Eles não vão fazer prisioneiros; não haverá santuários.

Por Renzo Puccetti, LifeSiteNews, Roma, 11 de julho de 2016 | Tradução: FratresInUnum.com: – Iniciarei com uma história verdadeira. Padre Massimiliano Pusceddu é um jovem padre católico atuando na diocese italiana de Cagliari, na Sardenha. Durante um sermão no dia 28 de Maio, em que defendia o casamento natural, ele citou a carta de São Paulo aos Romanos (1: 24-32) onde o Apóstolo condena atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo. No dia seguinte a 12 de junho, quando foram assassinadas 49 pessoas no bar gay em Orlando, uma petição online endereçada ao Papa Francisco e às autoridades políticas italianas foi lançada visando obter a “renúncia imediata” do Padre Pusceddu.

Essa petição atingiu 31.000 assinaturas em apenas quatro dias – agora já são 44.806. O que particularmente desencadeou a reação contra o padre foi a citação do versículo paulino: “todos os que praticam tais coisas são dignos de morte”, que chegou às manchetes na mídia e foi usado como prova de seu apoio ao assassinato de pessoas ‘gay’.

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Pe. Massimilano Pusceddu é um joveo sacerdote católico da diocese de Cagliari, Sardenha. Ele está sob ataque por citar a admoestação de São Paulo contra atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

Padre  Pusceddu imediatamente explicou que São Paulo e ele, obviamente, queriam dizer a morte espiritual, mas foi inútil. O alvoroço não cessou. Se o jovem padre esperava uma pitada de solidariedade pública por parte de seu bispo, vocês podem imaginar o seu desapontamento quando não recebeu nenhuma. Ao invés disso, em 22 de junho, Dom Arrigo Miglio divulgou nota em que dizia não corroborar com o comportamento de Pusceddu e ainda pediu desculpas a “todos aqueles que sentiram-se ofendidos” com suas palavras.

De acordo com o arcebispo, a passagem foi “extrapolada fora de seu contexto e de todo o ensinamento paulino” o que levou a “um sério mal-entendido e acima de tudo, uma distorção no  pensamento de São Paulo, que na mesma carta – capítulo 5 e 8 – sem dúvida proclama a Misericórdia de Deus”. Além disso, o arcebispo ordenou Padre Pusceddu “a observar um período adequado de completo silêncio”. Desde então, o canal de Padre Pusceddu no YouTube foi “temporariamente suspenso”.

Primeiramente, o comportamento do arcebispo lembrou-me o que Hamish Fraser – citado por Anne Roche Muggeridge no livro “The Desolate City” – disse uma certa vez: “Com pastores como estes, lobos se tornam obsoletos”. Ou talvez seja apenas o efeito de uma nova síndrome de Estocolmo, que poderia ser chamada de “hemofilia internalizada”.

Além disso, a advogada Kathy La Torre voou de Bolonha até a aldeia de Decimoputzu onde Padre Pusceddu atua e processou o padre, acusando-o de incitação ao crime. Este fato, como muitos outros, nos lembra o que Alexis de Tocqueville dizia quando ele descreveu a tirania em uma república democrática como o lugar onde o mestre diz: “Eu não vou tirar a sua vida, mas a vida que eu vou deixar para você  é pior do que a morte” .

Depois da expulsão do pensamento cristão ortodoxo da arena pública ética aceitável, parece que os próximos a serem expulso serão as pessoas que continuam a acreditar no sistema moral tradicional judaico-cristão. Portanto, com a cumplicidade ativa ou passiva de protestantes e católicos, só nos resta três possibilidades: um comportamento consistente com a nossa fé cristã no local de trabalho, o que nos levará a sermos multados, demitidos e presos; ou envolver-nos apenas com atividades de “baixo risco” abandonando de vez nossas aspirações legítimas, ou, eventualmente, nos rendermos, desincorporando-nos de nossa fé ao submetermo-nos à adoração do Leviatã moderno.

O grande problema é que a lista de ocupações em que se corre o risco de perseguição fica maior a cada dia que passa. Não é mito, mas crônica diária. Médicos, enfermeiros e parteiras estão sob risco porque o aborto legal é considerado “direito humano”; farmacêuticos, também, com os pedidos de medicamentos anticoncepcionais e pós-sexo; juízes e instituições de caridade obrigados a lidar com a adoção de crianças para casais do mesmo sexo; padeiros, floristas, fotógrafos, tipógrafos, alfaiates, hoteleiros e donos de restaurante com a indústria do casamento gay; funcionários municipais com casamentos de pessoas do mesmo sexo; diretores com as políticas transexuais nas escolas; pais com os programas de educação sexual; jornalistas, escritores, professores e sacerdotes com leis contra  incitação ao ódio. Todas essas atividades nos colocam em risco se nós, como crentes cristãos ortodoxos, passamos a representar uma ameaça de vida para tantos modernos direitos humanos. Então, não temos muitas opções para fazer o nosso trabalho em paz e em boa consciência.

