Mês: dezembro 2012
Retrospectiva 2012: os posts mais lidos do ano.
- Missa pelo “Dia do Maçom” na Diocese de Pesqueira, Pernambuco. (106 comentários)
- Padres do Regional Oeste II da CNBB se levantam contra Padre Paulo Ricardo. (186 comentários)
- O alarmante estado da PUCPR. (63 comentários)
- Idosa tenta restaurar pintura do século 19 por conta própria e danifica imagem. (17 comentários)
- Saiu o Hino da Campanha da Fraternidade de 2013! (34 comentários)
- Escândalo em Florianópolis: Sincretismo e Marxismo das CEBs com a chancela do Arcebispo Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ. (113 comentários)
- Um bispo acolhedor e inclusivo: espíritas sim, Católicos não. (130 comentários)
- Bispo de Bragança Paulista expulsa Frei Tiago e Mosteiro Carmelita Tradicional de sua diocese. (60 comentários)
- Carta de Frei Tiago de São José sobre o fim do Mosteiro Carmelita Tradicional de Atibaia, diocese de Bragança Paulista, SP. (72 comentários)
- A análise-desconjuntura eclesial na Assembléia Geral da CNBB. Frei convoca episcopado a não temer Roma. E sobrou até para o altar do Papa, para os blogs ‘restauracionistas’ com comentários e para os jovens que lutam pela missa anterior ao Concílio! (77 comentários)
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Qual destas notícias (ou mesmo outra que não estiver listada) você escolheria como a matéria do ano?
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Cardeal Cipriani proíbe ensino de teologia em universidade rebelde.
O Cardeal de Lima, Juan Luis Cipriani, proibiu os sacerdotes que pertencem à ex-PUCP (antiga Pontifícia Universidade Católica do Peru) de dar cursos de teologia. Através de um comunicado, o Centro Federado de Estudios Generales Letras da universidade confirmou que o cardeal proibiu que sacerdotes dêem o curso de teologia, bem como ocupem qualquer cargo em tal casa de estudos.

Por Perú21 | Tradução: Fratres in Unum.com – Esta informação, que começou a circular nas redes sociais, foi confirmada a Perú21 por um professor da casa de estudos, que preferiu o anonimato.
O catedrático contou que a medida foi comunicada aos religiosos através de uma carta assinada pelo próprio prelado, que chegou na sexta-feira, 21 de dezembro, ao campus universitário.
Segundo a fonte citada, a carta, que é de cumprimento obrigatório, sobretudo aos padres diocesanos, enfatiza também que estes padres não podem ocupar cargos administrativos nem realizar assessorias na PUCP.
“É um tipo de demissão para sacerdotes que têm 20 ou 25 anos na universidade”, observou o professor.
Comunicado de la Mesa Directiva Centro Federado EEGGLL
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Atenção: blog em recesso até a segunda semana de janeiro.
Número de monjas enclausuradas no país é o maior desde o século 18.
Folha de São Paulo – Os olhos verdes de Laura, 27, brilham, e o rosto se abre em um largo sorriso ao relembrar seus 12 anos, quando viu pela primeira vez aquelas mulheres através de grades.
“O primeiro impacto foi sentir a alegria delas atrás de uma grade”, diz. “Decidi que queria viver também aquela mesma alegria.”
Aos 15, chegou a pedir ao bispo autorização para se juntar a elas antes do tempo, mas só aos 18 entrou em um mosteiro em Franca.
Em pleno século 21, Laura e outras mulheres monjas enclausuradas são parte de uma realidade cada vez mais crescente no país. Elas vivem em uma cela, atrás das grades, longe de parentes e amigos, sem acesso a TV e jornal.

Desde o século 18 –quando a Igreja Católica tinha enorme projeção social no mundo–, nunca a Ordem das Carmelitas Descalças, à qual pertence Laura, teve tantas mulheres “atrás das grades” como agora.
Uma das maiores do país, a ordem, que se instalou no Brasil naqueles anos 1700, tem hoje cerca de mil monjas. Dez anos atrás, eram 700.
Entre as religiosas clarissas, outra ordem no país, são hoje cerca de 300 mulheres, em 30 mosteiros. Em 1955, eram 59 monjas e três casas.
Também as passionistas, concepcionistas, visitandinas, trapistas e adoradoras estão entre as poucas nas quais mulheres vivem a forma mais radical de isolamento: a chamada clausura papal ou de vida contemplativa.
Ao contrário de freiras que atuam em hospitais e orfanatos, essas religiosas vivem reservadas. “As grades não são para elas não saírem, mas sim para ninguém entrar”, diz frei Geraldo Afonso de Santa Teresinha, 52, das carmelitas.
