A Igreja mexicana se pergunta: “quem aconselhou mal ao Papa?”

IHU – “Quem aconselhou mal ao Papa?”, termina o editorial do semanário da Arquidiocese da Cidade do México, ‘Desde la Fe’, voz da Igreja Católica no país, que enfrenta a enorme controvérsia gerada pela muito dura reprimenda que o Papa Francisco fez a todos os bispos mexicanos, em seu encontro do último dia 13 de fevereiro, na catedral da Cidade do México.

A reportagem é de Javier Brandoli, publicada por El Mundo, 07-03-2016. A tradução é do Cepat.

Um capítulo a mais das evidentes más relações de Francisco com o cardeal Norberto Rivera e que levaram o Papa, segundo pôde saber El Mundo, a exigir que o núncio, Christophe Pierre, estivesse presente na maioria dos atos, para evitar o encontro direto com Rivera. Aquele encontro com os bispos, que inicialmente seria privado e que Franciscoexigiu que fosse público, provocou feridas dentro do catolicismo mexicano.

No semanário, em uma calculada mensagem em que atira a pedra e esconde a mão, apontando o Papa e seu entorno, mas culpando os meios de comunicação de não saber interpretar a mensagem, a Igreja mexicana começa dizendo: “Analisando a mensagem que Sua Santidade pronunciou na Catedral do México, podemos ver como o Papa adverte sobre os riscos que os bispos de nosso país enfrentam diante do secularismo: opacidade, adormecimento, distanciamento, frieza, clericalismo, autorreferência, triunfalismo estéril e obscuridade que pode eclipsar a luz doEvangelho. E os chama a estar alerta”.

Em seguida, a Igreja mexicana começa a analisar o duro sermão dado pelo Papa, apontando aquela que foi a sua frase mais célebre, ainda que sem repeti-la em seu contexto e um pouco maquiada: “Foi a frase – Brigar como homens – a que repercutiu entre os comunicadores – impelidos mais pelo histrionismo midiático que pelo profundo significado das palavras – como uma forte repreensão aos pastores”, disse o editorial, para depois prosseguir estufando o peito: “Aqui, cabe se perguntar: o Papa tem alguma razão para repreender os bispos mexicanos? O que, sim, tem o Papa, está muito claro, é que a Igreja no México é um caso atípico em relação a outros países da América. Em primeiro lugar, em termos de porcentagens, nossa nação conta com a maior quantidade de católicos, com 81% da população em 2014, e é justamente por causa dessa ampla e sólida presença de católicos que nos distinguimos de outros países do continente”.

‘Os esquecidos’ do Santo Padre

De fato, neste aspecto evangélico, a Igreja volta a usar um estilo indireto para comentar os ‘esquecidos’ do Santo Padre: “Por outra parte, seria absurdo pensar que Sua Santidade desconhece a grande resistência que a Igreja Católica mexicana opôs à expansão das comunidades protestantes de marcas carismáticas e pentecostais, que, não obstante, propagam-se sem freio em outros países, especialmente da América Central”, diz o texto que recorda que aIgreja mexicana conta com quase um século “em que a ofensiva anticlerical e maçônica foi desapiedada”, para voltar a se perguntar: “Por acaso, o Papa Francisco desconhecerá isto, para repreender aos bispos?”.

Por último, após vários parágrafos onde só são utilizados termos soltos do dito pelo Papa e se mantêm as conquistas atingidas pela Igreja do México, a arquidiocese mexicana termina com um parágrafo no qual, sempre com perguntas, parece aceitar tudo o que se tenta negar anteriormente, que o Papa tenha repreendido duramente os bispos, e diz: “OEpiscopado Mexicano está unido e disposto a enfrentar os desafios que Sua Santidade apresentou. Lamentavelmente, existe a mão da discórdia que tentou colocar os acentos negativos, parcializando a visão de Igreja e procurando influenciar no discurso pontifício para conseguir um efeito contrário no público, ao ressaltar desafios e tentações como males do episcopado. Não é assim. E, aqui, cabe a questão: por que procurar depreciar o trabalho dos bispos mexicanos? Felizmente, o povo conhece seus pastores e os acompanha na construção do Reino de Deus, seja ao preço que for, como foi ao longo da história deste país… Ou será que as palavras improvisadas do Santo Padrecorresponderiam a um mau conselho de alguém próximo a ele? Quem aconselhou mal ao Papa?”, conclui.