O romancista italiano profundamente católico Giovanni Guareschi, em seu conto Don Camillo e Don Chichi apresenta Cristo no crucifixo respondendo a Don Camillo, que perguntava ao Senhor o que fazer com os ventos seculares de loucura: “Você tem que fazer o que o agricultor faz quando um rio varre os diques e transborda para os campos: você tem que salvar as sementes “. Para Guareschi, a semente representa a fé.

Em um parágrafo muito famoso do Retorno do Rei, Tolkien escreve que nossa parte é “arrancar o mal dos campos que conhecemos, de modo que aqueles que vierem depois possam achar terra limpa para cultivar”. Por isso, temos as sementes para preservar e campos para proteger. As primeiras precisam de alguma forma de separação do mundo, os últimos requerem uma luta.

Após as pesquisas indicarem que a maioria dos americanos apóia o casamento entre pessoas do mesmo sexo, após a decisão Obergefell pela Suprema Corte, após a multa aplicada por um tribunal belga a um asilo Católico de idosos por se recusar a permitir a eutanásia de um paciente internado ali, após a vitória da reforma constitucional para consentir casamento gay na Irlanda, após o aborto e a legalização do casamento gay terem se tornado quase onipresentes na América do Sul e na Europa, incluindo a Itália, onde o papado tem a sua sede, nos encontramos como uma minoria na iminência de perseguição. A pergunta que se segue é: “o que vamos fazer?” Parece-me que o tempo em que seremos empurrados para uma decisão dramática está se aproximando com rapidez inesperada.

Na ausência de uma intervenção sobrenatural, como crentes, teremos que enfrentar a agressividade do que Mary Eberstadt chamava a fé secular competindo, passando da teoria à prática, e teremos que escolher entre a chamada “opção Bento” e progressivamente formas mais avançadas de resistência passiva e resistência ativa. Embora elas não sejam necessariamente escolhas mutuamente exclusivas; uma coordenação se faz necessária. Indo por esse caminho eu receio que acabaremos na “opção Catacumba”.

De qualquer forma, seja qual for o caminho, eu acho que nós temos que aceitar duas realidades inevitáveis. Uma vez que o ataque está ocorrendo em escala planetária, vamos precisar unir nossos esforços e cooperar para dar respostas também globais. Não poderemos mais esperar por conselho e nem o apoio da Igreja como instituição social. A Igreja Católica se tornou uma instituição teologicamente dividida e talvez chantageada. O corpo místico de Cristo está flagelado e atormentado por uma heresia metastática purulenta e não diagnosticada.

Espero que haja ainda santos bispos, padres, frades e freiras que nos darão o seu apoio, mas a organização hierárquica como um todo permanecerá quieta e silenciosa, na melhor das hipóteses. Será algo que os leigos terão que decidir e realizar por conta própria, discutindo e orando juntos.

Renzo Puccetti é professor visitante de Bioética da Pontifícia Athenaeum Regina Apostolorum e do Instituto Pontifício João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família, em Roma.

8 comentários sobre “Eles não vão fazer prisioneiros; não haverá santuários.

  1. Bispo digno do fogo do inferno; local certo para o demônio e seus seguidores. Pobre igreja de Cristo! Que o “politicamente correto” não destrua a igreja!

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  2. Salve Maria Puríssima!

    Com relação ao texto, absolutamente nada a ressaltar, além de que a análise óbvia e certeira há muito já deveria estar se fazendo ouvir, especialmente nos meios ditos tradicionais, mas não só.

    A única ressalva – e temos de insistir por não se tratar de coisa menor, dado a estratégia gramsciana em pleno vigor -, seja em relação ao autor ou seu tradutor, é que NÃO EXISTE “casamento gay”, “casais gays”, ou coisa que o valha, pois isso, na melhor lógica, é contradição em termos. Dizia Chesterton que a educação compulsiva tira dos homens comuns seu senso comum. E, lógico, uma vez perdido o senso comum vai-se por água abaixo toda tentativa de resgate das sementes, como sabiamente apontado no texto.

    Por fim, é bom, muito bom que tudo ocorra, dentro dos males permitidos pela Providência. Como diz um autor, é passado a hora de dar a Deus o que é de Deus, pois César já ganhou demais.

