O artigo publicado pelo Il Foglio ontem [aqui], fornece uma síntese que deveríamos ter em mente enquanto aguardamos os novos movimentos e desenvolvimentos subsequentes da situação.
O articulista reconhece no Cardeal Raymond Leo Burke, um dos cardeais “que apoiam e celebram” a missa no rito antiquior”, que o Papa Emérito Bento XVI, “monge em clausura”, definiu como “grande” em uma recente mensagem enviada ao delegado geral do Coetus Summorum Pontificum [aqui].
O que me dá a oportunidade para reafirmar a nossa perplexidade sobre a figura do “papa emérito” e sobre algumas de suas expressões naquela mensagem que, se formos verificar novamente, talvez poderia parecer irônica, quando fala sobre a “paz litúrgica”, a qual infelizmente hoje corre mais risco (não podemos ignorar a história dos Franciscanos da Imaculada e o agravamento de muitas restrições, removidas algumas exceções) devido à aversão que suscitou na época em que Summorum Pontificum foi aprovado como uma exortação cheia de esperança para os mais jovens e talvez com uma autoridade significativa ao indicar nos “grandes” cardeais que apoiam e celebram o rito antigo, o katechon da situação, não só no que diz respeito à liturgia, mas também sobre alguns argumentos de peso, por ele citados no contexto dos dois documentos divulgados ao mesmo tempo: a mensagem lida na Universidade Urbaniana [aqui] e a saudação à conferência internacional “o respeito pela vida, o caminho para a paz”, promovido pela Fundação Ratzinger na Universidade Pontifícia Bolivariana de Medellín.
Perplexidade até agora não resolvida, exceto para aqueles que não percebem nenhum problema, como se estivéssemos vivendo uma situação “normal”. Na verdade, o inédito e anômalo que nos impõem provoca reações diferenciadas entre os católicos: Além da indiferença dos tíbios, há aqueles que pertencem à “torcida papista” e que não vão além da superfície; há quem sobe em palhas para defender o indefensável; quem se fecha como uma ostra para não ver; há aqueles que tomados pelo desânimo param de remar contra a corrente, há quem se cale e prefere ficar em silêncio por opção intensificando a oração e o oferecimento; e há aqueles que têm a coragem de se levantar e fazer perguntas, mesmo quando eles são incômodas e a audácia de expressá-las na esperança de que cheguem até alguém que não está irremediavelmente massificado e assim contribuir para defender a fé verdadeira.
O articulista fornece uma ampla citação das declarações do Cardeal Burke, em entrevista publicada no site Vida Nova:
“Desde que Kasper começou a divulgar sua opinião, uma parte da imprensa espalhou a idéia de que a Igreja tem intenção de mudar a sua disciplina. E isto criou sérias dificuldades pastorais. A pedra fundamental da Igreja é o matrimônio. Se não ensinamos e vivemos bem essa realidade, estamos perdidos. Deixamos de ser Igreja”. Não tem nada a ver com o Papa, assegura Burke, o qual todavia observa que “há pessoas que sofrem um pouco” de enjôo, porque lhes parece que a nave da igreja perdeu a bússola”.
Note-se que se trata da confusão “diabólica”, da qual falava o Bispo nativo da Filadélfia, Charles Chaput da Filadélfia, após a disputa teológica áspera e cerrada na sala do sínodo.
E, quanto ao Cardeal Pell, nota-se que ele escolheu voltar aos temas do Sínodo, durante a peregrinação anual que a cada mês de outubro celebra o Motu Proprio promulgado em 2007 por Joseph Ratzinger, o qual liberou o Rito Romano antiquior, instando os católicos a se organizar na batalha nas dioceses entre aqueles que querem tornar definitivas as aberturas dos inovadores e aqueles que querem bloqueá-las levados pela consciência de que o mistério divino não pertence somente à misericórdia, mas também à santidade e justiça. Algo que também foi mencionado pelo Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard Ludwig Müller.
Estas são as palavras do Cardeal Pell:
“Antes do próximo outubro, os católicos devem trabalhar para construir um consenso que supere as atuais divisões… Claro que a doutrina se desenvolve, no sentido que entendemos a verdade de modo mais profundo, mas, na história católica, não existem cambalhotas doutrinárias”. Isto porque “a tradição apostólica anunciada primeiramente por Cristo e fundamentada nas Escrituras é a pedra angular da verdade e da genuína prática pastoral.”
E o Papa, em tudo isso, tem um papel fundamental. Na verdade, nos deixa perplexos o “ter que construir consenso”, porque a verdade não depende do consenso e na Igreja ela é afirmada e confirmada com autoridade. E, depois das observações descritas, aqui residem todas as incógnitas:
“O papel do sucessor de São Pedro sempre foi vital para a vida cristã e católica, principalmente porque é a pedra angular da fidelidade doutrinária e a resolução de todos os conflitos, tantos doutrinais como pastorais. A Igreja não foi fundada sobre a rocha da fé de Pedro. Mas sobre o próprio Pedro. “[Mas primeiramente sobre Cristo].
O fato de que cardeais alguns e bispos falem de modo claro é já um indício de que não estamos sozinhos na sã reafirmação dos princípios perenes. Vamos aguardar pelos próximos movimentos dos que agora parecem se engajar como lados contrapostos.
