Dupla Mol-Steiner articula. Bispos rejeitam agenda esquerdista, mas sem oposição organizada. Por detrás das aparências de colegialidade e fraternidade, uma verdadeira guerra toma conta da Assembléia dos Bispos em Aparecida.
Por Catarina Maria B. de Almeida | FratresInUnum.com – Colegialidade, fraternidade, sorrisos mil, companheirismo, tapinha nas costas. Tudo isso vemos nas fotos, nas entrevistas e nas manifestações externas dos bispos brasileiros, reunidos mais uma vez em Aparecida para a 54ª Assembléia Geral da CNBB. Mas, é ao fechar das portas que a realidade se manifesta, nua e crua.
A dupla Dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário-geral, e Dom Joaquim Mol, candidato fracassado do ano passado, tenta consolidar, junto à Assembléia Geral, a tendência esquerdista que impera na cúpula da CNBB – a despeito da eleição dos moderados Dom Sérgio da Rocha e Dom Murilo Krieger para a presidência da entidade, no ano passado.
Dom Joaquim Mol: a mente que articula a esquerda da CNBB.
É essa ala esquerdista, que se manifesta moderadamente nas notas oficiais da CNBB, mas se apresenta desavergonhadamente nas suas subsidiárias (CPT, CBJP, etc), que organiza os trabalhos e estabelece que sempre as mesmas figuras tenham protagonismo nas assembleias gerais. Somente a predileção ideológica explica como bispos sem nenhum brilho especial como Erwin Krautler, Guilherme Welang, Roberto Ferrería Paz, Dimas Lara Barbosa, etc, tenham sempre espaço assegurado nas entrevistas coletivas diárias. Mesma “opção preferencial pela esquerda” que impõe, ano após ano, “intelectuais” alinhados ao establishment com suas chatérrimas análises de conjuntura nauseantes.
Neste ano, a assembléia iniciou com Dom Joaquim Mol defendendo de modo acalorado o governo Dilma. Ele, Mol, foi o garoto propaganda da ridiculamente fracassada campanha de assinaturas pela reforma política e há pouco se envolveu em um escândalo internacional por chefiar uma universidade dita católica que promove a ideologia de gênero.
Seu discurso foi o mesmo de qualquer agente do governo: a corrupção é endêmica, não foi o PT quem a descobriu; a oposição não aceita o resultado das urnas e impede que Dilma governe; há uma suposta intolerância na sociedade — quando atos de violência quase sempre se dão somente por um do lados, inclusive por “pacifistas” CNBBistas –, que estaria dividida.
A cantilena esquerdista já nos primeiros dias de encontro prosseguiu com Dom Roberto Ferrería Paz, bispo de Campos, RJ, cidadão planetário e notório petista, que, em entrevista coletiva na solenidade de abertura da Assembléia, criticou a operação Lava Jato e relativizou o carácter inigualável dos níveis de corrupção petista, afirmando que todos os partidos fazem as mesmas coisas. Poucos dias antes, no Domingo de Ramos, o mesmo Dom Roberto, em homilia, insinuou um ultrajante paralelo entre Lula e Cristo, que fora condenado sem provas, enquanto Judas seria o primeiro traidor a fazer uma delação premiada.
Oposição generalizada
Mas, tal qual a sociedade civil, os bispos da CNBB não suportam mais essa instrumentalização por parte da cúpula.
O primeiro a dar vazão pública a isso foi Dom Anuar Battisti, arcebispo de Maringá, que teceu duríssimas críticas à análise de conjuntura sociorreligiosa apresentada por Silvia Fernandes, do CERIS, órgão da CNBB – que minimizou a gravidade da corrupção petista simplesmente a ignorando:
“Uma das falhas – estou falando pessoalmente – na apresentação da conjuntura nacional do Brasil, que foi muito bem feita, realmente uma análise profunda, foi que, porém, nenhuma vez nesta análise apareceu a palavra corrupção. Isso é muito sério. Falar de uma conjuntura nacional sem apontar a corrupção é uma falha tremenda. É o que está sangrando hoje o Brasil. De todos os mais de 60 políticos que já foram presos, foram todos por causa de roubo, realmente roubo”.
Fontes murmurantes atestam que é claríssimo o constrangimento da grande maioria dos bispos com a abordagem pró-governo proveniente da cúpula da CNBB. O próprio discurso de Mol causou um desconforto geral, inclusive de membros das altas esferas.
A grande dificuldade dos bispos moderados e conservadores é que não há uma liderança entre eles. Mais de uma vez, dizem-nos nossas fontes, quando nas discussões de grupos na Assembléia um bispo ousa destoar da ladainha petista, diversos o acompanham imediatamente. No entanto, por não haver de um verdadeiro líder que encabece essa oposição, todos se acabrunham e se escondem atrás da bandeira da “prudência”. Assim, as rédeas permanecem nas mãos de quem hoje as detêm. Como repetia Dom Manoel Pestana, “há uma prudência que nos mata”.
É importante que nós, católicos, manifestemos aos bons bispos nosso desejo de que eles ousem sair da zona de segurança – ¡Hagan lío! – e falem o que é necessário falar, sem nenhum respeito humano.