Chegou o tempo?

Por Pe. David Francisquini

A mídia tem sido pródiga em divulgar declarações do ex-presidente do Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o cardeal Walter Kasper, de 81 anos. Ele acaba de apresentar mais uma proposta escandalosa: a admissão na comunhão eucarística de divorciados que tenham contraído novas uniões.

O que a doutrina católica ensina a respeito? São Paulo deixa claro: a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, repreender, corrigir e formar na justiça. E a Igreja ensina que o casamento é indissolúvel nas dores e nas alegrias, no luto e nas dificuldades, nas vitórias e nas derrotas, nos reveses e nas bonanças, nas desilusões e nas esperanças.

Aos efésios confirma São Paulo o Gênesis: o que Deus uniu o homem não separe. O homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher e serão dois em uma só carne. Ficam excluídos da Eucaristia aqueles que estão em aberta violação da Lei de Deus. A Igreja não pode abrir as portas deste Sacramento aos cônjuges que violem ensinamentos multisseculares, pois eles próprios é que resolveram viver em situação irregular, abandonando com isso a frequência dos sacramentos.

Já aos Coríntios, ao ensinar as condições para a Comunhão Eucarística, São Paulo aponta o dever de se encontrar em estado de graça, pois quem o fizer indignamente come e bebe a própria condenação. A Igreja especifica as condições para o acesso à Eucaristia, a fim de que os fiéis a recebam com frutos. Nenhuma autoridade humana pode abrir seu acesso àqueles que vivem de maneira irregular, pois aproximar-se deste Sacramento em pecado mortal constitui sacrilégio, profanação do Corpo de Cristo.

Ninguém pode ensinar algo diferente do que foi sempre ensinado, afirma a tradição. São Paulo adverte: “Ainda que alguém — nós ou um anjo baixado do céu — vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema.” O que dizer de um eclesiástico que ensina e propõe o contrário daquilo que o Magistério sempre ensinou? Santo Afonso de Ligório afirma, com base nas Sacras Letras, que é de fé que os impudicos, os impuros e os fornicadores não possuirão o Reino dos Céus.

A iniciativa do cardeal Kasper de tentar liberar a Comunhão Eucarística aos recasados acabará por envolver a instituição familiar numa crise sem precedentes, pois diz respeito aos fundamentos de nossa religião. Essa crise será também a ruína de muitos que deveriam pregar a boa doutrina. A vida matrimonial e familiar é sustentada pelos princípios, convicções e certezas oriundos da Fé, e tudo o que se constrói sobre o sentimentalismo não passa de edificação fantasiosa.

Cumpre encontrar soluções para que os recasados se afastem do mau caminho, e não subterfúgios para abalar ainda mais os já tênues laços familiares, como propõe o cardeal Kasper. São Paulo recomenda: “Prega a palavra, insiste, quer agrade, quer desagrade; repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina. Porque virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas contratarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir. E afastarão o ouvido das verdades para abrirem às fábulas.”

Terá chegado esse tempo? — Para o referido cardeal, expoente do progressismo, parece que sim…
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(*) Pe. David Francisquini, Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria — Cardoso Moreira (RJ).

Fonte: Blog da Família

44 comentários sobre “Chegou o tempo?

  1. “Esses tais são falsos apóstolos, operários desonestos, que se disfarçam em apóstolos de Cristo, o que não é de espantar. Pois, se o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz,parece bem normal que seus ministros se disfarcem em ministros de justiça, cujo fim, no entanto, será segundo as suas obras.”

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  2. Escandalosos os tempos! A Palavra, como assevera Pe. Francisquini, é uma só. Tergiversar, aplicar subterfúgios, procurar soluções mundanas em desacordo com o Magistério, constituem táticas do Demo, como as que tentou a Nosso Senhor Jesus Cristo, pronta e efetivamente repelidas.
    Cabe a nós, depositários da Revelação, também repeli-las, de forma enérgica e contundente.
    Lamentável que altos dignitários ( príncipes ) da Santa Igreja prestem-se a papéis que desonram o múnus e causam confusão entre o Povo.

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  3. “Estai de sobreaviso, para que ninguém vos engane com filosofias e vãos sofismas baseados nas tradições humanas, nos rudimentos do mundo, em vez de se apoiar em Cristo.”

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  4. O Padre David foi o unico junto com o Monsenhor Villac, que escreve na revista catolicismo a nunca celebrarem a missa paulo VI.

    Padre David foi expulso de sua paroquia pelo bispo que pediu reintegração de posse na justiça e seus paroquianos construíram a Igreja que hoje é de sua propriedade ( peço desculpas por alguma imprecisão pois lí este fato há muitos anos em uma revista catolicismo antiga).

    Ontem por acaso comprei o livro de orações do fiel católico do padre David e aconselho aos leitores a fazerem o mesmo.

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  5. A palavra chave de toda essa crise, chama-se “ECUMENISMO”. Segundo o padre argentino Ernesto Cardoso, este cardeal Walter Kasper sempre teve muita influência no alto escalão do Vaticano. Ele é uma daquelas formiguinhas que ninguém vê, mas que consegue mexer os pauzinhos para que as coisas caminhem na direção de uma única religião global. Em outras palavras, é um herege com pele de cordeiro.

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  6. A parábola de Jesus sobre os vinhateiros homicidas é, hoje mais do que nunca, apropriada ao que está vigorando na ex-Igreja Católica:” A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se pedra angular. Isto é obra do Senhor, e ela é admirável aos nossos olhos”(Mc 12, — 10-11, aludindo ao Sl, 117, 22-23). Logo, o que está acontecendo (é apenas o começo) está inserido no plano global de Deus Onipotente. É um sinal claro (para quem quiser ver) que está próximo o retorno de Jesus, na Glória. Rezemos pois, como jaculatória, aquele pedido do Pai nosso:”Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu”, que – a meu ver – é a síntese de toda a obra de Deus.

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  7. Realmente, os tempos finais chegaram! A CRISTOFOBIA é constatada em todas as áreas: seja no campo religioso (modernismo….), seja na seara do conhecimento humano. Senão, vejamos:
    O Conselho de Psicologia do Paraná decidiu cassar registro profissional de Marisa Lobo.
    Motivo: por sua fé cristã e por defender a cura do Gay.
    Até na escalação da seleção brasileira de futebol (não convocação do goleiro Fábio, do Cruzeiro, por ser cristão autêntico, considerado o melhor goleiro do país,)… aliás, disse o técnico Felipão:
    – ”Eu vou com eles até o INFERNO”. E quem sou eu para negá-lo?
    Sinais dos tempos!

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  8. Não meu caro padre!! O prurido de escutar novidades e ajuntar mestres para si é uma doença que São Pio X descreve claramente na Pascendi como uma das causas do Modernismo e que sinto muito informar, mas não começou com o Vaticano II.
    Podemos dizer que o Vaticano II foi a metástase de um câncer que teve início há muito tempo atrás e que São Pio X tentou combater com quimioterapia pesada.
    Infelizmente depois de Pio X, a Igreja só teve pastores néscios que descuidaram do mal achando que a Igreja era imune a ele ou que lançaram a Igreja por caminhos que só fizeram agravar a doença.
    O que levou o Papa Pio IX a convocar o primeiro Concilio Vaticano foi exatamente a crescente proliferação de idéias heterodoxas e vagas sobre a natureza da Igreja. Numa das sessões dos Bispos em 1870, ele declarou:

    “Nós ensinamos e declaramos que a Igreja possui todas as marcas de uma sociedade verdadeira. Cristo não deixou essa sociedade sem uma forma estabelecida. Com efeito, Ele mesmo deu a ela sua existência e Sua vontade é determinada em todas as suas constituições. Ela é tão perfeita em si mesma que se torna distinta de todas as demais sociedades existentes e está acima de qualquer sociedade humana”.

    Quando Pio XII saiu com esse conceito de “Corpo Místico de Cristo”, ali houve uma mudança radical de paradigma que muitos até hoje não se dão por conta.
    Esse conceito de Igreja como “Corpo Mistico” já havia sido apresentado aos padres do Concilio Vaticano I e foi rejeitada por ser “confusa, ambígua, vaga e inadequadamente biológica” . Além do mais, reduzia o Deus Transcendente a um Deus Imanente.
    Sem essa sutil redução como base para novas atitudes, a aceitação, vinte anos mais tarde, das mudanças radicais do Vaticano II seriam inimagináveis. A reforma litúrgica começou já no Pontificado de Pio XII e os próximos Papas do Concílio também eram colaboradores diretos de Pio XII.
    O conceito de “corpo místico” diviniza o homem naquela mesma linha maçônica da “centelha divina que habita em cada um de nós”. E foi seguindo essa linha que Paulo VI declarou no Natal de 1960:
    _ Vocês estão procurando por Deus? Vocês o encontrarão no homem.

    A verdade é que até o mais liberal teólogo admite que a encíclica de Pio XII “Mystici Corporis” deu origem a uma nova disciplina na Igreja: a eclesiologia.
    O termo eclesiologia até 1943, significava apenas o estudo da arquitetura e arqueologia da Igreja. A nova disciplina significa agora o “estudo de como a Igreja vê a si mesma”. E isso abriu uma lata de vermes da pior espécie: os teólogos progressistas.
    Foram eles que arquitetaram o Vaticano II e era preciso que um Concílio fosse convocado por sua autoridade máxima para recolher a assinatura dos Bispos do mundo inteiro. Era necessário que os Bispos do mundo inteiro ratificassem as idéias desses vermes para que essas fossem impostas com autoridade à Igreja como um todo. Muitos assinaram sem nem saber o que estavam assinando. Só mais tarde se deram por conta do estrago!
    Por mais de um milenio não houve na Igreja tal disciplina, simplesmente porque não era necessária.
    A Igreja Católica Romana sabia o que ela era e o mesmo pode se dizer de sua hierarquia, clero e fiéis.
    Padre Dulles escreve que assim que saiu essa encíclica, da noite para o dia os novos “eclesiologistas” estavam a todo vapor se perguntando:

    “Seria esse “Corpo Místico pura comunhão na graça ou estrutura visível”? Quem sabe “Povo de Deus” não seria mais apropriado? Para o Dominicano Francês, Yves Congar, “Povo de Deus” era muito monopolístico, seria melhor chamar a Igreja de “Mistério”. Mas para o Jesuita De Lubac, a Igreja deveria ser chamada “Sacramento” já que se “Cristo é o Sacramento de Deus, então a Igreja é o Sacramento de Cristo”.
    Então os colaboradores do Concílio, alguns que nem Católicos eram, como o calvinismo Dietrich Bonhbffer, foram mais além, sugerindo que a Igreja fosse chamada de “Serva”….que tivesse uma função de serviço, no mesmo estilo bergogliano de “hospital de campanha” que lava os pés até de quem nem Católico é.
    Padre Dulles admite:

    “A Igreja contemporânea está sendo sacudida por uma constante mudança de paradigmas. E é por isso que estamos diante do fenômeno das polarizações, da incompreensão mutua, da incapacidade de nos comunicar, frustração, desânimo e por fim indiferença. Quando o paradigma muda, é como se tivessem puxado o chão debaixo dos nossos pés. Não é possível adotar a nova linguagem sem adotar uma nova série de valores que são contrarios a tudo que acreditamos. Nos encontramos gravemente ameaçados em nossa serenidade espiritual”.

    Essa hierarquia que foi alimentada com o veneno desses teólogos heréticos ainda tem a cara-de-pau de, “em nome de uma suposta “Unidade dos Cristãos”, destruir o que ainda tem aparência de Católico na Igreja.
    A esses de hoje, se faz mais do que atual o protesto que o escritor italiano Tito Casini escreveu denunciando o seu Bispo, o Cardeal Lercaro de Bolonha, que era também o responsável pela Comissão Pontifícia para a Liturgia:

    “Vocês fizeram o que nem os soldados Romanos ao pé da cruz, tiveram a ousadia de fazer. Vocês rasgaram a túnica inconsútil, aquele elo de unidade que unia os cristãos, do passado, presente e futuro e a reduziram aos mulambos”.

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  9. Prezada Gercione Lima.

    Salve Maria.

    Os seus comentários valem como verdadeiros artigos. Essa do “corpo místico de Cristo” de Pio XII que você diz, se for realmente verdade (não estou dizendo que você está mentindo/inventando), caiu como um bomba para mim! Eu jamais poderia imaginar que tal expressão, só pelo motivo de ter sido usada de maneira oficial (ou criada?) por Pio XII, poderia ser perigosa (não estou de ironia também). Até os melhores, como Pio XII, podem cometer erros.

    Salve Maria.

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  10. Discordo de Gercione Lima sobre os Papas “néscios” pós-São Pio X, pois o Papa Pio XI fez importantes encíclicas condenando o internacional-socialismo (marxismo-leninismo) e as suas variações posteriores como o Fascismo e o Nacional-Socialismo (nazismo). Pio XI via e denunciava o que os governantes das outras nações ignoravam ou apoiavam.

    Sobre Bento XV, admito conhecer pouco seu Papado e não vou opinar.

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  11. Comunhão (= COMUM + UNIÃO) é a união dos que estão “ligados” ao que nos fornece a VIDA!
    Quando DOIS, ou mais, estiverem unidos EM MEU NOME (ou seja: CONFORME O MEU “conceito” de UNIÃO), EU ESTAREI NO MEIO DELES (ou seja: SEREI e FAREI PARTE DESSA UNIÃO).
    Portanto: para estar UNIDO, em COMUNHÃO (ou ESTADO DE GRAÇA), não posso estar desunido, separado, desligado da FONTE que fornece a VIDA, pois, ao contrário, estarei celebrando a minha própria MORTE (separação da VIDA).
    No Jardim do Éden, Adão “separou-se” voluntariamente e voluntariamente PRECISAMOS nos re-UNIR ao nosso Criador.
    Sendo o desafeto, ou desamor, o ÚNICO “fruto” proibido que nos “condenou” e nos condena, até hoje, para FORA do que seria a nossa VIDA de perfeição!
    H.MALOZZI.

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  12. Prezado Ferreti, salve Maria.

    Por favor, suplico-lhe por amor a Cristo, a Igreja, a verdade e a Pio XII: remova estas palavras medonhas ditas pela Gercione caluniando Pio XII e colocando-o no mesmo balaio de gato dos hereges modernistas que fizeram o Vaticano II.

    Por favor, exclua este comentário monstruoso dela. Isso não é censurá-la, mas é tomar justo cuidado para não profanar o nome de um papa extremamente digno como foi Pio XII.

    Veja que o Júnior já comentou algo como que ela talvez pudesse ter razão, embora as palavras dele tenham sido certeiras: só porque Pio XII usou determinada expressão isso o faria colaborador dos hereges? Mas nem todos podem ser centrados como o Júnior, a juventude pode comprar o discurso dela e passar a crer que tínhamos um modernista na cátedra de Pedro na década de 1950.

    Faria me rir a presunção da moça, que fala pelos cotovelos, caso ela não estivesse atentando contra o oitavo mandamento.