O que se pode deduzir pelo que ocorreu no recente Sínodo é que a Igreja está fortemente infiltrada de maçons, comunistas e agentes do lobby homopedofilista, querendo verem o circo pegar fogo e adicionarem mais lenha ao incêndio.
Por outro lado, o recente pronunciamento do talvez “emeritado” papa Bento XVI na Universidade Urbaniana mostra que, apesar de enclausurado, está atento aos fatos e poderia intervir se a coisa desandar em excesso, hajam vistas as citações que se refeririam a certos fatos recém-sucedidos no recém findado Sínodo e, se não fossem as providenciais intervenções de Dom Burke, Dom Pell, Dom Gadecki etc., que naipe de relatório final teria saído, além de terem convocado o papa Francisco a se manifestar-se, mas retraiu-se.
Uma é certa: os engenhos do mal dentro da Igreja não cessarão com suas artimanhas; preparam novos e sutis golpes para assestarem ano que vem e, instigados por forças satânicas, jamais desistirão de seus maléficos intentos.
Faltariam a Dom Kasper e associados apenas confeccionarem as carteirinhas de filiação ao PT eclesiástico!
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“Claro que a doutrina se desenvolve, no sentido que entendemos a verdade de modo mais profundo, mas, na história católica, não existem cambalhotas doutrinárias”.
Mas o Papa atual parece querer dar cambalhotas de todo tipo na Igreja; um hora prega a doutrina, outra hora fala palavras e textos dúbios, até mesmo heréticos…
A fala do Papa emérito, gostei da expressão acima, EMERITADO… ter chamado “grande” os cardeais que favorecem o “usor antiquor” foi sintomático… Bento XVI pode estar fisicamente limitado, o que não é motivo para ter renunciado, vide João Paulo II, mas, está totalmente lúcido e acompanhado por nada menos que um Monsenhor Ganswein que continua ativo com Bergóglio…
“Não tem nada a ver com o Papa, assegura Burke, o qual todavia observa que “há pessoas que sofrem um pouco” de enjôo, porque lhes parece que a nave da igreja perdeu a bússola”.”
Bergóglio ainda se comporta como um simples pároco do interior, ainda assim imprudente, por isso solta palavras ao vento, sem o menor escrúpulo do resultado que isso causará na Igreja…
Mesmo do mal Deus tira o bem, por isso, não foi em vão a tempestade que esse Sínodo causou à Igreja, pelo menos, os maus, como Kasper e companhia, perceberam que não acontecerá o que aconteceu na época do Vaticano II que, quando os BISPOS CATÓLICOS abriram os olhos, era tarde demais, sem falar que os leigos antenados para a problemática que grassava na Igreja, eram em número muitíssimo menor que hoje (um dos frutos não podres do Concílio foi despertar os leigos para sua responsabilidade na Igreja).
Quem ainda não leu o artigo de D. Antônio Rossi Keller em seu blog sobre o Sínodo, deve ler…
S. Carlos Borromeu, rogai por nós!
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O ataque de outubro que a Santa Igreja sofreu a partir de dentro trouxe dois aspectos que, a seu modo, poderíamos considerar positivos: o primeiro foi o fracasso da ala liberal que estava certa de ganhar tudo e todos com o seu “misericordiosismo complacente”. O outro foi dar visibilidade aos bons cardeais, aos autênticos pastores que, em um dado momento, pareciam não mais existirem. Impressionante o vigor de alguns desses homens que ousaram soltar a voz dentro do próprio Vaticano. Isto só pode ter sido por ação do Espírito Santo. Em outubro vivenciamos aquela situação que Tolkien denominou de “eucatástrofe”: quando tudo parece ruir, ocorre uma mudança para o bem e essa mudança se deu na voz desses heróicos prelados, cujo valor foi reconhecido agora por ninguém menos que Bento XVI.
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“Não tem nada a ver com o Papa, assegura Burke, o qual todavia observa que ‘há pessoas que sofrem um pouco’ de enjôo, porque lhes parece que a nave da igreja perdeu a bússola”.
Aviso aos “conservadores”: “Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.” (Ap 3, 15-16)
“Antes do próximo outubro, os católicos devem trabalhar para construir um consenso que supere as atuais divisões… Claro que a doutrina se desenvolve, no sentido que entendemos a verdade de modo mais profundo, mas, na história católica, não existem cambalhotas doutrinárias”.
A doutrina não se desenvolve, mas se explicita. A ideia de “desenvolvimento” é condenada por São Pio X na “Pascendi”: “O progresso do dogma nasce principalmente da necessidade de vencer os obstáculos da fé, derrotar os adversários, repelir as dificuldades. Deve-se ainda acrescentar um contínuo esforço, para se penetrar cada vez mais nos arcanos da fé.” (…) “Nada, portanto, Veneráveis Irmãos, se pode dizer estável ou imutável na Igreja, segundo o modo de agir e de pensar dos modernistas.”
Escrevo essas coisas a contragosto porque reconheço a boa vontade dos “conservadores” e que contagia a muitos que se opõem às “cambalhotas doutrinárias” (eufemismo para heresia), mas estes possuem um discurso errático que não se coaduna com um Catolicismo autêntico. É essa mornidão e falta de coragem no discurso que os tornam diferentes dos “tradicionalistas”, como Dom Marcel Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer.
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