A anarquia institucionalizada, segundo o Superior Geral dos Jesuítas.

Prepósito jesuíta: “Liberdade de falar não é contestação”

As exéquias de Martini.
As exéquias de Martini.

Rádio Vaticano“Existe um princípio de Santo Inácio muito claro: encontrar Deus em todas as coisas. O Cardeal Carlo Maria Martini via a realidade de modo tão positivo porque tinha aquela abordagem, aquela visão onde Deus trabalha em tudo. Encontrou Deus em todas as coisas e em todas as pessoas. Parte daí o grande respeito que tinha pelos fiéis e não-fiéis, de qualquer origem fossem”.

“Todos têm uma centelha de Deus que precisa ser encontrada, e espero que no mês que vem, no Sínodo sobre a Nova Evangelização convocado pelo Papa, possamos ser tocados por ela”.

É o que diz em uma entrevista publicada pelo jornal milanês “Corriere della Sera” Padre Adolfo Nicolás, Prepósito-Geral da Companhia de Jesus.

“A liberdade inaciana – explica o superior jesuíta – é fruto de um aprofundamento da fé e não uma contestação. Já nos tempos de Santo Inácio, a Igreja era mais frágil e soube encontrar a profundidade da busca humana de Deus, da verdade e de tudo o que tem sentido. É esta profundidade que dá a liberdade e que deixa falar sobre muitos temas que outros se sentem impedidos de abordar”.

A declaração de Pe. Nicolás esclarece o sentido da última entrevista concedida pelo Cardeal Martini, em 8 de agosto, publicada pelo “Corriere della Sera”. (CM)

* * *

Nota da redação: Em uma entrevista arranjada em agosto para ser publicada após a sua morte, Martini questiona: “A Igreja ficou 200 anos para trás. Como é possível que ela não se sacuda?”. E prossegue com suas lamentações: “As nossas igrejas são grandes, as nossas casas religiosas estão vazias, e o aparato burocrático da Igreja aumenta, os nossos ritos e os nossos hábitos são pomposos”, “a Igreja deve reconhecer os próprios erros e deve percorrer um caminho radical de mudança, começando pelo papa e pelos bispos”, “os escândalos da pedofilia nos levam a tomar um caminho de conversão. As questões sobre a sexualidade e sobre todos os temas que envolvem o corpo são um exemplo disso […] Devemos nos perguntar se as pessoas ainda ouvem os conselhos da Igreja em matéria sexual”, e ainda “Os sacramentos não são uma ferramenta para a disciplina […] Eu penso em todos os divorciados e nos casais em segunda união, nas famílias ampliadas. Eles precisam de uma proteção especial […] A questão sobre se os divorciados podem comungar deve ser invertida”.

Não fosse o estardalhaço midiático, tanto no âmbito secular como no eclesial, sequer tocaríamos nesse assunto por aqui. “Deixai aos mortos o enterrar os seus mortos”, ensinou Nosso Senhor.

Mas é difícil suportar justificativas das mais absurdas, como a do Pe. Nicolás, em silêncio — já o é a própria diplomacia eclesiástica, com sua aplicação à risca do aforismo “De mortuis nihil nisi bonum” — as condolências do Papa que o digam.

Santo Inácio nunca poderia conceber que a “liberdade inaciana” fosse instrumentalizada a ponto de justificar atos inimagináveis de rebeldia para com o Magistério da Igreja. Uma pesquisa rápida no histórico do Fratres mostra um Martini que defendeu, nas últimas décadas, nada menos que o reconhecimento das uniões civis de homossexuais, a ordenação de mulheres, a correção da encíclica Humanae Vitae com sua condenação dos métodos anticoncepcionais, o fim do celibato, além da convocação do Concílio Vaticano III — o II já estaria ultrapassado. Realmente, um Hans Küng que deu certo.

