O que é ambiguidade?

Por Padre Élcio Murucci | FratresInUnum.com

Já que o Português veio do Latim, comecemos por este. E por trilhar caminho mais seguro, vejamos pelo uso clássico. Não resta dúvida que Virgílio foi um grande escritor latino. Pois bem, ele empregou a palavra ambiguus para significar: o que tem dois sentidos (Eneidas 3, 180). Este seria o sentido próprio. Cícero empregou o termo ambiguus no sentido de enganador (já no sentido figurado). Se um gesto, ato ou palavra têm dois sentidos, naturalmente podem levar ao engano.

3692461733_469a9f17dfEm Português, ambíguo significa equívoco, incerto, impreciso. O antônimo é: claro, preciso, firme.

Vamos, agora, ao mais importante e seguro: O que diz a Bíblia Sagrada?

Disse Nosso Senhor Jesus Cristo: “Seja o vosso falar: sim, sim; não, não. Tudo o que disso passa, procede do maligno” (S. Mateus V, 37).

São Tiago repete a mesma pregação de Jesus: “Mas seja a vossa palavra: – sim, sim – não, não – para que não caiais sob o peso do juízo” (S. Tiago V, 12).

Lemos no Eclesiástico II, 14: “Ai do coração dobre… e do pecador que anda sobre a terra por dois caminhos”. No capítulo V, 11 do mesmo livro: “Não te voltes a todo vento, e não andes por todos os caminhos, porque é assim que todo pecador se dá a conhecer pela duplicidade da sua língua”.

Provérbios, VIII, 13: “O temor do Senhor odeia o mal. Eu detesto a arrogância e a soberba, o mau proceder e a LÍNGUA DUPLA”.

Destaquei esta última citação do Livro dos Provérbios porque é sobre ela que me deterei mais um pouco. Língua dupla é justamente a língua que profere ambiguidades, ou palavras de dois sentidos e, portanto, enganadoras. Estudamos em Teologia que, todas as vezes que as Sagradas Escrituras empregam a palavra detestar ou detestável etc. isto significa que se trata de algum mal grave. Estudamos isto na Teologia quando se trata de saber o que seria pecado grave ou leve.

Logo, em se tratando de ambiguidades que provocam desastres na fé e, portanto, de consequências eternas, é evidente, que neste caso, se revestem de uma gravidade incomensurável. Sabemos que a Santa Madre Igreja sempre ostentou uma clareza singular nos seus dogmas, definidos no decorrer dos séculos pelos vários Papas e Concílios.

A ambiguidade é tão perigosa que não adianta o Magistério “Vivo” da Igreja ficar sempre dizendo qual é o sentido verdadeiro. Os inimigos da Igreja sempre tirarão suas consequências no sentido que não é o verdadeiro. E 50 anos foram suficientes, sobretudo para quem os vem acompanhando, para se perceber que os modernistas no Concilio tiveram a intenção (como parece mostrar o cardeal Kasper — houve até no Concílio quem declarou esta sua intenção; mas é claro não podemos julgar e generalizar; veremos no dia do Juízo) de colocar ambiguidades onde poderiam tirar depois suas conclusões. E tudo parece indicar que eles entendiam que Concílio Pastoral era sinônimo de Ecumenismo. E talvez a ambiguidade tenha sido empregada para se poder fazer ecumenismo. Cito apenas esta passagem do Concílio Vaticano II: “A Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica”. Todos os Santos, Papas, Concílios e Doutores sempre ensinaram que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica. O povo católico nunca teve dificuldade em entendê-lo. Agora, o tal “subsist in”, “subsiste em” é tão difícil de entender que até os teólogos se sentem embaraçados na ginástica que fazem para explicá-lo. Então a Pastoral não é para o povo entender melhor, mas, para os protestantes se sentirem melhor e mais firmes nas suas heresias. Que Concílio Pastoral é esse! Queremos deixar claro o seguinte: o que o Concílio repetiu da Tradição e não o deturpou por nenhuma ambiguidade, é bom! Mas, há um axioma que diz: “Bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu”. Extraindo pela raiz o que há de defeituoso, ambíguo e perigoso do Concilio Vaticano II, este não provocará mais meio século de discussões e desastres. Tornar-se-á uma boa árvore e dará bons frutos. É o que certamente fará o Magistério Vivo, Perene e Infalível da Santa Madre Igreja. Quando, não sabemos! Como o Concílio Vaticano II não definiu nada, restará o que nele traz da Tradição.

O perigo da Ambiguidade e o Bom Senso

Vimos o que é uma coisa ambígua: o que pode ser interpretado em dois sentidos. Algo, portanto, perigoso. E por isto mesmo autores clássicos, como por exemplo Cícero, empregaram o adjetivo “ambiguus” para significar “perigoso”.

Vamos compreendê-lo com um exemplo infelizmente acontecido, e não simples ficção. Trata-se do maior desastre aéreo até hoje acontecido. Ocorreu em 27 de Março de 1977, no Aeroporto de Tenerife, que fica nas Ilhas Canárias. Dois Jumbos, um da Pan Am e outro da companhia aérea da Holanda KLM, se chocaram quando se preparavam para decolar. Morreram 612 pessoas.

