pouco menos de sete anos. Esse contraste pode sugerir um atraso um pouco mais longo antes que João Paulo II seja oficialmente declarado santo.

Por outro lado, os quatro fatores listados acima para explicar o rápido progresso da beatificação de João Paulo II ainda estão em seu lugar, e todos se aplicam em uma medida muito semelhante às perspectivas de uma rápida canonização.

No final, Martin pode estar certo. Se um outro milagre vier rapidamente e sobreviver ao escrutínio médico e teológico usual, pode-se dizer que é Deus quem mantém João Paulo II na pista rápida.

900 Anglicanos entram na Igreja na Páscoa.

Catholic Culture – Cerca de 900 Anglicanos, incluindo 61 clérigos estão entrando na Igreja Católica nesta Páscoa como membros do Ordinariato Pessoal de Nossa Senhora de Walsingham nesta Páscoa.

O ordinariato pessoal é uma nova estrutura eclesiástica, estabelecida pelo Papa Bento com a sua constituição apostólica Anglicanorum Coetibus como meio de dar as boas vindas aqueles anglicanos que desejaram entrar na Igreja Católica. O ordinariato permite que as comunidades anglicanas mantenham suas tradições litúrgicas e pastorais distintas, estando ao mesmo tempo em plena comunhão com a Santa Sé.

O Papa aparentemente não deu início a Assis III.

Fonte: Rorate-Caeli. Tradução: Fratres in Unum.com

[Resumo de um post do website do Distrito Alemão da FSSPX — tradução e créditos: leitor]

Em uma mensagem pessoal do Papa ao Prof. Dr. Peter Beyerhaus, ele aparentemente insinua não ter sido o promotor — logo, o responsável pelo — encontro dos [chefes] religiosos em Assis deste ano.

Em Kirchliche Umschau, abril de 2011, Prof. Beyerhaus resume o conteúdo da carta da seguinte maneira:

“Pode-se deduzir da carta que a iniciativa deste evento de aniversário, que, de fato, ele considerou necessário, aparentemente não partiu dele. Ele, no entanto, comparecerá e, como escreve literamente, “tentará determinar a direção como um todo e fazer tudo [que estiver a seu alcance] para impossibilitar uma explicação sincretista ou relativista do acontecimento”. Ele explicitamente me autorizou a tornar pública esta sua opinião, mas pediu “para deixar claro que eu confio que o Papa permanece firme naquilo que ele é chamado por conta de sua função — isto é, fortalecer seus irmãos na fé em Jesus Cristo como único Filho de Deus e Redentor e confessá-Lo inequivocamente”.

[Tradução livre do comentário do editor do website:]

Estas palavras são ao mesmo tempo boas e tristes. Boas, pois o evento não é de autoria do Papa. Boas, porque o Papa quer suprimir o sincretismo dos eventos anteriores. Boas, também, porque o Papa quer deixar claro de não ter dúvida sobre sua missão como arauto da fé em Jesus Cristo, o Filho Unitênito do Pai.

Mas por que ele não pode cancelar o evento? “A pressão é muito grande”, muitos dirão… O comentarista também menciona que há um leve indício de que o Papa não considera o evento muito danoso (“que ele, de fato, considerou necessário”). Por que  necessário? Para a fé dos Cristãos? Para os poderes políticos no Vaticano? A esse respeito, menciona-se a Comunidade de Santo Egidio, que dizem ter muito dinheiro e ser lobistas muito podersos.

O mais triste, no entanto, é o fato de o Papa não querer admitir o grande dano [do evento — nota do tradutor]. Com a permissão expressa para publicação, o escrito parece ser um modo de consolar Católicos conservadores.

Claro, todo Católico convicto ficará feliz pelo fato de o Papa ver seu trabalho como confessar inequivocamente Jesus Cristo como Deus e Redentor. Mas, exatamente , de “inequívoco” Assis não tem nada. Os encontros [inter]religiosos são tudo, menos inequívocos! Ao menos… que o Papa publicamente anunciasse que ninguém se salvará senão por Jesus Cristo. Se ele não fizer isso, Assis 2011 será apenas mais um tijolo para a construção da religião mundial livre-pensadora [tradução literal].

Evidentemente, uma tal proclamação seria o golpe de morte para os encontros interreligiosos. E isso é algo que as associações como Santo Egídio não querem. Elas vêem o papado como uma maneira de unir as religiões, SEM considerar a questão da verdade (Wahrheitsfrage).

Assim, tudo permanece como antes. O Papa apenas assegura de sua convicção pessoal, de que ele tem o dever de confessar Jesus Cristo como o único e verdadeiro Filho de Deus.

Mas essa integridade pessoal de sua convicção nunca esteve em debate.

O que se debate é o ato, diante de milhões de pessoas, capaz de constituir um tremendo ato de traição: traição à afirmação de que Cristo, o Filho de Deus, é o fundador da única religião verdadeira.

