O problema com Assis.

Por Stuart Chessman, The Society of St. Hugh of Cluny| Tradução: Fratres in Unum.com 

Com apreensão nos aproximamos da terceira edição do encontro inter-religioso de Assis. O Vaticano fez mudanças na programação comparadas com as primeiras duas cerimônias – tais como a eliminação de orações conjuntas. Então, de certa forma, as críticas dos conservadores dos últimos vinte e cinco anos parecem ter sido admitidas. Outra inovação é o convite estendido a vários não-crentes. Mesmo que isso pudesse parecer colocar em questão toda a razão de ser de Assis, por talvez implicar que a paz possa ser procurada – e alcançada? – inteiramente à parte de qualquer crença religiosa. E se a intenção dessas mudanças é evitar a aparência de “sincretismo”, tenho minhas dúvidas se tal meta também foi alcançada. As “religiões” podem não estar mais rezando juntas (embora hierarcas dentro e fora do Vaticano continuem descrevendo Assis dessa forma). Mas se, em Assis III, todos são peregrinos procurando o caminho da verdade, tal resultado pareceria para mim igualmente conducente ao indiferentismo. O problema com o encontro de Assis é, todavia, muito mais profundo do que essas questões relativas ao programa e aos participantes.

Um dos ateus convidados foi o filósofo britânico AC Grayling. Pareceria uma escolha estranha – o sr. Grayling se perfilou recentemente como um militante crítico da religião, até escrevendo uma “bíblia secular”. No ano passado, ele assumiu um importante papel no coro de oposição à visita do Papa à Inglaterra. Por outro lado, teve a coragem de adotar posições nem um pouco conformes às do establishment e sua opinião pública. Como, por exemplo, quando mostrou a falta de fundamentação moral no bombardeio de civis pelos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Então, ele é um homem de quem podemos esperar um nível de conversa franca. Agora, após uma aceitação inicial, o sr. Grayling recusou o convite para Assis. Segundo ele, inicialmente pensou se tratar de uma oportunidade de “discutir o lugar da religião na sociedade”. Então, após compreender que o que o Vaticano realmente queria era que ele acompanhasse o Papa em uma peregrinação, ele retirou sua aceitação inicial.

Ora, acho que o sr. Grayling acertou algo profundo aqui. Se eu pudesse tentar desenvolver um pouco mais a sua percepção, a essência de Assis absolutamente não é a oração conjunta, a discussão intelectual ou mesmo a peregrinação. Ela é um show. No qual o sr. Grayling, de maneira compreensível, não quer aparecer como um figurante. Muito do que o Vaticano e os “movimentos” colocam diante do público hoje tem a natureza de um espetáculo. O “Pátio dos Gentios”, do Cardeal Ravasi, em Paris; os “encontros” [da comunidade] de Santo Egídio, o Caminho Neocatecumenal, a Legião de Cristo; muitos aspectos das visitas Papais, etc.

Ao montar um show, o Vaticano está adotando uma puríssima forma de expressão – e manipulação – da cultura da sociedade liberal contemporânea. Um show é inerentemente secular, inerentemente problemático no aspecto espiritual, apesar das explicações que o acompanham ou como a programação foi ajustada.

E o é ainda mais, já que no show o que fundamentalmente conta é o visual. Independente do que os “delegados” realmente façam ou não, o que as pessoas vêem é a Igreja Católica atuando como uma entre iguais. O impacto disso já é claro nas declarações e encontros que serpenteiam em torno de Assis, nos quais o sabor de indiferentismo é muito forte. Essa não é uma mensagem que uma Igreja, que agora encara a extinção na Europa ocidental e em breve em outros lugares, precisa.

9 comentários sobre “O problema com Assis.

  1. “O impacto disso já é claro nas declarações e encontros que serpenteiam em torno de Assis, nos quais o sabor de indiferentismo é muito forte. Essa não é uma mensagem que uma Igreja, que agora encara a extinção na Europa ocidental e em breve em outros lugares, precisa.”

    Exatamente, o pior é o que se faz com base nesses encontros promovidos por Roma.
    Olhemos aqui no Brasil como pululam encontros ecumênicos que só rebaixam e igualam a Igreja Católica a todo tipo de seitas de ponta de esquina e a qualquer terreiro de macumba…
    Que as intenções do Papa não sejam de indiferentismo, de sincretismo ou irenismo, é claro para todos que o conhecem desde a Congregação para Doutrina da Fé, mas, não há como negar que esses encontros com sua presença, fortalecem muito o pensamento daqueles que negaram e negam a doutrina perene da Dominus Iesus e, como já estamos cansados de ouvir, muitos afirmarão com mais decisão: “tá vendo…todas as religiões são boas, são iguais, Deus é um só, não importa a igreja.
    Afinal, não é isso que esses pastorecos de fundo de quintal pregam a torto e a direita, por saberem que suas seitazinhas não passam de um meio de ganhar um dindim?
    Eles só têm uma coisa em comum: ódio à Igreja de Deus, pois sabem, querendo ou não, que é a única verdadeira…
    Rezemos por este encontro amanhã…

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  2. Um show inspirado no show do velho Abelardo Chacrinha Barbosa. Para o Vaticano modernista de hoje quem não se comunica se estrumbica. Os tradicionalistas não querem comunicar-se ecumenicamente, logo se estrumbicam.
    joao

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  3. Eu fico pensando no juízo final, se Jesus aparecesse neste encontro poucos seriam os que ficariam a sua direita, Kyrie Eleison.
    In corde Iesus et Mariae
    Neto

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  4. Se Jesus aparecesse neste encontro, certamente não deixariam Ele entrar por ter uma postura nada ecumênica, afinal Ele mesmo disse: “O que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.” (Mc 16,16).
    Quantos convidados alí, diante de tanto relativismo patrocinado por quem deveria defender a Verdade, irão abraçá-la?
    Essa palhaçada vaticana está na contramão dos Santos Evangelhos.

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  5. Osires

    Concordo plenamente contigo, eu fiz um analogia com o fim do mundo, se o mundo acabasse exatamente no horário desse encontro, poucos seria os que ficariam na direita de cristo , entretanto a sua esquerda teria muitos, como diz a passagem bíblica a porta do Céu é estreita, e agora acabei de ler uma famigerada noticia na Zenit que em Buenos Aires acontecerá um encontro Inter-religioso cujo o tema é O ESPÍRITO DE ASSIS EM BUENOS AIRES Encontro inter-religioso de jovens e oração pela paz

    Kyrie Eleison.
    In corde Iesus et Mariae

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  6. O que Jesus Cristo quis, dizer, então, quando afirmou “tenho muitas ovelhas que não são deste redil”? Será que essas palavras devem ser interpretadas só em relação ao judaísmo daquela época ou têm um sentido mais universal, que vigora até hoje?

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  7. Sr. Erva da família das compostas.

    Claro que não, Sr. Erva. Cristo quer a salvação de todos os homens, mas somente MUITOS é que darão ouvidos a sua mensagem de salvação. Se não fui claro, volte a escrever, ok!

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