O pouco contato com o mundo ocorre nas missas. As monjas as assistem em um canto, isoladas por grade. Há ainda o locutório, sala onde as pessoas, por uma tela, podem pedir orações às monjas.
Sair do mosteiro só em caso extremo, para ir ao médico ou ver os pais, quando estão muito doentes. Ainda hoje novos mosteiros femininos são criados, como o das adoradoras perpétuas, em 2009, e o das trapistas, em 2010.
HOMENS
Entre os homens, a clausura radical é menor -no Brasil, só com os monges trapistas e cartuxos. A casa dos trapistas no Paraná foi criada em 1977, com quatro monges americanos. Hoje são 20.
Representantes das ordens são unânimes ao explicar a razão de, no século 21, tantos jovens adotarem esse modo de vida. “O mundo oferece muito, mas coisas passageiras. A clausura oferece algo duradouro, que preenche o vazio”, disse Maria Lúcia de Jesus, das irmãs visitandinas.
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Atenção: blog em recesso até a segunda semana de janeiro.
O dilema moral de Pio XII.
Obra polêmica faz retrato devastador do papa acusado de ter optado pelo silêncio diante dos horrores do Holocausto.
Por Hermes Rodrigues Nery
Fratres in Unum.com – Desde 1963, com o aparecimento da peça teatral O Vigário, do escritor alemão Rolf Hochhuth, que a polêmica em torno da ação do papa Pio XII durante a 2ª Guerra Mundial foi crescendo, ao ponto de criar sérios embaraços para o Vaticano, que deseja beatificar (e posteriormente canonizar) Eugênio Pacelli (cujo pontificado foi um dos mais difíceis do século XX, por coincidir com as trevas do Holocausto).
Nigéria: seis mortos em atentado durante celebração de Natal.
Por FSSPX-Alemanha | Tradução: Fratres in Unum.com – Seis pessoas foram assassinadas em um atentado durante uma celebração de Natal ao norte da Nigéria, inclusive o padre.

Desconhecidos atacaram uma igreja cristã no norte da Nigéria e assassinaram seis pessoas durante um culto na Noite Santa, inclusive o pastor, disseram habitantes e a polícia na terça-feira. Em seguida, os agressores atearam fogo à casa de Deus.
À meia noite, um grupo de pessoas armadas teria chegado à aldeia de Peri, próxima à cidade de Potiskum, e teriam ido direto para a igreja, informou o residente Usman Mansir. Os fiéis já estavam celebrando o culto de Natal. “Eles abriram fogo e balearam o pastor e cinco fiéis”, prosseguiu Mansir. Segundo ele, a comunidade pertence à Igreja Evangélica da África Ocidental (ECWA).
Um oficial de polícia sênior do estado de Yobe, cuja capital é Potiskum, confirmou a informação da agência de notícias AFP. Todavia, ele não quis ser identificado. O chefe de polícia de Yobe, Sanusi Rufa’i, não quis comentar o incidente por “motivos de segurança”. Não ficou claro quem estava por trás do ataque.
A seita radical islâmica Boko Haram luta de maneira violenta há anos ao norte da Nigéria, governado por muçulmanos, pela organização de um estado teocrata islâmico. O grupo será responsabilizado por inúmeros atentados a autoridades, polícia e igrejas.
Um ataque também ocorreu em 2011
Já em 2011, Boko Haram perpetrou atentados no Natal em diversas cidades ao norte da Nigéria. Entre outros, eles acenderam uma bomba em uma igreja católica em Suleja, no estado de Niger; o que resultou na morte de cerca de 30 pessoas. (pius.info berichtete)
A população de Yobe é majoritariamente constituída por muçulmanos. Na verdade, uma minoria cristã significativa vive na cidade comercial de Potiskum. Peri fica a cerca de dois quilômetros de Potiskum.
Em sua tradicional benção de Natal, na terça-feira, o Papa Bento XVI, entre outras coisas, expressou sua preocupação sobre a situação na Nigéria, onde “atentados terroristas cruéis continuam fazendo vítimas, especialmente, dentre os cristãos”.
Todos os católicos são chamados a incluir as vítimas e os sobreviventes em suas orações. Rezemos também pelos cristãos perseguidos na Síria e nos muitos outros países da Terra.
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Santo Estevão Protomártir, rogai por nós!
A mensagem de Natal de Fratres in Unum.
