Parte II da Entrevista com o Superior do Distrito Norte-Americano da FSSPX: “A Igreja é una porque os católicos acreditam na mesma doutrina, recebem os mesmos sacramentos e também são regidos pela mesma cabeça”.

Por FSSPX-EUA | Tradução: Fratres in Unum.com – Primeira parte aqui.

JAMES: Algumas pessoas tem usado a entrevista recente de Dom Fellay ao Catholic News Service para indicar ou argumentar que talvez ele esteja cedendo ou suavizando a sua posição sobre questões doutrinais que afetam a Fé.

Pe. Arnaud Rostand: Isso não faz sentido algum para mim. Como é que alguém pode usar uma citação de uma entrevista e dizer que a posição mudou. Ou seja, tomar uma conferência onde Dom Fellay explica a sua posição sobre a Liberdade Religiosa e dizer “Ok, esta posição mudou em relação ao passado”. Tudo bem. Mas pegar uma frase que tenha sido usada por um jornalista de uma entrevista de uma hora. Pegar algumas, nem mesmo um minuto, e dizer “esta é uma posição oficial de Dom Fellay.” Isso é desonetso. Não faz sentido algum.

JAMES: Padre, uma outra objeção ou argumento comum que temos visto é que talvez haja uma mudança na estratégia da Fraternidade ou na posição de que uma resolução doutrinal seria necessária antes de qualquer tipo de regularização canônica. Será que de fato houve uma mudança na posição da Fraternidade?

Pe. Rostand: Primeiramente, creio que seja importante recordar que as discussões sobre doutrina, assuntos doutrinais, ocorreram, assim, já houve uma abordagem doutrinal para as relações com Roma. Devemos lembrar também o exemplo do Dom Marcel Lefebvre. Em 1988, Dom Lefebvre assinou uma declaração doutrinal, mais conhecida como o Protocolo de 1988, no qual ele não buscou uma resolução doutrinal antes de passar para aspectos práticos. Assim, creio que seja importante…

JAMES: Claro. Mas então, será que alguém pode argumentar que na realidade, uma vez que Dom Lefebvre acabou não assinando o protocolo ou mudado de ideia após assiná-lo, as circunstâncias mudaram desde 1988? Há alguma razão para crer que Dom Lefebvre faria algo diferente hoje em dia?

Pe. Rostand: Sim, as circunstâncias mudaram. O motivo pelo qual Dom Lefebvre recusou o protocolo no dia seguinte foi porque ele pôde ver que Roma não estava preparada para lhe dar um bispo. Esse foi realmente o objetivo de Dom Lefebvre, foi o de obter a sagração de pelo menos um bispo. Ele viu que Roma não estava preparada para concordar com isso, e, assim, prosseguiu com as sagrações. Hoje em dia, a situação da Fraternidade é diferente. Crescemos, temos bispos, e isso é um ponto forte para nós. Nessas relações com Roma, esse, definitivamente, é um ponto forte. Então, sim, as circunstâncias mudaram do nosso lado, desde 1988. E há também determinados sinais de que em Roma certas coisas também mudaram.

JAMES: Padre, o senhor mencionou e falou de circunstâncias alteradas nos últimos anos. Será que o senhor poderia nos dar alguns exemplos práticos dessas circunstâncias?

Pe. Rostand: Creio que o primeiro ponto importante são as discussões doutrinais que tivemos com Roma. Isso é fundamental em nossa situação real. Fomos capazes de apresentar as nossas posições à Roma. Elas nunca foram conhecidas tão bem em Roma como hoje em dia. E, como um efeito dessas discussões com Roma, já pudemos ver uma disseminação de críticas ao Vaticano II, Monsenhor Gheardini, por exemplo, é um bom exemplo. Assim, é importante enxergar os sinais. Agora, tivemos também, obviamente, o motu proprio, há cada vez mais Missas celebradas no Rito Antigo, há também esforços em Roma para…

JAMES: Restaurar?