Mas, qual a causa desta tão terrível tragédia? A ambiguidade, e foi uma ambiguidade apenas fônica. Foi o seguinte: a torre de controle havia ordenado a um dos pilotos “Hold position”, isto é, sustente a posição, ou seja, FIQUE PARADO. Mas o piloto entendeu “Roll to position”, o que quer dizer: vá para a posição, isto é, SIGA. O piloto do outro jumbo recebeu esta última ordem bem entendida. E foi assim que os dois aviões se chocaram em pleno aeroporto.

Então, a partir deste dia a aviação internacional retirou do seu vocabulário a expressão “roll to position”, trocando-a por outra que não provocasse dúvidas e novos desastres. A avião internacional agiu segundo o bom senso. Não se limitou a avisar que os pilotos ficassem mais atentos para não se equivocarem. Não disse que estivessem bem convencidos dos significados das duas expressões. Em se tratando de vidas humanas, a voz do bom senso exigia a máxima segurança.

Agora, apenas, uma ficção. Suponhamos (só para efeito de argumentação) que desde Santos Dumont (início do século XX), a expressão de comando fosse outra sem a mínima ambiguidade de som, tanto assim que nunca tinha havido mal entendido neste ponto, e, consequentemente, nunca ninguém tinha morrido por isso. Pois bem, depois foi mudada. E então, depois desse acidente tão fatídico, tão triste, suponhamos que a aviação internacional não quisesse voltar à expressão tradicional que nunca apresentou perigo de ambiguidade. Isso seria o cúmulo da ausência de bom senso. Seria um absurdo inqualificável.

Caríssimos e amados leitores, sirva tudo isso como parábola.

A Santa Igreja é o avião que nos conduz ao Céu. Quando se trata de avião, é mister empregar sempre o mais seguro. E todo cuidado é pouco quando se trata de se chegar ao Céu ou não. Céu e inferno são eternos. Felicidade eterna ou infelicidade eterna. Por isso, a Santa Igreja, como Mãe solícita e bondosa, sempre ostentou uma clareza singular nos seus dogmas. Por exemplo, a Santa Missa, que é ao mesmo tempo a sua oração por excelência e uma explícita profissão de fé, clara e sem ambiguidades, deu tantos frutos de santidade! Foi sempre uma barreira inexpugnável contra as heresias, defendendo a fé dos seus filhos. Por isso os protestantes tinham ódio da Missa de sempre. E por que elogiaram tanto a Missa Nova? Porque em si mesma tem ambiguidades. E podendo ser feita em vernáculo poderia ser assim manipulada à vontade!

No Concílio Vaticano II, repetindo o exemplo, trocou-se a expressão “A Igreja de Cristo é a Igreja Católica” por esta outra tão ambígua que até os que querem explicá-la no bom sentido, sentem dificuldade: “A Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica”. Quer dizer: a primeira expressão inequívoca desde o início do Cristianismo nunca pôde ser interpretada heterodoxamente e os católicos nunca tiveram a mínima dificuldade em entendê-la. Mas, no Concílio Vaticano II, para dar azo ao ecumenismo, aquela expressão foi trocada pela outra mais difícil de ser entendida pelos católicos e com uma facilidade imensa de ser explorada pelos inimigos da Igreja, como realmente foi e está sendo mesmo após o Magistério “Vivo” dizer que o sentido verdadeiro é o da Tradição. É o perigo da ambiguidade.

O pior é que as almas estão se perdendo. Os desastres na fé provocados por essas ambiguidades têm consequências eternas. Milhões de católicos estão passando para as seitas. E o pior de tudo isto é que pessoas que comandam o avião da Igreja continuam com as expressões novas ambíguas. E péssimo é que as antigas são “detritos”. As expressões inequivocamente tradicionais foram inseridas no Concilio Vaticano II apenas como acessórios descartáveis, com a finalidade única de conseguir todas as assinaturas dos Padres do Concilio. A maioria do Concílio, terminado o Concílio, na prática, tiraria as consequências das ambiguidades, e descartaria os acessórios tradicionais. Uma árvore má só pode dar maus frutos.

Parece que não poderia haver algo mais triste, lamentável e desastroso do que o Papa empregar uma linguagem ambígua em questões dogmáticas (a indissolubilidade do Matrimônio e a presença real de Jesus Cristo Eucarístico). No entanto, mais desastroso, lamentável e triste do que isto, é o fato de o Soberano Pontífice se recusar a responder às respeitosas e bem fundadas “DUBIAS” que os quatro cardeais lhe apresentaram. Se se tratasse de um possível desastre ambiental, certamente logo procuraria dar uma explicação (aliás, ao tratar deste assunto (LAUDATO SI) usou de muita clareza!). Às vezes, fico a pensar que as profecias de Nossa Senhora de La Salette já se estão cumprindo!

Rezemos não só para que esses quatro cardeais vão à frente e não retrocedam, mas que apareçam outros em defesa da doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. NA SANTA MADRE IGREJA, A LEI SUPREMA É A SALVAÇÃO DAS ALMAS. Amém!

Fraternidade São Pio X, reconciliação cada vez mais próxima.