    Sandro de Pontes

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  13. Aos que acham que eu estou “denegrindo” a memória de Pio XII, eu aconselho que leiam o livro de Mary Ball Martinez: “The Undermining of the Catholic Church”.
    A autora desse livro é uma jornalista que foi membro do Corpo de Imprensa do Vaticano por 25 anos, cobriu cinco Sínodos, dois Conclaves, duas eleições papais e dois funerais pontificais. Profunda investigadora dos Arquivos do Vaticano, teve acesso aos arquivos que foram abertos para isentar Pio XII das acusações de anti-semitismo.
    O livro se encontra online em inglês , arquivo em PDF pra quem quiser baixar, ler ou imprimir:

    Clique para acessar o UnderminingOfTheCatholicChurch.pdf

    O que eu disse antes, está claramente documentado por Mary Ball Martinez. Façam o dever-de-casa e leiam, antes de rasgar as vestes por aquilo que desconhecem.
    Eu já tive muita discussão acirrada com sede-vacantistas que tendem a idolatrar Pio XII como o último Papa verdadeiro, porque não sabem absolutamente nada a respeito da revolução que tomou conta da Igreja no último século e muito menos sobre quem foi Eugenio Pacelli, Giacomo Della Chiesa, Angelo Roncalli e Giovanni Battista Montini.
    Esses ingênuos pensam que o Vaticano II foi como a revolução protestante de Lutero. Uma ruptura abrupta. Ignoram ou fingem ignorar que a coisa vem de longe!
    Mary Ball Martinez escreve:

    […] Em comparação com o caos que se seguiu no Pontificado posterior, o reinado de Pio XII se parece aos olhos dos conservadores de hoje como um tempo em que tudo ia às mil maravilhas na Igreja. Exceto por rumores ocasionais a respeito de algumas experiências litúrgicas na Bélgica e na França, a Igreja parecia unida em doutrina e rito, segura em seu Magistério e aquele Magistério firme na figura austera do Papa Pacelli.
    Magro e altivo ele fazia seus pronunciamentos num melodioso italiano de incomparável dignidade. Era uma época em que oitenta por cento dos Católicos Americanos frequentavam regularmente as missas dominicais numa atmosfera de absoluta certeza[…]
    Mas foi precisamente naqueles anos em que a fé parecia florescer que o Papa, que veio a ser conhecido como “Pastor Angelicus”, tendo Padre Montini como seu braço direito, estava favorecendo mudanças tanto na doutrina como na praxis que deixariam o edifício da Igreja balançando.
    Passo a passo os dois estavam se movendo em direção a um Concílio que seria a solução final para aquelas mutações.
    Enquanto a destruição do Catecismo poderia ser considerado o mais difícil golpe para o fiel digerir, a subversão da liturgia o afetaria num grau incomparavelmente maior. No início de 1947, Papa Pacelli, em consulta com acadêmicos da Universidade de Louvain e um grupo de avançados neo-liturgistas de Paris, organizou uma comissão para uma completa reforma da Sagrada Liturgia.
    Para secretário dessa comissão ele escolheu a dedo um padre de 35 anos de idade que mais tarde veio a se tornar Monsenhor Annibale Bugnini. Elominar todos os resquícios de “romantismo” do antigo Missal se tornou a prioridade máxima de Padre Bugnini e seu grupo de periti.
    Que o Papa Pio XII tenha dado uma importância enorme aos trabalhos dessa comissão, está bem claro na auto-biografia de Bugnini quando ele se tornou mais tarde Arcebispo:

    “Nós gozávamos da total confiança de Pio XII, o qual era informado a respeito de nossos trabalhos por Monsenhor Montini e por sue confessor Padre Bea. Graças a esses intermediarios, nós conseguimos marcantes resultados, mesmo nos tempos em que a doença do Papa impedia que se pudesse encontrá-lo pessoalmente”.

    Se não fosse pelo apoio entusiasmado do Papa é bem provável que as mudanças litúrgicas de peso sequer teriam sido tentadas pela tal Comissão, haja visto que os membos da Cúria e da Sagrada Congregação para os Ritos eram totalmente contrários a ela. Mesmo pra se conseguir as mudanças radicais que o Papa desejava para os ritos da Liturgia Pascal foram precisos seis anos. Mas Pacelli era o Papa e sua vontade acabou prevalecendo. Finalmente em 1955, o decreto Papal Maxima Redemptionis entrou em vigor mudando as celebrações do sábado de Páscoa da manhã para tarde da noite, com uma série de variantes que já era um ensaio para a Nova Missa que seria promulgada dez anos mais tarde.
    Em muitas das cerimônias pascais planejadas por Pacelli, o padre ficaria de frente para o povo, as orações de abertura ao pé do altar e o ultimo evangelho seriam suprimidos, bem como algumas devoções da Semana Santa como o Ofício das Trevas”.

    O resto está no livro e eu estou sem tempo pra traduzir. Meu objetivo não é denegrir ninguém e sim mostrar que cabe a nós fiéis leigos e também sacerdotes nos informarmos pra que a história não se repita. O caos em que nos encontramos hoje só foi possível devido à falta de informação, comodismo, tibieza e até covardia por parte de muitos Católicos. Nossa Senhora avisou em Fátima a respeito de tudo isso e infelizmente hoje sabemos muito bem porque seus pedidos não foram atendidos.

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  14. “Infelizmente depois de Pio X, a Igreja só teve pastores néscios, etc.” Ora, se fosse verdade, então teríamos, por coerência, que desacreditar em todas as suas doutrinas. Assim, o dogma da ascensão de Nossa Senhora também seria negado. Ou pode, legalmente, um inepto, incapaz, legislar – mormente em assuntos transcendentais? Bem, certamente, podem ter cometido erros até graves, mas também não os cometeram Moisés, Davi, Salomão? Ou seriam também estes néscios? No mínimo, essa desqualificação dos aludidos pontífices foi totalmente inapropriada.

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  15. Prezado Ferreti, salve Maria.

    Posso escrever os textos refutando a moça? Ontem enviei dois, mas não foram publicados. Não chegaram aí?

    Cordialmente,

    Sandro de Pontes

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  16. Prezado Ferreti, viva Cristo Rei.

    Portanto, vamos iniciar a refutação, pois não se pode realmente permitir que Pio XII seja caluniado desta forma. E o pior é que a moça ainda insiste, meu Deus do céu. Que Deus a repreenda duramente, para que aprenda a ser mais humilde.

    Pois bem, ela escreveu:

    “(…) Quando Pio XII (sic) saiu com esse conceito de “Corpo Místico de Cristo”, ali houve uma mudança radical (sic) de paradigma que muitos até hoje não se dão por conta. Esse conceito de Igreja (sic) como “Corpo Mistico” já havia sido apresentado aos padres do Concilio Vaticano I e foi rejeitada (sic) por ser “confusa, ambígua, vaga e inadequadamente biológica” . Além do mais, reduzia o Deus Transcendente a um Deus Imanente (sic). Sem essa sutil redução como base para novas atitudes, a aceitação, vinte anos mais tarde, das mudanças radicais do Vaticano II seriam inimagináveis (sic). A reforma litúrgica começou já no Pontificado de Pio XII e os próximos Papas do Concílio também eram colaboradores diretos de Pio XII. O conceito de “corpo místico” diviniza o homem (sic, sic, sic) naquela mesma linha maçônica da ‘centelha divina que habita em cada um de nós’ (sem comentários aqui).

    É o seguinte, prezado Ferreti: BASTA LER a Misticy Corporis para compreender que, entre tantos motivos pelos quais ela foi escrita, está o de justamente explicar a maneira correta como a expressão “corpo místico” deve ser usada pelos católicos, que, inclusive, SEMPRE A USARAM, realça Pio XII. Vejamos o que ele diz sobre isso:

    58. Passamos já, veneráveis irmãos, a expor as razões com que desejamos mostrar que o corpo de Cristo, que é a Igreja, se DEVE denominar místico. Essa denominação, USADA JÁ POR VÁRIOS ESCRITORES ANTIGOS, comprovam-na NÃO POUCOS DOCUMENTOS PONTIFÍCIOS. E há MUITAS RAZÕES para se dever adotar: pois que por ela o corpo social da Igreja, cuja cabeça e supremo regedor é Cristo, pode distinguir-se do seu corpo físico, nascido da Virgem Maria e que agora está sentado à destra do Pai ou oculto sob os véus eucarísticos; pode também se distinguir, e isto é importante por causa dos ERROS ATUAIS, de qualquer corpo natural, quer físico, quer moral.

    (…)

    61. Por conseguinte esse termo BEM ENTENDIDO lembra-nos que a Igreja, sociedade perfeita no seu gênero, não consta só de elementos sociais e jurídicos. Ela é muito mais excelente que quaisquer outras sociedades humanas (38) às quais excede quanto a graça supera a natureza, quanto as coisas imortais se avantajam as mortais e caducas.(39) As Comunidades humanas, sobretudo a Sociedade civil, não são para desprezar, nem para ser tidas em pouca conta; mas a Igreja não está toda em realidades desta ordem, como o homem todo não é só corpo mortal. (40)

    Realço novamente que Pio XII ensina nesta encíclica a forma correta da utilização da expressão “corpo místico”. Ele condena o “quietismo”, que é sobre vários aspectos justamente aquilo que nossa interlocutora o acusa de favorecer. Que ela leia, por favor, a partir do parágrafo 85 para constatar isso que estou dizendo.

    E para demonstrar que as expressão sempre foi usada pela Igreja Pio XII cita a Satis Cognitum de Leão XIII, que a meu ver é a maior fortaleza que possuímos para ser usada contra o Vaticano II (junto com a Pascendi). E o que Leão XIII ensina na Satis Cognitum, prezado Ferreti? Vejamos ele usar, inúmeras vezes, a expressão “Corpo Místico” se referindo a Igreja, e isso ainda no século 19 (vou colocar em espanhol mesmo, porque não tenho a encíclica em português):

    (…) pero Cristo es uno por la unión de las dos naturalezas, visible e invisible, y es uno en las dos: del mismo modo, su CUERPO MÍSTICO no es la verdadera Iglesia sino a condición de que sus partes visibles tomen su fuerza y su vida de los dones sobrenaturales y otros elementos invisibles; y de esta unión es de la que resulta la naturaleza de sus mismas partes exteriores”.

    (…) Por eso, cuando Jesucristo habla de este EDIFICIO MÍSTICO, no menciona más que una Iglesia, que llama suya: «Yo edificaré mi Iglesia»”.

    “(…) 9. Es preciso añadir que el Hijo de Dios decretó que la Iglesia fuese SU PROPIO CUERPO MÍSTICO, al que se uniría para ser su Cabeza, del mismo modo que en el cuerpo humano, que tomó por la Encarnación, la cabeza mantiene a los miembros en una necesaria y natural unión. Y así como tomó un cuerpo mortal único que entregó a los tormentos y a la muerte para pagar el rescate de los hombres, así también tiene UN CUERPO MÍSTICO ÚNICO en el que y por medio del cual hizo participar a los hombres de la santidad y de la salvación eterna. «Dios le hizo (a Cristo) jefe de toda la Iglesia, que es su cuerpo»(21)”.

    “(…) 24 (…) también es llamada Reino suscitadopor Dios y que durará eternamente; en fin, CUERPO DE CRISTO, CUERPO MÍSTICO, sin duda, pero vivo siempre, perfectamente formado y compuesto de gran número de miembros, cuya función es diferente, pero ligados entre sí y unidos bajo el imperio de la Cabeza, que todo lo dirige”.

    E tanto Pio XII quanto Leão XIII utilizam inúmeras citações de pais da Igreja do passado para justificar a expressão “Corpo místico” como plenamente católica. Basta pesquisar nas fontes. Ou seja, somente muita falta de estudo justifica alguém afirmar aquilo que nossa interlocutora afirmou, ao repetir, sem se aprofundar, aquilo que ouviu de terceiros.

    Mas agora vem aquilo que é até mais importante, prezado Ferreti: Pio XII afirma expressamente que esta doutrina que diz que a Igreja é o corpo místico de Cristo foi revelada por ninguém mais ninguém menos do que…Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Veja:

    1. A doutrina do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja (cf. Cl 1,24), RECEBIDA DOS LÁBIOS DO PRÓPRIO REDENTOR e que põe na devida luz o grande e nunca assaz celebrado benefício da nossa íntima união com tão excelsa Cabeça, é de sua natureza TÃO GRANDIOSA E SUBLIME QUE CONVIDA À CONTEMPLAÇÃO TODOS AQUELES A QUEM MOVE O ESPÍRITO DE DEUS;

    Ora, isso está de forma claríssima nas escrituras, onde lemos em Efésios 5, 32 que a relação entre Cristo e a Igreja é um MISTÉRIO comparado ao matrimônio. E tendo a Igreja recebido esta doutrina por revelação divina, tal doutrina é infalível, infalível mesmo, como ensinou a deputação da fé do Vaticano.

    Veja esta citação que apresento para exemplificar o que digo: a Deputação da Fé, nota Dom Conrado MARTIN, combateu aqueles teólogos que dizem que devem ser cridas com fé divina somente as coisas definidas claramente pelos concílios ecumênicos nos seguintes temos:

    “A Deputação da Fé extraiu seu pensamento da Carta Apostólica do Soberano Pontífice Pio IX ao Arcebispo de Munique de 1863 [Tuas Libenter], na qual isto está escrito (ao fim da carta): ‘Pois, mesmo que se tratasse daquela submissão que deve ser prestada com ato de fé divina, NÃO SE PODERIA LIMITÁ-LA, porém, às verdades definidas por decretos expressos dos concílios ecumênicos ou dos Romanos Pontífices desta Sé Apostólica, mas seria necessário estendê-la também àquilo que é transmitido como DIVINAMENTE REVELADO pelo magistério ordinário de toda a Igreja espalhada pela terra.’ Foram essas palavras que a Deputação teve diante dos olhos quando ela definiu qual é o objeto material da fé” (MANSI LI, 224 C12 – 225 A5).

    Fonte da citação (extraída de debate entre Felipe Coelho e Dr. Arnaldo Xavier):

    https://fratresinunum.com/2013/10/13/para-debate/#comments

    Ora, Ferreti, este ensinamento da Deputação da Fé é repetido solenemente na própria Satis Cognitum, que reza para todos os católicos entenderem:

    20. Es, pues, incontestable, después de lo que acabamos de decir, que Jesucristo instituyó en la Iglesia un magisterio vivo, auténtico y además perpetuo, investido de su propia autoridad, revestido del espíritu de verdad, confirmado por milagros, y quiso, y muy severamente lo ordenó, que las ENSEÑANZAS DOCTRINALES DE ESE MAGISTERIO FUESEN RECIBIDAS COMO LAS SUYAS PROPIAS. Cuantas veces, por lo tanto, declare la palabra de ese magisterio QUE TAL O CUAL VERDAD FORMA PARTE DEL CONJUNTO DE LA DOCTRINA DIVINAMENTE REVELADA, cada cual debe creer con certidumbre que eso es verdad; pues si en cierto modo pudiera ser falso, se seguiría de ello, lo cual es evidentemente absurdo, que Dios mismo sería el autor del error de los hombres. «Señor, si estamos en el error, vos mismo nos habéis engañado» (60). Alejado, pues, todo motivo de duda, ¿puede ser permitido a nadie rechazar alguna de esas verdades sin precipitarse ABIERTAMENTE EN LA HEREJÍA, sin separarse de la Iglesia y sin repudiar EN CONJUNTO TODA LA DOCTRINA CRISTIANA?

    Isso significa o seguinte: o papa não é infalível somente quando proclama um documento ex-cátedra, mas também quando diz que determinada doutrina foi divinamente revelada. Ora, Pio XII afirma justamente isso ao dizer que a Igreja recebeu diretamente de Cristo a expressão “corpo místico”. Logo, esta é um ensinamento infalível e rejeitá-lo é cair na heresia.

    Abraços,

    Sandro de Pontes

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  17. O comentário de Sandro de Pontes esclarece bem a questão. Quanto ao meu, desculpem, havia perdido o sono e cochilei, trocando ASSUNÇÃO por ASCENSÃO.