Pe. Rostand: Restaurar uma certa disciplina na Igreja, ao menos, com o clero, com as freiras aqui nos Estados Unidos, tudo isso está definitivamente indo numa direção diferente de como era há alguns anos. E acho que o mais importante, que é um sinal do que está por vir, seja realmente a Prelazia, a Prelazia Pessoal. Será essa uma estrutura que nos dará a possibilidade de continuarmos o nosso trabalho? Será uma estrutura que nos dará a capacidade de permanecermos do jeito que estamos? E se ela existir, bem, esse é um grande sinal de uma mudança em Roma, e um sinal de que temos a possibilidade de continuar o nosso trabalho de restauração da Tradição na Igreja.

JAMES: Padre, voltando atrás um pouquinho na questão do acordo doutrinal ou reconhecimento entre Roma e a Fraternidade. O que o senhor diria diante do argumento de que a Fé é o que existe de mais importante e, portanto, se não estivermos totalmente na mesma página, então, não poderemos prosseguir?

Pe. Rostand: Bem, a Fé é definitivamente o que importa mais. A nossa luta de 40 anos tem sido para defender a integridade da Fé Católica. Entretanto, não é verdade dizer que a unidade da Igreja se baseia somente na Fé. Se você pegar o catecismo, abra o seu livro e você verá a questão sobre a unidade da Igreja. Bem, a resposta é que a Igreja é una porque os católicos acreditam na mesma doutrina, recebem os mesmos sacramentos e também são regidos pela mesma cabeça. Há três princípios da unidade na Igreja. Assim, definitivamente, hoje em dia a luta pela Fé é a prioridade. Todavia, não podemos perder de vista o outro fator, sobre os demais princípios da unidade na Igreja. Então, é importante ter em mente o papel e a missão do Papa na Igreja. É a visibilidade da Igreja que está em jogo neste caso. A Fraternidade São Pio X, depois de Dom Lefebvre, nunca assumiu uma posição sedevacantista, em que diríamos que não há mais Papa e assim por diante. Logo, sempre que o Papa nos pede algo onde não haja motivo para não obedecer, bem, temos que obedecer. Não há escolha. Então, quando a Fé não estiver em jogo, quando não for algo que vá contra os princípios morais, bem, é um reconhecimento da visibilidade da Igreja. Hoje em dia, creio que somos instados a fazer um ato de Fé na Igreja. Temos visto por muitos anos e ainda vemos uma Igreja que está sendo atacada de todos os lados e mesmo de dentro. Temos visto tantas heresias, temos visto tantos abusos, erros, que podemos nos esquecer que Nosso Senhor Jesus Cristo ainda guia a sua Igreja através das estruturas, as estruturas visíveis que Ele fundou.

JAMES: Padre, em vista do que o senhor acabou de dizer sobre a Fé, será que não é o caso hoje em dia da Fé estar sendo ameaçada?

Pe. Rostand: Bem, a questão da Fé está sempre presente. Esse é definitivamente o problema na Igreja hoje em dia e a Fraternidade sempre se posicionou em defesa da Fé. Então, sim, essa é uma questão de Fé em um determinado ponto de vista. Todavia, a questão que está sendo discutida aqui, ou seja, o reconhecimento da Fraternidade São Pio X por Roma é, sobretudo, uma questão de prudência. Se a Fé não for comprometida e se pudermos ficar do jeito que estamos, bem, então prosseguir é uma questão de prudência. E Dom Fellay tem sido muito claro sobre essas duas questões. Não há como aceitarmos comprometer a Fé.

JAMES: Padre, para darmos um passo ainda mais distante, o que o senhor diria em relação ao argumento de que mesmo aceitar um reconhecimento por Roma seria uma concessão?

