Reação do bispo de Campos, Dom Roberto Francisco Ferreria Paz, ao artigo publicado em Fratres in Unum.

Dom Roberto Paz.
Respondendo ao irmão que talvez não compreendeu o artigo da Folha da Manhã, e na Voz do pastor, também no SITE da Diocese.
Sempre acredito que as pessoas são bem intencionadas e podem fazer uma leitura íntegra e sem preconceitos.
Sobre o meu posicionamento a respeito da obra de Gustave Courbet, (e não Coubert), líder da Escola Realista de Pintura, na França, foi a seguinte:
Na entrevista da Folha da Manhã, na seção cultural eu defini esta obra como pornográfica.
No Artigo da Voz do Pastor, eu afirmo: “Nem todo o nu é pornográfico, porém, depois do pecado original é necessário integrar com o pudor e a castidade o que o pecado esfacelou e dividiu. O pudor serve de anteparo e resguardo do mistério da pessoa para que ela não seja considerada um pedaço de carne ou ainda, um órgão da genitália. A arte contemporânea separou a beleza da verdade e do bem, considerando realidade qualquer objeto retratado ou representado.” Recém depois deste arrazoado que fala e afirma da necessidade do pudor, e da integração do bem, da verdade e da beleza, é que sustento: “a pintura de Courbet é um grito desesperado para sair da banalização e da trivialização do sexo, a que somos levados pela cultura midiática hedonista e permissiva”.
Longe de aprovar a obra pornográfica como obra estética ou artística, digo, que ele é um grito desesperado, o desespero por acaso não é pecado contra a esperança e a confiança em Deus? Não é motivado pelo absurdo que é a ausência do belo, da verdade e do bem? Quando tiramos um texto fora do contexto, as conclusões viram qualquer pretexto. Onde é que eu elogio esta obra? Simplesmente, a enquadro dentro do permissivismo que é resultado da cultura nihilista, da negação da pessoa. Mas é importante assinalar: ainda que esta obra de Courbet seja objetivamente pornográfica e indecente, a intenção do pintor e da sua escola (que não se justifica, pois o fim não legitima os meios) não era trabalhar para o mercado pornográfico ou explorar a imagem da mulher como objeto, onde a finalidade desta escola não tinha como escopo retratar as situações de alcova ou do meretrício como os grafites de Pompéia ou as imagens do Kama-Sutra que apresentam as posições do ato sexual, mas o realismo social a vida das classes trabalhadoras. Queria se mostrar o escândalo farisaico diante do nu feminino e a contraditória atitude da moral puritana de ignorar a indecência da exploração do trabalho, tuberculose e outras doenças que dizimavam os pobres, o trabalho infantil e a degradação da mulher, por isto este mesmo pintor vai nos deixar cenas de catadores de pedras, de carvão e do lixo.
Certamente para Jesus mais grave que a obscenidade é o ato de julgar os outros, a falta contra a caridade, estar sempre pronto para atirar pedras nas outras pessoas. Não haverá misericórdia para aqueles que não tiverem misericórdia com seus irmãos, diz o Apóstolo Tiago, a comunicação deve levar sempre para a paz e o diálogo, tratando de conhecer realmente o que pensa o outro. Deus seja louvado!
+ Dom Roberto Francisco Ferreria Paz – Bispo Diocesano de Campos
Fonte: Diocese de Campos