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  18. Caro Sandro Pontes e Pedro Rocha:

    Quando eu digo NÉSCIO me refiro ao significado bíblico da palavra néscio: não tem discernimento sobre o que fazem ou falam…. imprudentes.
    Então leiam o livro pra entender onde e como eles foram “néscios” no sentido bíblico da palavra, para depois refutar, não a mim mas a própria autora se vocês forem capazes de impugnar até mesmo suas fontes.
    Eu já havia postado aqui um pouco da história da eleição de São Pio X e as circunstâncias dramáticas daquele conclave. Com a morte de Leão XIII no dia 20 de julho de 1903, Cardeal Rampolla, um “progressista” e grão-mestre da maçonaria se tornou “papável” e um dos candidatos mais cotados para a eleição.
    Fora das portas fechadas do Conclave, os protegidos de Rampolla: Monsenhor Della Chiesa, Sub Secretário de Estado e Eugênio Pacelli( futuramente Pio XII) que na época era Secretário Privado de Rampolla aguardavam ansiosamente o que seria uma boa nova pra eles: a eleição de Rampolla como Papa.
    Rampolla não foi eleito graças a Deus e ao veto de Sua Majestade Imperial FRANZ JOSEF do Império Austrio-Hungaro. Mas seu grupo nunca deixou de ter influência no Vaticano.
    Só foram neutralizados por algum tempo pelas medidas anti-modernismo colocadas em efeito por Pio X.
    Com a morte do Papa Pio X, todos eles, não apenas subiram a posições altas dentro da Igreja como trataram de ir aos poucos eliminando todas as estruturas que São Pio X criou para neutralizar os modernistas e as doutrinas estranhas que influenciavam certos círculos da Igreja.
    Para facilitar uma refutação à autora, vou transcrever para vocês alguns parágrafos interessantes com sua devida tradução do original em inglês:

    […]as Pope Paul’s good friend, the French man of letters, Jean Guitton, wrote in l’Osservatore Romano, “It was long before the Council that new forms of spirituality, mission, catechism, liturgical language, biblical study and ecumenism were proposed. It was long before the Council that a new spirit was born in the Church.”[…]

    TRADUZINDO: Como o bom amigo do Papa Paulo VI, o francês autor das cartas, Jean Guitton, escreveu no Osservatore Romano: “Foi muito antes do Concílio que novas formas de espiritualidade, missão, catecismo, linguagem litúrgica, estudo bíblico e ecumenismo foram propostos. Foi muito antes do Concílio que um novo espírito havia nascido na Igreja”[…]

    […]Jesuit theologians point to June 29, 1943 as the day of the “big bang”. Fr. Virgilio Rotondi, S.J., editorialist of Civiltá Cattólica, semi-official voice of the Vatican, was elated: “All honest men, and all intelligent men who are honest, recognize that the revolution took place with the publication of the encyclical of Pius XII, Mystici Corporis. Then it was that the groundwork was laid for the ‘new- time’ from which would emerge the Second Vatican Council.”
    As a new-time Jesuit, Fr. Rotondi in the 1970’s was naturally pointing with pride to the historical event that he and his colleagues saw as the successful culmination of agitation going on inside the Company for half a century, beginning with the Anglican convert, George Tyrell, and carrying on, ever more openly, with the bewildering fantasies of Pierre Teilhard de Chardin. […]

    TRADUZINDO: Teólogos Jesuitas apontam para o dia 29 de junho de 1943 como o dia do “big bang”. Padre Virgilio Rotondi, S.J editorialista da Civilta Cattolica, uma voz semi-oficial do Vaticano, estava exultante: “Todos os homens honestos, e todos os homens inteligentes que são honestos, reconhecem que a revolução ganhou espaço com a publicação da encíclica de Pius XII, Mystici Corporis. Foi então que o terreno foi preparado para o “novo tempo” do qual emergeria o Concílio Vaticano II.
    Como um jesuíta dos novos tempos, Padre Rotondi em 1970 estava falando com orgulho sobre esse evento histórico que ele e seus colegas viram como um bem sucedido clímax das agitações que corriam dentro da Companhia de Jesus por quase a metade de um século, começando com a conversão do Anglicano George Tyrell e levadas a cabo mais abertamente com as fantasias desconcertastes de Pierre Teillard de Chardin.

    […]Fellow Jesuit Avery Dulles explains the nature of the explosion. “Until June 1943 the juridical and societal model of the Church was in peaceful possession but then it was suddenly replaced by the mystical body concept.” The designation was not new. It had been presented to the Fathers of the First Vatican Council seventy years earlier. They had rejected it out of hand on the grounds that it was “confusing, ambiguous, vague and inappropriately biological”.[…]

    TRADUZINDO: O colega Jesuita, Padre Avery Dulles explica a natureza da explosão:
    “Até junho de 1943, o modelo jurídico e social da Igreja se encontrava em posse pacífica, mas subitamente foi substituído pelo conceito de corpo místico. A designação não era nova. Já havia sido apresentada aos padres do Primeiro Concílio Vaticano setenta anos anteriormente. Eles rejeitaram-na como fora de mão, alegando que era “confusa, ambígua, vaga e inadequadamente biológica”.

    […]Rarely found in Catholic writing prior to 1943 and not at all as an image of the Church in the liturgy, the phrase “body of Christ” meant for St. Paul simply the Christians of his time. Three centuries later St. Augustine used the Pauline term, adding to the “body” all the just since Abel. For St. Thomas Aquinas the words signified “living Catholics in the state of grace”. Apparently what inspired Pius XII to give quasi canonical status to the term, elevating it to “mysti- cal”, were the writings of a contemporary, Emile Mersch. By-passing objections voiced at the first Vatican Council, this Belgian Jesuit presented a new concept by identifying the Church with the human body, adding to it, as the encyclical would, two Persons of the Blessed Trinity. In the analogy Our Lord is taken as the head, popes and bishops the bones and ligaments, the Holy Ghost the life force. Although difficult to find in print today, a considerable number of theologians in 1943 are known to have echoed the protests of Vatican I, pointing to a departure from reality in the divination of the Church and the unsuitability of the biological references.
    Should the boast of the neo-Jesuits of Civiltá Cattólica that the Pacelli encyclical opened the way to Vatican II appear far-fetched, consider the fact that until then the Magisterium had insisted that God was God and that we were His creatures, Christians among us the group or body of Christ. The body Pius XII envisioned must be capitalized and raised to mystical status, since he declared it contained God the Son and God the Holy Ghost.
    Why did the still-orthodox Council fathers of 1870 reject this arbitrary new arrangement of God and man? Because it reduced the transcendent God to the immanent God, the ancient heresy. Without that reduction as a basis for new attitudes, the acceptance, twenty years later, of radical change would have been unthinkable. The mystical body concept divinizes men in line with the false promise Masonry has always offered. Masonic writing is full of references to “the divine spark that is in each one of us”.[…]

    TRADUZINDO: Raramente encontrado em escritos Católicos antes de 1943 e de forma alguma como uma imagem da Igreja na liturgia, a frase ” corpo de Cristo” significava para São Paulo apenas os Cristãos do seu tempo. Três séculos mais tarde Santo Agostinho usou o termo Paulino, adicionando ao “corpo” todos os justos desde Abel. Para São Tomás de Aquino as duas palavras significam ” os Católicos que vivem em estado de graça.”
    Aparentemente, o que inspirou Pio XII a dar status quase canônico ao termo, elevando- o a “Místico” foram os escritos de um contemporâneo, Emile Mersch que contornava as objeções manifestadas no Concílio Vaticano I. Esse Jesuíta belga apresentou um novo conceito ao identificar a Igreja com o corpo humano, acrescentando-lhe, como faz a encíclica, as duas Pessoas da Santíssima Trindade. Na analogia Nosso Senhor é tomado como a cabeça, papas e bispos os ossos e ligamentos, o Espírito Santo a força da vida. Embora seja difícil de encontrar os registros nos dias de hoje, é sabido que um número considerável de teólogos, em 1943, fez ecoar os protestos contra essa concepção no Concílio Vaticano I, apontando para uma ruptura com a realidade da divinização da Igreja e para a inadequação das referências biológicas.
    Será que os Jesuítas da Civiltá Católica que se gabavam da encíclica de Pacelli ter aberto o caminho para o Vaticano II, não deveriam também considerar o fato de que até então o Magistério da Igreja sempre insistiu que Deus é Deus e que nós somos apenas suas criaturas, os cristãos entre nós, o grupo ou corpo de Cristo?
    O corpo imaginado por Pio XII deve ser capitalizado e elevado ao status místico, uma vez que ele declarou que continha Deus Filho e Deus Espírito Santo.
    Por que os padres ainda-ortodoxos do Concílio de 1870 rejeitaram esse arranjo arbritrário de Deus e dos homens? Porque ele reduzia o Deus transcendente ao Deus imanente, uma antiga heresia. Sem essa redução, como base para novas atitudes, a aceitação, vinte anos depois, de uma mudança radical teria sido impensável. O conceito de corpo místico diviniza o homem naquela linha da falsa promessa que a Maçonaria sempre ofereceu. Os escritos maçônicos estão cheios de referências à ” centelha divina Isso está em cada um de nós.”

    […]In the hope of making the seemingly incredible not only credible but obvious, this study will ignore the Second Vatican Council as a cause and treat it as an effect, the inevitable effect of a dedicated, single-minded line of action begun decades before John XXIII called the bishops of the world to assemble. His summons will be seen not so much as a call for consultations as a demand for signatures. With many of the transformations already in place and many of the others well worked out on paper, John’s welcome to the long, slow procession of high-mitred prelates on that October morning in 1962 will be seen as the fulfillment of an extended, persistent undertaking.
    In perspective, the Council appears to have been a bringing of the hierarchy to Rome in order to show them what was already happening, to give them the satisfaction of a very limited amount of participation and then to exert strong moral pressure on them to put their names to each and every document emerging from the skillfully managed deliberations. Signatures were of the greatest importance, giving as they would, credibility to the transformations, thus making it easier for the bishops to face their flocks when they returned with a bag full of novelties.[…]

    TRADUZINDO: Na esperança de fazer o aparentemente incrível não só credível mas óbvio, este estudo irá ignorar o Concílio Vaticano II como uma causa e tratá-lo como um efeito, ou seja; o efeito inevitável de uma bem dedicada e obstinada linha de ação que começou décadas antes de João XXIII convocar todos os bispos do mundo para o evento. Sua convocação será vista não tanto como um chamado para consultas mas como uma demanda por assinaturas. Com muitas das transformações já em curso e muitas outras já esquematizadas no papel, as boas vindas do Papa João à longa e lenta procissão de prelados mitrados naquela manhã de outubro em 1962 será vista como o cumprimento de uma extensa e persistente empresa.
    Em perspectiva, o Concílio parece ter sido convocado para trazer a hierarquia à Roma, a fim de mostrar-lhes o que já estava acontecendo, para dar-lhes a satisfação de uma bem limitada participação no processo e, em seguida, exercer uma forte pressão moral sobre eles para que colocassem seus nomes em todo e qualquer documento que emergisse das deliberações habilmente geridas. Assinaturas eram da maior importância, pois dariam credibilidade às transformações e tornaria mais fácil para os Bispos enfrentar os seus rebanhos, quando voltassem para suas dioceses com um saco cheio de novidades.

    […]That the Second Vatican Council is the point of departure for so many commentators is understandable. While a look at events of earlier years would make it easy for them to pick up the strands of change, it would also mean having to confront the figure of Eugenio Pacelli, Pope Pius XII, a discomforting prospect for liberal and conservative alike. For the Left, with the passage of the years, if not in his lifetime, Pacelli is an arch-conservative, sadly unenlightened and probably anti-Semitic. For the Right, at this distance, a saint. In both cases his life and work havecome to be overlaid with pious and impious myth.
    Probably no pope in history has been as misunderstood. He has been revered and scorned, loved and hated for all the things he never did and never was. No pope in history did as much to change the Church; yet Catholic conservatives look on him as the last firm pillar of orthodoxy. No pope in history ever did as much for the Jews; yet Jewish writers continue to accuse him of indifference to their fate. No pope did as much to oblige the Marxists; yet he is hailed in the West as an anti-Communist hero of the Cold War.[…]

    Que o Concílio Vaticano II seja o ponto de partida para muitos comentaristas é compreensível. Enquanto uma olhada nos eventos de anos anteriores tornaria fácil para eles pegar o fio da meada das mudanças, isso significaria também ter que confrontar a figura de Eugenio Pacelli , o Papa Pio XII, e essa é uma perspectiva que é desconfortável tanto para liberais como para conservadores. Para a Esquerda, com o passar dos anos, se não por toda sua vida, Pacelli sempre foi visto como um ultra conservador, ignorante e, provavelmente, anti- semita. Para a Direita, de longe um santo. Em ambos os casos sua vida e obra aparecem revestidas com um mito tanto de piedade como impiedade.
    Provavelmente nenhum papa na história da Igreja foi tão mal interpretado. Ele tem sido reverenciado e desprezado, amado e odiado por todas as coisas que ele nunca fez e nunca foi. Nenhum papa na história da Igreja fez tanto para mudar a Igreja; no entanto Católicos conservadores olham pra ele como o último pilar firme da ortodoxia. Nenhum Papa na história da Igreja fez tanto pelos judeus; no entanto autores judeus continuaram a acusá-lo de sua indiferença pela sua sorte. Nenhum prelado fez tanto para acomodar os marxistas; no entanto, ele é aclamado no Ocidente como um herói anticomunista da Guerra Fria.

    CONCLUINDO: Leiam o livro antes de rasgarem as vestes e espernearem por aquilo que vocês ignoram. Sejam humildes e busquem a verdade histórica porque a verdade liberta. O livro é de uma autora tradicionalista e como ela só posso dizer que o conhecimento dos fatos apenas serviu para aumentar minha fé na Igreja. O demônio nunca deixou de travar guerra aberta ou camuflada contra a Igreja Católica porque apenas ela possui os instrumentos, os Sacramentos e o caminho para a nossa salvação.

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    1. Prezados amigos em Cristo, Salve Maria!

      Parabéns ao Sandro Pontes por sua esplêndida refutação dos difamadores do Papa Pio XII que se afirmam “de direita” mas, aqui como alhures, os extremos se tocam… (Vide as semelhanças e mesmo igualdades entre a eclesiologia de Hans Kueng e a de Dom Williamson e dos mais celebrados teólogos leigos atuais).

      E parabéns ao Ferretti por ter suscitado essa excelente defesa da Sagrada Hierarquia e do Papado contra as investidas da teologia leiga (condenada também por Pio XII, aliás, mais uma razão pela qual não o perdoam em certos meios…).

      Dona Gercione, toda a doutrina da Mystici Corporis encontra-se em São Roberto Bellarmino, Doutor da Igreja máximo sobre eclesiologia (assim como Santo Agostinho é o Doutor da Graça, por exemplo).

      Mais do que nunca, vale a pena reler hoje o grande controversista antiprotestante, em cujas controvérsias a senhora encontrará muitas das doutrinas ensinadas nos meios e escritores que a senhora tem frequentado com credulidade beata (Montfortfp ou FSSPX):

      Basta procurar as objeções luteranas e calvinistas que o Santo refuta, que a senhora se sentirá em casa! Um exemplo:

      São ROBERTO BELLARMINO, Sobre a Igreja militante espalhada por toda a terra, “Opera Omnia”, ed. Pedone Lauriel, 1872, tomo II, p. 98-99:

      “Cap. XIV: A IGREJA NÃO TEM COMO ERRAR.
      (…)
      “Calvino, então, diz que essa proposição, A Igreja não pode errar, é verdadeira, caso seja compreendida com uma dupla restrição. (…) A segunda restrição é esta: A Igreja não pode errar, isso deve ser entendido unicamente da Igreja universal, e não ser estendido aos bispos, que são a Igreja de maneira representativa, como dizem os teólogos católicos; (…)

      “Nossa posição, portanto, é que a Igreja não pode errar de jeito nenhum, nem nas coisas absolutamente necessárias, nem nas outras coisas que ela nos propõe a crer ou fazer, quer essas coisas estejam expressamente na Escritura ou não estejam. E, quando dizemos que a Igreja não pode errar, entendemos isso tanto do conjunto dos fiéis quanto do conjunto dos bispos, de modo que o sentido da proposição, A Igreja não pode errar, é: aquilo que todos os fiéis creem como de fé é necessariamente verdadeiro e de fé; e, de igual maneira, aquilo que todos os bispos ensinam como pertencente à fé é necessariamente verdadeiro e de fé. (…)

      “O fato de que mesmo aqueles que constituem a Igreja ‘representativamente’ não possam errar prova-se, primeiro, porque se todos os bispos se enganassem, a Igreja toda também se enganaria, pois as pessoas estão obrigadas a seguir seus pastores, segundo a palavra do Senhor, Luc 10: quem vos ouve a mim ouve, e Mat 23: tudo o que eles dizem, fazei-o. Em seguida, com a Carta do Concílio de Éfeso a Nestório, em que a este se impõe, se ele quiser pôr-se de acordo com a Igreja, afirmar com juramento que ele pensa como pensam os bispos do Oriente e do Ocidente. (…)”

      Sobre o Gibi de ficção científica-teológica da Sra. Martinez que a senhora faz o desserviço de traduzir aqui, e que bem mereceria figurar naquela pratileira do inferno das bibliotecas católicas onde deveriam ficar os Malachi Martin, Marquês de la Franquerie e quejandos, os devaneios dessa escritora me fazem ver, mais uma vez, como Santo Tomás de Aquino tinha razão no seguinte passo da Suma recordado pelo Padre Calmel OP:

      muito superiores são os carismas de ordem doutrinal, como o ensinamento da sabedoria, o sermo scientiæ que é concedido a alguns grandes santos para edificação das almas. – Esse sermo sapientiæ não é, falando propriamente, um carisma concedido às mulheres [5. Ver, a esse respeito, a IIa IIæ, no tratado sobre os estados (como é chamado), a questão 177. – O fim da IIa IIæ contém, na realidade, três tratados maiores: o dos estados de perfeição, que conclui tudo, vem após o tratado dos carismas (graças gratis datæ) e o das formas de vida (ativa ou contemplativa).]…
      (Padre R.-T. CALMEL, O.P., Brumas do “revelacionismo” e luz da fé, 1974, trad. br. de out. 2013 em: wp.me/pw2MJ-252 ).

