Felix Sit Annus Novus!

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O Fratres in Unum deseja um Santo Ano de 2016!

A seguir, os posts de 2015 mais lidos:

DENÚNCIA: Paróquia de Itaquera a serviço da destruição da Igreja.

Papa Francisco deixa na Bolívia as condecorações que recebeu de Evo Morales.

Folheto escandaloso atribuído a paróquia da diocese de São Miguel Paulista causa perplexidade em redes sociais.

Vaticano baniu aparições públicas, testemunhos, e provavelmente também as mensagens dadas aos videntes de Medjugorje.

Foto da semana. Abortado espontaneamente na 19ª semana de gestação, a vida do bebê Walter está mudando o debate sobre o aborto

Cardeal Sarah: “Faço parte daqueles – e somos muitos – que não permitirão que a pastoral substitua a doutrina”.

“Vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da palavra de Deus”.

Quem foi realmente Dom Helder Câmara?

Máfia eclesiástica.

DITADURA BOLIVARIANA PATROCINADA PELOS BISPOS? Reforma Política, CNBB e Teologia da Libertação.

 

Honório I: o caso controverso de um Papa herético.

Por Roberto de Mattei – Corrispondenza Romana | Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.comO caso do Papa Honório é um dos mais controversos da História da Igreja, como observa com justeza Emile Amann, historiador da Igreja, no amplo estudo que dedica à Question d’Honorius no Dictionnaire de Théologie Catholique (vol. VII, coll, 96-132).

onorio-i-468x278No centro do pontificado do Papa Honório, que reinou de 625 a 638, havia a questão do monotelismo, a última das grandes heresias cristológicas. Para agradar o imperador bizantino Heráclio, desejoso de garantir a paz religiosa dentro do seu reinado, o Patriarca de Constantinopla Sérgio procurou encontrar um compromisso entre a ortodoxia católica, segundo a qual em Jesus Cristo há duas naturezas em uma só pessoa, e a heresia monofisita, que atribuía a Cristo uma só pessoa e uma só natureza. O resultado do compromisso foi uma nova heresia, o monotelismo, segundo o qual a dupla natureza de Cristo era movida em suas ações por uma só operação e uma só vontade. Tratava-se de um semi-monofisismo, mas a verdade ou é íntegra ou não é verdade, e uma heresia moderada permanece sempre uma heresia. Sofrônio, Patriarca de Jerusalém, estava entre os que intervieram com mais força para denunciar a nova doutrina, que anulava a humanidade de Cristo e conduzia ao monofisismo, condenado pelo Concílio de Calcedônia (451).

Sérgio escreveu ao Papa Honório para pedir que “no futuro a ninguém seja permitido afirmar duas operações em Cristo nosso Deus” e obter seu apoio contra Sofrônio. Honório infelizmente aderiu ao pedido. Em uma carta a Sérgio, afirmou que “a vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo era apenas uma (unam voluntatem fatemur), pelo fato de que nossa natureza humana foi assumida pela divindade”, e convidou Sofrônio ao silêncio. A correspondência entre Sérgio e Honório é preservada nos registros do VI Concílio Ecumênico (Mansi, Sacrorum Conciliorum nova et amplissima Collectio, vol. XI, coll. 529-554) e foi republicada em latim, grego e francês por Arthur Loth (La cause d’Honorius. Documents originaux avec traduction, notes et conclusion, Victor Palmé, Paris, 1870), bem como em grego e alemão, Georg Kreuzer, Die Honoriusfrage im Mittelalter und in der Neuzeit, Anton Hiersemann, Stuttgart 1975).

Com o apoio do Papa, Heráclio publicou em 638 um formulário de doutrina chamado Echtesis (“Exposição”), pelo qual impunha a nova teoria de uma só vontade divina de Jesus Cristo como religião oficial. O monotelismo triunfou durante quarenta anos no Império bizantino. Nessa época,  o  mais vigoroso defensor da fé foi o monge Máximo, dito o Confessor, que participou de um Sínodo convocado em Latrão (649) pelo Papa Martinho I para condenar o  monotelismo. Tanto o Papa quanto Máximo foram forçados ao exílio. A Máximo, por se recusar a subscrever as doutrinas monotelitas, foram cortadas a língua e a mão direita. Sofrônio,  Máximo e Martinho  são hoje venerados pela Igreja como santos por sua indômita resistência à heresia monotelita.