Por Andrea Tornielli, La Stampa, 30 de janeiro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com –  “Neste momento, estamos trabalhando no aprimoramento de alguns aspectos da figura canônica, que será a prelazia pessoal”. O Arcebispo Guido Pozzo, secretário da Comissão “Ecclesia Dei”, encarregada do diálogo com a Fraternidade São Pio X, confirma a Vatican Insider que a fase de plena comunhão com os lefebvrianos se aproxima. A meta do acordo está à vista, embora ainda demore algum tempo.

O superior da Fraternidade São Pio X, Dom Bernard Fellay, em 29 de janeiro de 2017, participou como convidado no programa “Terres de Mission” da TV Liberté. Durante a entrevista, Fellay confirmou que o acordo está a caminho e que para chegar à solução jurídica não será necessário esperar até que a situação da Igreja torne-se “totalmente satisfatória” aos olhos da Fraternidade São Pio X, que, ademais, em todos esses anos nunca deixou de mencionar o nome do Papa e de rezar por ele na celebração da Missa. Fellay enquadrou a atitude de Francisco para com a Fraternidade como parte da atenção às “periferias” e explicou a importância de colocar um fim à separação com Roma.

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Quanto aos problemas doutrinais, o essencial parece alcançado em vista do acordo. Aos membros da Fraternidade de São Pio X seria pedido o que é necessário para ser católicos, ou seja, a “professio fidei”, reconhecer a validade dos sacramentos celebrados com o Novus Ordo (a liturgia resultante da reforma pós-conciliar), a obediência ao Papa. Houve um diálogo e uma discussão sobre a relação entre magistério e tradição, enquanto ainda são objeto de aprofundamento – e até mesmo de desacordo que poderia permanecer – tópicos relacionados ao ecumenismo, à liberdade religiosa e ao relacionamento Igreja-mundo.

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O Papa e a Ordem de Malta: uma vitória de Pirro?

Por Roberto de Mattei, Corrispondenza romana, 25-01-2017 | Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com: A renúncia do Grão-Mestre da Ordem de Malta, Matthew Festing, imposta por Francisco em 23 de janeiro, é susceptível de transformar-se numa vitória de Pirro. O Papa Bergoglio obteve o que queria, mas teve de usar a força, fazendo violência à lei e ao bom senso. O que terá consequências graves não só no interior da Ordem de Malta, mas entre os católicos do mundo inteiro, cada vez mais perplexos e confusos pelo modo como Francisco governa a Igreja.

O Papa sabia que não possuía qualquer direito legal para intervir na vida interna de uma Ordem soberana, e muito menos para exigir a renúncia de seu Grão-Mestre. Também sabia que este não poderia resistir à pressão moral de um pedido de renúncia, ainda que ilegítima.

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Assim agindo, o Papa Bergoglio exerceu um ato de império abertamente contrastante com o espírito de diálogo, que foi o leitmotiv do ano da misericórdia. Mas, o mais grave é que a intervenção foi para “punir” a corrente que na Ordem é mais fiel ao Magistério imutável da Igreja e apoiar a ala laicista, que gostaria de transformar os Cavaleiros de Malta em uma ONG humanitária, distribuidora de preservativos e abortivos, “para fazer o bem”. A próxima vítima parece ser o cardeal-patrono Raymond Leo Burke, que tem a dupla “culpa” de ter defendido a ortodoxia católica dentro da Ordem e de ser um dos quatro cardeais que criticaram os erros teológicos e morais da Exortação bergogliana Amoris laetitia.

Em seu encontro com o Grão-Mestre, o Papa Francisco anunciou-lhe a sua intenção de “reformar” a Ordem, ou seja, a vontade de elidir o seu caráter religioso, embora seja precisamente em nome da autoridade papal que ele quer começar a suspensão das normas religiosas e morais. Trata-se de um projeto de destruição da Ordem, que naturalmente só poderá acontecer através da rendição dos Cavaleiros, os quais infelizmente parecem ter perdido o espírito militante que os distinguia nos campos de batalha das Cruzadas e nas águas de Rhodes, Chipre e Lepanto. Ao fazê-lo, no entanto, o Papa Bergoglio perdeu muito de sua credibilidade, não só aos olhos dos próprios cavaleiros, mas de um número crescente de fiéis que sentem a contradição entre o seu modo de falar, cativante e melífluo, e o de agir, intolerante e ameaçador.

Passemos do centro à periferia, a qual, entretanto, para o Papa Bergoglio, é mais importante do que o centro. Poucos dias antes da demissão do Grão-Mestre da Ordem de Malta, outra notícia na mesma linha abalou o mundo católico. Dom Rigoberto Corredor Bermúdez, Bispo de Pereira, na Colômbia, por decreto de 16 de Janeiro de 2017, suspendeu a divinis o padre Alberto Uribe Medina, porque, segundo o comunicado da diocese, ele teria “expressado pública e privadamente sua rejeição ao magistério doutrinário e pastoral do Santo Padre Francisco, sobretudo no que diz respeito ao casamento e à Eucaristia”. O comunicado da diocese acrescenta que, por causa de sua posição, o sacerdote “se separou publicamente da comunhão com o Papa e com a Igreja”.