      Santa Joana d’Arc, rogai por nós, e livrai-nos de suas pretensas êmulas não divinamente inspiradas!

      Atenciosamente,
      Em JMJ,
      Felipe Coelho

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  19. Amigos, viva Cristo Rei!

    Esclarecendo: onde escrevi na última mensagem: “Pio XII afirma justamente isso ao dizer que a Igreja recebeu diretamente de Cristo a expressão ‘corpo místico'” favor ler “Pio XII afirma justamente isso ao dizer que a Igreja recebeu diretamente de Cristo a DOUTRINA REFERENTE a Igreja enquanto ‘corpo místico’ de Cristo”.

    Gercione, por favor, você ainda vai insistir depois daquilo que lhe coloquei acima? Ainda vai insistir em caluniar Pio XII depois de eu lhe mostrar a Satis Cognitum? E como disse Pio XII, a bendita expressão sempre foi usada pela Igreja. Outro exemplo, entre vários que poderão ser dados, está na Mortalium Animus de Pio XI, onde se reza o seguinte:

    “(…) Dizemos à única verdadeira Igreja de Cristo: sem dúvida ela é a todos manifesta e, pela vontade de seu Autor, Ela perpetuamente permanecerá tal qual Ele próprio A instituiu para a salvação de todos. Pois, a MÍSTICA ESPOSA DE CRISTO jamais se contaminou com o decurso dos séculos nem, em época alguma, poderá ser contaminada, como Cipriano o atesta: “A Esposa de Cristo não pode ser adulterada: ela é incorrupta e pudica. Ela conhece uma só casa e guarda com casto pudor a santidade de um só cubículo” (De Cath. Ecclessiae unitate, 6).

    E o mesmo santo Mártir, com direito e com razão, grandemente se admirava de que pudesse alguém acreditar que “esta unidade que procede da firmeza de Deus pudesse cindir-se e ser quebrada na Igreja pelo divórcio de vontades em conflito” (ibidem). (…) Portanto, dado que o CORPO MÍSTICO DE CRISTO, ISTO É, A IGREJA, é um só (1 Cor 12, 12), compacto e conexo (Ef. 4, 15), à SEMELHANÇA do seu CORPO FÍSICO, seria inépcia e estultície afirmar alguém que ele pode constar de membros desunidos e separados: quem pois não estiver unido com ele, não é membro seu, nem está unido à cabeça, Cristo (Cfr. Ef. 5, 30; 1, 22).

    Teria a Mortalium Animus também contribuído com a doutrina da centelha divina aprovada pelo Vaticano II? Por favor, eu te respeito, Gercione: herrar é umano, vamos dar um passo atrás, não há demérito nenhum nisso.

    Sandro Pelegrineti de Pontes

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  20. Prezado Antônio de Oliveira, salve Maria.

    O seu comentário foi fabuloso! Realmente, chamar de “néscios” os papas pós-São Pio X é de uma falta de discernimento que não tem tamanho. Vejamos a explicação dela a respeito de tão infeliz palavra:

    “(…) Quando eu digo NÉSCIO me refiro ao significado bíblico da palavra néscio: não tem discernimento sobre o que fazem ou falam…. imprudentes”.

    Prezado, ela realmente está dizendo que Bento XV (que promulgou o Código de Direito Canônico), Pio XI (o papa da Mortalium Animus e primeiro líder de um Estado mundial que condenou Hitler) e Pio XII (como voc~e bem realçou, o papa da Assunção de Maria, entre outros trabalhos gloriosos de defesa da fé católica) não tinham discernimento e não sabiam o que faziam e falavam? Ela está realmente os acusando destas coisas, de serem imprudentes, que é uma forma de estultície condenada pelo antigo testamento?

    Se ela realmente está afirmando isso sem corar, pergunto-me:como será que esta moça enxerga a si mesmo? Será que com olhos lisonjeiros demais para encontrar o seu pecado de presunção descabida e odiá-lo?

    Sandro Pelegrineti de Pontes

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  21. Amigos, salve Maria.

    O Revmo. Padre Penido dispensa apresentações, sendo um dos maiores teólogos de todos os tempos. Vejamos como ele explica a aplicação da expressão “corpo místico” à Santa Igreja (em um tratado teológico cujo nome é, justamente, “corpo místico”):

    “(…) os cristãos não se coadunam apenas como se agrupam os cidadãos dum estado; o principal ali é a fonte invisível da unidade: Cristo. Os cristãos não são simplesmente um corpo social a mais, entre muitos outros; os cristãos formam o Corpo de Cristo. (…) Cabe então (1 Cor, XII, 12) a comparação do corpo humano, diverso e uno. São Paulo, porém, alargando subitamente a perspectiva, ultrapassa a questão dos carismas e afirma de maneira universal: apesar de muitos, os fiéis formam um só Corpo que é Cristo. Com efeito, foram eles todos batizados num só Espírito, pelo que desaparecem as diferenças de raça e de condição social. É muito de notar o final do versículo. Esperaríamos: ‘como o corpo é um e tem muitos membros e todos os membros do corpo embora muitos, formam contudo um só corpo, assim também os fiéis’. Em vez disto, S. Paulo escreve: ‘assim também Cristo’; entende-se: não o Cristo individual, senão o CRISTO MÍSTICO, isto é, Cristo EM UNIÃO COM OS FIÉIS, como será dito no versículo 27: ‘vós sois Corpo de Cristo’” (O Corpo Místico, Pe. Dr. M. Teixeira-Leite Penido, Vozes, 1944, p. 151).

    E continua lá na frente:

    “A Paixão expiadora de Cristo se renova e de certa maneira se continua e se completa no seu CORPO MÍSTICO QUE É A IGREJA. Com efeito, para nos servir da expressão de Sto. Agostinho, Cristo padeceu o que devia, nada falta à medida de seu sofrimento; completada a Paixão na Cabeça, resta paixão do corpo. O que o mesmo Jesus se dignou declarar quando a Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos, Ele disse: ‘Sou eu, Jesus, a quem persegues’, dando claramente a entender que, pelas perseguições feitas à Igreja, é atacado e atormentado o divino Chefe dela. É pois com suma razão que Cristo, sofrendo ainda em seu CORPO MÍSTICO, deseja nos ter por companheiros de sua expiação. O mesmo pede nossa conexão com Ele, porquanto sendo membros de Cristo e membros uns dos outros, tudo quanto sofre a Cabeça, deverão com ela sofrer os membros. Essa doutrina – vivida, ANTES QUE ENTENDIDA APENAS – é a divina e recôndita fonte, donde nascem as almas reparadoras, as almas vítimas. Na pureza do claustro ou entre a corrupção do mundo, secretamente elas se imolam, para expiar as culpas e compensar a ingratidão daqueles que não amam o Amor” (O Corpo Místico, Pe. Dr. M. Teixeira-Leite Penido, Vozes, 1944, p. 359).

    Abraços a todos,

    Sandro Pelegrineti de Pontes

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  22. Caro Sandro!!

    Depois que você ler o livro inteiro ( algo que eu acredito que você ainda não fez porque não deu tempo!), depois que você souber o pano de fundo da Mortalium Animus, que foi sem dúvida uma grande encíclica e que funcionou como “Damage Control” depois que o próprio Papa deu consentimento para os encontros de Malines, talvez você entenda melhor onde é que ele foi imprudente. Vou facilitar um pouquinho as coisas pra você, transcrevendo apenas o parágrafo que trata da Mortalium Animus:

    ORIGINAL:Pius XI was the first pope to actuate what we now call ecumenism. Like the word “ecclesiology” the word “ecumenism” was given a meaning it never had before. From signifying “general, pertaining to the whole world” thus, an ecumenical council, it is now taken to mean a coming together of the world’s religions. In the 1920’s Rome had not yet begun to foster what seems with Pope John Paul II to have become a consuming passion, a commitment to global religion. When the first steps were taken in the early 1920’s, no one called it “ecumenism” or even “dialogue”; the gentle designation was “conversations”.
    The Malines Conversations, a project of the much publicized Desiré Cardinal Mercier of Malines-Brussels and his avant-garde theologian Lambert Beauduin, brought Britain’s Lord Halifax to Belgium to discuss with certain members of Louvain University the feasibility of an Anglican-Catholic rapprochement. The ensuing “conversatiIons”, continuing intermittently during 1924 and 1925, drew sharp protest from the Catholic hierarchy of England who cited the decree of Leo XIII pronouncing Anglican orders to be “absolutely null and void.” Although nothing of substance seems to have come from the talks, they were not forgotten. Fifty years later in an open letter to the successor and protégée of Cardinal Mercier, Leo Cardinal Suenens, Pope Paul recalled the Malines Conversations, describing them as “the fruit of a rediscovered love”.
    Cardinal Mercier and Fr. Beauduin proceeded to turn their transforming talents to making Jesuit Louvain a center for advanced theological speculation while the paradoxical Pope Pius, as if to do penance for having given his consent for the Malines Conversations, sat down to write what would turn out to be the last solemn pronouncement to issue from the Vatican on the question of the uniqueness of Catholicism as the one, true faith. Mortalium Animos was a clear condemnation of the theses which the Conversations had promoted.

    TRADUÇÃO: Pio XI foi o primeiro papa a atuar no que hoje chamamos de ecumenismo. Assim como se deu com a palavra ” eclesiologia “, à palavra ” ecumenismo ” foi dado um significado que nunca teve antes. Do significado que tinha antes como “geral, pertencente a todo o mundo”, daí, um concílio ecumênico, agora é tomada para significar uma reunião entre as religiões do mundo. Em 1920 , Roma ainda não tinha começado a promover o que parece ter se transformado numa paixão que consumia o Papa João Paulo II, ou seja um compromisso com uma religião global. Quando os primeiros passos foram dados no início dos anos 1920 ninguém os chamou de ” ecumenismo “, ou mesmo “diálogo”; a designação suave era ” conversações “.
    As conversações Malines, um projeto do muito afamado Cardeal Desiré Mercier de Malines- Bruxelas e seu teólogo avant -garde Lambert Beauduin, trouxe também Lord Halifax da Grã-Bretanha para a Bélgica para discutir com certos membros da Universidade de Louvain a viabilidade de uma aproximação entre Anglicanos e Católicos. O que se seguiu intermitentemente durante 1924 e 1925, atraiu protestos ferrenhos da hierarquia Católica na Inglaterra que citava o decreto de Leão XIII que declarava as Ordens anglicanas ” absolutamente nulas e sem efeito”. Embora nada em substância parece ter saído daquelas negociações, elas não foram esquecidas. Cinqüenta anos mais tarde, em uma carta aberta ao sucessor e protegido do Cardeal Mercier, o Cardeal Suenens, o Papa Paulo VI recordou-se das “Conversações Malines, descrevendo-as como ” o fruto de um amor redescoberto “.
    Cardeal Mercier e Pe. Beauduin procederam em usar seus talentos para transformar a Universidade jesuíta de Louvain num centro para avançadas especulações teológicas, enquanto o Papa Pio XI paradoxalmente, como se procurando penitenciar por ter dado o seu consentimento para as “Conversações Malines, sentou-se para escrever o que se tornaria o seu último pronunciamento solene do Vaticano sobre a questão da singularidade do Catolicismo como a única e verdadeira fé. Mortalium Animos foi uma clara condenação das teses que as Conversações Malines haviam promovido.

    Bom, eu não vou nem entrar na questão da traição aos Cristeros que está amplamente documentada no livro, nem na questão das Concordatas. O fato que me parece bem claro é que primeiro foi feito todo um trabalho para destronar Cristo do seu Reinado Social. Foi um trabalho lento, avançando dois passos e retrocedendo um. A segunda parte da revolução foi expulsar Cristo da sua própria Igreja substituindo-o pelo homem e essa é a única fase na qual alguns tradicionalistas parecem se deter: a revolução do Concílio Vaticano II.
    Hoje eu entendo porque Cristo disse que só com a vinda do Espírito Santo alguns conseguiriam compreender o que Ele queria transmitir. De fato quando Ele falou sobre algumas realidades muitos se escandalizaram e não andavam mais com Ele.
    No tocante aos estudos que me mandam da Mystici Corporis, uma encíclica que eu já li várias vezes e citava em meus comentários como modelo de ortodoxia, só posso dizer o seguinte: o fato do Concílio Vaticano I ter recusado tal concepção a respeito da Igreja é motivo mais do que convincente para que eu fique com os Padres daquele Concílio.
    Encerro por aqui essa discussão. O link para o livro eu já dei pra quem quiser ler ou imprimir. Se não souberem inglês joguem no Google Translate. Não é uma feramenta perfeita, mas dá pra se ter uma idéia:

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    1. Gercione,

      a sua falta de humildade é um escândalo! Vai encerrar a discussão sem dar uma palavra sobre a Satis Cognitum? E você ainda escreveu ao Felipe:

      “(…) eu até agora estou esperando uma voz sensata e inteligente que refute tudo que ela escreveu com base em provas concretas e não ataques ad homines, que é a típica estratégia dos que querem vencer uma discussão sem ter razão. Então vou ficar esperando aqui alguém que me diga”.

      Mas não foi EXATAMENTE ISSO que eu fiz ao demonstrar que a expressão “corpo místico” era usada muito antes de Pio XII? Não foram literalmente destruídas nas citações que eu coloquei as afirmações da Senhora Martinez?

      Pelo amor de Deus! Mas ainda bem que os leitores do Fratres, que são muitos, estão lendo os dois lados do debate e tirarão suas próprias conclusões. Você teve chance de sair de uma forma honrada deste debate, mas ao contrário, se afundou ainda mais ao manter as acusações.

      Ah, em tempo: Pio XII afirma que a doutrina “Corpo-Mistico” foi recebida pela Igreja diretamente de Cristo. Ou seja, o magistério da Igreja está ensinando que esta doutrina é divinamente revelada, e, portanto, quem a rejeita, é herege. Vou dizer mais uma vez: quando o magistério da Igreja afirma que uma doutrina é revelada divinamente esta afirmação é INFALÍVEL, pois a doutrina revelada divinamente é sempre infalível. Se Cristo revelou esta doutrina à Igreja, você é obrigada a aceitar.

      Reflita bastante antes de escrever.

      Sandro de Pontes

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  23. Agradeço a Gercione e a todos que estão conversando sobre Pio XII, pois estão enriquecendo o post com o assunto.