“Liberdade de falar não é contestação”, mesmo que se coloque em xeque pontos centrais da moral e disciplina católicas?  Qual é, então, o motivo para tamanha intolerância demonstrada — sobretudo pelos que defendem a liberdade do Cardeal Martini em falar o que bem entendia — para quem pede esclarecimentos ou mesmo correções de certas formulações do último Concílio Pastoral? Onde abundou a pilantragem, superabundou a incoerência.

22 comentários sobre “A anarquia institucionalizada, segundo o Superior Geral dos Jesuítas.

  1. «Não há dúvida de que devemos usar os meios modernos de modo razoável para nos fazermos escutar; ou melhor, para tornar acessível e compreensível a voz do Senhor. Mas não queremos que nos escutem a nós; não queremos aumentar o poder e a extensão das nossas instituições; o que queremos é contribuir para o bem das pessoas e da humanidade, abrindo caminho para Aquele que é a Vida.
    Essa renúncia ao próprio eu, oferecendo-o a Cristo para a salvação dos homens, é a condição fundamental de um verdadeiro compromisso em favor do Evangelho: Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo… (Jo 5, 43).
    O anticristo distingue-se por falar em nome próprio.»
    (…)
    «O anúncio de Cristo, o anúncio do reino de Deus, pressupõe a escuta da sua voz na voz da Igreja. “Não falar em nome próprio” significa falar na missão da Igreja.»

    (Cardeal Joseph Ratzinger excerto conferência pronunciada no Congresso de catequistas e professores de religião, Roma, 10.12.2000, e publicada no ‘L’Osservatore romano’ de 19.01.2001)

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  2. Eu choro de dor quando o Santo Padre chama esse homem de “fiel seguidor da Igreja”. Choro porque não reconheço mais a voz do Pastor, Papa mais que válido é claro, mas que desgraçadamente incensa pessoas com posturas mais que questionáveis, mas em verdadeiro estado de corrupção da Igreja.

    Non possamus Santo Padre, non possamus! Este homem – que já foi julgado no Tribunal de Deus – não passou de um lobo em pele de cordeiro, e espero que no momento último tenha conseguido a contrição perfeita. Non possamus Santo Padre, aceitar que sua mão de Pastor seja usada para nos apunhalar!

    Choro, Santo Padre! Choro! Porque estás, Vossa Santidade, a desfigurar a face da Igreja.

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  3. Santo Inácio de Loyola cunhou o termo “Sentire cum ecclesia” (Pensar com a Igreja). Isto por si só demonstra o quanto o dito Cardeal “Ante-Papa” estava distante do espírito jesuíta.

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  4. Colocado a parte todo juízo próprio devemos ter o espírito preparado e pronto a obedecer em todas as coisas a verdadeira esposa de Cristo Senhor nosso, que é a nossa santa Mãe, a Igreja (Reg. 1). Santo Inácio

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  5. Enfim, qualquer ‘ze mané’ HOJE dá mais provas de catolicidade que a atual hierarquia. Tanto em conhecimento da Doutrina de SEMPRE como amor a verdade.

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  6. Vejam a Diarreia Cerebral do Superior dos Jesuítas. Os Jesuítas já tiveram superior mais qualificado.

    Pobre Santo Inácio, deve estar chocado com a Gnose explícita de seu superior Geral, é de fazer inveja a qualquer Maçon.

    Se eu falasse alguma coisa parecida, que esse Cardeal falou e escreveu, tenho certeza, estaria excomungado.

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  7. Me fez lembrar de outro jesuíta: Dom Luciano Mendes de Almeilda. Achei que esta frase “Encontrou Deus em todas as coisas e em todas as pessoas.” une bastente o ideal do dois jesuítas. Ideal em si muito bom, mas DISTORCIDO por uma mentalidade estranha à verdadeira fé católica, pois muitas vezes leva ao indiferentismo religioso.
    É impressionante como os jesuítas, de doutos conhecedores da fé católica, passaram a ignorar a ortodoxia da fé em nome de uma compreensão equivocada da onipresença de Deus e da universalidade do amor cristão. Se eu estiver errado, me corrijam por favor.