Não foi ontem a primeira vez que a Igreja mexicana usa o semanário ‘Desde la Fe’ para analisar a visita do Papa, nem para destacar as falhas que houve de organização: “Os erros logísticos e a desorganização salientaram aspectos, incitando mais o protagonismo de responsáveis, desvalorizando a eficiência, desprestigiando o toque de impecabilidade no processo organizativo, poucas mãos concentraram muitas funções, colocando em risco a efetiva preparação e diligente cuidado que deveria ter correspondido a cada uma das dioceses visitadas pelo Papa”, dizia em seu editorial, no último dia 21 de fevereiro.

Críticas

Então, a Igreja atacava o Governo e os meios de comunicação, explicando que “não se importaram com os rigores, as privações e incômodos diante da feroz vigilância que sequestrou as cidades sede. Os exageradíssimos controles das autoridades causaram mais incômodos que benefícios. É certo que o Papa jamais desejaria reféns e mais reféns, longas durações de fechamentos de ruas e paralisação do transporte público. Tudo isto provocou perdas para trabalhadores e chefes de famílias, mas a fé do povo move montanhas”, disseram sobre o Governo.

A respeito dos meios de comunicação, o editorial dizia que “houve supostamente mestres da comunicação que ao invés de informar, induziram o público aos vícios de parcialidade, meias verdades, visceralidade e inflamações deformantes da opinião. Como mercenários, buscaram o lucro, privilegiando a desonestidade acima da verdade e equilíbrio profissionais. Sem um pingo de autoridade moral foram arremedo e figurino de julgamentos implacáveis, quando mordiam a própria língua frente à corrupção e desonestidade de seus atos, não vistos pelo público na tela pequena. Repórteres que, a qualquer preço, louvaram a excentricidade, privilegiando ataques e agressividade”.

A realidade, conforme pôde confirmar El Mundo, sobre o que em todo caso é um segredo de polichinelo, é que as relações entre o Papa Francisco e o cardeal Rivera são péssimas. O cardeal, ao se sentir relegado na viagem, colocou paus nas rodas, especialmente ao não mobilizar voluntários. O próximo capítulo será a rápida renovação da cúpula da Igreja mexicana, onde é provável que o desencontro se torne mais evidente.

5 comentários sobre “A Igreja mexicana se pergunta: “quem aconselhou mal ao Papa?”

  1. Infelizmente, nós estamos passando por um tempo de maus governantes. Começando pela Santa Igreja. Na história da Santa Igreja. encontramos alguns papas que macularam o caminho glorioso da maiorias dos Pontífices. Como não são muitos. É sempre bom lembrar, que a maioria desempenharam com têmpera, firmeza e coragem a doutrina imaculada da Santa Igreja. Basta lembrar; o grande Papa São Pio X. Tão perto de nós. Com coragem expulsou e condenou os modernistas instalados dentro da Igreja. Hoje, no entanto, esta heresia outrora condenada; veio atona com toda as forças. Promovendo verdadeira revolução no seio da Santa Igreja. Com um detalhe: Com apoio dos papas recentes. Então vemos que não foi a famosa “fumaça de satanás” que penetrou no recinto sagrado. Mas sim o capetão e toda a sua comitiva. Como afirmava Dom Pestana. O nosso Sumo Pontífice, parece que esqueceu, que existe uma eternidade em breve. Cada dia que passa, vemos mais afastado da doutrina imaculada da Santa Igreja. É o velho ditado: “quem de novo não morre de velho não passa”. Então Santo Padre! Prepara para encontrar com o Supremo Juiz. Mudando imediatamente à sua vida. Aproveita os últimos tempos aqui na terra, para se arrepender e morrer na amizade de Deus. Isto é para todos nós. Nunca podemos perder de vista o nosso fim.
    Joelson Ribeiro Ramos.

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    1. é verdade , e muito assusta esse momento de julgamento de todo o ser humano! Ainda assusta muito mais a responsabilidade dos pastores, que tristeza não se meditar nesse momento decisivo!

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  2. A Santa Sé sempre se esmerou em ser extremamente precisa nas suas intervenções. Na verdade, sempre foi o episcopado local – ou a parte “romana” dele em tempos de crise – a informar a Santa Sé qual seria o recado a ser dado aquelas igrejas particulares ou para os governos civis. Tudo muito cuidadoso, muito profissional e combinado de antemão.

    O recadinho dos bispos mexicanos é apenas mais uma prova de que PF, dizendo não querer uma corte renascentista, acabou virando motivo de fábula: “o rei está nu”. PF é a prova apodítica de que mesmo o pior de todos os medíocres pode ser alçado ao topo do poder. Especialmente na i g r e j a dele, que tenta c o n c i l i a r Deus e o diabo e o que mais for, por absoluta falta de talento e de amor à verdade.

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    1. // a informar à Santa Sé qual seria o recado a ser dado para aquelas igrejas particulares ou para os governos civis.

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