    Sobre Pio XII, lembrei-me que até mesmo Dom Lefebvre teve ao menos uma ressalva para com esse Papa:

    “No começo do Concílio eu fiquei sabendo da história de Montini. ‘Promoveatur ut removeatur’. E, no dia da sagração de Montini, Pio XII fez um discurso ditirâmbico. Que costume desastroso! Até Pio XII.”

    http://www.nossasenhoradasalegrias.com.br/2013/10/dom-tomas-e-dom-lefebvre-coloquios.html

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  24. Caro Senhor Felipe Coelho:

    Sobre o “Gibi de ficção científica-teológica” da Sra. Martinez que eu prestei o caro serviço de traduzir alguns trechos aqui, e que NA SUA OPINIÃO deveria figurar naquela prateleira do inferno e também quanto ao que você chama de “devaneios dessa escritora” eu até agora estou esperando uma voz sensata e inteligente que refute tudo que ela escreveu com base em provas concretas e não ataques ad homines, que é a típica estratégia dos que querem vencer uma discussão sem ter razão.
    Então vou ficar esperando aqui alguém que me diga:

    1- Eu li todas as fontes citadas pela escritora e o que elas dizem é o contrário do que ela publicou.
    2- Eu li todos os registros e atas do Concilio Vaticano I ( como ela fez pois teve acesso aos arquivos) e não há nada que registre ali que os Padres do Concílio rejeitaram a expressão “Corpo Místico”, por ser vaga, ambígua e biológica.
    3- Não existe registro de que Eugênio Pacelli tenha sido secretário pessoal e protegido do Cardeal Rampolla del Tindaro.
    4- As Conversações Malines não foram uma iniciativa que teve o aval do Papa Pio XI…etc

    Enfim, vou esperar que leiam o livro na íntegra, coisa que eu acredito que não fizeram provavelmente nem vão fazer.
    Assim, chamá-lo de “gibi de ficção científica” sem tê-lo lido só demonstra que a pessoa age como a criança pirracenta que diz odiar jiló sem nunca ter provado. É difícil discutir com criança birrenta.
    Até agora só vi gente rasgando as vestes, esperneando, trazendo trechos fora do contexto que não passam de pretexto. Quando São Tomás de Aquino escreve:
    “«Caput et membra, quasi una persona mística – Cabeça e membros são, por assim dizer, uma só e mesma pessoa mística» – Summa teologia III”, a que ele se refere? à toda Igreja como um corpo místico ou aos membros que vivem em estado de graça? Porque a escritora cita essa clara distinção que alguns preferem ignorar.
    Tenho percebido aqui nesse fórum do Frates muita gente que já sai de cara impugnando as fontes que são postadas sem ao menos tê-las verificado. Chegam a duvidar da acuidade das traduções, daí que prefiro postar original e tradução juntos. Quando são contrariados partem logo para o ad homines, o sarcasmo barato ou gritam logo: censura!!!
    Desculpem-me mas se não tem capacidade de se ater ao tema refutando com argumentos sólidos e com o devido respeito ao seu interlocutor era melhor que se calassem do que se prestar a esse papel ridículo.

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  25. Gercione,

    Você também escreveu:

    “Quando São Tomás de Aquino escreve: “«Caput et membra, quasi una persona mística – Cabeça e membros são, por assim dizer, uma só e mesma pessoa mística» – Summa teologica III”, a que ele se refere? à toda Igreja como um corpo místico ou aos membros que vivem em estado de graça? Porque a escritora cita essa clara distinção que alguns preferem ignorar”.

    Mas além de tudo a Senhora Martinez é comentarista escolástica infalível? Ela sabe mais que Leão XIII, Pio XI e Pio XII? Sabe mais ela do que o Revmo. Padre Penido?

    Sandro de Pontes

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    1. Acompanhei o debate e fico grato ao Fratres in unum e aos participantes pela oportunidade de aprendizado.
      Não tenho conhecimento para contribuir na discussão com dados, ainda mais com o nível de conhecimento dos debatedores, mas me arrisco a trazer algumas impressões tiradas da lógica do senso comum.
      Quando a Gercione falou dos efeitos práticos do uso do termo “Corpo místico de Cristo”, ela não negou o que o Sandro trouxe como as justificativas teológicas para o termo (Palavras de Cristo, Padres da Igreja, etc) e nem afirmou que o termo foi inventado pelo Papa Pio XII, mas apontou para o uso que foi dado naquelas circunstâncias. Negar que uma construção textual com base bíblica pode ser manipulada para outros fins é típico daquelas pessoas que negam qualquer possibilidade de constatação do mau uso dos termos do CVII, por exemplo, quando ele evita anátemas e fala de Misericórdia. Comparando com casos extremos, grande parte das demandas dos progressistas são feitas em nome da Misericórdia, e nenhum dos críticos dessas demandas nega que a Misericórdia é bíblica e uma das características de Deus; o problema está no sentido que lhe dão.
      A insistência nesse ponto é, a meu ver, desnecessária.
      Também me parece pouco provável que o Modernismo tenha voltado da sepultura na década de 60. Para conseguir as vitórias que conseguiu foi preciso estar bem vivo, inclusive no reinado de Pio XII, mesmo que de maneira subterrânea, pois os progressistas do CVII não eram seminaristas que ingressaram na Igreja naquele momento. Isso é algo difícil de negar. Já em relação à maneira como o Papa enfrentou essa questão, de suas possibilidades e suas intenções, essa é outra questão.

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  26. Srª Gercione e Sr. Sandro de Pontes, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

    Desculpem-me a intromissão, mas tenho um apontamento simples a fazer sobre a expressão “Corpo Místico”: Roberto de Mattei sugere que a “encíclica Mystici Corporis […] pretendeu pôr fim à ‘babel eclesiológica’ sobre o CONCEITO de Corpo Místico, uma noção que remontava ao Concílio Vaticano I, mas que a ‘nouvelle théologie’ usava como dispositivo para introduzir uma nova visão […] da Igreja” (O Concilio Vaticano II, uma história nunca escrita, pág. 76), tanto é que De Mattei cita inclusive a controvérsia entre dois teólogos norte-americanos, Joseph Clifford Fenton e John Courtney Murray, o primeiro discípulo de Ottaviani e o segundo de Montini, sobre a Mystici Corporis e o seu real significado.

    Acredito que Gercione confundiu a relação entre causa e efeito: Pio XII ao declarar e consequentemente delimitar o real significado da expressão “Corpo Místico” na encíclica, pretendia PÔR FIM às controvérsias na doutrina canônica e teológica sobre o seu significado e NÃO trazer uma nova definição da Igreja, porque embora a expressão de fato fosse conhecida “por vários escritores antigos”, incluindo-se aí São Roberto Bellarmino, citado por Felipe Coelho, seria controversa entre os teólogos em relação ao seu SIGNIFICADO.

    Assim, parece que realmente não há contradição entre o parecer dos teólogos do Concílio Vaticano I e a Mystici Corporis, porque se de fato havia imprecisão na época sobre o real significado da expressão “Corpo Místico”, Pio XII a extinguiu e declarou o seu real significado e alcance definitivamente na encíclica, conquanto – e aqui Pio XII obviamente está isento de culpa – a encíclica tenha sido evidentemente instrumentalizada por alguns teólogos para lançar as bases de novas concepções sobre a Igreja na literatura teológica católica.

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  27. Algumas palavras do Servo de Deus Pio XII na introdução da Mystici Corporis que reforçam a tese de Roberto de Mattei exposta acima:

    “Mas a CAUSA PRINCIPAL que nos leva a tratar agora assaz difusamente desta excelsa doutrina é a nossa solicitude pastoral. É verdade que muito se tem escrito sobre este argumento; nem ignoramos que hoje não poucos se dão com grande empenho a estes estudos, com os quais também se deleita e nutre a piedade cristã.[…] Todavia se isso que acabamos de dizer é muito consolador, temos de confessar que não só autores separados da verdadeira Igreja espalham GRAVES ERROS NESTA MATÉRIA, mas que também entre os fiéis vão serpejando OPINIÕES ou INEXATAS ou de todo falsas, que podem desviar os espíritos da reta senda da verdade. (N.8).

    De fato, enquanto por um lado perdura o falso racionalismo que tem por absurdo tudo o que transcende e supera a capacidade da razão humana, e com ele outro erro parecido, o naturalismo vulgar que não vê nem quer reconhecer na Igreja de Cristo senão uma sociedade puramente jurídica; por outro lado grassa por aí um falso misticismo que perverte as Sagradas Escrituras, pretendendo remover os limites intangíveis entre as criaturas e o Criador. (N. 9).

    “Ora esses erros entre si opostos fazem que alguns, cheios de infundado temor, considerem esta sublime doutrina como perigosa e fujam dela como do fruto do paraíso, belo e proibido. […]” (N. 10).

    “Portanto, tendo nós maduramente ponderado tudo isso diante de Deus, para que a incomparável formosura da Igreja resplandeça com nova glória, para que mais esplendidamente se manifeste a excelsa e sobrenatural nobreza dos fiéis que no corpo de Cristo se unem à sua cabeça: enfim para FECHAR DE UMA VEZ A PORTA A MUITOS ERROS QUE PODE HAVER NESTA MATÉRIA, julgamos nosso dever pastoral expor a todo o povo cristão nesta encíclica a doutrina do corpo místico de Jesus Cristo e da união dos fiéis com o divino Redentor no mesmo Corpo, e juntamente deduzir desta suavíssima doutrina alguns ensinamentos, com os quais o maior conhecimento do mistério produza frutos cada vez mais abundantes de perfeição e santidade.(N. 11)” – Destaques meus.

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  28. Se tivesse tido a curiosidade de ler pelo menos o final do livro onde ela cita todas as fontes consultadas, todos aqueles que foram entrevistados para fornecer as informações compiladas no livro, teria nos poupado desse sarcasmo barato.
    Enquanto isso continua dando voltas sem conseguir refutar nada do que foi revelado. Haja paciência!

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  29. Amigos, salve Maria.

    Na nossa primeira mensagem de refutação a Gercione, colocamos o trecho onde o Papa Pio XII explica que a expressão “Corpo Místico” sempre foi usada pela Igreja. Posteriormente, afirmamos que a aplicação desta expressão à Igreja é doutrina infalível, e negá-la seria heresia. Dissemos também que o mesmo Pio XII ensinou a forma correta e católica da utilização da bendita expressão e condenou a forma modernista de aplicação desta mesma expressão (repetindo a condenação da Igreja do passado, como veremos em outra mensagem).

    Agora, vamos mostrar de forma ainda mais cristalina os dois primeiros pontos citados acima, a saber, que a Igreja sempre usou esta expressão e que ninguém pode negar a aplicação desta expressão à Igreja, como infelizmente faz a Gercione, até agora, não de forma contumaz (mas a partir de agora, certamente, com pertinácia, caso não se emende).

    Comecemos pela Bula Unam Sanctam, que definiu o dogma referente a necessidade de submissão a Igreja e ao papa para se salvar. Vejamos o que este documento infalível, ex-cátedra, promulgado solenemente, diz a este respeito, logo na abertura do documento:

    “(…) Una, santa, católica e apostólica: esta é a Igreja que devemos crer e professar já que é isso o que a ensina a fé. Nesta Igreja cremos com firmeza e com simplicidade testemunhamos. FORA DELA NÃO HÁ SALVAÇÃO, nem remissão dos pecados, como declara o esposo no Cântico: “Uma só é minha pomba sem defeito. Uma só a preferida pela mãe que a gerou” (Ct 6,9). Ela representa o ÚNICO CORPO MÍSTICO, cuja cabeça é Cristo e Deus é a cabeça de Cristo (…)”.

    Teria Bonifácio VIII, ainda no século 14, por meio de um documento infalível e solene, aprovado uma expressão herética ou heretizante? Acho que esta única citação é suficiente para provarmos a forma temerária como a Gercione está lidando com a situação, mas apresentaremos ainda outras tão contundentes quanto esta.

    No site tradicionalista Stats Veritas é possível baixar o Catecismo Romano em espanhol. Para isso, clique neste link:

    http://www.statveritas.com.ar/Doctrina/Doctrina-INDICE.htm

    Pois bem, o Catecismo Romano é o Catecismo resultante do infalível Concílio de Trento. É o Catecismo mais excelente da Igreja Católica e sobre ele não é preciso dizer muita coisa! Vejamos o que ele afirma nesta série de citações que colocarei sequencialmente:

    a) [15] La segunda propiedad de LA IGLESIA consiste en ser santa (I Ped. 2 9.), y llámase así: • (….); • POR SER EL CUERPO MÍSTICO DE CRISTO (Ef. 5 23.) y estar unida a su Cabeza, que es Cristo (Ef. 4 15-16.), fuente de toda santidad (Dan. 9 24.), de donde dimanan los dones del Espíritu Santo y las riquezas de la bondad divina (página 91 do Catecismo Romano de acordo com a numeração encontrada no site tradicionalista Stat Veritas);

    b) b) Porque así como el cuerpo humano consta de muchos miembros, y a todos da vida una misma alma, la cual comunica vista a los ojos, oído a las orejas, y otras varias propiedades a otros sentidos, del mismo modo el cuerpo místico de Cristo que es la Iglesia (…) (página 97 do Catecismo Romano);

    c) uno sólo es el Sacramento de la Eucaristía: • porque así lo definieron los Concilios de Letrán, Florencia y Trento; • porque tiene como efecto CONSTITUIR UN SOLO CUERPO MÍSTICO, y así debe ser uno solo (página 175 do Catecismo);

    d) y así como en un cuerpo natural ningún miembro actúa sólo para su propio bien, sino también para el bien de todo el cuerpo, del mismo modo nuestras obras de satisfacción son provechosas no sólo para nosotros, sino también para todo el CUERPO MÍSTICO, QUE ES LA IGLESIA (página 224 do Catecismo);

    e) la potestad de jurisdicción toda se emplea en el CUERPO MISTICO DE CRISTO, porque a ella pertenece gobernar y dirigir el pueblo cristiano, y encaminarle a la celestial y eterna bienaventuranza (página 270 do Catecismo Romano);

    f) Así como el cuerpo humano es uno, y tiene muchos miembros, y todos los miembros, con ser muchos, son un solo cuerpo; ASÍ TAMBIÉN EL CUERPO MÍSTICO DE CRISTO (página 440 do Catecismo Romano);

    Agora, vejamos outro Catecismo da Igreja Católica, o Catecismo de São Pio X, que também dispensa apresentações e que aplica a bendita expressão “Corpo Místico” à Santa Igreja Católica:

    816) É então grande a dignidade do Sacerdócio cristão?

    R) A dignidade do Sacerdócio cristão é muito grande, pelo duplo poder que lhe conferiu Jesus Cristo sobre o seu Corpo real e sobre o SEU CORPO MÍSTICO, QUE É A IGREJA, e pela divina missão, confiada aos Sacerdotes, de conduzir todos os homens à vida eterna (Catecismo de São Pio X)

    Até aqui, um documento ex-cátedra e dois catecismos venerabilíssimos. E agora cito ainda mais um documento, este sendo de Pio XI, que na Divini Redemptores aplicou a bendita expressão da seguinte maneira:

    27. Quanto ao homem, o que dele dizem a fé e a razão, Nós já expusemos os pontos fundamentais na Encíclica sobre a educação cristã (Enc. Divini Illius Magistri, 31 dez. 1929, DP 7). Possui o homem uma alma espiritual e imortal; é pessoa, dotada admiravelmente pelo Criador de dons de corpo e de alma, — verdadeiro “microcosmo”, conforme diziam os antigos — pequeno mundo, que vale muito mais que todo o imenso mundo inanimado. Ele tem, nesta e na outra vida, só Deus por último fim; pela graça santificante é elevado à dignidade de filho de Deus, e INCORPORADO AO REINO DE DEUS, NO MÍSTICO CORPO DE JESUS CRISTO (Divini Redemptoris – Pio XI).

    Finalizamos com as palavras extremamente contundentes ditas pelo glorioso Papa Pio XII, que assim se referiu as pessoas que teimam em não compreender os ensinamentos contidos na Misticy Corporis:

    27. Alguns não se consideram obrigados a abraçar a doutrina que há poucos anos expusemos numa encíclica e que está fundamentada nas FONTES DA REVELAÇÃO, segundo a qual o corpo místico de Cristo e a Igreja católica romana SÃO UMA MESMA COISA.[5] Outros reduzem a uma fórmula vã a necessidade de pertencer à Igreja verdadeira para conseguir a salvação eterna. E outros, malmente, não admitem o caráter racional da credibilidade da fé cristã.

    28. Sabemos que esses e outros erros semelhantes serpenteiam entre alguns filhos nossos, DESVIADOS PELO ZELO IMPRUDENTE OU PELA FALSA CIÊNCIA; e nos vemos obrigado a repetir-lhes, COM TRISTEZA, VERDADES CONHECIDÍSSIMAS E ERROS MANIFESTOS, e a indicar-lhes, não sem ansiedade, os perigos de erro a que se expõem.