A fé católica foi finalmente restaurada pelo III Concílio de Constantinopla, o VI Concílio Ecumênico da Igreja, que se reuniu em 7 de novembro de 680 na presença do Imperador Constantino IV e dos representantes do novo Papa, Santo Agatão. O Concílio condenou o monotelismo e lançou o anátema contra todos aqueles que tinham promovido ou favorecido a heresia, incluindo o Papa Honório na condenação.

Na XIII sessão, realizada em 28 de março de 681, os Padres conciliares, após proclamar seu desejo de excomungar Sérgio, Ciro de Alexandria, Pirro, Paulo e Pedro, todos Patriarcas de Constantinopla, bem como o bispo Teodoro de Faran, afirmavam: “Com eles desejamos banir da Santa Igreja de Deus e de anatematizar também Honório, outrora Papa da antiga Roma, porque encontramos em sua carta a Sérgio que ele seguiu em tudo a sua opinião e ratificou seus ensinamentos ímpios” (Mansi, col. 556).

Em 9 de agosto de 681, no final da XVI sessão, foram renovados os anátemas contra todos os hereges e fautores da heresia, inclusive Honório: “Sergio haeretico anathema, Cyro haeretico anathema, Honorio haeretico anathema, Pyrro haeretico anathema” (Mansi, XI , 622). No decreto dogmático da XVIII sessão, em 16 de setembro, se diz que, “porquanto [o demônio] não permaneceu inativo, ele que desde o início foi o inventor da malícia, e que se servindo da serpente introduziu a morte venenosa na natureza humana, assim também agora encontrou os instrumentos adequados à sua vontade: aludimos a Teodoro, que foi bispo de Faran; a Sérgio, Pirro, Paulo, Pedro, que foram bispos dessa cidade imperial; e também a Honório, que foi Papa da antiga Roma; (…) [Satanás] encontrou, portanto, os instrumentos adequados, não cessou, através destes, de suscitar no corpo da Igreja os escândalos do erro; e com expressões jamais  ouvidas, disseminou entre o povo fiel a heresia de uma única vontade e uma só operação em duas naturezas de uma [das Pessoas] da Santíssima Trindade, ou seja, de Cristo, nosso verdadeiro Deus, e isso em harmonia com a louca doutrina falsa dos ímpios Apolinário, Severo e Temístio” (Mansi, XI, coll. 636-637).

As cópias autênticas dos atos do Concílio, subscritas por 174 Padres e pelo Imperador, foram enviadas às cinco sede patriarcais, em particular à de Roma. Com a morte de Santo Agatão em 10 de janeiro 681, os atos do Concílio, após mais de 19 meses de sede vacante, foram ratificados por seu sucessor, Leão II. Na carta enviada em 7 de maio 683 ao Imperador Constantino IV, o Papa escrevia: “Anatematizamos os inventores do novo erro, ou seja, Teodoro de Faran, Ciro de Alexandria, Sérgio, Pirro, Paulo e Pedro da Igreja de Constantinopla, e também Honório, que não se esforçou para manter pura esta Igreja Apostólica na doutrina da tradição apostólica, mas permitiu,  com  uma execrável traição, que esta Igreja sem mácula fosse manchada” (Mansi, XI, 733). Nesse mesmo ano, o Papa Leão ordenou que as atas, traduzidas para o latim, fossem assinadas por todos os bispos do Ocidente, e as assinaturas conservadas junto ao túmulo de São Pedro. Como enfatiza o eminente historiador jesuíta Hartmann Grisar, “se queria assim obter a aceitação universal do sexto Concílio do Ocidente, e isso, pelo que se conhece, ocorreu sem dificuldade” (Analecta romana, Desclée, Roma 1899, pp. 406 -407).

