Consistório Secreto: o que aconteceu.

No Consistório secreto em que se discutiu o tema dos divorciados em segunda união e a Eucaristia, “o teorema Kasper” teve pouquíssimo consenso e muita crítica. Aqui vai uma reconstrução de algumas intervenções mais significativas e importantes. “Seria um erro fatal”, disse alguém, querer trilhar o caminho da  pastoralidade, sem fazer referência à doutrina. 

Por Marco Tosatti – La Stampa | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com – O Consistório do dia 22 de fevereiro para discutir a família deveria ter sido secreto. Mas, ao invés, da Cúpula decidiu que seria oportuno tornar pública a longa exposição do Cardeal Walter Kasper sobre o assunto da Eucaristia para divorciados em segunda união. Provavelmente, para dar uma pista sobre o que podemos esperar do Sínodo de outubro sobre a família.

Todavia, uma outra metade do Consistório permaneceu secreta: a que diz respeito à intervenção dos outros Cardeais. E talvez não por acaso, já que depois que Kasper apresentou sua longa exposição, inúmeras vozes se levantaram para criticá-lo. Tanto é assim que lá pela tarde, quando o Papa deu-lhe a tarefa de responder às muitas críticas, o tom do prelado alemão parecia menos eloquente, pra não dizer aborrecido.

A opinião corrente é que o “teorema Kasper” tende a garantir que os divorciados em segunda união possam ser readmitidos à recepção dos Sacramentos sem que o matrimônio anterior tenha sido declarado nulo.

Atualmente isso não ocorre, pois tal doutrina tem como base as palavras de Jesus que são muito severas e explícitas sobre o divórcio. Quem tem uma vida matrimonial completa sem que o primeiro casamento tenha sido considerado inválido pela Igreja, de acordo com a doutrina atual, se encontra em uma situação permanente de pecado.

Nesse sentido, falaram claramente o cardeal de Bolonha, Caffara, bem como o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o alemão Mueller. Igualmente explícito foi o Cardeal Walter Brandmuller (“Nem a natureza humana , nem os Mandamentos e nem o Evangelho tem uma data de validade… É preciso coragem para dizer a verdade , mesmo contra o costume atual. Uma coragem que qualquer pessoa que fala em nome da Igreja deve ter, se não quiser falhar em sua vocação… o desejo de obter aprovação e aplauso é sempre uma tentação na disseminação do ensinamento religioso…” e então ele tornou pública suas palavras ).

Até o presidente da Conferência dos bispos italianos, o Cardeal Bagnasco, expressou de forma crítica sua opinião a respeito do “teorema de Kasper”, bem como o Cardeal africano Robert Sarah, “Cor Unum”, que lembrou, em seu discurso de encerramento, como no curso dos séculos não faltaram questões dramáticas, divergências e controvérsias dentro da Igreja, mas que o papel do Papado sempre foi aquele de defender a Doutrina.

O Cardeal Re, um dos cabos eleitorais de Bergoglio, fez um brevíssimo discurso que pode ser resumido assim: “eu vou tomar a palavra por um momento, porque aqui estão os futuros novos Cardeais e talvez alguns deles não tenham a coragem de dizê-lo, então, eu mesmo vou dizer: eu sou totalmente contra essa exposição do Cardeal Kasper”.

O Prefeito da Penitenciária Apostólica, Cardeal Piacenza, também se opôs e mais ou menos disse: “estamos aqui agora e estaremos novamente em outubro para um Sínodo sobre a Família, e então, se queremos fazer um Sínodo positivo, não vejo por que deveríamos tocar na questão da comunhão para divorciados”. E acrescentou: “se queremos fazer um discurso pastoral, me parece que deveríamos encarar esse pan-sexualismo em voga e a agressiva ideologia de gênero que tende a minar a família como sempre a conhecemos. Isso sim seria providencial, se fôssemos ‘lumen gentium’ pra explicar em que situação nos encontramos e o que pode destruir a família”. Concluiu, em seguida, exortando a uma retomada da catequese de João Paulo II sobre o corpo, porque ela contém muitos elementos positivos sobre sexualidade, sobre o ser homem e mulher, procriação e amor.

O Cardeal Tauran, para o Diálogo Inter-Religioso, voltou ao tema do ataque à família, tendo em vista o relacionamento com o Islamismo. E também o Cardeal Scola de Milão, levantou suas preocupações teológicas e doutrinais.

Igualmente crítico foi o Cardeal Camillo Ruini, que acrescentou: “Não sei se eu prestei bem atenção, mas me parece que até agora 85% dos Cardeais se manifestaram contra a imposição desse relatório. Somando-se aqueles que não disseram nada, creio que podemos classificar seu silêncio como um sinal de que ficaram constrangidos ou envergonhados”.