Portanto, o padre Uribe foi acusado de ser herege e cismático por recusar aquelas orientações pastorais do Papa Francisco que, aos olhos de tantos cardeais, bispos e teólogos, são suspeitas de heresia precisamente porque parecem afastar-se da fé católica. O que significa que o sacerdote que se recusar a administrar a comunhão a divorciados recasados ou a homossexuais praticantes será suspenso a divinis ou excomungado, enquanto aquele que rejeita o Concílio de Trento e a Familiaris Consortio é promovido a bispo e, talvez, a cardeal, como provavelmente espera Dom Charles Scicluna, Arcebispo de Malta, um dos dois prelados malteses que autorizaram oficialmente a comunhão para divorciados recasados que vivem more uxorio. Desta forma, o nome da pequena ilha do Mediterrâneo parece ter uma ligação misteriosa com o futuro do Papa Francisco, menos tranquilo do que se imagina.

Quem é hoje ortodoxo, e quem é herege e cismático? Este é o grande debate que se delineia no horizonte. Um “cisma de fato”, como o definiu o jornal alemão Die Tagespost, ou seja, uma guerra civil na Igreja, da qual a guerra no interior da Ordem de Malta é apenas um pálido prenúncio.

Foto da semana.

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Washington, EUA, sexta-feira, 27 de janeiro de 2017 – Milhares de pessoas participam da Marcha pela Vida. A manifestação contra o aborto na capital americana é realizada anualmente  desde 1973, quando a Suprema Corte americana legalizou o crime no país.

Neste ano, a Marcha contou com o apoio da Casa Branca. O presidente recém-eleito Donald Trump expressou seu apoio nas redes sociais e, pela primeira vez, um vice-presidente, Mark Pence, discursou durante o evento.

Reflexões da Sagrada Escritura: A consciência cristã.

“Tudo o que não é segundo a fé é pecado” (Rom. XIV, 23).

Por Padre Élcio Murucci | FratresInUnum.com

Todo ato cristão parte do íntimo da alma unida a Deus em conformidade com a Verdade que é Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim os dois conceitos FÉ e CONSCIÊNCIA CRISTÃ, coincidem perfeitamente. É, pois, a adesão interior a Jesus Cristo que faz nossa fé e nossa consciência. Portanto, quando o cristão unido interiormente a Jesus Cristo, age em desacordo com essa luz divina, peca. É neste sentido que S. Paulo diz: “Tudo o que não é segundo a fé é pecado”. São João Crisóstomo, com todos os intérpretes gregos, ensina que, no texto em apreço, “FÉ” quer dizer “CONSCIÊNCIA”.

Nuvens sobre o Vaticano.

Caríssimos, Nosso Senhor Jesus fez sua Igreja com sua hierarquia para ser a luz do mundo e o sal da terra. O Cristianismo é, por essência, uma doutrina sobrenatural da salvação. Seu fim é ensinar ao homem a sua elevação a um destino superior e subministrar-lhe os meios proporcionados à sua consecução. Mas a graça supõe a natureza. É a natureza do homem que é elevada à ordem sobrenatural. É sobre a natureza reta ou retificada que ele poderá realizar a sua missão sobrenaturalizadora. A moral humana e o direito natural só podem desenvolver-se e formular-se em corpo de doutrina pela Santa Madre Igreja. Por isso, onde e na medida em que o racionalismo laicista ou o materialismo ateu tentam banir a doutrina católica, renascem os ídolos pagãos com as suas servidões humilhantes e a pessoa perde sua dignidade. Enquanto os instintos cegos e as paixões indisciplinadas, onde a impureza, a ambição e o orgulho multiplicam os erros e as desordens, o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo será o único meio para difundir claridades para o verdadeiro progresso aqui e máxime para as vias que conduzem à Eternidade Feliz. A Igreja de Nosso Senhor Jesus esclarece as inteligências e possui o segredo de energias sobrenaturais capazes de fortalecer a vontade. É ela, e somente ela, que plasma e ilumina as consciências tornando-as certas, retas e delicadas. Sua ação é interior, profunda e eficaz. Na prática do bem a consciência apura-se numa delicadeza e sinceridade que deve ter por testemunha o olhar de Deus. O amor de Jesus Cristo, modelo de perfeição humano-divina, deve introduzir no dinamismo da vida moral dos verdadeiros católicos uma força misteriosa de dedicação e generosidade, chegando mesmo ao heroísmo do martírio. É o fruto da consciência bem formada, é o exercício da virtude exaltada até à santidade.

Mensageira autorizada da verdade e do bem, a Igreja não poderá jamais deixar de testemunhar a verdade de Jesus, assim como jamais poderá eximir-se de ligar as consciências a esta Verdade, sem que pretenda com isso, é óbvio, violentá-las. O que ela quer é a sua adesão não puramente exterior, mas interior. Quando esta adesão interior lhe é resolutamente recusada, a Igreja não força, mas não pode senão implorar a misericórdia divina que converta os recalcitrantes. Nunca será misericórdia abraçar o pecador com o pecado e tudo, no caso de o pecador se recusar a voltar atrás e se converter. A Igreja, a exemplo do Divino Mestre, é missionária, e deve ir à procura do pecador para o converter e não para falsear sua consciência no afã de tranquilizá-la no erro e no pecado. Isto é, sim, monstruosa impiedade: enganar as almas com uma paz que não é a de Jesus Cristo, mas a do mundo. Procurar tirar os pecados das consciências não é fanatismo nem dureza de coração; é simplesmente preocupação de sinceridade e de retidão interior. A Igreja não pode tolerar, nem tem mesmo o direito de fazê-lo, que no número dos seus membros se encontrem católicos que só o sejam de nome. A Igreja Católica, deve ser por excelência, a preservadora e impulsora da moralidade humana. Deve ser o sal da terra para, dando gosto pelas coisas de Deus, preservar a almas e a sociedade da corrupção, seja ela lá de que espécie for. Só o Cristianismo pode ser escola de santos. A graça supõe a natureza, mas uma natureza reta ou retificada. Não será bom católico quem não começar por ser homem honesto.

