15 de setembro de 2015 – Bento XVI recebe compatriotas alemães em visita.
Nesta semana que se passou, Vittorio Messori, autor do livro-entrevista Informe sobre a Fé (1984), com o Cardeal Joseph Ratzinger, e Cruzando o Limiar da Esperança (1994), com João Paulo II, e que recentemente expressou suas reservas sobre certos aspectos do pontificado do Papa Francisco — o que lhe rendeu uma polêmica com o neo-papista Leonardo Boff –, publicou o relato de seu encontro recente com seu velho amigo Joseph Ratzinger. Apresentamos abaixo nossa tradução:
“Eu só posso rezar”, disse Bento XVI a Vittorio Messori após ouvir sua opinião sobre a vida da Igreja.
Por Vittorio Messori | Tradução: FratresInUnum.com – A manhã de quarta-feira, 9 de setembro, na Porta de Santana, no Vaticano, entrei em um carro no qual um oficial da Guarda Suíça, circulando pelo labirinto de avenidas dos célebres jardins, levou-me ao Mosteiro chamado Maria Mater Ecclesiae. Como sabem, este é o lugar escolhido pelo Papa emérito para viver rezando e estudando após a sua clamorosa renúncia. Uma das quatro Memores Domini (a família religiosa inspirada por Dom Luigi Giussani) que cuidam de Bento XVI me deu boas-vindas e me fez passar a uma sala do primeiro piso, de onde se vê toda a Cúpula [da Basílica de São Pedro]. Alguns minutos mais tarde, tomei o elevador e me encontrei diante de um Bento XVI só, sorridente, esperando-me na porta de seu escritório.
Amigos que se vêem pouco
Minha colaboração profissional primeiro, e posterior amizade com Joseph Ratzinger se remonta a início dos anos 80 quando, juntos, preparamos aquele Informe sobre a fé que escandalizou toda a Igreja. A partir de então, vimo-nos muito frequentemente. Porém, quando foi eleito Papa, respeitei seus opressivos compromissos, não pedi audiência e só o vi uma vez, quando ele mesmo quis ver-me depois da publicação de Por que creio, livro que acabava de escrever com Andrea Tornielli.
Depois, respeitei sua aposentadoria, mas, é óbvio que o convite, que me chegou através de seu secretário, para voltarmos a nos ver e conversar entre nós, em confiança, causou-me imenso prazer. Desde que me chegou este convite, pensei que era meu dever não colocá-lo em situação incômoda com perguntas de jornalista indiscreto, como sua relação com seu sucessor ou os “verdadeiros” motivos de sua renúncia. Portanto, peço que se abstenham os habituais amantes de intrigas e conspirações que pensam que por detrás deste encontro haja um “ir saber o que motivou”.
O espírito pronto, a carne fraca
Enquanto me inclinava para beijar-lhe a mão (como requer uma tradição que respeito, sobretudo quando se intenta reduzir o papel e a figura do Sumo Pontífice), Sua Santidade me colocou uma mão sobre a cabeça, impondo-me uma benção que acolhi como um grande dom. Com a outra mão, se apoiava sobre um andador com rodas; já não pode passar com seu secretário pelos jardins. Sua capacidade de locomoção está tão limitada que para sair tem que usar uma cadeira de rodas, enquanto que em casa anda só poucos metros apoiando-se no andador. Pode-se ver a magreza do corpo sob a batina branca.
Por outro lado, o rosto não demonstra, absolutamente, seus quase 90 anos: é o rosto de sempre, de eterno menino, que lhe é contrastada pela coroa de cabelos brancos e a vivacidade de seus olhos claros. Em suma, “belo”, como sempre foi o seu rosto. E belas são também sua lucidez intelectual e a atenção que presta ao interlocutor. Spiritus promptus, caro infirma: a citação vem à mente espontaneamente, estando ao lado deste “espírito” prisioneiro de uma “carne” que se cansa ao levá-lo.
Sentados na beira de duas poltronas próximas — para driblar, aproximando-nos, uma diminuição de sua audição –, falamos durante mais de uma hora. Como disse antes, não fiz questões evidentes ou demasiado fáceis. Em troca, ele me fez muitas. Escutou-me com atenção quando, a seu pedido, tentei fazer-lhe uma síntese da situação eclesial tal como a vejo hoje. Ao final, disse-me: “Eu somente posso rezar”.