    Ou seja, amigos: expusemos nas últimas mensagens que a expressão “corpo místico” é verdadeiramente católica, sempre foi usada infalivelmente pela Igreja e recusá-la é cair em heresia. Na próxima mensagem, o Ferreti permitindo, vamos expor, de maneira mais resumida possível, o sentido em que a expressão “corpo místico” foi anatematizado pelos papas no passado.

    Sandro Pelegrineti de Pontes

    Obs.: depois iremos defender também Pio XII da terrível acusação de ter favorecido o modernismo na liturgia, pois que esta blasfêmia contra o doce Cristo na terra também não pode passar despercebida. E veremos também o que pode ser dito de Pio XI e a atuação junto aos Cristeros.

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  30. Caro Sandro Pontes:

    O seu problema é que você insiste em “refutar a Gercione”, como se o que a “Gercione traduziu e postou” fosse de sua exclusiva autoria. Se você fosse um pouquinho inteligente, refutaria não a Gercione, mas o livro da Mary Ball Martinez, o qual muito provavelmente você nem leu e muito menos procurou checar as fontes citadas, como o Padre Virgilio Rotondi, S.J editorialista da Civilta Cattolica. Foi ele que revelou:

    “Todos os homens honestos, e todos os homens inteligentes que são honestos, reconhecem que a revolução ganhou espaço com a publicação da encíclica de Pius XII, Mystici Corporis. Foi então que o terreno foi preparado para o “novo tempo” do qual emergiria o Concílio Vaticano II”.

    No livro de Mary Martinez ela cita também o Cardeal Jesuita Avery Dulles. Foi ele que disse:

    “Até junho de 1943, o modelo jurídico e social da Igreja se encontrava em posse pacífica, mas subitamente foi substituído pelo conceito de corpo místico. A designação não era nova. Já havia sido apresentada aos padres do Primeiro Concílio Vaticano setenta anos anteriormente. Eles rejeitaram-na como fora de mão, alegando que era “confusa, ambígua, vaga e inadequadamente biológica”.

    Onde ele disse? Palestras, conferências e Estudos Teológicos como esse aqui que você pode acessar online:

    Clique para acessar o 50.3.1.pdf

    Padre Rotondi diz: ” todos os homens inteligentes que são honestos, reconhecem que a revolução ganhou espaço com a publicação da encíclica de Pius XII, Mystici Corporis”.

    Portanto, embora eu não duvide da sua honestidade, começo a ter sérias dúvidas a respeito da sua inteligência.
    Seu problema com “a Gercione” é que ela pensa, analisa, faz aquelas operações que qualquer um com dois neurônios faz, e chega à conclusão que a informação procede, já que corroboram com ela outras fontes.
    Quer um exemplo? Mary Martinez cita o Cardeal americano Avery Dulles várias vezes. E aqui, em outro livro: Nothing to Hide: Secrecy, Communication and Communion in the Catholic Church By Russell Shawonde, o Cardeal Avery Dulles é citado novamente e o que se diz é praticamente o mesmo, na página 141 do capítulo “a case for openness”:

    “A começar pela encíclica do Papa Pius XII de 1943, Mystici Corporis Christi ( Corpo Místico de Cristo) o Magistério da Igreja nos tempos modernos buscou uma formula que expressasse uma visão primitiva de acordo com a qual a Igreja, ao invés de ser apenas aquela pirâmide poderosa, é uma comunidade hierarquicamente estruturada de pessoas com igualdade de direitos e de dignidade entre os membros. Essa visão de Igreja não destrói a autoridade da hierarquia clerical, mas coloca a autoridade num contexto no qual ela é vista como de serviço de uns para com os outros, com todos eles engajados em viver, cada um de acordo com sua vocação particular. Tal concepção atingiu o ponto máximo com a Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumem Gentium do Vaticano II.

    Quer ver outra fonte que você pode checar online e que corrobora com o que a Mary Martinez publicou em seu livro?

    ORIGINAL: In fact, the Church was not generally dealt with as a separate subject in theology by the Fathers or the medieval theologians. St Thomas, in his Summa Theologica did not treat of the Church as a subject in itself. The first systematic treatises on the Church were written in response to the conciliarist movements of the 15th century which viewed the Church solely as the congregation or assembly of the faithful, and downplayed or denied the hierarchical aspect of the Church. The reformers denied the authority of tradition and the magisterium, and the power of jurisdiction of the Pope and the Bishops: in reaction to this, treatments of the Church focussed on these elements.
    The liturgical movement and discussions over the themes of the first Vatican Council led to a reappraisal among some theologians who looked more closely at the organic life of the Church in relation to the Kingdom of God and the life of Christ made present in the Church. Since the publication of the encyclical Mystici Corporis Christi by Pope Pius XII in 1943, this renewed emphasis has become part of the mainstream of Catholic thought, looking at the nature of the Church in herself, as sacrament, people of God, body of Christ. This impetus was taken up at the second Vatican Council in the Dogmatic Constitution on the Church Lumen Gentium which reaffirmed the primacy and infallibility of the Pope but also presented a series of reflections on the Church from other aspects, especially those directly found in the scriptures.

    Clique para acessar o ACCC4-Church-Sacrament-and-People-of-God.pdf

    TRADUÇÃO: “Na verdade, a Igreja geralmente nunca foi tratada como uma disciplina separada na teologia pelos Padres ou os teólogos medievais. St. Tomas de Aquino, em sua Summa Theologica não tratou a Igreja como um assunto em si mesmo. Os primeiros tratados sistemáticos sobre a Igreja foram escritos em resposta aos movimentos conciliaristas do século 15, os quais viam a IGREJA unicamente como uma congregação ou assembléia de fiéis e minimizava ou negava o aspecto hierárquico da Igreja. Os reformadores negavam a autoridade da tradição e do magistério e o poder de jurisdição do Papa e dos Bispos: em reação contra isso, os tratados da Igreja foram centrados sobre esses elementos .
    O movimento litúrgico e as discussões sobre os temas do primeiro Concílio Vaticano levaram a uma reavaliação por parte de alguns teólogos que observavam mais atentamente a vida orgânica da Igreja em relação ao Reino de Deus e a vida de Cristo que se torna presente na Igreja. DESDE A PUBLICAÇÃO DO CORPO MÍSTICO DE CRISTO, ENCÍCLICA DO PAPA PIO XII ( grifo meu) em 1943, essa renovada ênfase se tornou a corrente principal do pensamento católico: olhar para a natureza da Igreja, em si mesma, como sacramento, povo de Deus, corpo de Cristo. Este impulso foi retomado no Concílio Vaticano II pela Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, a qual reafirmava o primado e a infalibilidade do Papa, mas também apresentava uma série de reflexões sobre outros aspectos da Igreja, especialmente daqueles encontrados diretamente nas Escrituras”.

    Clique para acessar o ACCC4-Church-Sacrament-and-People-of-God.pdf

    Se é verdade que o Papa Pio XII explica que a expressão “Corpo Místico” sempre foi usada pela Igreja pra se referir à própria IGREJA como instituição, eu só queria que você me explicasse por que os Padres do Concílio Vaticano I a rejeitaram alegando que era “confusa, ambígua, vaga e inadequadamente biológica”?
    Você dá voltas e não consegue refutar o que teólogos e Cardeais progressistas disseram e continuam dizendo_ diga-se de passagem_ não pra denegrir, mas em tom de elogio à encíclica de Pio XII.
    Deixe de ser obtuso homem!! Quando Pio XI na Divini Redemptori diz que o HOMEM possui uma alma espiritual e imortal; é pessoa, dotada admiravelmente pelo Criador de dons de corpo e de alma, — verdadeiro “microcosmo”, conforme diziam os antigos — pequeno mundo, que vale muito mais que todo o imenso mundo inanimado. Ele tem, nesta e na outra vida, só Deus por último fim; pela graça santificante é elevado à dignidade de filho de Deus, e INCORPORADO AO REINO DE DEUS, NO MÍSTICO CORPO DE JESUS CRISTO ele se refere claramente ao HOMEM elevado à dignidade de filho de Deus pela graça santificante, ( ou seja, o mesmo princípio tomístico) e não à IGREJA COMO INSTITUIÇÃO HIERÁRQUICA. Tá claro ou precisa desenhar?
    A autora está falando em ECLESIOLOGIA e você me sai com SOTERIOLOGIA. Se você sequer consegue fazer distinção entre “eclesiologia” e “soteriologia” por que se mete a querer
    discutir tratados de teologia?
    O que eu deixei aberto à discussão são fatos históricos mais do que comprovados que servem de ponto pra reflexão. Se você não tem competência pra fazer uma simples interpretação de texto sem partir para o ad homines ou ficar enchendo linguiça com outro tipo de discussão que não tem nada a ver com o assunto, então já passou da hora de encerrar esse assunto.

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  31. Prezado André, salve Maria.

    Você escreveu:

    “(…) Quando a Gercione falou dos efeitos práticos do uso do termo ‘Corpo místico de Cristo’, ela não negou o que o Sandro trouxe como as justificativas teológicas para o termo (Palavras de Cristo, Padres da Igreja, etc) e nem afirmou que o termo foi inventado pelo Papa Pio XII, mas apontou para o uso que foi dado naquelas circunstâncias”.

    André, realmente ela não afirmou de forma categórica que a expressão “Corpo Místico” tenha sido inventada por Pio XII, mas ela fez praticamente isso. Vejamos no que ela acredita, ao fazer suas as palavras da tal Senhora Martinez:

    “(…) RARAMENTE (sic) encontrado em escritos Católicos antes de 1943 (sic) e de forma alguma como uma imagem da Igreja na liturgia, a FRASE ‘CORPO DE CRISTO’ significava para São Paulo apenas os Cristãos do seu tempo. Três séculos mais tarde Santo Agostinho usou o termo Paulino, adicionando ao “corpo” todos os justos desde Abel. Para São Tomás de Aquino as duas palavras significam ‘os Católicos que vivem em estado de graça’”.

    Portanto, André, vamos pontuar as coisas: primeira, se afirma que:

    a) a expressão “Corpo Místico” e a doutrina referente a esta expressão da forma como Pio XII a apresentou representa um novo conceito modernista recusado pelo Vaticano I;

    b) a própria expressão BÍBLICA “Corpo de Cristo” raramente era usada antes de 1943;

    Tanto a primeira afirmativa quanto a segunda são absurdas. A segundo seria mais um erro de quem não estuda, mas a primeira é heresia mesmo! Daí a necessidade de apresentar, como de fato apresentei, várias citações demonstrando o largo uso da expressão “Corpo Místico” na história da Igreja, expressão esta que consta em documentos infalíveis, catecismos e até em concílios ecumênicos, pois o próprio Concílio de Trento, infalível, autilizou a bendita expressão da forma que segue:

    944. Desejaria o sacrossanto Concílio que os circunstantes que assistem a cada uma das Missas comungassem, não só espiritualmente, mas também com a recepção sacramental da Eucaristia, a fim de participarem mais abundantemente dos frutos deste santíssimo sacrifício. Contudo, se tal nem sempre se dá, nem por isso condena como privadas e ilícitas aquelas Missas em que somente o sacerdote comunga sacramentalmente [cân. 8], pois na verdade também estas Missas se devem considerar comuns, já porque nelas comunga o povo espiritualmente, já porque as celebra o ministro público da Igreja, não somente por si, mas por todos os que pertencem ao CORPO [MÍSTICO] DE CRISTO.

    Ou seja, eu precisei provar, para defender a honra de Pio XII, que não é verdade que a Igreja raramente usava a expressão “Corpo de Cristo” ou a variante “Corpo Místico de Cristo”. Realmente, você está certo ao dizer que a Gercione não afirmou que Pio XII inventou a expressão, mas é preciso notar que ela quase fez isso, que ela praticamente afirmou isso. Pio XII teria buscado no modernismo uma expressão rejeitada pelo catolicismo, raramente usada até 1943, e dado forma “quase canônica” a expressão, abrindo as portas para a vitória da maçonaria no Vaticano II. Se isso fosse verdade, Pio XII seria um maldito herege e deveria ser tratado como feiticeiro e pagão, e não como legítimo papa da Igreja Católica, como de fato ele é.

    A Gercione também afirmou temerariamente, ao fazer suas as palavras da Senhora Martinez, que um teólogo modernista poderia ter influenciado Pio XII:

    “(…) Aparentemente, O QUE INSPIROU PIO XII A DAR STATUS QUASE CANÔNICO AO TERMO, elevando-o a ‘Místico’ foram os escritos de um contemporâneo, Emile Mersch que contornava as objeções manifestadas no Concílio Vaticano I (sic). Esse Jesuíta belga apresentou um NOVO CONCEITO (sic) ao identificar a Igreja com o corpo humano, acrescentando-lhe, como faz a encíclica, as duas Pessoas da Santíssima Trindade. Na analogia Nosso Senhor é tomado como a cabeça, papas e bispos os ossos e ligamentos, o Espírito Santo a força da vida”.

    Em primeiro lugar, pergunto-lhe: ela está falando sério? Prezado, a Igreja sempre entendeu a si mesma como um mistério onde Cristo é a cabeça e a hierarquia as demais partes do corpo (onde estão incluídos os fiéis, obviamente). E este “Cristo Total” possui o Espírito Santo como sua alma. Se isso for heresia modernista, então realmente Pio XII é um herege modernista.

    Ela chega a afirmar que os teólogos verdadeiramente católicos se opuseram a Pio XII nesta questão, no momento em que a encíclica foi promulgada, no início da década de 1940:

    “(…) EMBORA SEJA DIFÍCIL DE ENCONTRAR OS REGISTROS NOS DIAS DE HOJE é sabido que um número considerável de teólogos (???), em 1943, fez ecoar os protestos contra essa concepção no Concílio Vaticano I, apontando para uma ruptura (sic) com a realidade da divinização da Igreja e para a inadequação das referências biológicas”.

    Afirma Gercione que os teólogos verdadeiramente católicos se opuseram a encíclica de Pio XII e ao mesmo tempo diz não poder citar um único nome que seja….mas nós, ao contrário, citamos pelo menos um grande teólogo, o Padre Penido, que dispensa apresentações, defendendo que a Igreja é sim o Corpo Místico de Cristo. Vamos repetir estas duas citações feitas na outra mensagem, para aqueles que estão chegando atrasados ao debate poderem tomar conhecimento:

    “(…) os cristãos não se coadunam apenas como se agrupam os cidadãos dum estado; o principal ali é a fonte invisível da unidade: Cristo. Os cristãos não são simplesmente um corpo social a mais, entre muitos outros; os cristãos formam o Corpo de Cristo. (…) Cabe então (1 Cor, XII, 12) A COMPARAÇÃO DO CORPO HUMANO, diverso e uno. São Paulo, porém, alargando subitamente a perspectiva, ultrapassa a questão dos carismas e afirma de maneira universal: apesar de muitos, os fiéis formam um só Corpo que é Cristo. Com efeito, foram eles todos batizados num só Espírito, pelo que desaparecem as diferenças de raça e de condição social. É muito de notar o final do versículo. Esperaríamos: ‘como o corpo é um e tem muitos membros e todos os membros do corpo embora muitos, formam contudo um só corpo, assim também os fiéis’. Em vez disto, S. Paulo escreve: ‘assim também Cristo’; entende-se: não o Cristo individual, senão o CRISTO MÍSTICO, isto é, Cristo EM UNIÃO COM OS FIÉIS, como será dito no versículo 27: ‘vós sois Corpo de Cristo’” (O Corpo Místico, Pe. Dr. M. Teixeira-Leite Penido, Vozes, 1944, p. 151).