A Igreja considerou sempre como parte de sua missão divina, elevar e sanear o ambiente moral da família. Se é verdade que, sendo a consciência a regra imediata que se deve seguir, nunca será lícito alguém ir contra ela, não é menos verdade que a intenção de conformar os nossos atos com a regra absoluta, que é a condição essencial do seu valor moral, supõe necessariamente o desejo e a intenção eficaz de a conhecer o mais exatamente possível. Eis porque o erro e a ignorância em semelhante matéria são imputáveis quando provêm da negligência em se instruir ou da prática continuada do mal, que acabou por obscurecer ou falsear a consciência. Assim, toda consciência errônea deve ser endireitada. Portanto, não poderia ser maior a impiedade, por parte de alguém da hierarquia eclesiástica ser o primeiro a exortar a alguém que esteja  procurando esclarecimento, a seguir em frente com sua consciência, ainda que clara e gravemente errônea. Seria a mãe dar uma serpente ao filho que lhe pedisse um peixe; dar uma pedra em lugar dum pão; e pior ainda, dar ao filho doente, em vez de remédio, veneno. Outrossim, é uma impiedade sem nome, a autoridade suprema da Igreja se recusar a esclarecer as consciências que esta mesma autoridade perturbou com alguma ambiguidade em questões de fé e moral. Devemos pedir a Deus pelos quatro cardeais que apresentaram ao papa os “DUBIA” e por todos os que os estão aprovando, para que continuem firmes na defesa da santa doutrina  de Nosso Senhor Jesus Cristo! Devemos também orar para que o Papa Francisco veja que não se trata de coisas de somenos importância, mas sim da Lei suprema da Igreja que é procurar a salvação das almas. Não se trata, pois, de procurar evitar a extinção de espécies animais, mas trata-se de evitar a extinção da fé nas almas.

Caríssimos, na religião do homem que hoje se procura instaurar, até quanto ao SER MORAL o homem é deus para si mesmo. Nestes tempos calamitosos e faltos de fé, geralmente não se leva mais em conta a LEI de DEUS; já em muitos países são aprovadas leis contra o Decálogo e até contra a natureza, leis nela já insculpidas por Deus desde à criação. E  já foram aprovados por lei,  o divórcio e até o aborto, a sodomia, pecados estes que bradam aos céus exigindo vingança. Não poderia ser maior o falseamento das consciências! As novas gerações acharão natural o que na verdade são monstruosos desrespeitos a Deus. Na míngua de sacerdotes que orientem as almas na verdade e no verdadeiro amor e adoração ao Criador, o mundo caminha no sentido de adorar as criaturas. Realizam-se, sem dúvida, as profecias de Nossa Senhora de La Salette. Não foi sem razão que Nossa Senhora apareceu chorando. E neste ano completam-se 45 anos que a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima derramou lágrimas várias vezes em Nova Orleans nos Estados Unidos.

Feita esta breve exposição, torna-se mais fácil compreender o porquê desta crise atual, crise esta que se estende a todos os campos, desde o religioso até ao econômico. É que o sal perdeu a sua força e não presta para outra coisa senão para ser jogado fora e pisado pelos homens. Apagou-se, ou quase, a luz da fé, a doutrina do Divino Mestre é substituída por novidades fabricadas ao sabor do mundo. A verdadeira Moral é substituída por uma NOVA: é a Moral de Situação.

Edward Pentin: Papa Francisco convocou reservadamente para audiência o Grão-mestre da Ordem de Malta e pediu que escrevesse sua renúncia na hora. E que declarasse ter sido influenciado por Burke.

Papa Francisco declara todos os atos recentes de Festing como “nulos e inválidos”.

Declaração feita em uma carta do Cardeal Parolin à Ordem de Malta, enquanto vão surgindo os detalhes sobre o que aconteceu durante o encontro do Papa com o Grão-Mestre.

Por Edward Pentin, National Catholic Register, 26 de janeiro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com – O Papa Francisco declarou que todas as ações tomadas pelo chefe da Ordem de Malta e seu Conselho de Administração, desde a demissão de Boeselager no mês passado, são “nulas e sem efeito”, incluindo a eleição do substituto de Boeselager.
Escrevendo em nome do Papa aos membros do Conselho de Governo da Ordem, no dia 25 de janeiro, o secretário de Estado do Vaticano Cardeal Pietro Parolin, afirmou que o Santo Padre, “com base em evidências que emergiram a partir de informações que ele reuniu, determinou que todas as ações tomadas pelo Grão-Mestre depois de 6 de dezembro de 2016, são nulas e sem efeito”.
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Burke – o alvo.

Ele acrescentou: “O mesmo é verdadeiro para aqueles do Soberano Conselho, como a eleição do Grão-chanceler interinamente.” O Conselho elegeu  Fra ‘John Critien como substituto temporário de Boeselager.