A condenação de Honório foi confirmada pelos sucessores de Leão II, como atesta o  Liber diurnus romanorum pontificum e pelos sétimo (787) e oitavo (869-870) Concílios Ecumênicos da Igreja (C. J. Hefele, Histoire des Conciles, Letouzey et Ané, Paris 1909, vol. III, pp. 520-521).

O padre Amann julga historicamente indefensável a posição daqueles que, como o cardeal Barônio, crêem que os atos do sexto Concílio tenham sido alterados. Os legados pontifícios estavam presentes no Concílio e seria difícil imaginar que eles pudessem ter-se deixado ludibriar ou tivessem produzido um relatório falso sobre um ponto tão importante e delicado como a condenação, por herético, de um Pontífice romano. Referindo-se em seguida a teólogos como São Roberto Belarmino, que para salvar a memória de Honório negaram a presença de erros explícitos em suas cartas, Amann salienta que eles levantam um problema maior do que aquele que pretendem resolver, isto é,  o da infalibilidade dos atos de um Concílio presidido por um Papa. Se de fato  Honório não caiu em erro, então erraram os Papas e o Concílio  que o condenaram. Os atos do VI Concílio Ecumênico, aprovados pelo Papa e acolhidos pacificamente pela Igreja universal, têm um força magisterial muito maior do que as cartas de Honório a Sérgio. Para resguardar a infalibilidade, é melhor admitir a possibilidade histórica de um Papa herege do que afrontar as definições dogmáticas e os anátemas de um Concílio ratificado pelo Romano Pontífice. É doutrina comum que a condenação dos escritos de um autor é infalível quando o erro é anatematizado com a nota de heresia, enquanto não é sempre e necessariamente infalível o Magistério ordinário da Igreja [como o exercido pelo Papa Honório em suas cartas].

Durante o Concílio Vaticano I, a Deputação da Fé enfrentou o problema, expondo uma série de regras de caráter geral, que se aplicam não só ao caso de Honório, mas a todas as dificuldades passadas ou que possam surgir no futuro. Não basta que o Papa se pronuncie sobre uma questão de fé ou de costumes dirigindo-se à Igreja universal; é necessário que o decreto do Romano Pontífice seja redigido de modo tal, que fique claro tratar-se de um julgamento solene e definitivo, com a intenção de obrigar todos os fiéis a crer (Mansi, vol. LII, et al., 1204-1232). Há, portanto, atos do Magistério pontifício ordinário não infalíveis, porque privados do necessário caráter definitório, quod ad formam seu modum attinet.

As cartas do Papa Honório são desprovidas dessas características. Elas são, sem dúvida, atos do Magistério, mas no Magistério ordinário não infalível pode haver erros e até mesmo, em casos excepcionais, formulações heréticas. O Papa pode cair em heresia, mas não poderá jamais pronunciar uma heresia ex cathedra. No caso de Honório, como observava o patrólogo beneditino Dom John Chapman OSB, não se pode afirmar que ele tenha tido a intenção de fazer um julgamento ex cathedra definitivo e vinculante: “Honório era falível, estava errado, era um herege, precisamente porque não definiu com plena autoridade, como deveria, a tradição petrina da Igreja de Roma” (The Condemnation of Pope Honorius [1907] Reprint. Livros Esquecidos, Londres, 2013, p. 110). Suas cartas a Sérgio, embora tratando de fé, não promulgaram qualquer anátema e não cumpriram os requisitos exigidos pelo dogma da infalibilidade, promulgado pelo Concílio Vaticano I. O princípio da infalibilidade ficou salvo, ao contrário do que pensavam protestantes e galicanos. E se Honório foi anatematizado, explicou o Papa Adriano II no Sínodo romano de 869, “a razão é que Honório tinha sido acusado de heresia, a única causa pela qual é permitido aos inferiores resistir a seus superiores e rejeitar seus sentimentos perversos” (Mansi, XVI, 126). Também se baseando nessas palavras, após analisar o caso do Papa Honório, o grande teólogo dominicano Melchior Cano resumiu o ensino mais seguro nesses termos: “Não se deve negar que o Sumo Pontífice possa ser herege, coisa sobre a qual se pode oferecer um ou dois exemplos. Mas não se pode demonstrar um caso sequer em que [o Papa], ao julgar sobre a fé, tenha definido [ex cathedra] qualquer coisa contra a fé” (De Locis Theologicis, l. VI, tr. espanhola, BAC, Madrid 2006, p. 409).