O Verbo do Pai, por quem foram feitos os séculos, fazendo-se carne, teve hoje nascimento no tempo. Quis ter um dia natalício como homem, Aquêle cuja vontade divina faz sucederem-se os dias. No seio do Pai, precede a duração dos séculos, saindo do seio da mãe no dia de hoje, penetra no curso dos anos. Fêz-se homem o Criador do homem. Suga o seio materno Aquêle que rege os astros. Veio para sofrer a fome, Aquêle que é o pão; para ter sede, a fonte; para dormir, Ele, que é a luz. Ele, o Caminho, para cansar-se de caminhar; a Verdade, para ser acusado por falsas testemunhas. Para ser julgado por um juiz mortal, o juiz dos vivos e dos mortos; para ser condenado pelos injustos, quando é Ele mesmo a justiça. Dilacerado com açoites, Ele, a regra em pessoa; coroado de espinhos, Ele, o cacho de uvas. Suspenso à cruz, embora seja o alicerce da casa. A força, reduzido à fraqueza; a saúde, para ser vulnerada; Ele, a Vida para morrer.
Tudo isto e outras coisas semelhantes sofreu por nós; para nos salvar, a nós indignos. Com efeito, não mereceu algum dos muitos males que por nós sofreu, como tampouco merecíamos algum bem, de tantos que por Ele recebemos. Por isso, o Filho de Deus que era antes de todos os séculos, sem começo de dias, dignou-se tornar-se filho do homem nos últimos tempos. Aquêle que, nascido do Pai, não feito pelo Pai, fêz-se homem, encarnando-se numa mãe que Ele mesmo criara. Para ter existência terrena nasceu daquela que sem Ele jamais poderia ter existido.
Santo Agostinho, Sermões de Natal e Epifania, edições Paulinas.
Nosso agradecimento ao leitor Pedro Henrique pelo envio deste preciosíssimo texto.
Vox clamantis in deserto.
Homilia do IV Domingo do Advento
Por Frei Tiago de São José
Queridos irmãos e irmãs:
Hoje estamos celebrando este último domingo do Tempo do Advento. Por ser esta liturgia muito solene, resolvi escrever a homilia para apresentar melhor o que estamos celebrando. Entramos nesta Capela para escutar a Palavra de Deus. Ao contrário do que vemos por aí, não encontramos a figura de um “papai Noel”, mas de João, o Batista. Preparai o caminho do Senhor: fazei retas as suas veredas. Com certeza, é mais fácil ser um “papai Noel” do que um “João Batista”. Trazer presentinhos, dar um sorriso e subir num carro mágico acenando para a multidão. Uma coisa linda! Sem dúvida mais fácil que vestir roupas rudes, abster-se de comidas saborosas e colocar-se no silêncio do deserto.
Um Santo e Feliz Natal!
É o que deseja o Fratres in Unum a seus leitores!
Blog em recesso até a segunda semana de janeiro.
Discurso de Natal à Cúria Romana: Bento XVI fala sobre a “profunda falsidade” da ideologia de gênero e o diálogo.

A grande alegria, com que se encontraram em Milão famílias vindas de todo o mundo, mostrou que a família, não obstante as múltiplas impressões em contrário, está forte e viva também hoje; mas é incontestável – especialmente no mundo ocidental – a crise que a ameaça até nas suas próprias bases. Impressionou-me que se tenha repetidamente sublinhado, no Sínodo, a importância da família como lugar autêntico onde se transmitem as formas fundamentais de ser pessoa humana. É vivendo-as e sofrendo-as, juntos, que as mesmas se aprendem. Assim se tornou evidente que, na questão da família, não está em jogo meramente uma determinada forma social, mas o próprio homem: está em questão o que é o homem e o que é preciso fazer para ser justamente homem.
[…]
Num tratado cuidadosamente documentado e profundamente comovente, o rabino-chefe de França, Gilles Bernheim, mostrou que o ataque à forma autêntica da família (constituída por pai, mãe e filho), ao qual nos encontramos hoje expostos – um verdadeiro atentado –, atinge uma dimensão ainda mais profunda. Se antes tínhamos visto como causa da crise da família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente ser homem. Ele cita o célebre aforismo de Simone de Beauvoir: «Não se nasce mulher; fazem-na mulher – t pas femme, on le devient». Nestas palavras, manifesta-se o fundamento daquilo que hoje, sob o vocábulo «gender – género», é apresentado como nova filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto até agora era a sociedade quem a decidia. Salta aos olhos a profunda falsidade desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente. O homem contesta o facto de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um facto pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: «Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstracto, que em seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza. Homem e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas da pessoa humana que se completam mutuamente. Se, porém, não há a dualidade de homem e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é própria; Bernheim mostra como o filho, de sujeito jurídico que era com direito próprio, passe agora necessariamente a objecto, ao qual se tem direito e que, como objecto de um direito, se pode adquirir. Onde a liberdade do fazer se torna liberdade de fazer-se por si mesmo, chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem.
