Bispo diocesano francês administra o crisma em capela da FSSPX. Padre local em disputa com superiores.

Por Rorate-Caeli | Tradução: Fratres in Unum.com

A seguinte matéria foi publicada pelo blog francês Summorum Pontificum observatus:

“Um gesto que abala e gera admiração. Ontem, domingo, 11 de março, pela manhã, Dom [Jean] Bonfils [Emérito de Nice], Administrador da Diocese de Ajaccio [Corsica] até a instalação do Bispo-eleito de Germay, foi à igreja atendida pela FSSPX em Ajaccio. Não era uma simples visita de cortesia ou de pura diplomacia: estando Dom Fellay impossibilitado de ir a Ajaccio por um período muito longo, seu confrade bispo, Dom Bonfils, lhe propôs voluntariamente administrar a confirmação de 19 candidatos a este sacramento. O representante da FSSPX não pôde recusar o sacramento proposto pelo Bispo encarregado pela diocese, ainda mesmo quando ele, naturalmente, o administraria segundo o Rito Tradicional. Dom Bonfils celebrou a Missa de São Pio V logo após.

“Este ato realizado por um bispo francês, no atual contexto da proposta feita pelo Papa a Dom Fellay de um estatuto canônico, não é sem significado. [Nota do Rorate: este não é exato estado dos fatos; como informamos anteriormente, toda a questão ainda está sob a avaliação da Santa Sé]. Que ele [D. Bonfils] tenha sido simples e normalmente recebido pelos fiéis da FSSPX também é algo muito agradável”.

Addendum: Infelizmente, as coisas não parecem tão auspiciosas como relatado acima. Ouvimos o seguinte de fontes confiáveis:  (1) que o padre local da FSSPX, Pe. Hervé Mercury, já estava em processo de exclusão da FSSPX, devido a divergências pessoais com seus superiores; (2) que, diferentemente do que foi mencionado acima, a celebração não foi realizada com qualquer espécie de acordo com a Casa Geral da FSSPX; (3) que o mesmo Pe. Mercury já está em processo de incardinação na diocese local, em entendimento com o mesmo Dom Bonfils. Tudo isso não é particularmente mau em si mesmo, mas muda completamente o tom do que ocorreu: não uma visita pastoral desinteressada, mas uma complexa disputa entre um padre que deseja deixar a Fraternidade, seus superiores, e um bispo diocesano local.

Rorate enfatiza mais uma vez o fato de que Summorum Pontificum observatus não está correto ao afirmar que a questão FSSPX-Santa Sé esteja, no momento, apenas nas próprias mãos da Santa Sé.

[Nota do Fratres in Unum: O Distrito Italiano da FSSPX, remetendo à notícia sem as ressalvas feitas por Rorate-Caeli, classifica o fato como “gesto histórico”. – Google Cache aqui.]

14 comentários sobre “Bispo diocesano francês administra o crisma em capela da FSSPX. Padre local em disputa com superiores.

  1. Se o Vaticano fosse tão firme em expelir de seu seio todos os elementos claramente discordantes de sua postura, assim como faz a FSSPX, não veria tantas fagulhas se tornarem incêndios tão prejudiciais. Objetivamente falando, este padre, ao que tudo indica, agiu por conta própria à revelia de seus superiores, e agora sairá do corpo sacerdotal da FSSPX.

    E deve ser assim mesmo: alguém tem que ser coerente, ou estão todos juntos, ou a anarquia reinará.

    Curtir

  2. Isto não pode ser verdade. Eu me recuso terminantemente a acreditar que Mons. Fellay tenha feito isso… pois seria um escândalo sem precedentes na FSSPX…

    Curtir

  3. Não é correto dizer que o padre Mercury já estaria em processo de saída da FSSPX. Isso é o que a FSSPX tenta fazer com que se acredite para não responder à questão: Dom Fellay pode licitamente conferir o sacramento da confirmação quando o ordinário do local aceita fazê-lo segundo o Pontifical tradicional e sem qualquer condição infamante? A resposta é não. Dom Fellay não pode pretender agir em nome da jurisdição de suplência, pois o bispo satisfaz o pedido dos fiéis de receber os sacramentos segundo a forma tradicional. Os propósitos apresentados contra o pe. Mercury servem para preparar os espíritos às sanções que ele receberá.

