“Mesmo em 2015, será difícil para Francisco ir muito além disso sem correr o risco de um cisma.”
Por Rorate-Caeli | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: Professor Odon Vallet é um especialista em história das religiões e civilizações e, por ser considerado como um forte e radical “progressista”, ele é um dos prediletos na mídia francesa para falar como uma voz amiga da agenda secular quando se trata de questões católicas.
Ele foi entrevistado pelo diário popular “20 Minutes” sobre os resultados da Assembléia do Sínodo dos Bispos de 2014:
Em que sentido o texto provisório [a relation de Bruno Forte] sinaliza um passo importante?
O texto provisório incluía duas aberturas. Uma com relação aos divorciados recasados e outra a respeito dos homossexuais. Não foi uma revolução, mas uma evolução. Não foi proposta a admissão de divorciados recasados ao sacramento, mas simplesmente de prever, quer por anulação do casamento, ou por um procedimento de penitência, eles pudessem ser readmitidos ao sacramento. Para os homossexuais, não era uma questão de reconhecer o casamento, mas para sublinhar os “dons e qualidades” que eles poderiam oferecer à Igreja. Eles seriam bem recebidos, sem no entanto oficialmente terem sua união civil reconhecida.
Uma evolução que não passou no momento da votação …
No texto final, nenhuma alusão foi feita novamente a esses dois temas polêmicos. Foi uma fragorosa derrota para o papa Francisco, uma afronta. Pior ainda, um Cardeal [editor nota: Raymond Leo Burke, da oposição conservadora] americano chegou a declarar que o papa tinha causado “um grande dano por não dieclarar abertamente qual era a sua posição.” Na realidade, Francisco permaneceu em silêncio para garantir a liberdade a todos os participantes. É a primeira vez em pelo menos 50 anos, que um cardeal opõe-se abertamente ao Papa. É a primeira vez também, em vários séculos, que Bispos e cardeais não tem confiança nele.
Como explicar isso?
A quase totalidade destes prelados foram nomeados por João Paulo II e Bento XVI. Suas opiniões são mais conservadoras do que as do papa. Alguns chegam a questionar a sua legitimidade. Eles não aceitaram a renúncia de Bento XVI. [***] E uma vez que o Papa Francisco disse que também renunciaria e que seu pontificado seria breve, alguns estão começando a jogar com o tempo e esperando pela eleição de seu sucessor.
No entanto, é na verdade o papa Francisco que terá a palavra final?
Após o segundo sínodo, em 2015, o Papa [teria] normalmente que tomar as decisões sob o formato de uma exortação apostólica. Mas é quase impossível que o Papa vá contra bispos e cardeais. Isso provocaria o risco de um cisma na Igreja. Tradicionalistas católicos tiveram uma grande vitória e a França desempenhou um papel importante neste processo.
Não foi uma vitória simbólica para os homossexuais?
Esta tentativa de mudança tocou os espíritos em paróquias e dioceses. [*] Muitos clérigos que fazem preparação para casamentos estavam contentes ao ver que o Sínodo parecia levar essas realidades em consideração. Mas o retrocesso final os deixaram perturbados. Em muitos países, tais como a França e a Alemanha, a Igreja Católica está profundamente dividida. O grande sucesso dos protestos [nota Rorate: A Manif pour tous] contra o casamento para todos [Rorate nota: mariage pour tous, um eufemismo Socialista Francês para casamento civil entre pessoas do mesmo sexo” ] previu esse fracasso do Papa Francisco. Não nos esqueçamos de que o centro de gravidade do corpo episcopal é claramente conservador. O Papa perdeu por enquanto qualquer margem de manobra, apesar de sua imensa popularidade [**]. Mas uma vez que ele é ardiloso, ele tomará algum tempo pra refletir e tentar assumir o controle de outra maneira.