Is Levada going home?

Cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Foto: Orbis Catholicus.
Cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Foto: Orbis Catholicus.

No próximo mês de junho, o Cardeal William Joseph Levada, sucessor do Cardeal Joseph Ratzinger no ex-Santo Ofício, completará  a idade limite para o exercício de cargos titulares de 75 anos e, consequentemente, apresentará sua renúncia protocolar ao Papa Bento XVI.

Embora a regra seja mais flexível para com os chefes de dicastérios, a figura tímida de Levada, assim como a fama de ter sido nomeado como um “prefeito de transição” por sua idade já avançada e seu pouco prestígio na Cidade Eterna, levam a crer que o Prefeito para a Doutrina da Fé estaria já fazendo as malas para voltar à terra do Tio Sam.

Um nome muito bem visto pelo Papa para sucedê-lo seria o do alemão Dom Gerhard Ludwig Müller, bispo de Regensburgo. Ferrenho defensor da hermenêutica da reforma na continuidade [ele mesmo deu o curso deste ano para os bispos brasileiros, promovido pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, exatamente sobre este tema], a nomeação de Müller poderia ser determinante para o relacionamento com os tradicionalistas, considerada a atual subordinação da Comissão Ecclesia Dei à Congregação para a Doutrina da Fé.

Müller ficou conhecido por seus incisivos protestos contra as ordenações previstas para o seminário de Zaitzkofen, imediatamente após o levantamento das excomunhões dos bispos da Fraternidade  São Pio X, e transferidas posteriormente para Ecône. Também contribuiu para livro “Der Vatikan und die Pius-Brüder: Anatomie einer Krise” [O Vaticano e a Fraternidade São Pio X: Anatomia de uma crise], que coleta pareceres de pessoas nada simpáticas à causa dos pejorativamente rotulados “integristas”.

Müller goza da simpatia do Papa Bento XVI e, com toda essa bagagem, certamente cairia nas graças dos opositores de uma reconciliação entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X. É rezar e esperar.

Boas recordações de Dom Mayer.

No vigésimo aniversário de falecimento de Dom Antônio de Castro Mayer, temos a honra de publicar esta colaboração do reverendíssimo Padre João Batista para o Fratres in Unum. Obrigado, Padre! E, principalmente, obrigado, Dom Antônio!

* * *

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Conheci D. Mayer lá por volta de 1979, em São Paulo, na sede do conselho nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade. Um amigo convidou-me para ir lá conhecê-lo a ele e ao Dr. Plínio Correa de Oliveira. Foi um encontro brevíssimo. Mas ficou-me uma boa impressão.

Passados alguns anos, um parente longínquo meu, o saudoso Dr. José Benedicto Pacheco Salles, convidou-me para ir à igreja de Santa Generosa, no bairro do Paraíso, assistir a uma missa de D. Mayer. Fiquei surpreso porque ele se recordou de mim e do encontro rápido que tínhamos tido. A partir de então, comecei a ter um contato assíduo com D. Mayer, que vinha com freqüência a São Paulo e se hospedava naquela paróquia regida por seu sobrinho, o cônego José Payne.

Era uma alegria assistir à sua missa celebrada em um altar tradicional situado no coro da igreja. Sempre se reunia um pequeno grupo de católicos da tradição, núcleo inicial desse movimento que se expandiu muito esses últimos anos em São Paulo.

Após a missa, diversas vezes fui convidado a tomar o café da manhã em sua companhia, porque queria pedir-lhe algum esclarecimento sobre minha vocação sacerdotal. Lembro-me de que ele me pediu que escrevesse uma carta a um padre de Campos responsável pelas vocações sacerdotais.

Em todas essas ocasiões, D. Mayer sempre se mostrou um homem bem humorado, alegre e sereno.  Sua conversação não se limitava ao assunto que em geral predomina nas reuniões de católicos tradicionalistas, a crise na Igreja e no mundo contemporâneo. Ele nos brindava com suas memórias da antiga São Paulo dos tempos da República Velha.

D. Mayer era um sacerdote formado em uma época em que não só a Igreja florescia sob o influxo da luta de São Pio X contra o modernismo, mas também a sociedade paulistana rejuvenescia espiritualmente por obra do grande arcebispo D. Duarte Leopoldo e Silva. As famílias católicas tinham a sua disposição bons colégios católicos e paróquias bem dirigidas por padres sérios e vida espiritual sólida. E D. Mayer deu uma grande contribuição para tal rejuvenescimento como professor de sociologia na Faculdade Sedes Sapientiae. Conheci uma senhora que foi sua aluna e me disse que grande professor tinha sido ele. A meu ver, foi o período áureo do catolicismo em São Paulo, e talvez em todo o Brasil. Com efeito, o Brasil crescia graças à cafeicultura, uma riqueza que propiciava industrialização e a ascensão social de classes mais modestas dentro de uma sociedade marcada profundamente pelos valores católicos. Hoje o Brasil cresce e a sociedade desmorona!