Rezando todo o dia
Todavia, pedi-lhe que nos desse um presente: um De Senectute de memória ciceroniana, mas, obviamente, numa perspectivas cristã; mais, católica, em que ele mesmo narre sua experiência de velhice, frequentemente dolorosa, e a abertura à eternidade, sobre a verdadeira vida que nos espera a todos. Uma ocasião preciosa para afrontar o tema dos Novíssimos, que foram eliminados por uma Igreja preocupada somente com o bem-estar para todos nesta vida, mais do que com a salvação eterna.
Sacudiu a cabeça e respondeu: “Seria algo precioso; várias vezes denunciei esse esquecimento da morte, essa eliminação da eternidade com o que nos espera ‘depois’. Mas você sabe que estou acostumado a raciocinar como teólogo, a filtrar a realidade através das categorias filosóficas; consequentemente, não poderia escrever nada a não ser dessa forma. Em todo caso, faltam-me forças para realizar uma tarefa como essa”. E depois: “Meu dever para com a Igreja e o mundo, tento cumprir com uma oração que ocupa todo o meu dia”. Oração mental ou verbal, Santidade?, ocorreu-me perguntar, talvez banalmente. Sua resposta foi imediata: “Sobretudo verbal: o rosário completo, com seus três mistérios; depois os salmos, as orações escritas pelos santos e as passagens bíblicas e invocações do breviário”. A oração mental é proporcionada por suas muitas leituras de textos de espiritualidade, que se unem aos de teologia e exegese bíblica.
Mas, permitam-me dizer, desafiando a suspeita de vaidade de minha parte: ele quis me agradecer por um livro em particular, a investigação sobre a paixão de Cristo — Padeceu sob Poncio Pilatos? — que não somente cita, mas que recomenda em seus primeiros volumes sobre a trilogia dedicada a Jesus e publicada quando era pontífice. Obviamente, como autor, causou-me felicidade; não só por mim, mas também pela apologética demonizada depois do Concílio a ponto de eliminar o seu nome dos seminários (“Teologia fundamental” é o nome que se lhe deu o clericalmente correto), mas que é indispensável para aquilo que Ratzinger sempre insistiu, primeiro como teólogo e depois como Papa, ou seja, como guardião supremo da fé, a saber: a possibilidade e a necessidade de não colocar em contraste, mas, sim, em mútua colaboração, a razão e a fé, o intelecto e a devoção.
Falamos de outros temas, porém, a esse respeito, é necessária uma discrição obrigatória. Tenho que acrescentar — com um sorriso irônico, dirigido aos que continuam pensando em um encontro turvo entre conjurados — que, apesar de já ter chegado a hora do almoço, inclusive, já ter se passado, não veio nenhum convite para almoçar. Disseram-me que Bento XVI como pouquíssimo (“como um pardal”) e sozinho, vendo, vez em outra, o telejornal; isto é, raramente tem comensais.
Em suma, o que tenho a dizer aqui certamente não é clamoroso. Se pensei em escrever a respeito, é para consolar os leitores: bem ao lado do túmulo de Pedro há um ancião admirável que durante oito anos guiou a Igreja e que agora não tem outra preocupação senão de rezar por ela. Com compromisso, mas sem angústia. Ou seja, sem esquecer-se jamais de que os Papas passam, mas a Igreja permanece, e de que até o final da história ecoará a exortação de sua verdadeira Cabeça e Corpo a nós, pusilânimes: “Não temais, pequeno rebanho, esta barca não afundará e, apesar das tempestades, permanecerá até a minha volta”.
“Sua resposta foi imediata: “Sobretudo verbal: o rosário completo, com seus três mistérios”. Por que então inventaram um quarto?
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Mais a Virgem errou a dar 3 Mistérios. ?… por isto precisou acrescentar um 4* ?..
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Oração mental ou verbal, Santidade?, ocorreu-me perguntar, talvez banalmente. Sua resposta foi imediata: “Sobretudo verbal: o rosário completo, com seus três mistérios; depois os salmos, as orações escritas pelos santos e as passagens bíblicas e invocações do breviário”.
