Por G. Pacceli | FratresInUnum.com: Impossível não comentar, em meio a tanto alarde feito pelo Vaticano e toda a mídia ocidental, o recebimento de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, pelo Papa Francisco, no dia 24 de outubro, sem aviso prévio ou qualquer outro anúncio anterior. Primeiramente, no entanto, vamos aos fatos.
Papa recebe Maduro: aliviar o sofrimento do povo
Segundo a notícia da Rádio Vaticana, o Papa Francisco recebeu para uma audiência o Presidente (ditador) da Venezuela Nicolás Maduro. Diz a matéria: “… o encontro, de caráter privado, se realizou no ‘âmbito da preocupante situação de crise política, social e econômica que o país está atravessando e que se repercute duramente na vida cotidiana de toda a população’.”
A notícia ainda dá conta que o Papa, pediu a Maduro que empreenda o caminho do diálogo a fim de aliviar o sofrimento do povo, em especial dos pobres e promova a coesão social na Venezuela.
E, por fim, a notícia trata do acordo de dialogo que será mediado pelo Vaticano e outras autoridades entre Maduro e sua oposição na Venezuela.
Dois pesos e duas medidas
Na verdade, tal recepção e benção não é novidade para o Papa, e para quem está acostumado a acompanhá-lo, Francisco faz questão de reforçar, se não por palavras, por sinais claríssimos, sempre seu apoio à esquerda sul-americana e toda a agenda bolivariana na América Latina, ao passo que também deixa claro a sua desaprovação a qualquer regime que saia do contexto bolivariano na região — haja vista os desentendimentos com o novo presidente da Argentina e o cancelamento de sua anunciada visita ao Brasil, em 2017, após chamar de “triste” o momento do país que culminou no impeachment de Dilma.
No fim, o Papa mais uma vez deixou claro sua visão política e, na visão de alguns analistas, expressou, de maneira tácita, seu apoio a Nicolás Maduro e todo seu regime ditatorial, uma vez que o único beneficiado nesse processo de diálogo é seu regime tirânico, culpando pela situação do país a falta de coesão social (ou seja os opositores que querem condições de vida mínima). E, inclusive, aparentemente se esquecendo deste ocorrido em Julho de 2016, e de todo o resto que a ditadura Maduro tem feito contra o povo Venezuelano e contra a Igreja.
Tudo isso então não passaria de uma notícia sem grandes novidades não fosse a costumeira contradição de Francisco, que no mesmo dia, em sua homilia, condenou a rigidez, como noticia novamente a Rádio Vaticana: “Não é fácil caminhar na Lei do Senhor”, comentou o Papa, é “uma graça que devemos pedir”. Jesus o acusa de ser hipócrita, uma palavra que “repete tantas vezes aos rígidos, àqueles que têm uma atitude de rigidez em cumprir a lei”, que não têm a liberdade dos filhos, “são escravos da Lei”. Porém, “a Lei – observou – não foi feita para nos escravizar, mas para nos libertar, para nos fazer filhos”. “Por trás da rigidez, tem sempre outra coisa, sempre! E por isso Jesus diz: hipócritas!”
Repetindo um discurso que o próprio Papa já tinha feito num encontro com bispos recém ordenados em setembro (conforme a notícia do Vatican Insider), no qual ele falou: “E fiquem atentos quando alguns seminaristas se refugiam na rigidez; por baixo, sempre há algo de feio”, ao referir-se à formação de padres.
Aqui fica claro então onde estão os dois pesos e duas medidas do Papa: a rigidez ditatorial de Maduro não é motivo de repreensão, mas de benção e diálogo, enquanto a rigidez na fé é motivo de alarde e esconde algo mal.
Quer dizer que os santos que tanto deram de si para cumprir nos mínimos detalhes seus deveres e alcançar as virtudes de Deus, que tão rígidos foram consigo mesmos e, ao mesmo tempo, exigentes, embora verdadeiramente misericordiosos, com irmãos para que esses alcançassem a Salvação, tinham coisas feias escondidas, mas, regimes ditatoriais que exploram seu povo, matam os opositores e cometem todo tipo de atrocidade, não precisam ser repreendidos.
A pergunta final é: Por que a rigidez de tratamento com aqueles que seguem a doutrina da Igreja não é aplicável àqueles que propagam o socialismo e todos os seus erros?