Cardeal Parolin começa sua carta ressaltando que o Grão-comandante, Ludwig Hoffmann von Rumerstein, está agora encarregado da Ordem, acrescentando que “no processo de renovação que é visto como necessário”, o Papa “nomearia seu delegado pessoal com poderes que ele mesmo vai definir no ato de sua nomeação”

O Grão Mestre Fra ‘Matthew Festing apresentou sua renúncia no dia 24 de janeiro, de acordo com uma declaração do Vaticano, de 25 de janeiro. O Vaticano acrescentou ainda no comunicado que no dia seguinte “o Santo Padre aceitou a sua demissão.”

Além disso, o Vaticano disse que o governo da Soberana Ordem passaria a ser administrado pelo “Grão-comandante interino enquanto se aguarda a nomeação do Delegado Pontifício”.

O Papa convocou Fra’Festing ao Vaticano no dia 24 de janeiro, dando-lhe instrução rigorosa para não deixar que ninguém viesse a saber sobre a audiência – um modus operandi que tem sido usado com frequência durante este Pontificado, mas que Register tomou conhecimento. Durante o encontro, Francisco pediu a Fra ‘Festing para que ele se demitisse imediatamente, algo com o qual o Grão-Mestre teve que concordar. O Papa, então, ordenou-lhe para escrever sua carta de demissão ali mesmo no local, de acordo com fontes bem informadas.

O Register também tomou conhecimento de que o Papa disse a Fra ‘Festing que a razão pelo qual estava pedindo sua renúncia foi a convicção do pontífice de que ele tem que fazer uma nova “investigação mais profunda” da Ordem, e que tal  investigação seria “mais facilmente conduzida se o grão-mestre renunciasse.”

Também foi revelado ao Register, que o Papa então fez Fra ‘Festing incluir em sua carta de renúncia, que o Grão-Mestre havia pedido a demissão de Boeselager “sob a influência” do Cardeal Raymond Burke, o patrono da Ordem. No entanto, como patrono, o Cardeal não tem nenhum poder de governo na Ordem, podendo apenas aconselhar o Grão-Mestre, o que significa que a decisão de demitir o Grão-chanceler pertence exclusivamente ao Grão-Mestre.

Perguntado se poderia confirmar esta versão dos acontecimentos envolvendo o encontro de Fra ‘Festing com o Papa, o Vaticano respondeu ao Register no dia 26 de janeiro, que não fornece “nenhum comentário sobre conversas privadas.”

Se o Grão-Mestre foi pressionado a renunciar, alguns dentro da Ordem estão especulando sobre a validade de sua renúncia, já que essa foi exigida imediatamente, sem dar-lhe tempo para sequer considerar o assunto. Eles também estão preocupados com o que se parece prenúncio de um expurgo futuro na Ordem.

Além disso, alguns estão se perguntando que, se todos os atos do Grão-Mestre desde 6 de dezembro são nulos, como o Cardinal Parolin afirmou em sua carta, isso também incluiria o ato de renúncia de Fra ‘Festing ao Papa.

No sábado, o Conselho Soberano reúne-se para votar se a aceitam ou não a renúncia do Grão-Mestre.

Segue abaixo a tradução da carta do Cardeal Parolin:

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“Distintos Membros do Conselho Soberano, 

Gostaria de informar-lhes que S.A.E. Fra ‘Matthew Festing, Grão-Mestre da Ordem, na data de 24 de Janeiro de 2017, entregou sua demissão nas mãos do Santo Padre Francisco, o qual a aceitou.  

Como a Constituição da Ordem prevê no Art. 17 § 1, o Grão-comendador assumirá a responsabilidade de governo interinamente. Nos termos do Art. 143 do Código Maltense, ele providenciará de informar aos Chefes de Estado com os quais a Ordem mantém relações diplomáticas e as diferentes organizações ligadas à Ordem. 

Para ajudar a Ordem no processo de renovação que é visto como necessário, o Santo Padre irá nomear seu delegado pessoal com poderes que ele vai definir no próprio ato de sua nomeação. 

O Grão-comendador, em seu papel de tenente interino, exercerá os poderes previstos no Art. 144 do Estatuto da Ordem até o Delegado Pontifício ser nomeado. 

O Santo Padre, com base em evidências que surgiram a partir de informações que ele reuniu, determinou que todos os atos realizados pelo Grão-Mestre depois de 6 de dezembro de 2016, sejam nulos e inválidos. O mesmo é verdadeiro para aqueles atos do Conselho Soberano, como a eleição ad interim do Grão-chanceler

O Santo Padre, reconhecendo os grandes méritos da Ordem na realização de muitas obras em defesa da fé e no serviço aos pobres e doentes, expressa sua preocupação pastoral para com a Ordem e espera a colaboração de todos neste momento delicado e importante para o futuro. 

O Santo Padre abençoa a todos os membros, voluntários e benfeitores da Ordem e lhes sustenta com suas orações.

Pietro Paraolin

Secretário de Estado

O Papa “comissaria” a Ordem de Malta. Agora se espera a punição para o Cardeal Burke.

