Por Sandro Magister | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: Irmã Gloria Riva é a fundadora e priora das Monjas da Adoração Eucarística, um convento em Pietrarubbia nas colinas de Montefeltro. A missão que ela abraçou é a de educar os fiéis à adoração e divulgar a “a paixão pela beleza que salva”.
A beleza é também aquela da arte cristã, da qual Irmã Gloria é uma profunda estudiosa. O jornal oficial da Igreja italiana “Avvenire” comenta uma vez por semana sobre alguma obra de arte com leituras surpreendentes e geniais. Na TV 2000, durante a primavera passada, ilustrou o Evangelho de cada missa dominical com as formas e cores de grandes mestres da pintura.
Mas, desta vez, é sobre o Sínodo que se intervém contra a proposta de dar a Comunhão aos que se encontram numa condição matrimonial irregular. E isso é feito assumindo como mestre o Beato Fra Angélico com a sua representação da Última Ceia. (Fra Angélico foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 3 de outubro de 1982 e é considerado o patrono dos artistas.)
Todo seu comentário foi publicado em A Bússola Quotidiana. Aqui estão os principais trechos.
O BEATO FRA ANGELICO DESMENTE KASPER
Por Gloria Riva
O afresco de Beato Fra Angélico decora uma cela do convento Florentino de São Marco mostrando a comunhão distribuída aos apóstolos. […] Esta versão particular da Última Ceia é a predileta de Fra Angélico em relação à celebração da Eucaristia. A mesa, de fato, está nua como uma mesa de altar e Cristo distribui o pão e o vinho. Os oito discípulos sentados à mesa, significam os convidados das núpcias, aqueles dos quais fala o Evangelho do domingo passado, XXVIII do Tempo Comum. É o povo do oitavo dia que em relação profunda com o mistério do Salvador senta-se à mesma mesa. No entanto, existem quatro bancos vazios, deixados para outros quatro chamados à mesa e que estão esperando pacientemente por seu momento de joelhos, ou seja, em um ato penitencial. Esses quatro simbolizam a humanidade que quer se aproximar da mesa do Senhor, mas ainda não pode. Entre estes quatro, na mesma postura, na mesma expectativa, está Judas Iscariotes. Podemos reconhecê-lo pela auréola negra e pela sua posição um pouco afastada.
A posição de joelhos nos informa sobre a qualidade desse alimento que requer de nós um coração perfeito e contrito. O afresco nos leva a meditar quando o comparamos com os tipos de discursos que estão sendo feitos hoje com relação à celebração da Eucaristia e o mistério que essa significa. Hoje em dia, receber a Comunhão é visto, na minha opinião, com excessiva banalidade. É como se a Eucaristia fosse o fim natural da Missa e não a coroação para aqueles que são dignos de se aproximar da mesa do Senhor. A facilidade com que nos últimos anos os cristãos têm se aproximado da Comunhão, sem as disposições necessárias e sem – frequentemente – terem passado pela confissão gerou uma redução do mistério e do sacramento. Certamente foi necessário corrigir algum legado jansenista excessivamente restritivo e escrupuloso pela Eucaristia, mas, infelizmente, como muitas vezes acontece na história, se caiu no extremo oposto, sem que se chegasse num modo de manter tudo em equilíbrio. […]
A Eucaristia é uma injeção de eternidade, prepara e habitua o homem a estar com Cristo, mas — como diziam os Padres da Igreja – esta é como o sal, ela te preserva no estado em que você se encontra. Se você está na graça de Deus, ela te preserva no bem; se você não está na graça de Deus só servirá para acelerar o processo de corrupção. E quem nos diz isso é a própria história de Judas que, depois de ter comido o bocado do pão saiu e sua saída foi nefasta. Não só traiu seu Mestre com quem dividia a mesa, mas, e este foi o pior, se desesperou do seu perdão. Ele não teve forças para se arrepender e voltar ao seio da comunidade. Ele deu a si mesmo um juízo inapelável e tirou sua própria vida.
Hoje em dia se concede a Eucaristia com tamanha facilidade mesmo àqueles que embora regularmente casados ou simplesmente noivos comungam sem passar pela confissão; portanto, também no discernimento sobre estados de vida irregulares e incompatíveis com o sacramento da comunhão com Cristo, há confusão e incertezas.
Estamos certos de que é necessário um juízo de misericórdia, mas sem esquecer a verdade. Temos certeza de que muitas pessoas têm de ser acompanhadas dentro de um caminho novo, de consciência e santidade, mas isto sem esquecer as ações que precedentemente tiveram lugar em suas vidas.
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Postscript – Na tarde da segunda-feira, 13 de outubro, “L’Osservatore Romano” forneceu uma primeira e pálida narrativa da batalha campal que eclodiu pela manhã na assembléia do Sínodo, após a leitura do “Relatio post disceptationem” redigida pelo cardeal-relator Péter Erdo, em colaboração com – “a tratti prevaricante”, como o próprio Erdö sugeriu em uma entrevista coletiva pela manhã – o secretário especial Bruno Forte.
No fogo cruzado de pelo menos 41 intervenções, tomaram a palavra entre outros cardeais, Pell, Ouellet, Filoni, Dolan, Vingt-Trois, Burke, Rylko, Müller, Scola, Caffara todos contrários a uma abertura ao segundo casamento como havia sido vislumbrado pelo Cardeal Kasper, que também interveio.
Mas entre os protestos dos quais toma nota o “L’Osservatore Romano”, há também aqueles que dizem respeito aos parágrafos (escritos por Bruno Forte) sobre a homossexualidade, em que se “pede uma formulação que leve em conta as pessoas, mas que não contradiga de algum modo a doutrina católica sobre o casamento e a família”.
E ainda “foi proposta uma palavra mais forte sobre o drama do aborto, bem como sobre a questão da fertilidade assistida.”
Mas “sobretudo foi invocado um grande encorajamento profético dirigido a todas aquelas famílias que, mesmo à custa de enormes sacrifícios, testemunha todos os dias a verdade cristã sobre o casamento. Em suma – foi enfatizado – que seria oportuna uma afirmação positiva do amor conjugal, bem como o valor social das famílias “.
Estou sentindo uma manobra muito parecida com as que ocorreram no Concílio Vaticano II por parte dos progressistas, como nos contou Ralph Wiltgen em O Reno se Lança no Tibre.
A real intenção dos modernistas – como Kasper – é aprovar a comunhão para os recasados. Isso estava bem claro antes do sínodo. Entretanto, houve um movimento de prelados pelo mundo para denunciar essa tentativa como contrária à doutrina católica, o que criou um empecilho à Kasper e companhia.
Assim, qual foi a estratégia utilizada? Conseguiram incluir algo ainda pior – no caso a aceitação das uniões homossexuais – e fizeram a discussão girar em torno desse assunto. Provavelmente agora irão abrir mão desse tema, para que, permanecendo apenas a comunhão aos recasados, os que defendem a doutrina da Igreja se sintam vitoriosos por ter impedido a parte relativa aos homossexuais.
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