Vaticano, Mosteiro Mater Ecclesiae: Bento XVI caminha pelos jardins acompanhado pelo seu secretário, Dom Georg Gaenswein. Foto: Francesco Grana.
Ontem, Joseph Ratzinger completou 62 anos de vida sacerdotal. Deixemos que ele mesmo recorde aquele dia (trecho de seu livro La mia vita):
“Éramos mais de quarenta candidatos, respondendo ‘Adsum‘ ao sermos chamados. Foi um radiante dia de verão, inesquecível como apogeu da vida. Não devemos ser supersticiosos. Mas quando, no momento em que o idoso arcebispo pôs as mãos sobre minha cabeça, um passarinho — talvez uma cotovia — subiu do altar-mor da catedral e cantarolou alegremente, isso foi para mim como uma palavra vinda do alto: “Que bom! Tu estás no caminho certo!”. Seguiram-se quatro semanas de verão, que foram como uma só festa. No dia da primeira missa, a igreja paroquial de Santo Oswaldo brilhou com todas as suas luzes, e a alegria que quase tangivelmente enchia o seu espaço empolgou a todos de maneira mais viva possível, em uma “participação ativa” no ato sagrado que não precisava de esforços externos. Fomos convidados para levar a “benção da primeira missa” para dentro das casas, e em toda parte fomos recebidos, inclusive por pessoas totalmente desconhecidas, com uma cordialidade como eu nunca pudera imaginar. Assim experimentei, de maneira totalmente imediata, o quanto as pessoas aguardavam o sacerdote e como esperavam pela benção que vem da força do sacramento. Aí não se tratava de minha pessoa ou da de meu irmão: o que nós, jovens ainda, poderíamos significar, por nós mesmos, para as inúmeras pessoas com as quais agora nos encontrávamos? Em nós elas enxergavam seres humanos que tinham recebido a incumbência de Cristo e poderiam trazê-lo para mais perto; assim, formou-se também de modo muito rápido, exatamente porque não se tratava de nós mesmos, um agradável relacionamento humano”.