Cardeal Brandmüller: a Missa de Paulo VI não é a Missa do Concilio. A Sacrosanctum Concilium nunca foi realmente implementada.

De uma entrevista concedida pelo Cardeal Walter Brandmüller ao Vatican Insider e publicada hoje. A última resposta, sobre a revolução litúrgica que nunca deveria ter acontecido e que destruiu o desenvolvimento orgânico do culto sagrado, é particularmente relevante.

Por Rorate-Caeli | Tradução: Fratres in Unum.com

O Concílio Vaticano Segundo foi um Concílio Pastoral que também ofereceu explicações dogmáticas. Já houve algo semelhante anteriormente na história da Igreja?

Cardeal Walter Brandmüller.
Cardeal Walter Brandmüller.

[Brandmüller:] Parece, de fato, que o Vaticano II marcou o início de um novo tipo de Concílio. A linguagem utilizada no seu transcorrer e a totalidade dos textos mostram que os padres conciliares não estavam tão motivados pela necessidade de passar um julgamento sobre novas questões eclesiásticas e teológicas polêmicas, mas sim pelo desejo de voltar a atenção à opinião pública dentro da Igreja e todo o mundo, no espírito do anúncio.

O Concílio não deveria ser declarado um fracasso, já que após cinquenta anos os fiéis não o acolheram calorosamente? Bento XVI alertou contra uma interpretação errônea do Concílio, particularmente em termos de hermenêutica da [ruptura]…

[B:] Essa é uma daquelas questões clichês que remontam a um novo sentimento existencial; aquele sentimento de confusão, que é típico de nossos tempos. Porém, o que significa cinquenta anos, afinal de contas?! Retroceda o seu pensamento ao Concílio de Nicéia, em 325. As disputas ao redor do dogma deste Concílio – sobre a natureza do Filho, ou seja, se Ele é da mesma substância do Pai ou não – continuaram por mais de cem anos. Santo Ambrósio foi ordenado Bispo de Milão por ocasião do cinquentenário do Concílio de Nicéia e teve que lutar duro contra os arianos que se recusavam a aceitar as disposições nicenas. Pouco tempo mais tarde veio um novo Concílio: o Primeiro Concílio de Constantinopla de 381, que foi considerado necessário a fim de concluir a profissão de fé de Nicéia. Durante este Concílio, Santo Agostinho recebeu a tarefa de tratar de solicitações e refutar hereges até a sua morte, em 430. Francamente, mesmo o Concílio de Trento não foi muito frutuoso até o Jubileu de Ouro de 1596. Foi necessária uma nova geração de Bispos e prelados para amadurecer no “espírito do Concílio” antes que seu efeito pudesse efetivamente ser sentido. Precisamos nos conceder um pouco mais de espaço para respirarmos.

Agora falemos sobre os frutos que o Vaticano II produziu. O senhor pode comentar sobre isso?

[B:] Primeiramente, é claro, o “Catecismo da Igreja Católica” em comparação ao Catecismo Tridentino: após o Concílio de Trento, o Catecismo Romano foi lançado a fim de oferecer aos párocos, pregadores e etc. diretrizes sobre como pregar e anunciar o Evangelho ou evangelizar.

Mesmo o Código de Direito Canônico de 1983 pode ser considerado uma consequência do Concílio. Preciso enfatizar que a forma da liturgia pós-conciliar com todas as suas distorções não é atribuível ao Concílio ou à Constituição sobre a Liturgia estabelecida durante o Vaticano II, que, a propósito, não foi efetivamente implementada mesmo hoje em dia. A retirada indiscriminada do Latim e do Canto Gregoriano das celebrações litúrgicas e a construção de inúmeros altares não foram absolutamente atos prescritos pelo Concílio.

Com o benefício de retrospectiva, voltemos nosso pensamento particularmente à falta de sensibilidade demonstrada em termos de cuidado pelos fiéis e na falta de cuidado pastoral demonstrado na forma litúrgica. Basta pensar dos excessos da Igreja, reminiscente da [crise iconoclasta] que ocorreu no século XVIII. Excessos que impulsionaram inúmeros fiéis ao caos total, deixando muitos andando no escuro.

Quase tudo foi dito sobre esse assunto. Nesse meio tempo, a liturgia chegou a ser vista como uma imagem em espelho da vida da Igreja, sujeita a uma evolução histórica orgânica que não pode – como sem dúvida ocorreu – ser repentinamente alterada pelo decreto par ordre de mufti. E ainda estamos pagando o preço hoje em dia. [Fonte, adaptado]

9 comentários sobre “Cardeal Brandmüller: a Missa de Paulo VI não é a Missa do Concilio. A Sacrosanctum Concilium nunca foi realmente implementada.

  1. Para mim ficou nas entrelinhas, então, que o CVII contrapôs idéias já existentes, e que se precisaria mais tempo para que sejam realmente consideradas certas ou não. Ainda se esperam mais “estragos” e que estes sejam absorvidos definitivamente? O que espero na verdade, é então uma definitiva interpretação com a continuidade, se é que é possível… REZEMOS

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  2. Na segunda das respostas, não sei se por um problema de tradução ou não, observo que a expressão: “sobre a natureza do Filho, ou seja, se ele foi feito da mesma substância do Pai ou não” não é exata. Em vez de “se ele foi feito da mesma substância”, eu preferiria ver escrito “se ele é da mesma substância”, já que o Filho jamais pode ser dito “feito”.
    Por outro lado, o Cardeal é bastante ponderado em suas colocações. Realmente precisamos entender que, apesar de vivermos numa era acelerada, a Igreja tem seus tempos e as coisas demoram anos, e até séculos, para serem devidamente assimiladas. Esse é o intuito da comparação que ele fez entre os Concílios. A colocação sobre a inadequação da concepção litúrgica atual à mente do Concílio Vaticano II é brilhante.

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  3. Quando a gente pensa:

    – Finalmente alguém de peso vai falar alto e bom som, vem uma decepção.

    – Falou mas não disse.

    Falou e admitiu que o Vaticano II foi, quando nunca deveria ter sido. Admitiu abusos e caos na Igreja mas vacila em reconhecer o pai da criança.

    Para tristeza nossa, vão empurrando com a barriga, tentam justificar erros de hoje com erros do passado. Enquanto isso a Igreja , já raquítica vai minguando, minguando…

    Mais um que finge não ver que o Vaticano II deveria simplesmente ser anulado.

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  4. A hierarquia da Igreja deveria escrever menos, falar menos e AGIR MAIS. É de uma mesmice irritante e só blá blá blá. Enquanto isso a Igreja…….(complementem)

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  5. Ana Maria Nunes o “amarelão” sofre de “ancilostomíase” assim como o CVII padece de “Paludismo”. É bom lembrar que a “ancilostomíase” tem cura, é só adotar uma prescrição correta com um “medicamento” eficaz e descartar o “amarelão”. (Nem preciso dizer a onde…) Já o “paludismo” do CVII, se os “parasitas” se tornarem muito resistentes, o paciente certamente virá a óbito. Que Deus Nosso Senhor tenha misericórdia de todos os fieis “pacientes”. Amem!

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  6. Osires, n vou poder completar a sua frase, estou buscando ser menos explosiva kkk

    ************ Francisco, se é caso para medicamento é só chamar o Felipe Leão.

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