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  8. Desculpem minha ignorância mas quase não vejo diferença entre este Cardeal e Lutero, as teses são as mesmas , com outra roupagem.

    Rezemos pelo Papa, ele está precisando, falta-lhe coragem para dizer o que deve ser dito na hora certa. Que bela oportunidade de por os pingos nos is ele está a perder.

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  9. O canal do Vaticano no Youtube publicou este vídeo sobre as exéquias de Dom Carlo Maria Martini.

    O Papa o elogiou, apesar de suas posturas heterodoxas. No entanto, penso que isso não signifique um aval ou endossamento as idéias erradas do Cardeal, mas apenas um costume de elogiar os mortos no momento de seus funeráis. Costume, um tanto questionável, mas que, caso não observado, causa grande escandâlo entre as pessoas. Assim me parece. Se eu estiver errrado, me corrijam.

    Le cardinal Martini, maître de la Parole de Dieu

    Il a été un homme de Dieu, qui n’a pas seulement étudié l’écriture sainte, mais qui l’a aimée intensément, qui en a fait la lumière de sa vie afin que tout soit “ad maiorem Dei gloriam”, pour la la plus grande gloire de Dieu”. C’est ainsi que Benoît XVI a évoqué le cardinal Carlo Maria Martini, archevêque émérite de Milan, dans un message lu au début de la célébration des obsèques par le cardinal Comastri, vicaire général du pape pour la Cité du Vatican.

    (INSERT COMASTRI)
    « Il a été capable d’enseigner aux croyants et à ceux qui sont à la recherche de la vérité que l’unique parole digne d’être écoutée, accueillie et suivie est celle de Dieu, car elle indique à chacun le chemin de la vérité et de l’ …

    A mesma notícia em italiano:

    Il Papa: “Il cardinal Martini, maestro della Parola di Dio”

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  10. A tradução do texto que se encontra junto ao vídeo do Vaticano. Caso haja necessidade de corrigir alguma coisa, por favor corrijam.

    “Ele foi um homem de Deus, que não somente estudou A Sagrada Escritura, mas também amou intensamente e que fez a sua vida brilhar de modo que tudo fosse para a maior glória de Deus, para uma tão grande maior glória de Deus.” Assim o Papa Bento XVI recordou o Cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão, em uma mensagem lida no início da celebração das exéquias pelo Cardeal Comastri, vigário geral do Papa para a cidade do Vaticano.

    Inserto das palavras do Cardeal Comastri

    “Ele (Dom Martini) foi capaz de ensinar aos crentes (aos fiéis) e àqueles que procuram a verdade que a única palavra digna de escutar, receber e seguir é a palavra de Deus, […].

    Longe de querer criticar o Papa por essas palavras, penso que se ele elogiou o Cardeal Martini é porque alguma coisa de verdadeiramente boa o cardeal fez, apesar de ter feito coisas que não estavam em conformidade com a reta fé. Portanto, as suas boas obras haverão de ser levadas em conta diante de Deus.

    Um exemplo contrário foi o Pe. Marcial Marciel. Não me constanta que alguma vez o Papa Bento XVI o tenha elogiado. Bento XVI é um Papa muito prudente.

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  11. A mensagem do Papa nos funerais do Cardeal Martini

    “Tua palavra é uma lâmpada para os meus pés, uma luz brilhante para o meu caminho. Essas palavras do salmista resumem a vida deste pastor generoso. Esse homem de Deus que não se limitou a estudar a Escritura, mas que a amou intensamente a ponto de fazer dela a luz de sua existência de modo que tudo fosse para a Maior Glória de Deus.