O Papa reza conforme a Tradição, portanto? Significativo!
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Esta é uma hora séria! Todos nós deveríamos estar com a morte presente, diante dos nossos olhos. Perguntar-se a si mesmo? Como foi a minha vida aqui na terra? Será que cumpri com exatidão os deveres de estado; onde Deus me colocou? Ao chegar ao fim da nossa vida. Será que eu não fui omisso algum dever que Deus me colocou para desempenhar? Eu como leigo, como padre, como bispo, como cardeal e papa? Será que esta atitude, foi a melhor possível? A minha renúncia não foi motivo de inúmeros fiéis abandonar a verdadeira fé? Ou escandalizar à muitos? Será que este foi o melhor caminho a tomar? Eu fiz isto, para fazer a vontade de Deus; ou para deixar a cruz para outro? Como fica o negócio dos pecados de omissão? Conta-se que São Pedro, um dia fugindo da morte em Roma, encontrou Jesus carregando a Cruz. O primeiro Papa pergunta? Para onde vais? Jesus responde: Vou morrer na Cruz novamente. Então ele compreendeu o significado da aparição. Voltou para a sua missão e posteriormente teve o privilégio de ser mártir da fé. Isto, é para todos nós, cada um, tem uma missão que Deus nos colocou. Nunca podemos vender a nossa alma, por nenhum bem deste mundo. Mas nunca devemos ter este pensamento pessimista: Eu, levei a minha vida mergulhada no pecado, cometi inúmeros pecados graves. Não tem jeito mais para mim. Não caros amigos! A misericórdia de Nosso Senhor, está sempre pronta a nos perdoar. Seu Coração ardente. É como uma fornalha. Os nossos pecados são uma multidão de espinhos. Ao lançarmos nesta “fornalha”. será consumidos em segundos. Nada de desânimo. Basta que tenhamos um arrependimento sincero, e uma confissão cheia de bons propósitos.
Joelson Ribeiro Ramos.
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Que bom ter notícias de Bento XVI! Por outro lado, é um pouco triste ver que a saúde de Bento XVI se debilitou mais e que de certa forma a vida enclausurada que ele está levando é uma consequência da dolorosa renúncia pela qual ele teve de passar. É como se Bento XVI se tivesse tornado um exilado dentro da própria Igreja. Que Deus possa iluminar esses tempos obscuros em que estamos vivendo.
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Fratres,
Gostaria, neste domingo, de deixar um valioso presente para todos vocês.
A lista (títulos e links Youtube) de 498 vídeos do Padre Paulo Ricardo, grande admirador do Papa Emérito.
Clique para acessar o 498_Vdeos_do_Padre_Paulo_Ricar.pdf
Salve Maria!
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Antes de mais nada eu gostaria de corrigir alguns erros de digitação encontrados no texto:
1. No 9. parágrafo há um pequeno erro de concordância em relação ao gênero, melhor seria colocar “essa” ao invés de “esse” em: “Em todo caso, faltam-me forças para realizar uma tarefa como esse”.
2. Logo no parágrafo abaixo faltou um mero “C” em “agradecer”: “…ele quis me agradeer por um livro em particular.”
O que eu gostaria de dizer em relação à matéria é sobre o que está a passar na cabeça do Santo Padre Bento. O que ele realmente sente pela Igreja através de suas reflexões, de sua teologia. Faltam-lhe as forças, seria devido à idade ou à pobreza da averiguação filosófica presente na Igreja atualmente? Como é sentir-se um dos últimos padres conciliares que estiveram realmente presentes numa Igreja Tridentina e que agora enfrenta uma epidemia de secularização? Faço essas perguntas, e assim como ele só basta-me rezar, pois é a única coisa que em minha situação posso fazer de benefíca pela Igreja.
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Eu só posso rezar…
O Santo Padre Bento XVI tão sofrido e mártir, imagino quanto sofre e mais ainda o debilita pela depressão ao ver de como após sua saída espontânea(?) internamente a direção da Igreja e muitas ações divergem ou estão ao inverso de seu tempo de Pontifex Maximus!
