Por Padre Cléber Eduardo Dos Santos Dias*

Filho de Gilberto II Borromeu e de Margherita Medici di Marignano, Carlos nasceu de uma família nobre e muito poderosa.
Sobrinho pela parte da mãe do Papa Pio IV, Carlos Borromeu desde cedo foi iniciado na vida eclesiástica. Num tempo em que o nepotismo grassava na Igreja, seu tio o faz Abade Comendatário da Abadia de San Leonardo di Siponto na provincia de Manfredonia. Carlos não tardou a usar todas as rendas que recebia da Abadia em recursos para socorrer os mais necessitados.
Pode-se dizer que na vida de S. Carlos ocorreu o único caso de nepotismo em que valeu a pena ter acontecido.
Chamado a Roma para estar próximo do tio Papa, Carlos trabalhava no cargo que mais tarde vai se chamar de Secretário de Estado. Com a morte de Pio IV em 1556 é-lhe destinada a Diocese de Milão. Carlos parte prontamente para sua diocese, pois acredita que seja obrigação do pastor estar junto de suas ovelhas. A Arquidiocese de Milão, antes da chegada de S. Carlos, estava há 80 anos sem um bispo residente! S. Carlos afirmava: “Nós, ministros de Deus, somos pais, não patrões”.
Em Milão, o jovem Bispo inicia uma série de reformas imprescindíveis, convoca e preside uma dezena de sínodos e concílios particulares, afasta do clero elementos perniciosos que davam mau exemplo, destitui religiosos e religiosas, reforma a vida vida litúrgica e monástica. Implementa o primeiro seminário maior para a formação do clero, dezenas de seminários menores, o seminário helvético milanês, visitou três vezes toda extensa Arquidiocese de Milão, reformou inúmeras igrejas, criou outras tantas paróquias, procurou dar sólida formação cultural e moral ao clero. Como Legado e Visitador Apostólico, empenhou-se em visitar toda a Romagna e as dioceses de Bergamo e Brescia. S. Carlos afirmava: “Reformar-se para reformar”.

A experiência de Carlos e seu tino administrativo – formou-se em Direito Canônico e Civil aos 20 anos – aliados a uma vida penitente e jejuante, fizeram de S. Carlos o motor incansável do Espírito Santo na diocese milanesa. Arranjou inimigos acérrimos tanto no clero quanto nos patrões e governantes corruptos. Chegou a ser vítima de um atentado a tiros e tentativas de envenenamento.
A Igreja teve a graça de ter S. Carlos como o maior expoente do Concílio de Trento. Analisando os decretos da parte litúrgica e da vida religiosa e clerical pode-se encontrar muitos textos do Concílio de Trento já presentes nos textos emanados por S. Carlos nos Sínodos realizados anteriormente em Milão. A obrigação de os bispos residirem em sua diocese, a luta contra as investiduras, a prática litúrgica e canônica, a prática da evangelização ad extra, a prática das procissões, a fixação dos tempos penitenciais… e muitos mais são os contributos de Carlos Borromeu.
Verdadeiro pai e pastor, S. Carlos apoiou vendendo seus bens e os bens da Igreja para socorrer os famintos assolados pela dura carestia de 1569-1570 e durante a peste de 1576-1577. Os médicos e membros dos serviços de saúde são os primeiros a incentivar a todos que podem a fugir de Milão. S. Carlos obrigou a seus padres que visitassem os doentes, transformassem as igrejas e casas paroquiais em hospitais e alimentassem e cuidassem dos doentes. E não só ordenou que assim fizessem, mas ele mesmo tomou a dianteira em todos esses atos. Cerca de 100 padres de sua diocese morreram atendendo os enfermos da peste e S. Carlos, no entanto, mesmo jejuando, quando muito fazendo uma única refeição ao dia, sem comer carnes ou ovos, manteve-se com a saúde preservada. Chegou a ponto de dar até suas roupas, sapatos e cama para os pobres.
Jejuando, impondo-se o cilício e flagelando-se em procissão penitencial clamava a Deus pelo fim da peste, pedindo a sua e a conversão de todos. Indicava que a peste era um castigo de Deus pelo modo corrupto como vivia sociedade e os grandes de sua época. O Governador de Milão, descontente com a pregação de S. Carlos, promove na data da grande procissão jogos públicos para que o povo não vá atrás do Arcebispo. S. Carlos garantiu que quem fizesse a procissão seria poupado da peste e veria o fim da mesma. Tal se deu… no leito de morte, tomado pela peste, o Governador pede perdão público a S. Carlos e ao povo e é assistido pelo Pastor de Milão. Como voto público em agradecimento pelo fim da peste, S. Carlos raspou a barba que sempre trazia. Imagens de S. Carlos com barba são quase desconhecidas.

