Os tempos são maus! Como sugeríamos em nosso editorial da semana passada, a excessiva ostensão da mediação de Francisco como pacificador entre os EUA e Cuba, na verdade, tinha um objetivo: fortalecê-lo para que se façam as mudanças disciplinares ou doutrinais na Igreja, especialmente os temas mais árduos do Sínodo da Família, fazendo o catolicismo prostrar-se ante a “ética” da Nova Ordem Mundial.
Matéria impressa (não veiculada via internet) do mais importante diário argentino, Clarin:

O Chanceler do Vaticano confirmou que Francisco enviou cartas a Obama e Castro. Propunha nelas a libertação dos detentos. “Estamos muito contentes”, disse o Pontífice.
Julio Algañaraz (no “Clarin”, 19.12.2014, Mundo, pg. 40), | Tradução: Fratres in Unum.com – Enquanto o mundo inteiro celebra o restabelecimento das relações entre Cuba e os Estados Unidos, na quarta-feira, dia de seu aniversário de 78 anos e do anúncio oficial do fato em Washington e Havana, o prestígio do Papa argentino chegou ao seu nível mais alto, devido ao seu papel fundamental como mediador entre ambos países. “Estamos todos muito contentes”, disse ontem Francisco, diante de 13 embaixadores que lhe apresentaram suas cartas credenciais. “Vimos como dois povos, que se afastaram por anos, deram um passo de aproximação”.
Jorge Bergoglio elogiou o trabalho exercido pelos diplomáticos que interviram. Disse que “o trabalho do embaixador é um ofício de pequenos gestos, de pequenas coisas; mas que determina a paz, aproxima os corações dos povos, semeia fraternidade”.
Elogiado e engrandecido pelos presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, a mediação de Francisco “foi determinante”, dando um impulso notável com uma carta de próprio punho e letra a ambos os chefes de Estados. “Convidou-lhes a superar as dificuldades existentes entre os dois países e a buscar um ponto de acordo, um ponto de encontro”, disse o Secretário de Estado, Paolo Parolín, outra figura importante na mediação, ao confirmar a notícia de que as cartas foram enviadas.
Em outubro, enquanto a atenção de todos convergia para o primeiro Sínodo dos Bispos sobre a Família, que terá uma segunda etapa em outubro de 2015, reuniram-se secretamente no Vaticano com Parolín as delegações de Cuba e dos Estados Unidos, em um encontro movido também por aquelas cartas de Jorge Bergoglio a Obama e Raúl Castro.
Apresentará hoje suas cartas ao Papa compatriota o novo embaixador argentino junto à Santa Sé, Eduardo Valdés, que assegurou ontem “sentir muito orgulho de representar o país ante um Papa como Francisco” e qualificou como “decisivo” o papel do Pontífice para aproximar as posições em confronto, de Havana e Washington.
Valdés disse que, com suas iniciativas e atitudes, Francisco está conseguindo que os jovens se aproximem da Igreja, “como passou nos tempos do Concílio Vaticano II, nos anos sessenta” (sic!), que “atualizou a mensagem da Igreja para um mundo que pedia mudanças”.
Hoje, concluiu o novo embaixador argentino no Vaticano, “é o chefe da Igreja que guia este espírito de transformação”.
Em Roma, e especialmente nos palácios vaticanos, as conclusões são unânimes: esta vitória manifesta da “audácia da paz”, que enfatiza a condição de pontífice – que quer dizer “ponte” – e que Francisco usa como “construtor de pontes” nos conflitos internacionais, esta vitória consolida claramente na cátedra de São Pedro a Jorge Bergoglio. Sabe-se que dentro e fora da Igreja existem resistências ao Papa argentino, à sua vocação por uma Igreja “pobre e para os pobres”, aberta sobretudo à periferia geográfica, geopolítica e “existencial”. Mas Francisco não cede um milímetro em sua vontade renovadora.
No plano interno, Francisco está mudando radicalmente a estrutura e os responsáveis da Cúria Romana, o governo central da Igreja. Criou um superministério da Economia para limpar profundamente o IOR, o banco vaticano e todas as finanças. Nas conferências episcopais, está nomeando bispos reformistas e dando-lhes funções de responsabilidade. Além disso, empreendeu o que chama de “caminho” da renovação nos temas mais árduos da família, que serão decididos no Sínodo de Outubro. Muito importante, além disso, é o fato de que completou as nomeações na comissão pontifícia que se encarrega de estudar a situação dos abusos sexuais por parte do clero e de outros responsáveis religiosos, aplicando com rigor a “tolerância zero” aos culpáveis.
No plano externo, tomou iniciativas extraordinárias, como a que evitou um ataque norte-americano na Síria, na guerra civil pela questão dos gases tóxicos. Em maio, reuniu-se no Vaticano com os presidentes de Israel e da Palestina, em uma oração compartilhada por cristãos, judeus e muçulmanos, pela paz e segurança em Israel e a criação do estado palestino. Ontem, em sua conta no twitter, publicou: “O Senhor disse claramente: não se pode servir a dois senhores: ou Deus, ou as riquezas”.
Agora, há outra iniciativa, na qual Francisco está se movendo com discrição. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, pediu ao Vaticano que “favoreça soluções humanitárias” para 136 reclusos sem processo, que ficam no inferno carcerário militar de Guantánamo. A oposição dos setores conservadores norte-americanos é taxativa. O partido Republicano, que acaba de ganhar as eleições parlamentares de meio-termo, está totalmente contra o fechamento.