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É uma análise correta do momento. Gostaríamos apenas de acrescentar algumas poucas notas. Em primeiro lugar, [*] o relatório provisório inflamou os espíritos em todos os lugares e de maneiras muito diferentes, mas não meramente, como Vallet implica, de esperança e expectativa entre os pseudo-católicos que não acreditam em nada. Pelo que recebemos dos leitores oriundos de várias paróquias e de um particular leitor da África, o relatório provisório acendeu um fogo de indignação em muitos espíritos tanto nas paróquias como também em dioceses. E se tem algo que podemos dizer é que os leigos em países africanos (e, certamente, em cada nação asiática) são muito mais conservadores em questões morais do que os seus próprios bispos. Segundo, que [**] a inegável imensa “popularidade” do papa em contextos seculares é muito menos perceptível a nível paroquial, onde o efeito “Francisco” é insignificante, isso se existente – e quanto mais dedicado e completamente catequizado é um determinado grupo, menos popular o papa é. Daí o risco imenso, senão for de um cisma claro, uma divisão forte e duradoura entre o papa, sacerdotes e os leigos. Francisco tem muito apoio para mudar a doutrina católica … mas esse apoio vem principalmente de pessoas que raramente vão à igreja, isso se ainda podemos considerá-los como Católicos de fato. Em terceiro lugar, [***] a renúncia do ex-papa é um problema inexistente, apenas na mente dos novos Ultramontanists liberais.
Um ponto adicional diz respeito ao Cardeal Burke, este servo exemplar da Igreja. Ele não tem sido outra coisa senão humilde ao aceitar pacientemente todas as humilhações. A maneira como ele foi tratado por Francisco é constrangedora não para ele, mas sim para o papa. Pense no quão diferente eram João Paulo II e Bento XVI para com seus dissidentes mais radicias como o anti-Africano cardeal alemão Walter Kasper, e muitos outros da mesma linha, que nunca foram humilhados ou ameaçados de rebaixamento e exílio, apesar de suas posições – muito pelo contrário. E eles agiram assim não porque eram frouxos, mas porque lutavam pra salvaguardar a unidade da Igreja.
Francisco, por outro lado, brincou com fogo e trouxe a Igreja à beira do precipício, sua mais séria divisão em cinco séculos, a fim de implementar aquilo que o seu próprio nomeado, o Cardeal Pell chama de “agenda secular”. Nem mesmo em um Sínodo, cujos membros foram escolhidos a dedo por ele e dirigido pelo cardeal Baldisseri sob seu commando, ele foi capaz de alcançar 2/3 dos votos naquelas questões que lhe eram as mais queridas, isso mesmo depois de terem sido consideravelmente diluídas. Comparem e contrastem isso tanto com o Vaticano I como o Vaticano II, onde nem mesmo as questões mais controversas atingiram esse nível de discordância da inequívoca vontade do Papa – e mesmo quando havia uma proporção muito menor de “non placet” votos (menos ainda de 10%), os textos foram alterados para se obter acordos e se chegar o mais próximo possível da unanimidade. E em vez de aceitar graciosamente a exclusão dos parágrafos rejeitados, ele procedeu incluindo as passagens rejeitadas no texto, o que faz com que todo o processo sinodal perca o sentido … Apesar de tudo isso, como diz Vallet, ele é “ardiloso” o suficiente para prosseguir adiante em sua tentativa, independente dos riscos graves e extremamente elevados para a unidade da Igreja envolvidos nisso. Que Nosso Senhor e Nossa Senhora possam proteger a Igreja.
Eu DUVIDO que estas pessoas que estão fazendo pouco caso do que aconteceu neste sínodo e que ainda aparecem com aquela acusação de que os que criticam o papa estão “julgando pensamentos” são realmente católicos e defendam a fé e diante das pessoas que estão em erro tentando auxiliá-las.
SE fazem isto (e muito provavelmente devem defender a agenda do Francisco também), muito provavelmente o fazem pela internet falando com desconhecidos. No momento em que estas pessoas defenderem realmente a doutrina de 2000 anos de tradição da Igreja Católica diante das pessoas do seu dia a dia vão ver o que é ser tratado feito monstro e o que é a falta de caridade e misericórdia.
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Estamos em momento singular, com evidente refluxo das teses liberais, modernizantes e seculares na base da Igreja ( vide as CEB’s desmoralizadas no Brasil ) e um conjunto de bispos e cardeais predominantemente ” conservadores ” – díspar o episcopado brasileiro representado pela esquerdista CNBB – e, ao revés, a TL assaltando Roma, pelas mãos e mentes comprometidas e conspiradoras do Cardeal hondurenho, principal assessor do Pontífice.