Lembro-me de que uma vez D. Mayer emitiu sua opinião sobre a decadência da sociedade brasileira. Disse que a Proclamação da República tinha sido um golpe contra nossas raízes culturais católicas, mas que a Revolução de 1930, guindando ao poder Getúlio Vargas, tinha aberto as portas do Brasil para o populismo esquerdista e a luta de classes.

Depois, fui convidado a ir a Campos e cheguei a ficar hospedado em sua casa algumas vezes. Desse período ficou a melhor lembrança de um bispo muito pio. Quando falava das coisas de Deus, as expressões que lhe assomavam aos lábios, vindas do fundo do coração, eram sempre Deus Nosso Senhor, Maria Santíssima e nossa santa religião. Bem diferente da maneira como muitos, até padres, pronunciam o nome santo de Deus. Edificava-nos só por sua grande devoção a Nossa Senhora, mas também pela maneira como tratava os padres e como por esses era amado e reverenciado. Nos dias de hoje isso é coisa rara. Tornou-se comum, infelizmente, um relacionamento frio e cheio de desconfiança entre o ordinário e o presbitério. A hierarquia festeja o povo de Deus e despreza o clero.

Desde então comecei a ler seus artigos e cartas pastorais. Em seus escritos é digno de nota tanto o seu rigor teológico, sua precisão de conceitos, quanto seu estilo castiço, sua linguagem elegante que lembra um Carlos de Laet, a quem ele muito admirava. Se hoje em dia no Brasil houvesse uma crítica literária idônea, D. Antonio de Castro Mayer certamente teria seu nome consagrado como um bom autor da literatura brasileira contemporânea. Não me consta que nenhum outro bispo tenha escrito tão bem como ele. Lia os artigos de D. Lucas Moreira Neves no jornal O Estado de São Paulo e, francamente, D. Mayer sempre me pareceu muito superior pelo conteúdo e pela forma. Se D. Pestana nos tivesse legado cartas pastorais, talvez pudesse ombrear com D. Mayer em nobreza de estilo e acuidade de espírito teológico. Infelizmente partiu desta terra deixando saudades dos seus belos sermões, mas privando-nos de uma obra de grande qualidade que poderia ter produzido. Realmente, foi uma pena, porque, se tivesse sido um articulista dos grandes jornais, como aqueles bispos que nos anos oitenta escreviam no Jornal do Brasil contra a teologia da libertação, sem dúvida D. Pestana se teria distinguido como o melhor deles pelo vigor e inteligência. Mas se tomou a resolução de nada escrever devia ter suas razões que não cabe discutir.

Como mencionei D. Pestana, aproveito para dizer que ele várias vezes elogiou D. Mayer como teólogo e professor de filosofia. Disse-me que D. Mayer tinha um método muito interessante para o ensino da sã filosofia: principiava suas lições pela refutação dos erros de Kant, conduzindo assim seus alunos a compreender bem o realismo moderado de Santo Tomás de Aquino. D. Pestana demonstrou-me igualmente, em várias ocasiões, certa compreensão pela atitude tomada por D. Lefebvre e D. Mayer em 1988. Sem nunca ter dito abertamente que apoiava as consagrações episcopais,  disse-me que D. Lefebvre tinha com razão visto que as tratativas com o cardeal Ratzinger estavam fadadas ao fracasso devido à pressão contrária do episcopado progressista da Europa. E mostrou-me uma carta dirigida ao papa João Paulo II em que lhe dizia que a disposição do motu proprio Ecclesia Dei que pedia aos bispos que liberassem a missa de São Pio V para os católicos tradicionalistas significava, na verdade, entregá-los às feras.

Desejaria finalizar essas recordações dando meu testemunho sobre a participação de D. Mayer nas consagrações episcopais de Ecône, em 1988. Acompanhei de perto o desenrolar dos acontecimentos de então e posso dizer que ele agiu com toda serenidade e convicção de que era a vontade de Deus. Após a consagração episcopal, houve um padre muito estranho e caviloso que o procurou para tentar achacar-lhe uma retratação. D. Mayer o repeliu com toda energia. Como ele mesmo disse, a excomunhão injusta não o deixava indiferente, porque, embora inválida, denotava o estado lamentável da parte humana da Igreja, que, por um lado, congraça no CONIC com as seitas e, por outro, rechaça seus próprios filhos.

Que Deus Nosso Senhor o recompense por sua luta juntamente com D. Lefebvre e D. Pestana, que, também, à sua maneira, conforme lhe permitiram as circunstâncias calamitosas da Igreja pós-conciliar, lutou contra os erros modernos. Três bispos fiéis, devotíssimos de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, que confiaram plenamente nas promessas de Maria Santíssima: Por fim, meu Imaculado coração triunfará.

Anápolis, 19 de abril de 2011.

Quarta-feira santa