    Por isso ele ensinou aos crentes (aos fiéis), bem como aqueles que estão a procura da verdade que a única palavra digna de guardade e seguida é a palavra de Deus. Palavra que indica a todos o caminho da verdade e do amor. O falecido cardeal deu provas de uma grande abertura de espírito, aceitando sempre encontrar-se e digalogar com todos, aplicando assim o convite apostólico de estar sempre pronto a responder às razões da nossa esperança. De acordo com o seu lema espiscopal, Pro Veritate Adversa, atento a cada situação, inclusive as mais difíceis, ele era próximo dos que estavam em dificuldades, na pobreza ou na doença. Queira o Senhor, que guiou toda a vida do Cardeal Martini, acolher esse infatigável servidor do Evangelho na Jerusalém celeste.”

    http://www.vis.va/vissolr/index.php?vi=all&dl=9ea0adf7-6c71-2493-c5b6-5045e4374418&dl_t=text/xml&dl_a=y&ul=1&ev=1

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  12. nao é hora do papa fazer uma avaliação das posições teológicas de martini…ia ser mais lenha na fogueira. Bento XVI sabe esticar sem arrebentar…a reforma da Igreja vai longe, é lenta, mas esta em andamento…
    Mas é realmente triste que Martini, o “grande”, sair com essa: “Devemos nos perguntar se as pessoas ainda ouvem os conselhos da Igreja em matéria sexual”… eu respondo cardeal: não, elas não escutam. E a pergunta que um cristão deve se fazer é, “e daí?”. De onde esse povo tirou que a Igreja tem que dizer o que o mundo escuta??? Deus disse a Ezquiel: prega a este povo rebelde, quer te escutem, quer não te escutem, para que saibam que há um proveta no meio deles….
    Rezemos para que nossos pastores entendam, creiam, que a “primavera” da Igreja está em sermos CATÓLICOS….

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  13. O Papa Bento XVI, além de um fantástico teólogo, é um brilhante político e estrategista. Sabe quando deve avançar e quando deve esperar. Como foi dito acima, a hora de avaliar as posições teológicas do Cardeal Martini não é durante seu velório.

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  14. Que tragédia o estado atual (pelo menos de 100 anos para cá) dos jesuítas (senão não todos, a maioria)
    Eles estão à frente de todas heterodoxias, heresias, etc.

    Sto. Inácio de Loyola rogai por nós e, principalmente, pelos jesuítas.

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  15. Alex Antunes, respeitar o papa é uma coisa. Defender o erro, só pq ele vem do papa é, a meu ver, papolatria. Vejamos, o papa disse:
    Queira o Senhor, que guiou toda a vida do Cardeal Martini, acolher esse infatigável servidor do Evangelho na Jerusalém celeste

    Então, se o o homem foi mesmo guiado por Deus, a homoafetividade é vontade de Deus? Pq ele a defendia. O Vaticano INTEIRO errou ao dar um sepultamento Católico a este herege. Assim como errou ao NÃO dar um sepultamento Católico a Dom Lefebvre e Dom Mayer.

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  16. Estou de acordo com Bento XVI: o cardeal Martini foi, sem dúvida alguma, guiado por Deus ao longo de sua vida. Homem de grande fé e amor a Deus e à Igreja! Me fez pensar sobre questões atuais importantes no diálogo da Igreja com o mundo moderno! Não podemos nos furtar ao diálogo, ainda que sejamos fiéis a princípios imutáveis. Uma coisa não exclui a outra.

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  17. Se esse “fiel seguidor” da Igreja já está no céu, então, eu já me encontro a esquerda de Deus e estou apenas passando férias na terra.

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  18. pra mim, fazer obras boas é fazer como faziam São Pio de Pieltrecina, São João Bosco, o próprio Santo Inácio, entre outros grandes confessores. Deus tenha misericórdia da alma do finado cardeal Martini!

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  19. É incrível a crueldade de algumas pessoas aqui. Imagino que, quando chamados para um velório, alguns aqui devem ir e criticar o ‘morto’ para a família, dizendo o quanto ele era pecador e que deveria ir pro inferno… Quanta falta de sensibilidade.

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