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  3. Esse é o mesmíssimo caso do Padre Michael Rodríguez, já mencionado diversas vezes aqui no Fratres. Que o Bom Deus conforte e fortaleça esse jovem sacerdote, e que Nossa Senhora o proteja em seu manto!

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  4. “O corpo místico de Cristo está flagelado e atormentado por uma heresia metastática purulenta e não diagnosticada.”

    Como a heresia não foi “diagnosticada”? Ela se chama MODERNISMO. E o agente causador da doença foram os ventos do Concílio Vaticano II, que causou a metástase e a purulência fétida.

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  5. Então quer dizer que citar a bíblia para provar o que é errado significa que está incitando terrorismo? Tenham a santa paciência! Estas assinaturas são de gays querendo se esconder da realidade divina. O que está na bíblia não pode ser mudado, e nem pode significar incitamento ao crime. Quem entende que tem que castigar ao padre porque falou a verdade apenas está querendo se esconder da realidade bíblica. Não adianta quererem isto, pois mesmo que tentem mudar o que está escrito, a palavra verdadeira de Paulo é que vale. A consciência doeu?

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  6. Quando nos deparamos com algo aterrador desse quilate dessa injusta acusação contra o sacerdote pelos abaixo assinantes, temos noção de como anda a sociedade outrora de tradição cristã e hoje refém de ideologias e ainda genocidas ao extremo!
    O procedimento condenatorio dos desafetos do rev Pe Pasceddu é o mesmo modelo que os satanistas, desequilibrados, revolucionarios esquerdistas utilizam para se defenderem, atacando os outros, sempre aproveitando de algum eventual deslize nas conversas ou os reprimindo indevidamente por supostas más intenções ou atribuições dolosas!
    Creio o rev bispo deveria ter tentado defender o sacerdote, mesmo que despertasse a ira de seus acusadores, pois se estivesse contra ele, poderia avalizar seus confrontantes, acreditando piamente que o sacerdote teria tido as melhores intenções ao citar o texto de S Paulo nesse contexto e suas explicações, senão se poderia recordar:
    *“Tempos funestos sobrevirão, nos quais …. aqueles que deveriam defender em justiça os direitos da Igreja, sem temor servil nem respeito humano, darão as mãos aos inimigos da Igreja para fazer o que estes quiserem” (II, 98).
    “Seus sacerdotes violam a minha lei, profanam o meu santuário, tratam indiferentemente o sagrado e o profano e não ensinam a distinguir o que é puro do que é impuro; fecham os olhos para não ver os meus sábados; no meio deles a minha santidade é profanada”. Ez 22,26.
    Os inimigos da Igreja, os abaixo assinantes, são e serão sempre assim extremamente discriminadores, intolerantes, caluniadores e oportunistas sob o conceito de que “todos os meios justificam os fins”, pois são controlados por forças diabólicas que os arremetem contra os outros, contanto que levem vantagem submetendo seus contestadores, pois o restante não lhes interessa!!
    Jamais esses politicamente corretos consideram os inúmeros erros em que incorrem, mas julgam-nos eles estarem apenas em seus contendores!
    * N Senhora do Bom Sucesso.

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  7. Esse Sacerdote faz mais bem às almas, indo de contra essa condescendência pecaminosa que muitos padres e bispos malignamente se omitem, e outros encobertam atos contra o 6º mandamento. Nosso Senhor foi direto quando disse que é inevitável que haja escândalos, mas aí daquele que vem o escândalo. O restante do texto todos conhecemos, assim diante de tanta abominação e desolação que infringe o templo de Deus, aqui leia-se o nosso corpo que é templo vivo de Deus, sabeis que o fim do mundo está próximo. Sem dúvida alguma o que nós Católicos verdadeiros devemos temer, é a condenação eterna, que é o nosso adeus sem volta a Salvação Eterna. Realmente não podemos obrigar a ninguém a servir a Deus, mas muito menos podemos nos calar ante o erro. Os sacerdotes tem a OBRIGAÇÃO de apascentar o rebanho que vos é confiado, logo esse sacerdote não poderia em hipótese alguma voltar atrás do que diz os Santos Evangelhos, a Doutrina da Santa Igreja. Toda árvore que não der bom fruta será cortada e remetida ao fogo. Então senhor bispo, qual seria o contexto da palavra fogo, geena, trevas exteriores que Nosso Senhor diz em seus ensinamentos?

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  8. Agora, na verdade, é quase como cada um por si. Como Nossa Senhora disse em Fatima, que cada um trate de salvar a si próprio (e se puder influenciar a sua família – já é algo grandioso, já que as famílias também estão fraturadas). Pra enfrentar esse Secularismo Radical vem o Islã – que eles se matem entre si.

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