Reflexões sobre temas da Sagrada Escritura: Direitos e deveres dos cônjuges.

“O homem é a cabeça da mulher, assim como Cristo é a cabeça da Igreja… Mas, assim como a Igreja está sujeita a Jesus Cristo, assim também as mulheres devem estar sujeitas aos seus maridos em todas as coisas” (Ef V, 23-24). “E vós, pais, não  provoqueis à ira os vossos filhos, mas educai -os  na disciplina e nos mandamentos do Senhor’ (Ef VI, 4).

Por Padre Élcio Murucci | FratresInUnum.com

Continuando a explanação do Papa Leão XIII:

matrimonio“A perfeição e plenitude do matrimônio cristão não estão inteiramente encerrados no que acabamos de recordar [o que foi exposto no artigo anterior]. Porquanto, em primeiro lugar, a união conjugal veio a receber um fim muito mais nobre e elevado do que antes, pois o fim que lhe foi assinalado não consistiu somente em propagar o gênero humano, mas também para dar filhos à Igreja, ‘concidadãos dos Santos e familiares de Deus’ (Ef II, 19); isto é, a fim de gerarem e educarem um povo para o culto e Religião do verdadeiro Deus e de Jesus Cristo, nosso Salvador. – Em segundo lugar, foram perfeitamente definidos os deveres de cada um dos cônjuges e exatamente determinados os seus direitos, de tal sorte que têm obrigação de nunca se olvidarem de manter reciprocamente grande e profundo afeto, de guardarem uma convivência recíproca, dedicada e assídua. O homem é o chefe de família e a cabeça da mulher: esta, todavia, por isso que é a carne da sua carne e o osso dos seus ossos, deve submeter-se e obedecer a seu marido, não à maneira de uma escrava, mas na qualidade de companheira, para que não falte nem a honestidade, nem a dignidade na obediência que ela lhe prestar. E cumpre que assim ele, que é o chefe de família, como ela, que deve obedecer, tenham sempre presente a caridade divina no cumprimento dos seus respectivos deveres, porque ambos os cônjuges são a imagem um de Cristo, o outro da Igreja. ‘O homem é a cabeça da mulher, assim como Cristo é a cabeça da Igreja… Mas, assim como a Igreja está sujeita a Jesus Cristo, assim também as mulheres devem estar sujeitas aos seus maridos em todas as coisas’ (Ef V, 23-24).

Pelo que respeita aos filhos, devem submeter-se e obedecer a seus pais, honrá-los e venerá-los por dever de consciência, e, por outro lado, os pais devem aplicar todos os seus pensamentos e cuidados em proteger seus filhos e, sobretudo, em educá-los na virtude: ‘Pais… educai os vossos filhos na disciplina e nos mandamentos do Senhor’ (Ef VI, 4). De onde se depreende que os deveres dos cônjuges são graves e numerosos: mas estes deveres não só se tornam suportáveis, mas até agradáveis para os bons consortes, por efeito da virtude que recebem no Sacramento. Tendo, pois, Jesus Cristo renovado e restabelecido com tanta perfeição o matrimônio, entregou e confiou à Sua Igreja toda a disciplina que o deve regular. E a Igreja em todos os tempos e em todos os lugares exerceu este poder sobre os casamentos cristãos e tem desempenhado essa missão de maneira a mostrar que esse poder propriamente lhe pertence, e que não deriva de qualquer concessão dos homem, mas sim que lhe foi divinamente outorgado pela Vontade do seu Divino Fundador.