    A questão da suplência que a FSSPX invoca para administrar os sacramentos (inclusive o casamento e a confissão) sem ter recebido a autorização do ordinário local é um ponto que o Pe. Mercury estudou muito, veja o seu trabalho aqui (http://accueil.a-crucetta.fr/srub_theologie_044.htm). Se ele aceitou a proposta de Dom Bonfils vir fazer as confirmações, é por coerência teológica e não por desentendimento com os seus superiores.

    Curtir

  4. Puxa, que pena! Quando eu estava lendo que D. Fellay teria autorizado o Crisma, eu quase chorei de felicidade. Mas, ah, puxa…

    Curtir

  5. Padre Francês,

    Enquanto não se sabe com certeza se houve uma proposta da parte do Bispo, ou se houve uma solicitação do Padre Mercury, pode se afirmar que o Padre Mercury está em processo de saída da FSSPX. Convenhamos, é difícil imaginar um Bispo se oferecendo a fazer confirmações para a FSSPX e mesmo no caso de tal proposta, pelo menos por uma questão de diplomacia, o Bispo deveria comunicar sua intenção a Dom Fellay, que com jurisdição ou não, é o superior do Padre Mercury. Deste modo, não me parece justo e acertado afirmar que os propósitos apresentados contra o Padre Mercury servem para preparar os espíritos às sanções que ele receberá, pois até aonde sabemos, Dom Fellay é seu superior e ele agiu como se ele não existisse. Penso que Dom Fellay merece pelo menos respeito, seja da parte do Bispo, como da parte do Padre e de todos nós!

    Fique com Deus.

    Curtir

  6. Mais informações:

    1) Comentários no blog Chiesa e Pós-Concílio:

    “Luisa disse…

    Consultei diversos “tradicionalistas” franceses, se diz de Padre Mercury que está em ruptura com a Fraternidade e que durante a semana pediu a incardinação na diocesi, Mons. Bonfils não é certamente um Bispo conhecido pela sua simpatia pelos tradicionalistas.
    Se tudo tivesse sido acordado com transparência entre Mons. Fellay e Mons. Bonfils, advertindo os crismandos da FSSPX, não poderíamos que estar, contentes e poderíamos ver um sinal positivo para o futuro, infelizmente parece que se trata mais de uma pouco clara manobra contra a FSSPX. Penso que leremos em breve um comunicado da FSSPX, no momento em que também o jornal “La Croix”, orgão semi-oficial dos Bispos, falou sobre o assunto”.

    “Milanes disse…

    Depois de ler o comentário de Luisa e consultado o site “tradinews” indicado por ela, não posso deixar de notar o quanto este episódio tenha de turvo e que Padre Mercury jogou muito sujo. Leio que contudo os crismando NÃO eram fiéis da FSSPX.
    Neste ponto me pergunto… não será toda uma tentativa de ocupar militarmente uma capela da Fraternidade, por parte da diocese? Normalmente as capelas da Fraternidade são abertas e frequentadas com grandes sacrifícios por parte dos fiéis”.

    “Milanes disse…
    Reality check: para quem entende francês, peço que vejam este video que contém a pregação dada pelo superior do distrito FSSPX da França, Padre Régis de Cacqueray, durante uma perigrinação na qual foi impedido o ingresso a Igreja por parte do ordinário do lugar. Nesta pregação, Don Régis explica perfeitamente porque não seria permitido a um Bispo da nova-igreja celebrar em uma capela da FSSPX”.

    O endereço:

    http://www.laportelatine.org/communication/videotheque/marceille110319/sermonCacqueray110319.php

    Fonte dos comentários: http://www.blogger.com/comment.g?blogID=5570132738557818436&postID=7298825776151449324

    2) Conteúdo do tradnews:

    12 MARS 2012

    [Austremoine – Fecit] Une manipulation orchestrée contre la FSSPX
    SOURCE – Austremoine – Fecit – 12 mars 2012
    Les confirmations données par Mgr Bonfils dans la chapelle de la FSSPX est l’aboutissement d’une manipulation orchestrée par l’abbé Mercury.

    Contrairement à ce qui a été dit, Mgr Fellay devait bien se rendre en Corse au mois de mai, et la date avait été arrêtée depuis 6 mois. Or l’évêque du lieu s’y est rendu au mois de mars pour doubler le supérieur de la FSSPX.

    Contrairement a ce qui a été dit, les fidèles de la FSSPX n’ont pas accueilli Mgr Bonfils pour la simple et bonne raison qu’ils étaient partis. Les enfants confirmés sont ceux de parents qui ne sont pas fidèles de la FSSPX.