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A meu ver faltou contudo neste Sínodo posições e estudos do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimónio e Família, em princípio a instituição mais apropriada para ajudar a esclarecer os prelados e dirimir posições. Fica-se com a sensação que todo este espectáculo mediático serviu mais o objectivo da contenda, do cisma ou de interesses obscuros do que a unidade da Igreja e a preservação da sã doutrina.
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É duro dizer, mas parece ilusório pensar q Francisco abra mão da sua agenda. Ele é o típico representante daquela perigosa mistura de voluntarismo e ideias próprias (ideias fracas, aliás, sem grife e ruins). Nisto ele lembra muito João Paulo II; dá-se, porém, q João Paulo II ainda foi formado na velha disciplina da Igreja, e tinha na retaguarda um teólogo da envergadura de Joseph Ratzinger. Por sua vez, Bergoglio estava no Seminário durante os anos do concílio e pós-concílio, anos marcados pela irresponsabilidade dos Bispos, pela vulgaridade e pelo experimentalismo mais barato e boçal. Na vanguarda de Francisco está Kasper, o javali da floresta.
Francisco, no entanto, sem se dar conta, já está meio ultrapassado… Pois não há nada mais antigo q a última moda. Não é à toa q sua homilia de encerramento estaja cheia daqueles velhos jargões de “legalista”, “doutor da lei” etc q estavam muito em voga nos anos de ferro (chumbo?, latão?) de Paulo VI, o Hamlet de Bréscia.
Mas não adianta lamentar, resmungar e ficar procurando sinais no Céu. Não é hora de fricote. A hora é de trabalho e seria máxime oportuno endereçar cartas (emails, pombos-correio, sei lá!) aos Bispos q não traíram sua missão de guardar a sã doutrina. Eles devem ser estimulados no combate, pois Kasper et caterva não vão deixar barato o contra q levaram.
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Que pese um papa ser ardiloso (se é que o é), em se tratando de questões de fé e moral para toda a Igreja, o Divino Espírito Santo nunca permitirá que seus (do papa) ardis prevaleçam. Mas nesta hipótese ( de o Papa pretender ardilosamente mudar algum dogma do Depósito da Fé), imaginemos a confusão gerada dentro da Igreja! Alguns até acenam para um possível cisma. Temos que rezar e fazer penitência. Só em o Papa pretender tal atentado (como teólogo particular), já seria um escândalo terrível e sem precedentes na História da Igreja, pois, nem Honório, chegou a tanto e foi anatematizado por outro Papa.
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Creio que o intento do sínodo foi infelizmente conquistado: identificar todos os opositores! Agora, virão os afastamentos e a limpeza da Cúria tão esperada, só que agora, às avessas! Card. Burke já foi… que Nossa Senhora proteja a Santa Igreja!
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Ler as noticias antes, durante e depois do Sínodo me anima em um ponto: Cardeal Burke passou a ser mais conhecido pela mídia e sua posição ferrenha de defensor da fé pode fazer com que ele crie força em meio aos cardeais para um novo conclave futuramente, nem que tenha que se arrastar a semanas de votação para vencer os liberais.
Por enquanto, rezemos pela nossa Igreja, pelo nosso Papa Francisco e também pelos cardeais para que hoje e sempre a maioria defenda a tradição da Igreja e as verdades da fé!
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Penso que Francisco, ao julgar pelo que diz seu teólogo de cabeceira, D. Víctor Manuel Fernández, arcebispo e reitor da PUC Argentina em http://www.adelantelafe.com/tucho-habla-sobre-el-sinodo-esta-fue-solo-una-etapa-en-el-camino-el-papa-espera-una-mayor-apertura-pastoral/, não pensa em derrota. Ou então pensa mesmo, e as palavras do arcebispo argentino são uma tentativa de consolá-lo. Vá saber…
No meu entender, pelo menos, a Relatio synodi não foi tão escandalosa como a Relatio post disceptationem (ainda bem), houve um freio aí, conforme manifestou, no outro post, o presidente da Conferência episcopal polonesa. Minha opinião não é a única, portanto.
E além de tudo, já se perfilou quem é quem. Independentemente das limpezas que Francisco se prontifique a fazer “com misericórdia” na Cúria, a partir de agora; o colégio cardinalício está vendo e tomando nota, certamente, com vistas a um próximo conclave. Sem dizer que o Espírito Santo, acima de tudo, é quem dirige a Igreja de Cristo.
