
Soldados da Guarda Suíça Vaticana preparando-se para invadir a China
Por Oblatvs
A imprensa controlada chinesa publicou um artigo sobre a questão das nomeações episcopais na China. O artigo visa obviamente a um público exterior, ao qual os comunistas querem convencer de que o problema é uma questão de soberania e relação entre Estados – e não uma afronta à liberdade da Igreja. Mira igualmente um grupo de fiéis chineses, aos quais apresenta o falso problema da sobrevivência da Igreja e a evangelização na China.
Aos de fora dizem: a China não abre mão de sua soberania. Aos fiéis: estamos preocupados com o bem da Igreja.
O artigo poderia ter sido escrito pelos nossos “ideólogos da libertação”. Aliás, é possível que os “teólogos” chineses tenham colhido algumas ideias de sua recente visita à sede da CNBB. Mas, embora não tenham sido eles a escrevê-lo, haverão de subscrevê-lo.
Eis o texto:
No fim do mês passado, o Primeiro-Ministro Irlandês Enda Kenny levantou-se no parlamento e criticou abertamente a Igreja Católica por seu papel no duradouro escândalo de abuso infantil [Abuso sexual são “palavrinhas” mágicas; até quem não tem minimamente compromisso com a segurança e o bem-estar das crianças usam-nas como licença para as mais absurdas acusações contra a Igreja. E por isso, em geral, elas abrem os textos. É um recurso canalha, mas costuma funcionar.].
Ele acusou o Vaticano de interferência nos assuntos de uma estado soberano. Enda Kenny disse que o Vaticano revelou “desorganização, desconexão, elitismo, (e) narcisismo”. E para completar, ele continuou dizendo: “Estamos cansados de ouvir falar de direito canônico. Isto aqui é uma República, o que vale é o direito civil.”
Isto, vindo do líder de um país outrora descrito por Paulo VI como “o país mais católico do mundo”. O Vaticano, como era de se esperar, chamou de volta seu enviado à Irlanda.
Para entender a natureza crucial deste evento é preciso entender a história da Europa. É a de uma constante luta contra o poder da Igreja. O poder de Roma não era apenas religioso, mas também político e econômico. À medida em que surgiam os Estados Nacionais, o jugo da jurisdição do Papa era progressivamente questionado. Impérios individuais, àquela altura Estados Nacionais tentaram separar-se. Alguns, como a Itália, limitou de fato o poder do Papa aos 44 hectares que formam o estado soberano do Vaticano, como acordado no Tratado Lateranense de 1929.
Outros estados como Inglaterra, Escandinávia e partes da Alemanha abandonaram completamente o catolicismo, sob o signo da Reforma. Poder-se-ia dizer que a obsessão americana com a separação entre Igreja e Estado provém do fato de que a tradição protestante nos Estados Unidos nasceu da luta com uma Igreja que chegou a ser mais poderosa que qualquer estado.
O resquício do poder temporal da Igreja está agora concentrado na Cidade do Vaticano e ele ainda exerce uma influência que é enormemente desproporcional ao seu diminuto tamanho. Ele nomeia cardeais em outros países, seus padres mais antigos no exterior têm proteção diplomática e, soubemos disto pelo PM irlandês, eles podem interferir nos assuntos de estados soberanos.
A história da China desenrola-se fora das terras históricas da Cristandade e sua experiência é totalmente diferente. A China pode respeitar a decisão dos Europeus de permitir ao Vaticano o tipo de liberdade de ação de que ele goza nos seus países.
É a bagagem cultural do Ocidente e um problema seu. Mas a China é bastante ciosa de seus direitos a ponto de questionar o poder do Estado do Vaticano de ter autoridade exclusiva na nomeação de padres [bispos] em terras distantes.
O Papa, vê-se, não é apenas o Vigário de Roma [Vigário de Cristo e Bispo de Roma], que é um de seus títulos. Ele é também um chefe de Estado, com soldados que portam armas de verdade, um corpo diplomático e um banco. Os Europeus podem preferir ver isto como pitoresco, mas a China questiona o princípio de deixar um estado estrangeiro ditar a outro o que ocorre em seu próprio território.
O Vaticano tem ainda uma história de intromissão na política, ameaçando de excomunhão os políticos católicos que se desviam da linha do partido, como nos idos de 1960 na Bélgica e na Holanda.
A Igreja é uma instituição admirável que leva conforto espiritual a centenas de milhões de pessoas através do mundo, mas é também pragmática, já se adaptou e se transformou, às vezes irreconhecivelmente, ao longo dos séculos.
Ela deve reconhecer que não se deve esperar que a China adira inquestionavelmente a regras culturalmente estranhas de cuja criação ela não tomou parte, menos ainda àquelas que na verdade enfraquecem a Igreja em vez de fortalecê-la.
Como os eventos da Irlanda têm mostrado, o Vaticano não tem nada a ganhar contrariando suas nações anfitriãs. O amplo apoio que o PM irlandês recebeu depois de sua diatribe demonstrou que o povo irlandês majoritariamente pôs sua lealdade ao governo acima daquela ao Vaticano, sem se tornarem menos católicos [É o que se verá.]. Instituições evoluem e o deveria também a Igreja.
Por que os chineses não podem escolher seus próprios bispos, idealmente sem a interferência de qualquer estado, seja local ou estrangeiro? Excomungá-los é uma ferramenta medieval que não tem lugar em 2011, seja na China ou alhures.
O Vaticano deveria se adaptar para levar em consideração o potencial de uma país como a China e suas diferenças culturais.
De outro modo, a Igreja arrisca-se a ser vista como mais preocupada com seu poder temporal que com as necessidades espirituais de seu rebanho chinês.
Tradução: OBLATVS