    Contrairement à ce qui a été dit, ce n’est pas un signal d’ouverture de quoi que ce soit, mais c’est la dépossession au niveau local de la FSSPX par une manipulation de l’évêque et du chapelain, l’incardination de ce dernier ayant été négociée il y a plusieurs semaines.

    Contrairement à ce qui a été dit, ce n’est pas un signe d’ouverture mais une confiscation puisque l’association qui gérait le local avait été noyautée par le prieur qui a trahi : la FSSPX perd donc un prêtre mais également le centre de messe.

    Pour ce qui est de cette belle campagne de désinformation, elle est le fruit de plusieurs personnes hostiles à la FSSPX qui tels des oiseaux de nuit malfaisants ont préparé ce beau coup de façon concertée et malhonnête. […] http://tradinews.blogspot.com/2012/03/austremoine-fecit-une-manipulation.html

    Curtir

    1. Gederson caríssimo, salve Maria. Obrigado pelas informações.

      Aproveitando sua contribuição, acaba de sair um texto que o Pe. Mercury teria enviado ao La Croix, a título de esclarecimento sobre o ocorrido: http://www.leforumcatholique.org/message.php?num=627333

      Não tenho tempo para traduzir, mas ele afirma, em suma:

      * Não ter convidado Dom Bonfils, mas apenas informado a ele que Dom Fellay administraria o crisma em maio. O administrador apostólico então teria se antecipado e dito que ele mesmo o faria;
      * Pe. Mercury alega não ter tido qualquer dificuldade com seus superiores antes deste episódio. Diz ter uma visão diferente sobre a “juridição de suplência”, o que não o impediu de ser admitido como membro permanente da Fraternidade;
      * Nenhuma das crianças previstas para receber o crisma naquela data deixou de fazê-lo;
      * Diz não ter tido como fechar as portas da capela ao administrador apostólico D. Bonfils. Também reitera não ter feito nenhum pedido de incardinação na diocese, embora isso tivesse sido sugerido por um padre diocesano.

      Curtir

  7. Caro Ferretti,

    Foi publicado um discurso do Padre Mercury em italiano, veja um trecho:

    “Monsenhor, é o soberano da Igreja de Jesus Cristo na Córsega. O sabemos e o cremos. Quando eu informei o projeto de Mons. Fellay de vir em maio para a cisma, Vossa Excelência me disse que era inútil e que Vossa Excelência o faria. Esperava a minha reação e eu soube naquele momento que não podia falta com está profissão concreta de fé católica. E porque creio na eficácia do vosso poder episcopal que eu não posso recusar o ingresso nesta comunidade de fiéis dos quais me ocupei durante 14 anos” http://chiesaepostconcilio.blogspot.com

    Como pode se ver, a fala dele é de um Padre Diocesano, Dom Fellay aqui não existe. O restante do discurso denota que para o Padre Mercury, o estado de necessidade é apenas litúrgico. Veja por exemplo o trecho que ele diz: “Esperava a minha reação e eu sabia naquele momento que não podia faltar com está profissão de fé católica” o que certamente é verdadeiro, mas atualmente parece bastante abstrato, quando em concreto ao lado da crença na Igreja Una, os Bispos falam em uma “reconstrução da unidade dos Cristãos”. Assim, essa profissão de fé também diz respeito a reconstrução desta unidade, certo? Mas, se existe a Igreja Una, não há que se falar na tal reconstrução, mas do ecumenismo de retorno (que Bento XVI em Colônia disse não ser o ecumenismo do CVII).

    No mesmo discurso, após dizer que “segundo a nossa convicção a unidade subsiste na Igreja Católica e não pode ser perdida”, ele afirma que “a Igreja não desapareceu totalmente do mundo”. Contudo, segundo está visão, o que teria ficado visível na Igreja Católica, se não se trata de um ecumenismo de retorno? Bom, a necessidade do ecumenismo de retorno, tem como um dos seus principais motivos, a própria jurisdição. Se não é necessário o ecumenismo de retorno, como o CVII entende a jurisdição?
    Acrescente-se a isso que, a unidade é um efeito da fé, então, não se reconstrói a unidade, sem se reconstruir a própria fé. Assim, me parece a doutrina tradicional da jurisdição, é válida somente para os tradicionalista. Mons. Gherardini colocou muito bem este problema no título de sua crítica a “Anglicanorum Coetibus” ao questionar: conversão ou mudança? A conversão pressupõe a submissão a autoridade constituída pela sua jurisdição, mas a mudança, pressupõe apenas que eles saíram de um lugar para o outro, sem mudar nada, como no testemunho do fundador da comunidade de Taizé:

    “Encontrei a minha própria identidade de cristão reconciliando em mim mesmo a fé das minhas origens com o mistério da fé católica, sem ruptura de comunhão com ninguém“. Ecumenismo: reconciliar a heresia com a Igreja Católica, “sem ruptura de comunhão com ninguém”
    https://fratresinunum.com/2008/08/21/ecumenismo-reconciliar-a-heresia-com-a-igreja-catolica-sem-ruptura-de-comunhao-com-ninguem/

    No artigo publicado pelo Fratres, (tem a foto do Roger recebendo a comunhão do então Cardeal Ratzinger), vejam na tag Irmão Roger (https://fratresinunum.com/tag/irmao-roger/) os demais textos. A leitura dos textos a respeito do irmão Roger, leva a conclusão de que: a jurisdição, para as atuais autoridades, é válida somente para nós, católicos tradicionalistas…

    Bom, mas o caso do Padre Mercury é bastante está bastante obscuro, pois existem questões para as quais não temos resposta. Fique com Deus.

    Abraço

    Curtir

  8. Mário, veja a tradução completa do discurso do Padre Mercury, publicado no blog “Chiesa e post-concilio”:

    “Monsenhor,
    Em nome dos fiéis presentes, lhe dou as boas vindas na nossa capela Saint-Antoine de la Parata.

    O fim essencial da Igreja católica é de salvar as almas. Este fim corresponde a vontade mesma de Deus que é aquela de salvar todos os homens.

    Para fazer isto, Jesus deu aos seus apóstolos e bispos, seus sucessores, a missão de anunciar o Seu nome em todo o mundo. Está Igreja, baseada sobre o direito divino, colocou suas raízes, nas primeiras horas, em alguns lugares. Essa é a Igreja local, a Igreja diocesana.

    Certo, pode acontecer, em via excepcional, que a graça seja distribuída do lado de fora da estrutura jurídica habitual da Igreja. Mas está situação é sempre efêmera e permanece uma exceção.

    Monsenhor, é o soberano da Igreja de Jesus Cristo na Córsega. O sabemos e o cremos. Quando eu informei o projeto de Mons. Fellay de vir em maio para a crisma, Vossa Excelência me disse que era inútil e que Vossa Excelência mesmo a faria. Esperava a minha reação e eu soube naquele momento que não podia faltar com está profissão concreta de fé católica. E porque creio na eficácia do vosso poder episcopal que eu não posso recusar o ingresso nesta comunidade de fiéis dos quais me ocupei durante 14 anos.

    Em troca, sua aproximação foi marcada por um verdadeiro espírito de misericória. Vossa Excelência quer assegurar segundo a sua missão de pastor, o bem das almas. Para executar esta tarefa, decidiu afrontar, aos 82 anos, as criticas e as oposições dos seus diocesanos.

    Os tumultos que provoca está cerimônia, de ambas as partes, não impediram de professar com calma a nossa fé na sua inteireza. Nós cremos na Igreja divinamente fundada por nosso Salvador e lhe somos profundamente gratos por nos dar hoje a ocasição de manifestá-lo publicamente recebendo- o por uma celebração com o rito tradicional. Obrigado, Monsenhor!
    http://chiesaepostconcilio.blogspot.com/2012/03/al-di-la-delle-illazioni-una-fonte.html

    Curtir

  9. Gederson, obrigado pelas informações. O bispo se pronunciou:

    http://lesalonbeige.blogs.com/my_weblog/2012/03/confirmations-dans-une-%C3%A9glise-de-la-fsspx-mgr-bonfils-explique.html

    Ele diz ter consultado um Cardeal envolvido nas discussões com a FSSPX, que deu parecer favorável à administração da crisma.

    Nessa página (http://accueil.a-crucetta.fr/srub_theologie_044.htm ) há uma série de discussões antigas entre o pe. Mercury e o pe. de la Roche sobre a jurisdição de suplência. O Padre Mercury a defende tal como a SSPX, com uma única diferença: ele entende que, quando o ordinário local se dispõe a administrar/conceder os sacramentos sem que haja qualquer imposição contrária à doutrina Católica, os fiéis não têm direito de se recusar. Como citei acima, essa divergência não o impediu de ser aceito como membro permanente da SSPX.

    Curtir

Os comentários estão desativados.