Um golpe duro para S. Carlos, para além da perseguição e contrariedade por parte do poderosos da terra, foi provocado pela supressão que teve de fazer na Ordem dos Umiliati. Por ordem do Papa Pio V, procedeu a reforma e posterior supressão da dita ordem por ela estar se aproximando das idéias protestantes e calvinistas e por ter adotado suas práticas. Quatro membros, poderosos e corruptos, atentam contra a vida de S. Carlos. Um deles, Gerolammo Donati, o Farina, aproveitando que S. Carlos estava rezando ajoelhado dispara com um arcabuz nas costas do prelado. Os assistentes ficam maravilhados, pois a bala atinge apenas o estofo da veste de S. Carlos e não lhe acusa dano maior que um pequeno inchaço no local onde a bala deveria entrar. Os quatro frades são presos pela autoridade civil. O Papa Pio V envia a Milão um inquisidor para julgá-los. S. Carlos intervêm pedindo sua libertação e perdão, mas os magistrados civis os condenam à morte. A ordem dos Umiliati é supressa e seus bens são destinados aos jesuítas e à evangelização.
Nos últimos anos de sua vida de extenuante trabalho e doação, S. Carlos vê suas forças enfraquecerem. Aos 2 de Novembro de 1584, voltando de uma visita pastoral a Lago Maggiore, encontra-se febril. Dissuade àqueles que queriam que descansasse dizendo: “Um bispo precisa passar bem por três febres para meter-se na cama”. Na noite do dia 3 para 4 de Novembro de 1584, São Carlos Borromeu, aos 46 anos de idade, entrega sua vida a Deus, cheio de obras e dons diante de Deus e dos homens. S. Carlos afirmava: “Anunciai, antes de tudo, com a vida e a santidade”. Algumas “pequenas” obras de S. Carlos:
A) Dirigiu a redação do Catecismo Romano;
B) Fundou 740 Escolas Catequéticas para o povo;
C) Fundou numerosas escolas;
D) Fundou um colégio para os nobres;
E) Convocou e presidiu dezenas de Sínodos e Concílios Provinciais,
F) Fundou o primeiro Seminário Maior para a formação do clero;
G) Visitou pastoralmente 3 vezes toda a extensa Arquidiocese de Milão;
H) Visitou as dioceses limítrofes lombardas, piemontesas, lígueres, venezianas como Visitador Apostólico;
I) Criou a Congregação dos Oblatos de S. Ambrósio para a formação do clero.
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*Agradecemos vivamente a gentileza do autor por sua colaboração para o Fratres.
Que neste tempo nebuloso da história da Igreja, São Carlos Borromeu ajude os padres sinodais a se reformarem primeiro para depois pensarem em reformar a Igreja.
São Carlos, rogai por nós!
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Comparemos os santos influentes do Concílio de Trento com os “influentes” do Concílio Vaticano II. Estes últimos se parecem muito mais com Lutero e Calvino do que com São Carlos Borromeu!
“Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos? Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos. Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mt 7, 16-21)
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Rogai por nós, querido São Carlos Borromeu, padroeiro de nossa cidade e diocese. Pastor zelozo que fostes, vosso exemplo é necessário mais do que nunca para nossos pastores e também para todo povo fiel.
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