A atenta vigilância e solícitos cuidados que a Igreja sempre manifestou pela santidade do matrimônio e para manter intacto o seu verdadeiro caráter, constitui um fato, que, por demais conhecido, não carece de demonstração. Com efeito, sabemos que o Concílio de Jerusalém condenou os amores dissolutos e livres (At XV, 29); que S. Paulo condenou, por sua própria autoridade, um habitante de Corinto, como criminoso de incesto (1 Cor V, 5); que a Igreja sempre repeliu e rejeitou, com energia sempre igual, as tentativas de todos aqueles que atacavam o casamento cristão, tais como os Gnósticos, os Maniqueus, os Montanistas nos primeiros tempos do cristianismo e, nos nossos dias, os Mórmons, os San-Simonianos, os Falansterianos e os Comunistas. (…) A Igreja cercou esta instituição divina de tantas leis fortes e previdentes que nenhum homem dotado de espírito reto pode desconhecer que, até nesta matéria do matrimônio, o melhor guarda e o mais firme defensor e amigo da sociedade foi a Igreja, cuja sabedoria triunfou, no decorrer dos tempos, das injustiças dos homens e das inúmeras vicissitudes sociais”. (Excertos da Encíclica “ARCANUM” do Papa Leão XIII, escrita em 1880).

No Livro de Tobias o divino Espírito Santo nos mostra um exemplo belíssimo da misericórdia divina na realização de um casamento verdadeiramente santo. Meditemos um pouco estas belíssimas palavras da oração feita pelo velho Tobias:

“Tu és justo, Senhor, todos os teus juízos são justos e todos os teus caminhos são misericórdia, verdade e justiça. Agora, pois, Senhor, lembra-te de mim, e não tomes vingança dos meus pecados, nem te lembres dos meus delitos nem dos de meus pais. Porque não obedecemos aos teus preceitos, por isso fomos entregues ao saque, ao cativeiro, à morte e para servirmos de fábula e de escárnio a todas as nações” (Tobias, III, 2-4).  E ainda: “Ele (Deus) castigou-nos por causa das nossas iniquidades; e Ele mesmo nos salvará pela sua misericórdia… Convertei-vos, pois, ó pecadores, e sede justos diante de Deus. Crede que Ele usará conosco da sua misericórdia” (Tobias, XIII, 5 e 8).

Caríssimos, pelas Sagradas Escrituras não será difícil verificarmos em que consiste a verdadeira misericórdia. Afinal é a palavra da própria Verdade Eterna!

Um Santo e Feliz Natal!

Natale

É o que deseja o Fratres in Unum a seus leitores!

Natal do Senhor chama-se o dia em que a Sabedoria se mostrou como criança e o Verbo de Deus, sem palavras, emitiu voz humana. A divindade oculta foi, no entanto, revelada aos Magos pelo testemunho do céu e pela voz dos Anjos aos pastores. Celebremos, hoje, portanto, com solenidade anual, o cumprimento da profecia que diz: “A Verdade brotou da terra e a justiça olhou do céu”. A Verdade que está no seio do Pai brotou da terra para também estar no seio da Virgem mãe. A Verdade que contém o mundo brotou da terra a fim de ser carregada pelas mãos de uma mulher. A Verdade que nutre, incorruptivelmente, a felicidade dos anjos brotou da terra para ser nutrida com o leite dos seios maternos. A Verdade a quem o céu não basta, brotou da terra para ser colocada em um presépio. Em benefício de quem, tamanha sublimidade desceu a tão profunda humildade?! Evidentemente não para vantagem própria, mas, se tivermos fé, para nosso grande bem.

Desperta, ó homem: Deus por ti se fez homem! “Levanta-te, tu que dormes e sai dentre os mortos e o Cristo te iluminará”. Por ti, repito, Deus se fez homem. Estarias eternamente morto, se não tivesse Ele nascido no tempo. Jamais te libertarias da carne do pecado, se não assumisse Ele a semelhança da carne do pecado. Perene miséria te consumiria, se esta misericórdia não te fosse feita. Não reviverias, se Ele não sofresse a tua morte. Sucumbirias, se não te socorresse. Perder-te-ias, se não tivesse vindo.

Santo Agostinho

Créditos ao leitor Pedro Henrique.

Santo Natal: A hora da confiança na noite do mundo.

