“Meu pai, Fidel, não se converterá nunca. Se sente imortal”.

A filha de Castro: “Muitos compromissos; Ratzinger deveria ver os dissidentes”.

Por Paolo Mastrolilli, de Havana | Tradução: Fratres in Unum.com

Alina Fernández, filha de Fidel Castro.
Alina Fernández, filha de Fidel Castro.

« Não creio na conversão de meu pai, por um simples motivo: ele se considera imortal ». A estrondosa fuga de Cuba de Alina Fernández foi há vinte anos, mas a amargura e a desilusão permaneceram imutáveis na voz da filha de Fidel Castro. Alina nasceu em 1956, da relação que então o carismático revolucionário tinha com a bela Natalia Revuelta. Cresceu à sombra desta enorme figura até que, em 1993, escapou desfarçada com uma peruca e com os documentos falsos de uma turista espanhola. Primeiro para Madri, depois Miami, onde seu programa radiofônico “Simplesmente Alina” se tornou um dos pontos de referência para a comunidade dos exilados.

Senhora Fernández, o Papa vai a Cuba e é natural que haja rumores sobre a conversão de Fidel. Eles são críveis?

Há tempo também diziam o mesmo de mim, mas [os rumores] careciam de fundamento. Seria belo que meu pai, doente e de idade avançada, regressasse às raízes da fé na qual cresceu, quando estudava com os jesuítas. Isso devolveria a ele a humanidade que perdeu. Mas não o creio, porque acho que ele se considera imortal.

É um acerto a visita do Papa a Cuba?

Me vêm sentimentos contraditórios. Não há dúvida que meu pai e meu tio Raúl aproveitarão ao máximo esta visita, porque ir a um país significa lhe dar legitimidade. No entanto, para os fiéis, a presença do Papa é muito importante. Quando eu era pequena, ser católico em Cuba era um “handicap” ideológico: tinhas que esconder a tua fé, para que não te perseguissem. Agora já não é assim.

Esta visita pode acelerar a mudança no contexto político?

Não acredito. O povo comum tem menos expectativas do que na viagem que fez João Paulo II, por duas razões: a primeira é a personalidade diferente de Bento XVI, e a segunda é que já não acredita na possibilidade de que a visita de um líder religioso possa gerar uma mudança. Isso se deve, em parte, ao comportamento da Igreja Católica local, que, em certos casos, dá a impressão de renunciar a sua missão natural de defender os direitos humanos para poder negociar com o regime. Assim obteve vantagens para os fiéis, mas perderam o povo. Isto é, em Cuba não existe um Jerzy Popieluszko.

O Papa deveria se encontrar com os dissidentes?

Creio que sim. Não quero criticar à distância, mas acredito que seria importante. Dizem que não pode fazê-lo porque se trata de uma visita pastoral, e por isso o Papa não pode realizar gestos políticos, mas é um argumento contraditório que não se sustenta. Não deveria, como pastor, ver os fiéis que estão contra o regime?

Não houve reformas desde que seu tio chegou ao poder?

Raúl era a melhor pessoa da minha família, inclusive me dirigi a ele para que me ajudasse. Mas é um político pragmático e um ótimo administrador: faz apenas o que serve ao regime. É certo que permitiu o trabalho autônomo, em profissões como mecânico, encanador ou agricultor, mas são coisas pequenas para enfrentar uma crise econômica enorme. Em Cuba não há empresários.

Os cubanos esperam pelo Papa que, após passar pelo México, chega à ilha hoje.
Os cubanos esperam pelo Papa que, após passar pelo México, chega à ilha hoje.

Raúl e Fidel já são idosos: qual a estratégia deles?

Manter o poder. Nada além, nada de transição.

Quando foi a última vez que falou com o seu pai?

Há muitos anos, já nem me recordo quando. Fidel foi a tragédia de Cuba, e eu a sofri mais que muitos outros. Hoje falamos muito do fundamentalismo islâmico, mas também existiu o fundamentalismo comunista, e era feroz: se discutias, eras considerado, automaticamente, um inimigo e um traidor. Com maior razão se criticavas desde dentro da família Castro.

A senhora tentou voltar a Cuba?

Não.