Pe. Rostand: Essa é uma pergunta interessante. Esta é uma das principais objeções para um reconhecimento da Fraternidade hoje em dia. Porque temos visto tantos erros na Igreja nas últimas décadas que será que ao sermos reconhecidos, por si só representaria uma concessão em questão de Fé? Bem, não, porque, mais uma vez, temos discutido com Roma a doutrina e Roma sabe exatamente a nossa posição. E a nossa posição sobre Liberdade Religiosa, sobre o Ecumenismo, é pública, é conhecida. E não fizemos qualquer declaração e não temos a intenção de fazer qualquer declaração que ceda sobre esta luta pela Fé. O reconhecimento da Fraternidade é uma questão diferente da luta pela Fé. Você diria que em 1970 quando Dom Lefebvre fez um pedido de reconhecimento de sua recém-nascida Fraternidade, ou quando em 1988 ele assinou o protocolo, o Arcebispo estava fazendo uma concessão em matéria de Fé pelo simples fato de ter pedido a benção da Igreja para a Fraternidade que ele estava fundando em 1970 e no processo do protocolo em 1988? Não. Não, Dom Lefebvre nunca fez concessão quanto a Fé. E a situação hoje em dia entre a Fraternidade e Roma é semelhante à situação de 1988 com o possível protocolo daquela época.

JAMES: Padre, em vista das circunstâncias recentes, alguns parecem estar pensando ou preocupados com o silêncio e sigilo ao redor dos eventos recentes, que eles deveriam efetivamente ser causa de receios. O argumento segue na linha “se algo é verdadeiro e bom, por que ele não é aberto para todo mundo?”

Pe. Rostand: Você sabe que a privacidade acerca de determinados assuntos é algo normal na vida. Ela está em todos os lugares. E todo padre sabe que você não pode partilhar muitas das informações que você recebe; e aqui não estou falando do segredo de confissão, mas de outras coisas. E um superior, um padre, mesmo em seu apostolado, tem que tomar decisões sabendo certas coisas que ele não pode partilhar; isso faz parte da vida; e isso também vale para um empresário, para um pai de família. Você não explica para os seus filhos todas as razões pelas quais você toma uma decisão. É uma parte normal da vida. Não há nada de surpreendente sobre isso. A privacidade entre Roma e a FSSPX é uma necessidade nas atuais circunstâncias da Igreja. Por quê? Porque sabemos das pressões que podem ser postas sobre Dom Fellay pela mídia e até mesmo por qualquer um. E quando você está participando de algumas discussões, bem, é preciso ser capaz de tomar decisões sem pressões. A responsabilidade de Dom Fellay não é a de seguir um grupo de pessoas ou um grupo de pressão; mas sim tomar uma decisão em consciência do que é certo e do que é errado. Isso é a sua responsabilidade. Assim, a privacidade quanto ao que está acontecendo com Roma é normal e, definitivamente, não é um sinal de querer esconder as coisas.

2 comentários sobre “Parte II da Entrevista com o Superior do Distrito Norte-Americano da FSSPX: “A Igreja é una porque os católicos acreditam na mesma doutrina, recebem os mesmos sacramentos e também são regidos pela mesma cabeça”.

  1. Peguemos cinco catecismos: Catecismo de Trento, Catecismo de S.Pio X, Catecismo de João Paulo II, You Cat, e o Catecismo da Crise na Igreja da FSSPX. Como fazer um acordo diante de tudo isso?
    Quando um catecismo vai contra o que o outro afirma ser erro contrário a fé.

    Caso prático: Como vamos ter juridcamente regularizado na Igreja um grupo (FSSPX) que ensina que não devemos ir a missa de Paulo VI, a missa rezado pelo Papa?

    Será que Roma aceitará isso?

    Curtir

  2. A Fraternidade São Pio X. Não pode deixar a sua identidade de conservar a doutrina. Católica Apostólica Romana. Ou seja: Defender aquilo que ela sempre defendeu. A Tradição da Igreja. Unindo todo o Magistério da Igreja, de vinte séculos de cristianismo.
    Ela não pode mudar em nada que venha ferir, o que ela sempre defendeu. Não somos nós que devemos buscar novidades, são as autoridades da Igreja que tem obrigação de conservar a doutrina intácta no seus longos séculos de cristianismo.
    Não precisamos ficar muito preocupados, se Roma vai ou não nos legalizar, o mais importante que todos nós sejamos fiéis à Sua doutrina infalível.
    Joelson Ribeiro Ramos.
    .

    Curtir

Os comentários estão desativados.