Por Roberto de Mattei | Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.comO Santo Natal não é apenas uma tradição cultural do Ocidente ou a simples memória, cara aos cristãos, de um fato histórico ocorrido na Palestina há 2015 anos. Ele é o momento em que o Redentor da humanidade se fez presente entre nós numa manjedoura, devendo ser adorado como Rei e Senhor do universo. O Natal é, sob esse aspecto, um dos mistérios centrais da nossa fé, a porta que permite entrar em todos os mistérios de Cristo. O Papa São Leão Magno (440-461) escreve: “Aquele que era invisível na sua natureza tornou-se visível na nossa. O Incompreensível quis ser compreendido; Aquele que é anterior ao tempo, começou a existir no tempo; o Senhor do universo, velando a sua Majestade, recebeu a forma de escravo” (Sermo in Nativitate Domini, II, § 2).

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A manifestação do Verbo encarnado foi também a hora de maior triunfo na história dos Anjos. A partir do momento de sua criação, na aurora do universo, eles sabiam que Deus se tornaria homem e O adoraram, deslumbrante, no seio da Santíssima Trindade. Esta revelação haveria de separar irrevogavelmente os anjos fiéis e os rebeldes, o Céu e a Terra, os filhos da luz e os filhos das trevas. Em Belém, chega finalmente para os Anjos a hora de se prostarem diante do Divino Infante, causa e meio, escreve o Padre Faber, da sua perseverança.

As harmonias do Gloria in excelsis inundaram o Céu e a Terra, mas naquela noite elas foram ouvidas apenas pelas almas que viviam desapegadas do mundo e com amor de Deus. Entre estas estavam os Pastores de Belém. Eles não pertenciam ao círculo dos ricos e poderosos, mas na solidão e nas noites de vigília em torno de seus rebanhos, mantiveram a fé de Israel. Homens simples, abertos ao maravilhoso, não se surpreenderam com a aparição do Anjo que, fazendo refulgir sobre eles uma luz celestial, disse: “Não temais, porque eis que vos anuncio uma boa nova, que será de grande alegria para todo o povo: Nasceu-vos hoje na cidade de David um Salvador, que é o Cristo, o Senhor. Eis o que vos servirá de sinal: Encontrareis um Menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 11-12).

Os Pastores seguiram docilmente as indicações do Anjo e foram guiados até a Gruta,  onde encontraram o Menino na manjedoura, com Maria e São José: “Invenerunt Mariam, et Joseph et Infantem positum in Praesepio” (Lc 2, 16). Tiveram a graça de ser os primeiros,  depois de Maria e José, a oferecer na Terra um ato de adoração eterna ao Menino de Belém.  Eles O adoraram, e compreenderam que na sua aparente fragilidade era o Messias prometido,  o Rei do Universo.

O Natal é a primeira afirmação da Realeza de Cristo, que tem por trono a manjedoura, a qual é o escrínio da Civilização Cristã nascente, cujos primeiros profetas são os Pastores. O programa dessa Civilização estava resumido nas palavras que uma miríade de Anjos proclamou naquela noite: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2, 14).

Com imensa alegria, os Pastores passaram a anunciar a Boa Nova por todas as partes, nos campos e nos montes. “Omnes qui audierunt mirati sunt” (Lc 2, 18), todos ficaram maravilhados, mas nem todos se dirigiram à Gruta de Belém. Muitos estavam imersos em suas ocupações e renunciaram a um esforço que teria mudado as suas vidas, no tempo e na eternidade. Outros tantos passaram diante da  Gruta naqueles dias, para satisfazer a própria curiosidade, mas não compreenderam,  ou não quiseram compreender, a maravilha do acontecimento.

No entanto, a Realeza do Menino Jesus foi reconhecida por alguns dentre os mais sábios daquele tempo. Os Magos, Reis do Oriente, eram homens cujos olhares viviam fixados nas coisas celestes,  quando no Céu apareceu uma estrela. Esta foi para eles o que o Anjo havia sido para os Pastores –  a voz de Deus que lhes diz: “Ego sum stella splendida et matutina” (Apoc. 22, 16). Também os Reis Magos, como os Pastores, corresponderam perfeitamente ao impulso divino. Eles não foram os únicos a ver a estrela, nem provavelmente os únicos a compreender o seu significado, mas foram os únicos a se porem em marcha rumo ao Ocidente. Outros talvez compreenderam, mas não quiseram  abandonar seus países,  suas casas, seus negócios.