Seu pai está velho e doente, não gostaria de falar com ele?

Não acredito que um dia volte a vê-lo.  Não há interesse, de nenhuma parte. Ele não quer me ver e eu não entendo por que teria de procurar por um homem com que não compartilho 90% do que já fez. Até o amor filial e paterno se desvanece se ninguém o alimenta.

9 comentários sobre ““Meu pai, Fidel, não se converterá nunca. Se sente imortal”.

  1. O mal que o comunismo fez ao mundo foi visceral, exatamente como Nossa Senhora de Fátima tinha alertado. Não entendo porque Deus permitiu que o Concílio Vaticano II cometesse a abominável omissão de não condenar essa ideologia satânica que é um dos maiores erros do séculos XIX e XX. Só esse erro já basta para provar que esse concílio estava contaminado por um espírito não católico.

    “Os vapores infernais elevam-se e enchem o cérebro, Até que eu enlouqueça e meu coração seja totalmente mudado Vê esta espada? O príncipe das trevas, Vendeu-a para mim.” (Marx)

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  2. FÁBIO A.

    Permitiu porque os homens são livres para fazerem qualquer escolha, inclusive os membros da Igreja. A grande diferença é que ele foi pastoral, por isso se ensinou tantos erros. Deus sabe o faz. A conta será cobrada lá na frente.

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  3. A diplomcia da Santa Sé continua uma vergonha: dialogam com comuistas quando deveriam fazer-lhes oposição total.Ora não “fazer política” é fazer política.Se alguns creem que o Papa faz política ao se opor ao regime e visitar dissidentes que fique claro que ao não visitá-los faz política também – exatamente a política que os comunistas querem : a política da Igreja do silêncio como fazem desde a era de Stálin.

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  4. “Perigosíssimos” e “restritos cumpanheiros deste nosso FRATRES;
    A presença do Papa é um reconfortante alívio aos Católicos cubanos.
    Sofreram muito estes nossos irmãos na Fé.
    Quanto à possível visita do Papa aos “dissidentes”, esta seria realizada, porém a possível “troca” de presentes, um tanto inconvenientes: enquato “los hermanos Castro” oferecem ao Papa vários “insatisfeitos” para que os leve ao Vaticano, o Papa lhes oferecerá Bertone, Aviz & Cia. Ltda.
    Diante da proposta, “los hermanos” preferiram não viabilizar a visita, pois, a possível “troca” de presentes, uma vez que nem “el comandante”, tampouco “el líder Satã” gostariam de receber tais males…
    Até pensaram em falar ao Sumo Pontífice que a eles mais lhes gostaria receber algo menos destrutivo que estes senhores da Roma Modernista (para não usar o termo “Apóstata” – a fim de não “ferir susceptibilidades”)… Algo como um terremoto ou mesmo um tsumani… Porém, receber estes senhores… hummm, preferem ficar com os “dissidentes” e até mesmo com Guantánamo…
    Caso o Bertone e seus “amiguinhos” passassem pelo “Triângulo das Bermudas”, poderiam desaparecer eternamente…
    Numa dessas poderiam até levar o “compañero Chávez” que está por lá…
    Ahhhhh, que peninha…
    Porém, como dizia aquele samba-enredo: “sonhar não custa nada…”
    Para terminar, que sombrero mais interessante usado pelo Santo Padre no México…
    Como diz aquela Oração que rezamos há milênios na Santa Missa: Kyerie Eleison!

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  5. Mas parece que ninguem ve mais isso…as vezes eu tenho raiva de saber história por que quem conhece a história da Igreja sabe que sempre foi isso que os comunistas buscaram fazer com a Igreja : reduzi-la ao silenciamento…enquanto nos silenciamos eles fazem a revolução cultural e depois não podem reclamar do abortismo , gayzismo , socialismo , relativismo, ateísmo quando invadem a sociedade – não basta denunciar esses valores errados tem que lutar contra o foco que os dissemina e Cuba é um deles.

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  6. Que os católicos cubanos, que necessitam de tanta coragem e conforto, que precisam ter sua fé confirmada, possam ter revigorada a perseverança e não desistam de professar sua fé. Que a presença do Sumo Pontífice seja fonte de muitas conversões.

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