    E continua lá na frente:

    “A Paixão expiadora de Cristo se renova e de certa maneira se continua e se completa no seu CORPO MÍSTICO QUE É A IGREJA. Com efeito, para nos servir da expressão de Sto. Agostinho, Cristo padeceu o que devia, nada falta à medida de seu sofrimento; completada a Paixão na Cabeça, resta paixão do corpo. O que o mesmo Jesus se dignou declarar quando a Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos, Ele disse: ‘Sou eu, Jesus, a quem persegues’, dando claramente a entender que, pelas perseguições feitas à Igreja, é atacado e atormentado o divino Chefe dela. É pois com suma razão que Cristo, sofrendo ainda em seu CORPO MÍSTICO, deseja nos ter por companheiros de sua expiação. O mesmo pede nossa conexão com Ele, porquanto sendo membros de Cristo e membros uns dos outros, tudo quanto sofre a Cabeça, deverão com ela sofrer os membros. Essa doutrina – vivida, ANTES QUE ENTENDIDA APENAS – é a divina e recôndita fonte, donde nascem as almas reparadoras, as almas vítimas. Na pureza do claustro ou entre a corrupção do mundo, secretamente elas se imolam, para expiar as culpas e compensar a ingratidão daqueles que não amam o Amor” (O Corpo Místico, Pe. Dr. M. Teixeira-Leite Penido, Vozes, 1944, p. 359).

    E como disse o Felipe Coelho toda a doutrina referente a expressão “Corpo Místico” é fundamentada principalmente em São Roberto Bellarmino. Em sua obra “Controversiae” ele aborda questões relativas à natureza da Igreja, esclarecendo os aspectos invisíveis da Igreja enquanto Corpo Místico de Cristo. Por exemplo, ele afirmou o seguinte:

    “Todos os dons, todas as graças espirituais que por Cristo, como cabeça, descem para o corpo, passam por Maria que é como a COLUNA DESSE CORPO MÍSTICO”.

    Daí minha indignação com as afirmativas da Senhora Martinez que a Gercione adotou como suas.

    Logo, André, é um absurdo afirmar que os teólogos ficaram contra Pio XII, como a Gercione afirmou, e também é um absurdo afirmar que teria sido Pio XII quem “lançou o conceito” de Igreja enquanto Corpo Místico de Cristo, acusando falsamente o papa de ter introduzido a heresia na Igreja:

    “(…) Quando Pio XII SAIU COM ESSE CONCEITO (sic) de “Corpo Místico de Cristo”, ali houve uma mudança radical (sic) de paradigma que muitos até hoje não se dão por conta”.

    Ora, prezado André, na encíclica Pio XII afirmou com todas as letras que o seu ensinamento ERA O MESMO FEITO PELA IGREJA EM TODOS OS TEMPOS e ainda fez a distinção necessária para evitar os erros, condenando aquilo que a Igreja sempre condenou. Basta ler o número 85 que explica o sentido em que se condena a expressão “Corpo Místico” de Cristo. Ou seja, se Pio XII fez alguma coisa foi justamente esclarecer os católicos a forma exata como a expressão poderia e deveria ser aplicada a Igreja, coisa que até então talvez não fosse muito claro. E ela ainda escreveu, como se tivesse o direito de negar seu assentimento a uma encíclica papal e a doutrina do Corpo Místico:

    “(…) No tocante aos estudos que me mandam da Mystici Corporis, uma encíclica que eu já li várias vezes e CITAVA EM MEUS COMENTÁRIOS COMO MODELO DE ORTODOXIA (sic), só posso dizer o seguinte: o fato do Concílio Vaticano I ter RECUSADO (sic) tal concepção a respeito da Igreja é motivo mais do que convincente para que EU FIQUE COM OS PADRES DAQUELE CONCÍLIO”.

    O que ela não se deu conta é que não foi Pio XII quem “saiu com este conceito”, mas que este “conceito” é, na verdade, doutrina católica proposta pelo Magistério Ordinário e Universal. Logo, doutrina infalível!

    O ensinamento que a Igreja é o “corpo místico de Cristo” foi feito por inúmeros papas em documentos magisteriais infalíveis, catecismos e até em concílios ecumênicos, como disse e volto a repetir. Isso ao mesmo tempo em que os hereges usavam de forma diversa a expressão. Mas nem por isso a Igreja abriu mão de chamar a Igreja de CORPO MÍSTICO DE CRISTO, não é verdade? Porque se cada vez que os hereges usarem palavras ou expressões com sentidos torcidos os católicos tiverem que abrir mão destas palavras ou expressões então nós teremos que ficar mudos…porque não existe o que os hereges não distorçam!

    Mas de acordo com a Gercione, os padres do Concílio do Vaticano rejeitaram a aplicação do conceito “Corpo Místico” a Igreja. E como eles rejeitaram, ela então também rejeita! Ela só não rejeita os estudos da Senhora Martinez, por mais degradantes que sejam as palavras desta mulher. Claro que os padres do Vaticano I rejeitaram o conceito modernista da expressão, isso é óbvio, e é igualmente claro que eles não poderiam rejeitar o sentido católico desta expressão, tão augusta e solenemente utilizada pelos papas e santos doutores para se referir a Igreja Católica.

    Compreende, prezado André, a audácia da Gercione, que ao fazer suas as palavras desta Senhora Martinez cai ela mesma em heresia manifesta? Sim, heresia manifesta MESMO, porque rejeitar a doutrina ensinada infalivelmente por Pio XII a respeito do tema é heresia. Não estou brincando não! No Concílio Vaticano I, que ela cita contra Pio XII, nós podemos ler o seguinte ensinamento:

    1792. Deve-se, pois, crer com FÉ DIVINA E CATÓLICA tudo o que está contido na palavra divina escrita ou transmitida pela Tradição, bem como tudo o que a Igreja, quer em declaração solene, QUER PELO MAGISTÉRIO ORDINÁRIO E UNIVERSAL, nos propõe a crer como revelado por Deus.

    André, a doutrina exposta por Pio XII sempre foi católica, sempre foi ensinada pelo Magistério Ordinário e Universal da Igreja, esta doutrina, como diz a encíclica Mystici Corporis foi transmitida pelo próprio Cristo. Nos trechos traduzidos pela Gercione fica claro a ignorância desta Senhora Martinez. Em uma palavra: a doutrina referente a Igreja enquanto Corpo Místico de Cristo foi proposta pelo Magistério Ordinário e Universal, e quem a rejeita é herege!

    Espero que ela se defenda desta situação que estou apontando.

    Abraços,

    Sandro Pelegrineti de Pontes

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  32. Prezado Pedro Augusto, viva Cristo Rei!

    Parabéns pelo comentário brilhante a respeito do tema. Desconhecia este debate feito entre um discípulo das trevas, que não merece nem mesmo ser nomeado, e um discípulo da luz (Fenton).

    Obrigado por sintetizar em três parágrafos aquilo que eu gastei várias linhas para expor.

    Cordialmente,

    Sandro de Pontes

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  33. Gercione,

    Claro que eu estou refutando você, que faz das palavras da Senhora Martinez suas próprias palavras. Assim, quando um protestante escreve asneiras, eu refuto o protestante, não a Lutero.

    Realmente, a sua forma de refutar uma acusação de heresia é afirmar que os outros são…burros! Mas ainda que eu seja burro, uma coisa eu aprendi na vida: a não acusar um papa de ser herege e nem mesmo facilitador da heresia, o que dá no mesmo. E além disso, aprendi aquilo que qualquer jegue sabe, menos a Gercione: é IMPOSSÍVEL um católico rejeitar uma encíclica papal. Entendeu ou quer que eu desenhe, Gercione? Vou repetir: é IMPOSSÍVEL um católico rejeitar um documento magisterial, ainda que ele não seja promulgado solenemente. E no caso de Pio XII, ele afirma que a Igreja recebeu de Cristo a concepção de Corpo Místico que ele apresenta na encíclica. Logo, esta concepção é doutrina oriunda do direito divina, e é tão infalível quanto a doutrina da presença real de Cristo na Eucaristia, por exemplo. Entendeu, ou quer que eu desenhe?

    Este seu discurso pode fazer com que, aos olhos de terceiros, principalmente dos mais jovens que nos leem, a Gercione escape da acusação de heresia que lhe foi feita. Mas e aos olhos de Deus, no dia do julgamento? Agora, vejamos como eu, este burro assumido, irei tratar as palavras da sapientíssima Gercione, a grande, que escreveu o seguinte:

    “(…) e é verdade que o Papa Pio XII explica que a expressão “Corpo Místico” sempre foi usada pela Igreja pra se referir à própria IGREJA como instituição, eu só queria que você me explicasse por que os Padres do Concílio Vaticano I a rejeitaram alegando que era “confusa, ambígua, vaga e inadequadamente biológica”?

    Gercione, se a Igreja SEMPRE usou a expressão, como diz Pio XII e você reconhece, então como é que não compreende que existe uma forma correta de se utilizar esta expressão? Não sabe você que, por exemplo, a Igreja Católica utiliza a palavra “igreja” em um sentido e os protestantes a utilizam em outro sentido, e que assim a Igreja condena a forma como os protestantes compreendem a palavra “igreja”, e não a palavra “igreja” em si mesma?

    Da mesma forma, ó Gercione, a Igreja CONDENOU no passado o uso da expressão “Corpo Místico” em determinado sentido, e o aprovou em outro. Por exemplo, a bula de Bonifácio VIII utiliza esta expressão, correto? E o faz infalivelmente, correto? O Concílio de Trento utiliza esta expressão, correto? Logo, existe uma forma correta e infalível com que a expressão pode ser utilizada pela Igreja, e é justamente esta forma correta de utilização que Pio XII explica na encíclica que você, MISERAVELMENTE, rejeita.

    Mas quem é Pio XII perto da sapientíssima Gercione, não é mesmo? E você também escreve o seguinte:

    “(…) Você dá voltas (sic) e não consegue refutar (sic) o que teólogos e Cardeais PROGRESSISTAS disseram e continuam dizendo_ diga-se de passagem_ não pra denegrir, mas em tom de elogio à encíclica de Pio XII”.

    Nossa, sapientíssima Gercione: então o que vale para você é o que dizem os hereges? Se você me apresentar, por exemplo, Dom Lefebvre, Castro Mayer, Cônego Boulanger, Revmo. Padre Penido, o teólogo Fenton e outros VERDADEIRAMENTE CATÓLICOS rejeitando a encíclica de Pio XII após a sua promulgação eu até poderia começar a te ouvir. Você tem estes escritos? Não, você não os tem.

    O que você tem é, como você mesmo diz, PROGRESSISTAS, portanto, HEREGES, dizendo o que querem a respeito de um documento que justamente os condena. Mas não sabe você que esta é uma estratégia da Maçonaria que foi, inclusive, denunciada por Dom Bosco nos tempos de Pio IX, quando os liberais gritavam “Viva o Papa”? Sim, Gercione, os maçons tem como estratégia pegar um documento de um papa, por exemplo, que fale sobre a liberdade, e aproveitar textos isolados em favor da heresia, omitindo o contexto. Isso qualquer jegue que tenha estudado um pouquinho a respeito do modernismo sabe.

    E por que os padres do Concílio do Vaticano rejeitaram a expressão, como você afirma? Se é que rejeitaram, o fizeram no sentido modernista, como hoje rejeitamos a expressão “liberdade religiosa” no sentido modernista (ao mesmo tempo que reconhecemos que existe a verdadeira liberdade religiosa ensinada por Leão XIII na Libertas e na Immortale Dei).

    Disse e volto a repetir: se a Igreja SEMPRE usou a expressão “Corpo Místico” é porque existe uma forma correta de utilização desta expressão. E esta forma correta foi apresentada por Pio XII. Te pedi para ler a partir do número 84 da encíclica, você o fez? Veja o que está escrito ali, e veja se não é, JUSTAMENTE, a condenação da concepção modernista a respeito da expressão “Corpo Místico”. Não percebe você, meu Deus do céu, que os hereges que você se apóia “pularam” este trecho do documento, e ficaram com o restante, distorcendo-o? Ou o revmo. Padre Penido, um teólogo dos maiores, não percebeu o que você afirma?

    Gostaria que ministrasse aula demonstrando, com toda a sabedoria e graça que Deus lhe concedeu, qual a real distinção, neste contexto, entre “eclesiologia” e “soteriologia”. E demonstrasse também onde estaria a aplicação correta usada pela Igreja Católica a expressão “Corpo Místico” e onde Pio XII errou nesta concepção. Por favor, estou aguardando esta aula, pois que eu preciso mesmo saber da Gercione aquilo que Pio XII não compreendeu, favorecendo a heresia. Aliás, quem sabe São Roberto Bellarmino, que tratou largamente da questão, dedicando um tratado a ela, não aprenda também com você esta distinção…e também quem sabe o Revmo. Padre Penido, ou mesmo o Revmo. Padre Belmont, que deixou um guia para melhor compreensão da encíclica que pode ser encontrado aqui:

    http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=documentos&subsecao=enciclicas&artigo=mystici_corporis&lang=bra

    Ah, o que diria o finado Orlando ao ver a Gercione acusando esta encíclica de modernismo?

    Concluindo: não passou da hora de encerrar esse assunto. Não percebeu que você está sendo acusada de heresia no site católico-jornalistico mais importante do país, com milhares de leitores? Prefiro ser burro do que ser herege.

    Sandro Pelegrineti de Pontes

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  34. Já praticamente se encerrou o acalorado debate travado nesta página do Fratres in Unum, a propósito da encíclica Mystici Corporis Christi e o pontificado de Pio XII. As viagens, compromissos profissionais e outras circunstâncias não me permitiram, infelizmente, acompanhar nem intervir na controvérsia. Seria mesmo o caso de fazê-lo agora, quando suas cortinas já se fecharam?
    A tempo e a destempo é oportuno repetir a doutrina católica, máxime quando os homens estão dispostos a “afastar o ouvido das verdades para se abrirem às fábulas”. Foi o que lembrou o valoroso sacerdote, Pe. David Francisquini, no artigo “Chegou o tempo?”, ao citar S. Paulo. Não quero prosseguir sem antes destacar o mérito de seu artigo: um sacerdote brasileiro saiu à luta para questionar o escandaloso pronunciamento do Cardeal Kasper. E sua destemida atitude fica insculpida na História Eclesiástica brasileira.
    Espocaram no debate superficialidades e intervenções luminosas, erros e acertos doutrinários, elegância e grosseria. Não é o caso de remexer no que ali constituiu um tremedal, senão de clarificar ainda mais o que teve de melhor, para animar os que conhecem e difundem a doutrina tradicional da Santa Igreja.
    É, pois, com esta intenção que trago à colação o testemunho de três sólidos autores. Um deles, o prof. Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995), no próprio ano de 1943 em que veio à luz a encíclica, já havia publicado um livro, Em Defesa da Ação Católica. Plinio estava no epicentro da vida católica brasileira. Interferia, por assim dizer, no primeiro momento em que a crise religiosa modernista-progressista eclodia entre nós. Por ocasião da comemoração dos vinte anos do lançamento de seu livro, publicou em fevereiro de 1963 o artigo “Para evitar as prescrições da história”, no qual usou o pseudônimo Eloi de Magalhães Taveiro. Desse histórico artigo vou reproduzir algumas passagens pertinentes. Outro testemunho é o Pe. Antonio Royo Marín, O. P. (1913-2005), que dez anos depois da encíclica publicou sua notável Teologia de la Perfección Cristiana. Esta obra, na sua segunda edição apresentou cartas elogiosas que o Autor recebeu dos célebres Pe. Garrigou-Lagrange e Pe. Philipon. Dela extraí algumas passagens interessantes. O terceiro pronunciamento é o do historiador contemporâneo, o polemista católico italiano, prof. Roberto de Mattei.
    Ao apresentar excertos desses autores, tenho em vista: 1º) Fazer notar a repercussão que teve a publicação da Mystici Corporis Christi no ambiente católico daquela época, bem como o seu valor como doutrina católica válida para todos os tempos e lugares; 2º) Situar o leitor nas duas décadas que precederam o Concílio Vaticano II, ressaltando como não foram tempos de tranqüilo pontificado de Pio XII, mas já então se podia notar o desvio das mentes e ouvir o borbulhar das águas agitadas que depois transbordaram no Tibre conciliar.