Os Pastores eram próximos de Belém, e distantes os Magos. Mas a ambos aplica-se o princípio segundo o qual aquele que se aproxima de Deus com pureza de coração jamais é abandonado. Os Pastores e os Magos arrecadaram dons de diversos valores, mas tanto uns quanto outros ofereceram o maior dom que possuíam. Eles deram ao Menino Jesus seus olhos, seus ouvidos, sua boca, seu coração, toda a sua vida;  em uma palavra, consagraram à Sabedoria Encarnada o próprio corpo e a própria alma, e o fizeram através das mãos de Maria e de José, na presença de toda a Corte celeste.

Nisso imitaram a perfeita submissão à Vontade de Deus do Menino Jesus, que sendo o Verbo de Deus se aniquilou na forma de escravo da Vontade divina, e depois se deixou conduzir por todas as estações até a morte na Cruz e a glória: não escolheu o seu estado, mas deixou-se guiar, a cada momento, pela inspiração da graça, como escreveu um místico do século XVII (Jean-Baptiste Saint-Jure, Vita di Gaston de Renty, tr. it., Glossa, Milano 2007, p. 254).

A devoção ao Menino Jesus é uma devoção na qual se experimenta um abandono radical à Divina Providência, porque aquele Menino envolto nas palhas é um Deus-homem que aniquilou a sua vontade para fazer a vontade de seu Pai que está nos céus, e o fará submetendo-se a duas criaturas excelsas, mas submissas a Ele: a Bem-aventurada Virgem Maria e São José.

O Santo Natal é o dia do extremo abandono à Divina Providência, mas também da imensa confiança nos planos misteriosos de Deus. É o dia, escreve São Leão Magno, no qual “o Filho de Deus veio para destruir a obra do diabo (1 João, 3, 8), o dia em que se uniu a nós e nós a Ele, a fim de que o abaixamento de Deus até a humanidade eleve os homens até Deus” (Sermo in Nativitate Domini, VII, § 2). No mesmo sermão, São Leão denuncia o escândalo daqueles que, subindo na sua época os degraus da Basílica de São Pedro, misturavam as orações da Igreja com invocações voltadas aos astros e à natureza: “Que os fiéis – escreve – rejeitem este hábito condenável e perverso, que a honra devida somente a Deus não seja mais misturada com os ritos daqueles que adoram as criaturas. A Sagrada Escritura diz: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e servirás somente a Ele’” (Gn 1: 3).

Como não entender a atualidade dessas palavras quando na fachada da Basílica de São Pedro são projetados espetáculos neopagãos e se celebra o culto panteísta da Natureza? Nestas horas sombrias, os católicos fiéis continuam a ter a mesma confiança da qual estavam imbuídos os Pastores e os Magos que se aproximavam do Presépio para contemplar Jesus.

Chega o Natal. As trevas em que o mundo está submerso serão dissipadas e os inimigos de Deus estão tremendo, porque sabem que a hora de sua derrota se aproxima. Por isso eles odeiam o Santo Natal, e por isso nós, com o olhar confiante, contemplamos o Menino Jesus que nasce e Lhe pedimos que ilumine as nossas mentes no meio da escuridão, aqueça os nossos corações no frio, fortaleça as nossas consciências perdidas nas brumas da noite do nosso tempo. Menino Jesus, venha o teu Reino! (Roberto de Mattei).

Reflexões sobre temas da Sagrada Escritura: Doutrina dos Apóstolos sobre o Matrimônio.

“As mulheres sejam sujeitas a seus maridos, como ao Senhor, porque o marido é cabeça da mulher, como Cristo é cabeça da Igreja, seu corpo, do qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim o estejam também as mulheres a seus maridos em tudo. Maridos, amai as vossas mulheres, como também Cristo amou a Igreja e por ela se entregou a si mesmo, para a santificar, purificando-a no batismo da água pela palavra da vida, para apresentar a si mesmo, esta Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e imaculada. Assim também os maridos devem amar as suas mulheres, como os seus próprios corpos. O que ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque ninguém aborreceu jamais a sua própria carne, mas nutre-a e cuida dela, como também Cristo o faz à Igreja, porque  somos membros do seu corpo, da sua carne e dos seus ossos. “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher; e serão os dois uma só carne”. Este mistério é grande, mas eu o digo em relação a Cristo e à Igreja. Por isso também cada um de vós ame sua mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o seu marido” (Ef. V, 22-33).

