Jean-Marie Guénois – Le Figaro | Tradução: Fratres in Unum.com
Em Roma como em Ecône, silêncio sepulcral. Não se toca no assunto do estado das discussões doutrinais entre Santa Sé e a Fraternidade São Pio X, os discípulos de Dom Lefebvre. Mas estas discussões estão concluídas. Esta discrição é desejada dos dois lados para não haver pressão sobre o desenlace das conversações muito delicadas que reuniram, desde outubro de 2009 e conforme a vontade do Papa, uma comissão de teólogos dos dois horizontes para elaborar um inventário meticuloso e argumentado dos pontos de acordo e das questões em litígio, essencialmente a propósito do Concílio Vaticano II.
Mas esta “fase” de trabalho, segundo várias fontes autorizadas e concordantes, é tida como realizada. “Os contatos continuam. Chegamos provavelmente ao fim de uma fase de discussões”, deu, aliás, a entender, em 1º de junho passado, em Libreville (Gabão), Dom Bernard Fellay, superior da Fraternidade São Pio X (sucessor direto de Dom Marcel Lefebvre e um dos quatro bispos cuja excomunhão foi levantada por Bento XVI em 21 de janeiro de 2009).
Foi redigido um relatório, documento de síntese destas discussões, que constata realmente o abismo que ainda separa aqueles que afirmam ser os possuidores da “tradição” e o magistério romano. Mas também os pontos de concordâncias sobre a interpretação a ser dada aos textos do Concílio Vaticano II.
A única questão no momento é o resultado destas conversações. Ou melhor, como continuar a gerir esse longo divórcio, consumado em 30 de junho de 1988 pela ordenação ilícita de quatro bispos por Dom Marcel Lefebvre.
Decisão que é, mais que nunca, “política” dos dois lados. Porque os teólogos técnicos fizeram simplesmente — conversando diretamente em torno de uma mesa o que era novo e com uma precisão inigualável – um inventário da situação. Mas este mapeamento teológico, em si, não resolve nada.
Dos dois lados se reconhece, com efeito, que apesar deste esclarecimento onde cada um sabe o que e por que se opõe, “nada ainda está claro” para o que há de vir. E com razão, pois de agora em diante parece impossível, aos olhos humanos, de se realizar uma reconciliação pelo método do ponto a ponto.
O que faz com que alguns concluam que este retorno não pode ir mais adiante do aquilo que Bento XVI lançou (reabilitação pelo levantamento das excomunhões e lançamento deste diálogo teológico). Que tudo, portanto, pararia por aí, numa espécie de statu quo.
Mas outros sustentam, pelo contrário, que “não se pode falar de fracasso” após esta fase de conversações.
Em todo caso, a bola foi passada aos dois que decidem — e não aos comentaristas — neste caso e sobre este dossiê, Bento XVI e Dom Fellay.