Por Riccardo Cascioli, La Nuova Bussola Quotidiana, 26 de janeiro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com – A dura e extraordinária intervenção do Papa Francisco, que forçou a renúncia do Grão-Mestre Robert Matthew Festing, para logo em seguida, anunciar uma espécie de liquidação da Soberana Ordem Militar de Malta, parece ser apenas o início de um terremoto, quer seja na Igreja, quer seja no campo das relações internacionais.

Em jogo estão muitas questões importantes: a correspondência entre as atividades beneficentes e a doutrina da Igreja, bem como a independência de um Estado soberano, mas, antes de mais nada, o que parece cada vez mais evidente é que pelo tom de toda a celeuma, o objetivo mesmo é a cabeça do Cardeal Raymond L. Burke, que é o Cardeal Patrono da Ordem de Malta, uma figura que atua um pouco como “capelão” e um pouco como diplomata representando o Vaticano junto à Ordem. Burke está entre os cardeais que mais manifesta perplexidade diante de algumas escolhas e decisões do Papa Francisco e é um dos quatro signatários dos Dubia acerca da Amoris Laetitia. Não é de hoje que ele está na mira. Tanto é que sua própria nomeação como patrono da Ordem de Malta em novembro de 2014 já foi um rebaixamento do seu cargo como prefeito do Tribunal da Assinatura Apostólica.

Como é de conhecimento público, a crise teve início quando, em novembro passado, o Grão-Mestre Festing destituiu o chanceler Albrecht Freiherr von Boeselager, acusado de ter incentivado a distribuição de contraceptivos na África e Ásia no âmbito dos programas de desenvolvimento financiados pela Ordem. Boeselager negou as acusações, não aceitou a demissão e pediu a intervenção da Santa Sé, que da sua parte resolveu nomear uma comissão, encabeçada pelo arcebispo Silvano Tomasi, responsável por verificar como os eventos se sucederam. Em nome da Ordem de Malta, Festing declarou seu desejo de não colaborar com a comissão do Vaticano por considerá-la como uma interferência indevida nos assuntos internos de um órgão soberano. A resposta da Secretaria de Estado do Vaticano foi imediata, reivindicando a legitimidade da investigação, que seria apenas com a intenção de se por a par da situação, tomar conhecimento. Mas a queda de braço seguiu adiante (para aprofundar-se sobre detalhes dos eventos clique aqui) até a virada inédita de 24 de Janeiro.

Naquele final de tarde, o Papa Francisco convocou Festing e pediu sua demissão imediata, induzindo-o a escrever diante de sua presença a carta requerida. É claro que não sabemos todo o conteúdo do colóquio, mas a pressão moral deve ter sido fortíssima pra fazer Festing engolir o comunicado de alguns dias atrás onde ele defendia enfaticamente a soberania da Ordem. E também há rumores de que nessa carta de demissão, poderia haver referências ao papel ativo que o Cardeal Burke teria desempenhado na destituição de Boeselager.

Na verdade, desde que o caso explodiu, fontes bem próximas ao Papa Francisco insistem muito sobre uma suposta responsabilidade de Burke, o qual  teria ostentado um apoio inexistente do Papa à decisão de torpedear o Grão-chanceler. A partir deste ponto de vista, é interessante perceber, como exatamente sobre esse ponto têm insistido muito os cabeças do Vatican Insider, cujo trabalho de franco atiradores – como se sabe – é implacável. Em vão, Burke nega o fato e as circunstâncias, alegando que ele como Cardeal Patrono não tem voz nas decisões do Capítulo, que são fruto de procedimentos internos da Ordem. As acusações contra ele estão num contínuo crescimento, embora esteja claro que por trás do confronto na Ordem, há divisões que se arrastam há anos entre os diferentes grupos nacionais e que foram recentemente enriquecidas por uma disputa em torno de um legado de € 120.000.000 depositado em um Fundo na Suíça (clique aqui).

Em todo caso, ontem, 25 de janeiro, a Sala de Imprensa da Santa Sé – com um humorismo não-intencional – anunciou a aceitação da renúncia do Grão-Mestre Festing. Além do mais, divulgou a futura nomeação de um delegado pontifício chamado para governar a Ordem (confiada ao Grande Comendador nesse ínterim). Em outras palavras, a Ordem de Malta é considerada como  um “comissariado” da Santa Sé.

Esta é uma decisão sem precedentes, que causou grande confusão e terá repercussão internacional: a Ordem de Malta é de fato um Estado soberano, um Estado sem território, que também tem um embaixador junto à Santa Sé. Como bem observado pelo semanário britânico The Catholic Herald, a decisão do Papa equivale a uma anexação real, uma clara violação do direito internacional que, em última análise, ameaça até mesmo a independência da Santa Sé. Com um precedente deste tipo, como poderia a Santa Sé se defender legalmente se, por exemplo, um dia “o Governo italiano resolvesse ver a independência da Cidade do Vaticano como uma formalidade anacrônica”?

Enquanto isso, no presente, a decisão arrisca destruir a milenar atividade da Ordem de Malta que está presente em todo o mundo com “obras de misericórdia para os doentes, os necessitados e os sem pátria”, como ditado pela sua Constituição. A presença da Ordem de Malta em mais de cem países é garantida pela representação diplomática, que agora pode ser colocada sob discussão exatamente por causa desta perda de soberania.