Sairam dos enconderijos diversos lobos rapaces oportunistas que aguardavam apenas a hora certa para contra atacarem – os material-ateístas do clã dos Scalfari da vida, assim como os pró homôs estão radiantes – outrora, estavam tão reprimidos, confinados em seus redutos…
De igual forma eufóricos, estão os ideologistas da TL e simpatizantes disfarçados de pastores, lobos em pele de ovelha, como aqueles da laia dos Boffs e Gutierrez da vida disseminando marxismo sob as formas de um cristianismo socializado!
Se estivessem entre nós estariam sumamente alegres os diabólicos Vindice e Nubius e seus sequazes dentro do Vaticano ainda aqui, presentemente tão atuantes; no entanto, os que estiverem do lado de lá poderiam estar atormentados…
Consolamo-nos apenas em discernir que a atividade satânica está extremamente ativa – seria a causa de saída do Papa Bento XVI – a NOM já deveria ter se instalado, está atrasada – tendo como espelho o ar pestilento de sua atividade máxima a nosso redor: a corrupção geral sob múltiplas formas, como via eleição para sujeição a governos luciferinos comunistas por “cristãos”, à vista de todos, sem constrangimento algum!
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E agora Cleaners? Bento XVI não reza os luminosos! Hora de acessar seus blogs explicarem que “não foi bem isso que ele quis dizer”, “que é tudo invenção da mídia”, ou quem sabe façam a infâmia de dizer que “ele já está idoso, por isso, falou sem pensar ou se atrapalhou”, melhor, digam que “Vittorio Messori inventou tudo isso” e mais que tais!
Bom trabalho cleaners!
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“a saber: a possibilidade e a necessidade de não colocar em contraste, mas, sim, em mútua colaboração, a razão e a fé, o intelecto e a devoção.”
Aqui está um dos pontos mais importantes que julgo ser a atividade de Joseph Ratzinger. No final dos anos 80 e início dos 90 a revista 30 Dias e Il Sabato trouxeram inúmeros artigos sobre este tema e o Cardeal Ratzinger escrevia dom frequência. Hoje em dia tenho o hábito de reler com mais atenção estes artigos. E também me lembro bem da histórica série de reuniões que Dr. Plínio fez sobre livro-entrevista Informe sobre a Fé (1984).
Bento XVI me parece muito mais um hermeneuta que um teólogo.
Este ponto de fuga que parece estar sempre presente quando razão e fé tentam se encontrar e que evidentemente remete ao transcendente, foi preocupação dos mais renomados teólogos; Este ponto de fuga tem um nome: Chama-se mistério. E tenho a impressão que Bento XVI percebe que o que menos precisamos para entender e amar este equilíbrio é ser teólogo.
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O Padre Ratzinger foi um dos ditos peritos progressistas que trabalhou pela realização do CV II.
Quanto a Papa emérito, pergunto: temos 2 Papas ????
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E o Santo Padre Bento XVI recita diariamente o Santo Rosário completo, os 3 mistérios, sem invencionices. Para mim, a parte mais significativa da entrevista. Desde Pio XII, o maior Papa da Santa Igreja, indubitavelmente. Estamos convosco, Santo Padre!
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É uma satisfação rever um verdadeiro Papa, que Deus o conserve por muitos anos…
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Quando veja Sua Santidade o Papa Francisco falar muitas coisas sem pensar e se esquecendo que suas palavras ainda pensam muito não somente sobre os católicos, mas até mesmo sobre outras confissões cristãs, tenho tanta saudade de Sua Santidade o Papa Bento de XVI que não ficava preocupado se iri agradar ou desagradar pois agia pela vontade de Deus. Com todo o respeito quando do conclave que elegeu Sua Santidade o Papa Francisco eu torcia muito que fosse eleito um Cardeal de Rito Oriental ou o Arcebispo de Colombo no Sri Lanka ou Arcebispo Leo Burke.
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À mim só cabe ver essa foto e meditar sobre esta figura que encarna tudo o que a Igreja é!!!
Quanto ao seu sucessor, um arremedo…
BENEDICTVS MAGNVS
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