Francisco e Gutiérrez
Como havíamos antecipado, o Papa Francisco recebeu em audiência privada, na última quarta-feira, o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, considerado o “pai” da Teologia da Libertação. A audiência informal não apareceu na agenda oficial do Pontífice e sequer uma foto foi divulgada à imprensa.
Müller, o articulador
O encontro fora solicitado por Dom Gehard Müller, recebido cinco dias antes pelo Papa Francisco. Como se viu, foi atendido prontamente pelo Pontífice. Gutiérrez estava em Roma para o lançamento da versão italiana de um livro escrito em co-autoria com Müller.
Ingênuo
Müller que, para o Cardeal Juan Luis Cipriani Thorne, arcebispo de Lima, Peru, é um “bom alemão, bom teólogo, um pouco ingênuo”. Em um programa da rádio, o Cardeal peruano ligado ao Opus Dei ainda declarou: “Minha leitura é que ele [Müller] quis se aproximar de seu amigo [Gutiérrez], a quem deseja, de algum modo, ajudar a se corrigir e se inserir na Igreja Católica”. Sarcasmo?
Rusgas do passado
Algumas língüas afirmam que Gutiérrez, de 85 anos, ingressou tardiamente na Ordem Dominicana, no fim da década de 90, simplesmente para fugir da jurisdição do então recém nomeado arcebispo de Lima, considerado conservador. Vale recordar a recente disputa entre Müller e Cipriani em torno da PUCP, quando o “guardião da fé” do antigo Santo Ofício quis interceder por seus amigos peruanos. Tudo terminou numa vexatória derrota de Müller.
Instrumentalizado
Ainda segundo o Arcebispo de Lima, a audiência concedida pelo Papa Francisco a Gutiérrez “está sendo usada” para representar a reaproximação de uma corrente teológica que provocou “dano à Igreja”. Embora o Cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, não tenha sancionado Gutiérrez, solicitou-lhe que “corrigisse dois de seus livros: ‘Teologia da Libertação’ e ‘A força dos pobres’, que — prosseguiu o Cardeal — prejudicaram a Igreja”. E finalizou o purpurado: “Se ele se corrigiu, não sei”.
Mas a realidade é cruel
Enquanto meios conservadores se esforçam para assegurar que a teologia de Francisco não é a mesma de Gutiérrez, com relatos de que o bispo de Roma recordou, há poucos dias e com certa mágoa, alguns atos passados do dominicano, perguntamos: como a opinião pública, os docentes, os bispos e padres interpretam os últimos atos de “reconciliação” para com a Teologia da Libertação? E como você, fiel bispo, sacerdote ou leigo “conservador” que nos lê, percebe o ambiente ao seu redor?
Não basta ser, é preciso parecer ser
O fato é que, quando se fala até de instâncias mais elevadas do magistério sendo raptadas pela mídia, não basta ser íntegro, é preciso parecer sê-lo. É necessário mais do que nunca publicamente evitar quaisquer sinais que favoreçam aqueles que, nas palavras do Cardeal Cipriani, causaram e causam danos à Igreja. E os sinais dados nos últimos meses vão exatamente na direção oposta.
Eles mesmos sabem disso…
Palavras do próprio Gutiérrez ao L’Osservatore Romano sobre as duas instruções da década de 80 lançadas pela Congregação para a Doutrina da Fé: “Às vezes estes textos não foram interpretados corretamente. Por exemplo, na primeira instrução se afirmava que depois seria elaborado um documento mais positivo. Uma forma de dizer que aquele era um texto negativo, que só considerava os erros. O dever do Magistério é fazer observações, embora no primeiro documento se fale da teologia da libertação de maneira muito geral. A teologia da libertação está feita de nomes e pessoas, não de idéias tiradas de seu contexto. A segunda instrução vaticana trata de compreender melhor o sentido desta teologia”.
Por isso, deixaram a “era Ratzinger” no passado
E conclui Gutiérrez, com a maior cara lavada do mundo: “Mas tudo isso pertence ao passado, porque hoje a teologia da libertação é mais conhecida e, portanto, mais apreciada que no passado”. E tudo isso no diário oficial da Santa Sé!
Libertados
As crias de Marx percebem que foram soltas das gaiolas e, enquanto alguns se dedicam lucubrar distinções sutilíssimas — que interessam apenas para tranquilizar as suas próprias consciências, já bastante anestesiadas — entre teologia dos pobres (o que quer que isso signifique) e teologia de matriz marxista, os progressistas agem livremente, ocupam ainda mais espaço, vencem uma nova batalha na guerra ideológica que travam dentro da Igreja e tornam o ar em nossos meios eclesiais ainda mais intragável. Os filhos das trevas perdem as almas enquanto nossas mentes “conservadoras”, complexadas em encontrar justificativa para tudo, discute o sexo dos anjos.
Até o Boff…
… está mais assanhado do que nunca. Se os louvores a Francisco já eram frequentes, agora ele fala inclusive de “diálogo à distância”. Por ocasião da visita do Papa ao Brasil, Boff declarou ter encaminhado, através de Dom Orani Tempesta, algum livro seu ao Papa. Chegou até a declarar que Francisco queria recebê-lo, mas não enquanto Ratzinger vivesse. Não se sabe, ao certo, a veracidade desses fatos. Contudo, em entrevista a Marco Bardazzi divulgada ontem, Genésio declarou sobre Francisco: “É muito inteligente. Não quer presidir a Igreja de maneira monárquica, mas colegialmente. Por este motivo elegeu oito cardeais de todos os continentes, que farão com ele a reforma da cúria e guiarão a Igreja colegialmente. Creio que chegou o momento, como lhe escrevi porque me pediu uma opinião […] Temos uma amiga em comum na Argentina. Eles conversam todos os domingos, se falam com freqüência. Eu lhe mando algumas coisas através dela e ele me pede outras”.