[…]
A Igreja representa a memória do que é ser homem defronte a uma civilização do esquecimento que já só se conhece a si mesma e só reconhece o próprio critério de medição. Mas, assim como uma pessoa sem memória perdeu a sua identidade, assim também uma humanidade sem memória perderia a própria identidade. Aquilo que foi dado ver à Igreja, no encontro entre revelação e experiência humana, ultrapassa sem dúvida o mero âmbito da razão, mas não constitui um mundo particular que seria desprovido de interesse para o não-crente. Se o homem, com o próprio pensamento entra na reflexão e na compreensão daqueles conhecimentos, estes alargam o horizonte da razão e isto diz respeito também àqueles que não conseguem partilhar a fé da Igreja. No diálogo com o Estado e a sociedade, naturalmente a Igreja não tem soluções prontas para as diversas questões. Mas, unida às outras forças sociais, lutará pelas respostas que melhor correspondam à justa medida do ser humano. Aquilo que ela identificou como valores fundamentais, constitutivos e não negociáveis da existência humana, deve defendê-lo com a máxima clareza. Deve fazer todo o possível por criar uma convicção que possa depois traduzir-se em acção política.
Na situação actual da humanidade, o diálogo das religiões é uma condição necessária para a paz no mundo, constituindo por isso mesmo um dever para os cristãos bem como para as outras crenças religiosas. Este diálogo das religiões possui diversas dimensões. Há-de ser, antes de tudo, simplesmente um diálogo da vida, um diálogo da acção compartilhada. Nele, não se falará dos grandes temas da fé – se Deus é trinitário, ou como se deve entender a inspiração das Escrituras Sagradas, etc. –, mas trata-se dos problemas concretos da convivência e da responsabilidade comum pela sociedade, pelo Estado, pela humanidade. Aqui é preciso aprender a aceitar o outro na sua forma de ser e pensar de modo diverso. Para isso, é necessário fazer da responsabilidade comum pela justiça e a paz o critério basilar do diálogo. Um diálogo, onde se trate de paz e de justiça indo mais além do que é simplesmente pragmático, torna-se por si mesmo uma luta ética sobre os valores que são pressupostos em tudo. Assim o diálogo, ao princípio meramente prático, torna-se também uma luta pelo justo modo de ser pessoa humana. Embora as escolhas básicas não estejam enquanto tais em discussão, os esforços à volta duma questão concreta tornam-se um percurso no qual ambas as partes podem encontrar purificação e enriquecimento através da escuta do outro. Assim estes esforços podem ter o significado também de passos comuns rumo à única verdade, sem que as escolhas básicas sejam alteradas. Se ambas as partes se movem a partir duma hermenêutica de justiça e de paz, a diferença básica não desaparecerá, mas crescerá uma proximidade mais profunda entre eles.
Hoje em geral, para a essência do diálogo inter-religioso, consideram fundamentais duas regras: 1ª) O diálogo não tem como alvo a conversão, mas a compreensão. Nisto se distingue da evangelização, da missão. 2ª) De acordo com isso, neste diálogo, ambas as partes permanecem deliberadamente na sua identidade própria, que, no diálogo, não põem em questão nem para si mesmo nem para os outros.
Estas regras são justas; mas penso que assim estejam formuladas demasiado superficialmente. Sim, o diálogo não visa a conversão, mas uma melhor compreensão recíproca: isto é correcto. Contudo a busca de conhecimento e compreensão sempre pretende ser também uma aproximação da verdade. Assim, ambas as partes, aproximando-se passo a passo da verdade, avançam e caminham para uma maior partilha, que se funda sobre a unidade da verdade. Quanto a permanecer fiéis à própria identidade, seria demasiado pouco se o cristão, com a sua decisão a favor da própria identidade, interrompesse por assim dizer por vontade própria o caminho para a verdade. Então o seu ser cristão tornar-se-ia algo de arbitrário, uma escolha simplesmente factual. Nesse caso, evidentemente, ele não teria em conta que a religião tem a ver com a verdade. A propósito disto, eu diria que o cristão possui a grande confiança, mais ainda, a certeza basilar de poder tranquilamente fazer-se ao largo no vasto mar da verdade, sem dever temer pela sua identidade de cristão. Sem dúvida, não somos nós que possuímos a verdade, mas é ela que nos possui a nós: Cristo, que é a Verdade, tomou-nos pela mão e, no caminho da nossa busca apaixonada de conhecimento, sabemos que a sua mão nos sustenta firmemente. O facto de sermos interiormente sustentados pela mão de Cristo torna-nos simultaneamente livres e seguros. Livres: se somos sustentados por Ele, podemos, abertamente e sem medo, entrar em qualquer diálogo. Seguros, porque Ele não nos deixa, a não ser que sejamos nós mesmos a desligar-nos d’Ele. Unidos a Ele, estamos na luz da verdade.
Do discurso do Santo Padre, o Papa Bento XVI, à cúria romana, por ocasião da apresentação dos votos de natal – 21 de dezembro de 2012. Destaques nossos.