Para o bem da Igreja – e mais especificamente para a atuação da “salus animarum” que é a primeira e “suprema lex” – depois de décadas de livre criatividade exegética, teológica, litúrgica, historiográfica e “pastoral” em nome do Concílio Ecumênico Vaticano II, parece-me urgente que se faça um pouco de clareza, respondendo oficialmente à pergunta sobre a continuidade do mesmo – não declamada, mas demonstrada – com os outros Concílios e sua fidelidade à Tradição desde sempre em vigor na Igreja. […] Parece, de fato, difícil, se não impossível, colocar as mãos na esperada hermenêutica da continuidade, a menos que se proceda a uma análise cuidadosa e científica de cada um dos documentos, deles conjutamente e de todos os seus argumentos, suas fontes imediatas e remotas, e se continua, pelo contrário, a falar deles apenas repetindo o seu conteúdo ou apresentando-o como uma novidade absoluta. Esse pensamento há tempos nasceu em minha mente – que ouso ora apresentar à Sua Santidade –, de uma grande e possivelmente definitiva purificação sobre o último Concílio em todos os seus aspectos e conteúdo. Parece, de fato, lógico e adequado que todos os aspectos e conteúdos sejam estudados em si e em conjunto com todos os outros, com os olhos fixos em todas as fontes, e sob o ângulo específico do Magistério eclesiástico precedente, solene e ordinário. A partir desse amplo e irrepreensível trabalho científico, comparado com os resultados seguros da atenção crítica ao secular Magistério da Igreja, será então possível elaborar um argumento para uma avaliação segura e objetiva do Concílio Vaticano II […] Mas se a conclusão científica do exame levar à hermenêutica da continuidade como a única devida e possível, será portanto necessário provar – para além de toda afirmação retórica – que a continuidade é real, e tal se manifesta apenas na identidade dogmática de fundo. […] [Se] não resultar cientificamente provado, seria necessário dizê-lo com serenidade e franqueza, em resposta à exigência de clareza sentida e esperada por quase meio século.
Do livro de Monsenhor Brunero Gherardini, Concilio Ecumenico Vaticano II. Un discorso da fare, editado pela Casa Mariana Editrice di Frigento, fundada e dirigida pelos Franciscanos da Imaculada, com prefácio de Dom Mario Oliveri, bispo de Albenga e Imperia, e apresentação de Dom Albert Malcom Cardeal Ranjith, Arcebispo de Colombo e antigo secretário da Congregação para o Culto Divino.
Alguém, por favor, dê de presente este livro para Monsenhor Fernando Ocariz Braña.
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[Alguém, por favor, dê de presente este livro para Monsenhor Fernando Ocariz Braña]. 2
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Esse livro não vai lançar em português não? Quero muito ler ele
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Deixo um trecho da tradução do artigo “Quaecumque dixero vobis” – SISI NONO
“…Ratzinger: Concílio=Tradição
O autor cita vários discursos feito por Ratzinger, teólogo, Bispo, Cardeal e Papa, sobre a continuidade entre o Vaticano II e a tradição, que é o fio condutor do seu pensamento teológico, segundo o qual “defender hoje a verdadeira tradição da Igreja significa defender o Concílio [Vaticano II]”1 e também: “a defesa da tradição é a defesa do Concílio”2. O seu intento de sempre (em 1960 como em 2011), assim, é aquele de promover o Vaticano II (ib., pg 11). “Palavra clara – comenta Gherardini – para exprimir um pensamento claro como: se vai professar a secular fé da Igreja, deve professar – ou basta que você professe – a fé do Vaticano II” (ib., p.19). Nestas circunstâncias, o problema da obrigatoriedade do Vaticano II mesmo se levanta para Bento XVI. O Concílio – segundo ele – é abssolutamente necessário para ser católico (cfr. ib., p.20).
Gherardini observa que “nenhum Papa jamais falou tanto frequentemente e tão insistentemente de tradição quanto o teólogo, o Bispo, o Cardeal e o Papa Ratziger” (ib). Porém a questão é saber que coisa entende por “Tradição” Ratzinger e que coisa entende o mesmo Vaticano II por Tradição. Na verdade Hegel fala sempre de Deus, mas o seu não é o Deus pessoal e transcendente, mas o pensamento absoluto e transcendente do homem. No caso de Ratzinger e do Vaticano II se trata talvez da Tradição Apostólica, ou seja da Fé e da doutrina de sempre? (ib., p.23).”
Dois conceitos diversos de tradição
No livro o autor passa em revista todas as citações do conceito de Tradição feitos pelo Vaticano II e compara com a definição dos precedentes Concílios Ecumênicos e dogmáticos (especialmente o Tridentino e o Vaticano I).
Quanto a Ratzinger, no seu exame Gherardini demonstra claramente que ele repudia o “radicalismo” de quem quer correr muito e provávelmente joga assim a máscara que serve para promover o Vaticano II, mostrando – invés de esconder – que isso esta em ruptura con a Tradição Apostólica e em seguida é inaceitável, assim como repudia o “catolicismo integral” definido por ele “apenas aparentemente católico” porque “porque na realidade perverte desde a profundidade as posições rigorosamente católicas”3. Ora, o campeão do catolicismo integral é São Pio X, Papa anti-modernista por antonomasia, cujo o lema era “instaurare omnia in Christo” que é a essência do catolicismo integral (“omnia”= tudo, integro) ou do integral e totalmente católico. Mas isso é para Ratzinger é fundamentalmente “a-cristão”, havendo ele optado para o “demì-chrètieri” do humanismo integral maritaniano onde para ele não se pode ser integralmente cristão, mas si deve ser integralmente humanista. O que diz a sua longa “revolta antropolátrica” da teologia conciliar4.
A conclusão a que chega Gherardini é que se trata de dois conceitos diversos de Tradição: para Ratzinger a Tradição é o Vaticano II e vice-versa [Ndt: Aqui entra a solução do Vigário Geral do Opus Dei: interpretar o Concílio a luz da tradição e interpretar está, a luz do Concílio] (o afirma, mas não o demonstra: é uma petição de princípio, como um cão que morde o seu rabo), enquanto para a doutrina católica a Tradição é esta que Jesus e o Espírito Santo tem ensinado pelos apóstolos e estes aos primeiros Padres Apostólicos e eclesiásticos que a tem transmitido substancialmente inalterada, para nós.
1 – J- Ratinger – V. Messori, Rapporto sulla Fede, Milano, San Paolo, 1985, p. 32.
2 – J- Ratinger – V. Messori, Rapporto sulla Fede, cit., p. 41.
3 – J- Ratinger, Les principes de la théologie catholique, Parigi, Téqui, 1985, p. 421.
4 – Cfr. C. Fabro, La svolta antropologica di Karl Rhaner, Milano, Rusconi, 1974; Id., L’avventura della teologia progressista, Milano, Rusconi, 1974
http://www.sisinono.org/anteprime-anno-2011/156-anno-xxxvii-nd-6
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