    1. A OPINIÃO DO PADRE ANTONIO ROYO MARIN, O. P.
    Isto posto, começo pela Teología de la Perfección Cristiana, do ilustre escritor e pregador espanhol, o Pe. Antonio Royo Marín O. P. (tradução minha).
    “Vamos recordar aqui as linhas fundamentais da doutrina do Corpo místico de Cristo. Jesus Cristo é a Cabeça de um Corpo místico que é a sua Igreja. Consta expressamente na divina revelação: “A Ele sujeitou todas as coisas sob seus pés e o colocou como Cabeça de todas as coisas na Igreja, que é seu corpo” (Ef. 1, 22-23; I Cor. 12 ss). A prova da razão é dada por São Tomás, num magnífico artigo que responde à pergunta: ‘Se a Cristo, enquanto homem, lhe corresponde ser Cabeça da Igreja’ (Cf. III, 8, I). Ao passar a demonstrá-lo, estabelece o Doutor Angélico uma analogia com a ordem natural. Na cabeça humana, diz, podemos considerar três coisas: a ordem, a perfeição e o influxo sobre o corpo. […]. Em outra parte, prova São Tomás que Cristo é Cabeça da Igreja por razão de sua dignidade, de seu governo e de sua causalidade (Cf. De veritate, q. 29, a.4). […] Cristo é Cabeça de todos os homens, mas em diversos graus. Eis aqui como S. Tomás explica (III, 8, 3): […].”
    E S. Tomás mostra como Cristo é Cabeça dos bem-aventurados e das almas do purgatório; de todos os homens em graça; dos cristãos em pecado, mas de modo menos perfeito, enquanto pela fé e esperança informes lhe estão unidos de alguma maneira atual; os hereges e pagãos, tanto predestinados como precitos, não são membros atuais de Cristo, senão só em potência, mas com esta diferença: os predestinados são membros em potência que passará a ser atual, e os precitos o são em potência que nunca passará a ser atual ou o será tão só transitoriamente; os demônios e condenados de nenhum modo são membros de Cristo, porque estão definitivamente separados dEle, e nem sequer em potência lhe estarão unidos.
    O renomado teólogo dominicano prossegue a descrição e aplicação da doutrina do Corpo Místico de Cristo. Remeto o leitor à longa explicação dada pelo mesmo nas páginas de sua Teologia de La Perfección Cristiana (BAC, 2ª. Ed., 1955, Madrid, pp. 59-70). O ilustre Autor recomenda ainda o “magnífico estudo do Pe. Emilio Sauras, El Cuerpo místico de Cristo (BAC 1952)”.
    Com isto, fica claro que o Corpo Místico de Cristo faz parte da doutrina católica tradicional, integra a Divina Teologia, a teologia única. Para efeito didático, a Sagrada Teologia apresenta ramos, mas é essencialmente uma só, como ensina São Tomás (Cf. I, I, 3), pela identidade de seu objeto formal em todas as suas partes. É forçoso que todas elas estejam intimamente relacionadas entre si. E é oportuno recordar: “São Tomás desconheceu inteiramente as múltiplas divisões e subdivisões que se introduziram posteriormente na teologia única, com tanto prejuízo para a mesma e desorientação das inteligências: dogmática, moral, ascética, mística, exegética, patrística, simbólica, litúrgica, catequética, positiva, pastoral, kerigmática, etc. Santo Tomás concebeu e escreveu uma só teologia, que abarca unitariamente todo o conjunto do dogma e da moral com suas variadas e múltiplas derivações” (Pe. Royo Marín, Teología Moral para Seglares BAC, Madrid, 1964, 3ª. Ed., l. I, introd. geral, pp. 3-4. Tradução minha.).
    Como exemplo – dessa interconexão e permeação da doutrina do Corpo Místico na Teologia única – cito o seguinte.
    “Da genuína noção da Liturgia. [Da Encíclica Mediator Dei, de 20 de novembro de 1947] A sagrada Liturgia, por conseguinte, constitui o culto público que nosso Redentor, Cabeça da Igreja, tributa ao Pai Celestial e o que a sociedade dos fiéis tributa a seu Fundador e por Ele ao Padre Eterno; e, para dizer tudo brevemente, constitui o culto público íntegro do Corpo místico de Jesus Cristo, quer dizer, da Cabeça e de seus membros… Por isto, totalmente se desviam da verdadeira e genuína noção e idéia da Liturgia, os que a consideram apenas como a parte externa e sensível do culto divino, ou um belo aparato de cerimônias; e não erram menos os que a reputam como um conjunto de leis e preceitos com que a hierarquia eclesiástica manda que se cumpram e ordenem os ritos sagrados.” (Enrique Denzinger, El Magisterio de La Iglesia. Barcelona, Editorial Herder, 1963. No. 2298, p. 591. Tradução minha.)
    Causa, pois, estranheza que “soi-disant” tradicionalistas façam afirmações contrárias à doutrina do Corpo Místico de Cristo. Como católico tradicionalista, seguidor do magistério tradicional da Santa Igreja, eu não posso me solidarizar com as afirmações ou alegações contrárias à encíclica feitas pela jornalista Mary Ball Martinez em seu livro “The Undermining of the Catholic Church”. O simples fato de a jornalista por 25 anos ter coberto Sínodos, Conclaves, eleições papais e funerais pontifícios, não lhe dá autoridade para desacreditar a doutrina do Corpo Místico de Cristo. Pois, como se vê no texto do Pe. Royo Marín supracitado, é São Tomás quem prova a doutrina do Corpo Místico. Mas não só ele, que é o Doutor Comum da Igreja. Trata disso a encíclica: “Bem sabeis, veneráveis irmãos, com que eloqüência e esplendor trataram este assunto os doutores escolásticos e principalmente o Doutor angélico e comum; e não ignorais que os seus argumentos reproduzem fielmente a doutrina dos santos Padres; os quais, por sua parte, não faziam senão expor e comentar as sentenças da divina linguagem da Escritura.” (MC, n. 34).

    2. O TESTEMUNHO DO PROF. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
    Passo agora ao testemunho do prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre a situação religiosa brasileira à época da publicação da Mystici Corporis, apresentado no artigo “Para evitar as prescrições da história”, publicado no jornal “Catolicismo”, n° 150, de junho de 1963. Encontra-se neste endereço a seguir.

    Clique para acessar o EmDefesadaA%C3%A7%C3%A3oCat%C3%B3lica.pdf

    Após descrever a situação religiosa brasileira e comentar o lançamento do livro “Em defesa da Ação Católica”, prefaciado pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Bento Aloisi Masela, o prof. Plinio trata então dos principais erros difundidos na época nos ambientes católicos, os quais foram nessa obra apontados. E diz:
    “Em Defesa da Ação Católica” foi publicado em junho de 1943. A Encíclica “Mystici Corporis” apareceu em 29 do mesmo mês. A Encíclica “Mediator Dei” é de 1947. A Constituição Apostólica “Bis Saeculari Die” foi publicada em 1948. No seu conjunto, esses três documentos enunciavam, refutavam e condenavam os principais erros sobre que versava o livro. Também desses desvios se ocupou um grande literato: Antero de Figueiredo. […] (grifo meu)
    “Mas a existência desses erros entre nós, pode ser confirmada por testemunhos eclesiásticos brasileiros de grande importância. Antes de tudo, é de justiça lembrar o nome saudoso de Mons. Sales Brasil, o vitorioso contendor baiano de Monteiro Lobato. em seu livro “Os Grandes Louvores”, publicado no ano de 1943, com os olhos evidentemente postos na realidade nacional, ocupa-se ele de alguns problemas tratados por “Em Defesa da Ação Católica”. Ao lado deste nome, convém pôr outro, de fama internacional: o do grande teólogo Pe. Teixeira-Leite Penido, que em seu livro “O Corpo Místico”, de 1944, também menciona e refuta alguns dos erros apontados por “Em Defesa da Ação Católica. […]
    “A tarefa específica de “Em Defesa da Ação Católica” foi, numa hora em que os erros progrediam num passo rápido e triunfal, ter dado um brado de alarma que repercutiu pelo Brasil, fechou-lhes numerosos ambientes de norte a sul do País, e preparou assim definitivamente o terreno para a mais fácil compreensão dos documentos do Magistério eclesiástico, já existentes ou que ao longo dos anos haveriam de vir.”
    Dessa forma o prof. Plinio confirma com seu testemunho o valioso contributo dos três documentos de Pio XII para a luta católica contra-revolucionária travada nos meios católicos da época. Com efeito, facilmente se nota na encíclica “Mystici Corporis” a denúncia dos erros que a “nouvelle théologie” instilava nos meios católicos. Estes erros são apontados e censurados por Pio XII, por exemplo, nos parágrafos 14, 17, 21, 41, 63, 84 a 88, aos quais remeto o leitor. Vide o n. 21 da encíclica, citado em Denzinger, n.2286; o n. 41 em Denzinger n. 2287; o n. 54 em Denzinger n. 2288; o n. 75 em Denziger n. 2289; o n. 78 em Denzinger n. 2290; o n. 106 em Denzinger n. 2291.
    O leitor que tenha interesse em conhecer melhor os acontecimentos de 1943, poderá também ler o artigo “Em defesa da Ação Católica. Antecedentes – ambientes – episódios”, de Nelson R. Fragelli, publicado na revista “Catolicismo”, neste endereço.
    http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/32271654-3048-313C-2EFCDC150C5F2A61/mes/Junho2008
    Neste ponto, quero comentar a frase dita em 1970 pelo Padre Virgilio Rotondi, S.J., conforme Mary Ball Martínez conta no livro “The Undermining of the Catholic Church” (ela não cita a fonte):
    “Teólogos Jesuítas apontam para o dia 29 de junho de 1943 como o dia do ‘big bang’. Padre Virgilio Rotondi, S.J editorialista da Civilta Cattolica, uma voz semi-oficial do Vaticano, estava exultante: ‘Todos os homens honestos, e todos os homens inteligentes que são honestos, reconhecem que a revolução ganhou espaço com a publicação da encíclica de Pius XII, Mystici Corporis. Foi então que o terreno foi preparado para o novo tempo do qual emergiria o Concílio Vaticano II’.
    Como um jesuíta dos novos tempos, Padre Rotondi em 1970 estava falando com orgulho sobre esse evento histórico que ele e seus colegas viram como um bem sucedido clímax das agitações que correram dentro da Companhia de Jesus por quase a metade de um século, começando com a conversão do Anglicano George Tyrell e levadas a cabo mais abertamente com as fantasias desconcertantes de Pierre Teillard de Chardin.”
    Sabe-se que a Civiltà Cattolica era a revista considerada como porta-voz oficiosa da Santa Sé, e sua orientação contava indubitavelmente com a aprovação de Pio XII. A Civiltà espelhava a linha doutrinária tradicional do Pontífice. Esta situação só mudou no pontificado de João XXIII. A afirmação atribuída ao Pe. Rotondi não condiz com a realidade expressa na linha doutrinária fielmente mantida pelo corpo de redatores da revista durante todo o pontificado de Pio XII. Ademais, os documentos doutrinários emanados de Pio XII não favoreceram a revolução, o que dá à frase do Pe. Rotondi o sabor de aleivosia. Não merece crédito a falsa acusação, portanto, e se foi mesmo dita, não passou de mera frase de efeito e demonstração de gabolice.
    O que é inteiramente consentâneo com a realidade da época foi-me contado por um amigo, que ouviu do próprio prof. Plinio, na ocasião em que se comemoravam os quarenta anos do lançamento do “Em defesa da Ação Católica”. Referindo-se ao fato de o livro ter repercutido em 1943 com o estrondo de uma bomba nos meios católicos, Dr. Plinio disse que isto “marcava o ano 1” da enorme crise religiosa que irrompia e se tornava patente no Brasil.

    3. O HISTORIADOR ROBERTO DE MATEI
    Em seu livro Vaticano II. Uma história nunca escrita, Roberto de Mattei comenta:
    “A encíclica Mystici Corporis, publicada em 1943 por Pio XII, pretendeu pôr fim à Babel eclesiológica sobre o conceito do Corpo Místico, uma noção que remontava ao Concílio Vaticano I, mas que a ‘nouvelle théologie’ usava como dispositivo para introduzir uma nova visão, uma visão “pneumática” da Igreja.” (Roberto de Mattei, Vaticano II. Uma história nunca escrita. Edição Caminhos Romanos. Porto, 2012, p. 75)
    De fato a encíclica alertava contra essa visão “pneumática” revolucionária: “Ora, se a Igreja é um corpo, deve necessariamente ser um todo sem divisão, segundo aquela sentença de Paulo: ‘Nós, muitos, somos um só corpo em Cristo’ (Rm 12, 5). E não só deve ser um todo sem divisão, mas também algo concreto e visível, como afirma nosso predecessor de feliz memória Leão XIII, na encíclica Satis cognitum: ‘Pelo fato mesmo que é um corpo, a Igreja torna-se visível aos olhos’. (4) Estão pois longe da verdade revelada os que imaginam a Igreja por forma, que não se pode tocar nem ver, mas é apenas, como dizem, uma coisa ‘pneumática’ que une entre si com vínculo invisível muitas comunidades cristãs, embora separadas na fé.” (MC, n. 14)
    Mais adiante, diz o historiador que durante a Congregação Geral, em 30 de setembro de 1963, na segunda sessão do Concílio, tratou-se da eclesiologia:
    “Dentro da aula confrontavam-se duas tendências: a primeira repropunha a concepção clássica da Igreja como sociedade simultaneamente visível e invisível; a segunda tendia a enfatizar a dimensão invisível e carismática em detrimento da jurídica e invisível”. (Op. cit., p. 268)
    “Quando se deu início à discussão, as duas primeiras intervenções, dos Cardeais Frings e Siri, confirmaram a profunda divergência de pontos de vista que reinava no interior da assembléia. De um lado, estavam as concepções da nouvelle théologie, em particular de Congar, que contrapunha à “Igreja do Direito” a Igreja pneumática do Amor”; do outro, a visão tradicional, que se baseava na doutrina de São Roberto Belarmino, lida à luz da Mystici Corporis [109].” (Op. cit., p. 267)
    [Nota 109]. “As centenas de tentativas para encontrar uma definição adequada da Igreja, uma fórmula mais extensa do que a proposta por São Roberto Belarmino, encontram uma solução na Mystici Corporis, tinha escrito Mons. Fenton na conclusão do seu amplo tratado sobre a eclesiologia tradicional (Scholastic Definitions of the catholic Church, cit. p. 277).” (Idem, ib.)

    EPÍLOGO
    Conforme havia enunciado, fiz notar ao longo desta exposição a repercussão da Mystici Corporis no ambiente católico brasileiro da época, e ressaltei seu elevado valor doutrinário que ainda ecoou na sessão conciliar. Procurei situar o leitor no ambiente psicológico e doutrinal das duas décadas que precederam o Concílio Vaticano II. Na verdade, a gravidade daqueles tempos não reclamava a presença de um Pio XII. Teria sido indispensável a vigorosa atuação de um São Pio X.
    A partir de 1943 começou a correr o ano 1 da calamitosa Paixão da Santa Igreja. Desde então mais de setenta dolorosos anos já se passaram. O clímax se aproxima vertiginosamente. Parece não haver mais remédio para os gravíssimos erros atuais. Só mesmo a intervenção divina pode abreviar dias tão maus quanto os que vivemos. E é com os olhos postos na promessa de Fátima que concluo: “Por fim o Meu Imaculado Coração triunfará”.

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  35. Retifico uma citação, houve um lapso numa palavra digitada. Ei-la correta:
    “Dentro da aula confrontavam-se duas tendências: a primeira repropunha a concepção clássica da Igreja como sociedade simultaneamente visível e invisível; a segunda tendia a enfatizar a dimensão invisível e carismática em detrimento da jurídica e visível”. (Op. cit., p. 268.)

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  36. Prezado Salomão, salve Maria

    Obrigado por suas palavras. Porém, noto que seu único “erro” foi ter pensado que o debate foi concluído: não foi! Eu apenas estou esperando a Gercione explicar como algum católico pode rejeitar uma doutrina que pertence ao Magistério Ordinário e Universal da Igreja sem cair em heresia. Após ela se defender desta terrível acusação que está lhe sendo feita, eu irei apresentar o sentido com que os papas do passado condenaram a expressão “Corpo de Cristo”, condenação esta repetida por Pio XII.

    Cordialmente,

    Sandro de Pontes

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