O Cardeal Ruini então citou o Papa Bom, dizendo em essência: quando João XXIII fez o discurso da abertura do Concílio Vaticano II disse que poderíamos fazer um Concílio Pastoral porque felizmente a Doutrina era pacificamente aceita por todos e não havia disputas ou controvérsias nesse sentido, então poderíamos dar uma conotação pastoral sem medo de sermos mal interpretados, uma vez que a doutrina permaneceria muito clara. Se João XXIII estava certo naquele momento, enfatizou o Cardeal, só Deus sabe, pois, aparentemente, em grande parte, talvez até fosse verdade.  Mas hoje, de modo algum podemos repetir o mesmo porque a Doutrina não apenas está sendo minada, mas absolutamente combatida. Seria um erro fatal querer percorrer o caminho da pastoralidade sem fazer referência à doutrina.

Compreensível, portanto, que o Cardeal Kasper parecesse um pouco aborrecido na parte da tarde quando o Papa Bergoglio lhe permitiu responder, embora para evitar que suas contradições ficassem expostas, apenas ele teve direito à voz.

Vale acrescentar que as críticas feitas ao “teorema Kasper” estão só aumentando e, de modo privado, estendendo-se também ao Papa; e de modo público, por parte de outros Cardeais em várias partes do mundo.

Cardeais alemães, que estão familiarizados com Kasper, dizem que desde os anos 70 que ele é apaixonado sobre esse assunto. O problema apontado por vários críticos é que sobre esse assunto o Evangelho é muito explícito. E não levar isso em conta – esse é o temor – o tornaria muito instável, e moldável para qualquer outro ponto de doutrina que tem como base os Evangelhos.

13 comentários sobre “Consistório Secreto: o que aconteceu.

  1. Como pode haver tanta conversa para uma questão tão cristalina quanto o divórcio ?? Recasados vivem em adultério e ponto! Portanto são indignos de receber o Fruto do Sacrifício de Cristo na Cruz, que é a Eucaristia. Nosso Senhor tratou disso inúmeras vezes nas sagradas escrituras. Não entendo o que é difícil entender. Sua eminência, o Cardeal Kasper, devia parar de tentar transformar a igreja em um ONG de apoio a adúlteros.

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  2. E Francisco? Não teve a coragem de declarar, sem meios termos, que o teorema kapetiano estava condenado e fora de cogitação???
    É……..
    “A Igreja nunca esteve tão bem”….rsssss

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  3. Como bem lembrou o Cardeal Piacenza…”ah se fôssemos ‘lumen gentium’ pra explicar em que situação nos encontramos e o que pode destruir a família”…não estaríamos perdendo tempo e dinheiro pra discutir uma questão que Nosso Senhor Jesus Cristo já deixou mais do que definida.
    Infelizmente o atual Pontífice acha que a Igreja deve deixar de lado ” essa obsessão” com assuntos polêmicos pra anunciar a beleza do Evangelho.
    Pena que os mais de 15.000 bebês recentemente abortados e incinerados em hospitais da Inglaterra pra gerar “energia” renovável, não terão nenhuma chance de ouvir esse “evangelho da alegria” que Bergoglio anda propondo.
    Um Holocausto diante dos olhos do mundo e a única voz que ainda se levantava pra bradar contra esse crime hediondo agora se cala e prefere discutir o sexo dos anjos:
    http://www.telegraph.co.uk/health/healthnews/10717566/Aborted-babies-incinerated-to-heat-UK-hospitals.html

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  4. O Card. Bergoglio foi um dos que se calaram? 15% se mantiveram calados! Ainda há cardeais que aprovam isso ou se omitem nessa hora!

    Parabéns aos que se opuseram a essa insanidade.

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  5. O Senado da Igreja refuta Kasper. O Papa deseja um diálogo aberto, sincero, honesto e real entre os Cardeais, por isso permitiu que o prelado alemão apresentasse sua tese absurda. Eu diria que o Colégio dos Cardeais não ficará calado no Sínodo, de tal forma que o teorema Kasper virará embrólio pastoral em outubro.

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  6. Não sei não…

    Muitas teses que pareciam absurdas à maioria dos Padres Conciliares acabaram sendo aprovadas no CVII.

    A questão não é saber se a maioria é ou não contrária à tese absurda defendida por Kasper. A questão é saber se esta maioria estará devidamente articulada para rechaçar esta verdadeira traição a Nosso Senhor Jesus Cristo.

    Pois parece-me que a esquerdalha “católica” da Europa Central já está articuladinha e pronta para nos enfiar goela abaixo mais uma revolução na Igreja.

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  7. Francisco avala los errores de Kasper, y lo admira. Ojalá tenga mucha resistencia de los Cardenales, para así no poder llevar nada de eso a la práctica. El es astuto, tantea el panorama… pero no creo que quiera ponerse a los Cardenales en contra.
    Dios nos libre de los herejes y apóstatas.

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  8. Para mim, o mais preocupante não é nem tanto o teorema kasper, mas o apoio que ele recebeu do Papa Francisco diante de todo o colegiado dos cardeais e perante o mundo. Só para recordar:

    “O Papa Francisco surpreendeu os cardeais de todo mundo, na sexta-feira, reunidos no Vaticano, aplaudindo sem reservas a apresentação introdutória de duas horas realizada pelo Cardeal Walter Kasper, no dia anterior, que propõe admitir à Eucaristia alguns divorciados que voltaram a se casar e que cumpram requisitos muito específicos.