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“Mas uma vez que ele é ardiloso, ele tomará algum tempo pra refletir e tentar assumir o controle de outra maneira.”
Ao ler estas palavras de Odon Vallet, logo me veio à lembrança a passagem de São Lucas:
“Tendo esgotado todas as formas de tentação, o Diabo se afastou de Jesus para voltar no tempo oportuno” (Lucas 4,13)
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Eu guardo no coração a idéia de que o Papa esteja deixando propositalmente os modernistas falar e gir, para que eles apareçam. Depois, tomará uma atitude mais radical.
Isso eu tenho no meu coração ingênuo. Não sei se o Papa pensa assim.
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Promovendo os modernistas e exilando os que tem idéias ortodoxas? Duvido…
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O Espírito Santo jamais abandonará o Sumo Pontífice e a Igreja de Roma em questão de doutrina.
Homens de pouca fé!
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Me recordo que o Prof. de Mattei em uma das palestras feitas no Brasil sobre seu livro sobre o Concilio Vaticano II, que a dificuldade de se combater o modernismo era que ele não dizia que homossexualismo era pecado, mas também não negava uma verdade. Pois, quando algum heresiarca dizia algo que contrariasse a verdade (por exemplo dizendo que o homossexualismo ou o divorcio não fossem pecados), aparecia alguém que reafirmasse a ortodoxia.
Desta vez os progressistas/modernistas cometeram um erro que era declarar algo intrinsecamente mau como se fosse bom. Então vieram os leigos e alguns poucos religiosos que reafirmaram a verdade.
Com isso o efeito foi o diverso que eles (a maçonaria e outras forças secretas) quereriam que era fazer os católicos aceitar o erro. Muito pelo contrário, muitos que estavam dormindo em berço esplendo acordaram.
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Ferreti, já leu isso?: http://www.infocatolica.com/?t=noticia&cod=22273
http://pagina-catolica.blogspot.com.es/2014/10/tucho-llama-fanaticos-agresivos-burke-co.html
http://www.gaceta.es/cigona/trucho-sangra-herida-22102014-1225
Ai depois vem um e diz que os bispos devem ser pastores e não “burocratas de escritório”… o que este senhor (Víctor Manuel Fernández) é senão um burocrata de escritório? Por que o reitor de uma universidade deve ser ordenado bispo? E por que só em Buenos Aires isso ocorreu?
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Além da promoção de um amigo, muito provavelmente ele foi sagrado bispo por saber coisas da privacidade do Papa. Não estou insinuando nada. Pessoas q convivem (conviveram) com um Papa precisam de imunidade; não podem ser pressionadas. Em geral, sabem de mais coisas do q conviria saber. Até aí, nenhuma novidade. Basta lembrar os casos de Stanisław Dziwisz (secretário de João Paulo II) e de Georg Gänswein (secretário de Bento XVI).
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Os bispos modernistas são espertos demais para afirmar suas intenções claramente. Eles vão comendo pelas bordas. O fato desses assuntos terem chegado à pauta de discussão pode ser visto como uma vitória deles. Eu não me apressaria em falar em uma “vitória dos tradicionalistas” tão imediatamente. O Sínodo final será no ano que vem. O grande problema é que os modernistas conseguiram colocar suas minhocas em algumas cabeças. É preciso que se tire essas minhocas ensinando a verdade de maneira clara e corajosa. Mas quem o fará? Como disse o padre Elcio Muruci, temos que rezar bastante pela Igreja.
Anteontem o programa do Jô Soares entrevistou o famoso padre Fabio de Melo e comentou exultante sobre essa “nova mentalidade trazida pelo papa Francisco a respeito dos homossexuais”. A Igreja sempre propôs respeito a todas as pessoas, independente de sua condição de pecado, mas nunca propôs tolerância à *prática* do pecado, que são coisas muito diferentes. Creio que vale a pena ver a entrevista para constatar como o perigo dessas proposições pode afetar almas com algum conhecimento do catolicismo. De ambas as partes, a entrevista é muito lamentável.
http://globotv.globo.com/t/programa/v/jo-soares-entrevista-o-padre-fabio-de-melo/3712260/
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