Por Padre Élcio Murucci | FratresInUnum.com

Demos a palavra ao Papa Leão XIII:

“Todas as disposições que a Autoridade de Deus decretara e estabelecera acerca do matrimônio, os Apóstolos, mensageiros das leis divinas, as confiaram mais completa e explicitamente à Tradição e à Escritura. E já agora devemos recordar o que, firmado no ensino dos Apóstolos, “sempre nos ensinaram os Santos Padres, os concílios e a tradição da Igreja universal” (Trid. s. XXIV), isto é, que Jesus Cristo Senhor Nosso elevou o matrimônio à dignidade de sacramento; que no mesmo tempo Ele quis que os cônjuges, assistidos e fortalecidos pela graça divina, fruto dos Seus merecimentos, alcançassem a santidade do mesmo matrimônio; que nesta união, admiravelmente conforme ao modelo da Sua união mística com a Igreja, tornou mais perfeito o amor natural (Trid. s. XXIV, cap. I) e estreitou mais intimamente, pelos laços da caridade divina, a sociedade indissolúvel por natureza do homem com a mulher: “Maridos, dizia S. Paulo aos habitantes de Éfeso, amai vossas mulheres como Jesus Cristo amou a Sua Igreja, tendo-se sacrificado por ela, a fim de a santificar… Os maridos devem amar sua mulheres como ao seu próprio corpo; ninguém odiou jamais a sua própria carne, mas todos a nutrem e tomam cuidado por ela, com fez Jesus Cristo para com a Igreja; e nós somos os membros do seu corpo formados da sua carne e dos seus ossos. Por isso é que o homem deixará o seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher e serão dois numa só carne. É grande este sacramento, mas eu digo que o é em Cristo e na Igreja” (Ef. V, 25 ss).

“Da mesma forma, continua Leão XIII, nós sabemos pelos Apóstolos que Cristo quis que a unidade e a estabilidade perpétua do casamento, exigidas pela própria origem desta instituição, fossem santas e invioláveis para sempre. “Aqueles que estão unidos pelo matrimônio, diz o mesmo Apóstolo S. Paulo, eu preceituo, ou antes é o Senhor que o ordena, que a mulher se não separe jamais de seu marido; e, se vier a separar-se dele, permaneça sem se unir a outro homem, ou reconcilie-se com seu marido” (1 Cor. VII, 10 e 11). E ainda: “A mulher está sujeita à lei enquanto seu marido viver; se ele falecer, fica livre” ( 1 Cor. VII, 39). Por todos estes motivos, o matrimônio apresentou-se sempre como um grande sacramento (Ef. V, 32), honroso em tudo (Hebreus XIII, 4), piedoso, casto, digno de um grande respeito em virtude das coisas sublimes de que ele é significação e imagem” (Encíclica “ARCANUM”).

Sendo o matrimônio um grande e honroso sacramento, é mister seja tratado com a honra e santidade que merece. Eis o que diz São Paulo: “Seja por todos honrado o matrimônio, e o leito conjugal sem mácula, porque Deus julgará os fornicadores e os adúlteros” (Hebreus XIII, 4).

Deo volente, durante o Jubileu da Misericórdia, sempre que puder, acrescentarei algum texto da Bíblia referente à misericórdia: “Serás como um filho obediente do Altíssimo, e ele se compadecerá de ti, mais do que uma mãe” (Eclesiástico, IV, 11) e ainda: “Não te abandones, na tua fortaleza, aos maus desejos do teu coração; e não digas: Como sou poderoso! Quem poderá obrigar-me a dar-lhe conta das minhas ações?…

“E não digas: A misericórdia do Senhor é grande, ele se compadecerá da multidão dos meus pecados. Porque a sua misericórdia e a sua justiça estão perto uma da outra… (Eclesiástico V, 2 e 3; 6 e 7).