    Com bom humor, o Papa revelou aos 150 cardeais que “ontem à noite, voltei a ler — mas não para dar sono! — o trabalho do Cardeal Kasper, e queria agradecê-lo porque encontrei teologia profunda e pensamento sereno. É agradável ler teologia serena”.

    Para rubor do Cardeal alemão, prestigioso professor em Tubinga e Münster antes de vir a Roma se encarregar do Ecumenismo durante uma década, o Papa disse que sua apresentação “me fez muito bem, e me trouxe à mente uma idéia… Perdoem-me se o ruborizo, mas a idéia é esta: isto se chama fazer teologia de joelhos. Obrigado, obrigado”.

    Não há dúvida que o episódio causou uma revolta pública entre alguns cardeais e uma certa confusão em toda a Igreja mundo a fora.

    Será que já estamos diante do que foi previsto pela Santíssima Virgem Maria: “Cardeais se levantarão contra cardeais e bispos contra bispos”?

    Ao que parece, os mesmos cardeais que boicotaram o papa Bento XVI, terão agora que enfrentar uma situação bastante grave, na medida em que o novo papa, por eles escolhido, demonstra que realmente está bem disposto a apoiar certas teologias heterodoxas que abalam o depósito da fé nas suas estruturas mais sólidas. Em suma, aquele que deveria confirmar a fé, está favorecendo a confusão, ainda que as suas intenções sejam apenas de implantar o “evangelho da alegria”.

    Talvez os cardeais tenham mesmo que pagar bem caro por terem desprezado a proposta da reforma da reforma desejada por Bento XVI.

    De todo modo, creio que não é salutar ficar apenas disparando contra todo mundo que está no erro.
    Antes, é preciso se converter seriamente e rezar muito, principalmente por aqueles a quem foi confiado o governo da Santa Igreja.

    Que Deus tenha misericórdia de todos nós!

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  9. “A questão é saber se esta maioria estará devidamente articulada para rechaçar esta verdadeira traição a Nosso Senhor Jesus Cristo.”…

    Uma coisa é certa, frater, a maioria de agora não é como a maioria na época do Concílio, graças a Deus, que foi pega de calça curta…Sobretudo havia não tanto uma maioria bem articulada, mas, uma minoria endolarada $$$$$$$$$, além de totalmente embebida na mais pura “nova teologia” que tinha sido rechaçada por Pio XII; não foi a toa que esse Papa, realmente o Papa Angélico, não quis abrir um Concílio.

    Quando a minoria viu o tsunâmi que se armava e se preparava para tudo jogar por terra, foi tarde…

    Francisco não está, de maneira nenhuma, disposto a causar um cisma claro na Igreja, pois o cisma silencioso já existe há tempos…

    Tem algumas Dioceses em que os padres são aconselhados pelo Bispo a dar comunhão, dependendo do caso e da consciência aos amasiados de primeira, segunda e quantas uniões viverem… O Bispo ainda pede, descaradamente, que os padres nem perguntem a ele o que fazer quando souberem que mesmo terá que dizer não, mesmo querendo dizer sim, para não cair nas garras de Roma, quanto mais que já estão no fim de linha e querem por querem fazer seu sucessor, coisa meio difícil até ano passado, mas agora…tudo mudou…os ares em Roma estão mais “amenos”, mais pestíferos, mas sem quem os soprem para os quintos dos infernos, de onde nunca deveriam ter saído…

    O tal d. Angélico Bernardino, a mais pura fina flor da tl arniana de SP, já aceitou um debate nesta mesma cidade sobre o Papa Francisco…Imagine o que sairá….É capaz de propor a canonização de Francisco ainda vivo….

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  10. “ontem à noite, voltei a ler — mas não para dar sono! — o trabalho do Cardeal Kasper, e queria agradecê-lo porque encontrei teologia profunda e pensamento sereno. É agradável ler teologia serena”.
    “o Papa disse que sua apresentação “me fez muito bem, e me trouxe à mente uma idéia… Perdoem-me se o ruborizo, mas a idéia é esta: isto se chama fazer teologia de joelhos. Obrigado, obrigado”.
    Alguém pode duvidar, em SÃ CONSCIÊNCIA, da HETERODOXIA desse Papa???
    Que ele é o Papa legítimo, não duvido, mas, que o calvário da Igreja se tornou 1000 vezes mais atroz a partir de 2013, só nega quem é tolo ou se faz de bobo; e não venham me dizer que sou da FSSPX que não sou, nem que só estes é que estão vendo a derrocada que esse Papa está causando à Igreja.
    O CATÓLICO fiel a Deus, a si mesmo, que conhece um pouquiiiiiiinho da DOUTRINA dessa mesma Igreja está vendo os descalabros que o Papa atual tem soltado ( pra não falar coisa pior, menos respeistosa) pela boca a fora…
    Se como disse seu secretário particular, o Papa Bento está bem, imagino este lendo essa teoria kapetiana e os louvores do seu sucessor a essa loucura; não terá se arrependido de ter deixado o leme da Barca de Pedro???
    Rezemos…………………………..
    “São Pedro, rogai por nós!

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