Seria um dramático gol contra para a Igreja e seria verdadeiramente incompreensível se, em seguida, vier a ser confirmado que o objetivo de toda essa celeuma é a cabeça do Cardeal Burke. A insistência com a qual ele vem sendo acusado de ter feito do Papa um escudo para torpedear uma persona non grata – ignorando, no entanto, o fato de ele já ter negado isso  – indicaria a disposição para uma punição pesada (para um cardeal está entre as piores acusações). Ainda mais se for confirmada a “confissão” imposta ao Grão-Mestre Festing. Tudo isso nos leva a pensar que querem se aproveitar desta oportunidade para chegar àquela punição exemplar invocada por alguns prelados logo após a publicação dos Dubia que os cardeais haviam assinado: ou seja, a remoção do título de Cardeal.

De qualquer modo, a impressão é de que estamos só no início.

That’s Amoris.

Tradução literal (não poética) do leitor Fernando, a quem agradecemos:

No Vaticano
Onde Francisco Reina
Quando as pessoas se encontram
Eis o que dizem:

Quando a Igreja acerta a Rocha
e a Rocha divide o rebanho
É o amor! [É a Amoris]

Quando o documento do papa
É carimbado em Sant Gallen
É o amor! [É a Amoris]

Diferentes interpretações
De uma Exortação
‘Onde está Muller?’

Não há aqui perigo a fé
Então em poucos dias, Malta quebra
‘O Scicluna!’

Quando quatro cardeais escrevem
Mas não recebem resposta
É o amor! [É a Amoris]

Quando petições são assinadas
Dizendo, ‘Por favor repense!’
São ignoradas

Quando as homilias do papa
Insultam a todos
‘E a Curia’

Todos são acusados
De ler notícia falsa
‘Coprofagia’

Quando Austen Ivereigh
Diz: ‘Por favor me escute…’
É o amor! [É a Amoris]

‘Eu tenho um PHD, veja
Em Ambiguidade
E Nuances’

Contudo ele ainda oferece um recuo ligeiro
Se você ousar desafiar seu tweet
Como Spadaro

Tanto para um diálogo
Enquanto descobrimos que estamos bloqueados
‘Porque ele está encurralado’

Quando seremos todos libertados
desta cruel tirania
…É o amor? [É a Amoris?]

A teologia do Kasper
Serene apostasia
Oh, Por quanto tempo!

Acaso as Dubia enviadas
Cairam em uma saída de ar?
É o amor! [É a Amoris]

É o clima de medo
Engendrado por quatro anos
É o amor! [É a Amoris]

O Cara Rainha Celeste
invertenha, por favor?
Rogai por nós!

No Vaticano
Onde Francisco Reina
Quando as pessoas se encontram…

O Vaticano destruiu a soberania da Ordem de Malta. E se a Itália resolver fazer o mesmo com o Vaticano?

Por Ed Condon, The Catholic Herald, 25 de janeiro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com: A cúria continua sendo um lugar onde panelinhas têm mais autoridade que a lei. E isso não cai nada bem. 

A coisa mais notável sobre a controvérsia envolvendo a Ordem de Malta não é que o fato de que o Grão-Mestre, Fra ‘Matthew Festing, tenha renunciado. Isso já é extraordinário o suficiente, especialmente, levando-se em conta que foi, ao que parece, a convite do Papa Francisco. Não, a característica mais surpreendente da história é o anúncio de hoje de que o Papa irá instalar um delegado apostólico para governar a Ordem. Com efeito, isso acaba por abolir a Ordem como entidade soberana. Segundo a lei internacional, o que estamos vendo é, efetivamente, a anexação de um país por outro.

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Fra’ Matthew Festing na tradicional audiência de ano novo da Ordem (Ordem de Malta).

Como se chegou a esta situação? De alguma forma, o pequeno grupo que se reuniu em torno do antigo Grão-chanceler, Albrecht Boeselager, conseguiu transformar uma questão de governo interno da Ordem em uma explosiva crise diplomática entre dois entes soberanos dos mais antigas e proeminentes do mundo ocidental.

A panelinha nunca teve o que se pudesse considerar um verdadeiro caso. Como já escrevi antes, não resta dúvida de que, em termos jurídicos, a Comissão foi estabelecida sob recomendação da Secretaria de Estado da Santa Sé para investigar a demissão de Boeselager, e tanto foi como continua sendo totalmente ilegítima.

Resta claro que Boeselager foi demitido após a sua recusa em demitir-se, de acordo com o processo legal aprovado pela Ordem. Foi então alegado que Fra ‘Festing “desafiou” Papa Francisco ao demitir Boeselager. Mas, qualquer opinião que o Papa possa ter expressado antes do evento, teria sido em uma carta sobre o assunto, muito comentada em boatos, e endereçada ao Cardeal Burke diretamente, o enviado da Santa Sé à Ordem. Essa carta não foi sequer formalmente confirmada como existente e muito menos vazada. Seu suposto conteúdo continua sendo a grande pergunta sem resposta no cerne de todo este caso.

Quanto ao que se pode deduzir dos vários comentários, o Papa, na verdade, não deu nenhuma indicação de que era contra a demissão de Boeselager. De fato, o Santo Padre parece profundamente preocupado com a gravidade das acusações contra Boeselager e até mesmo com a possibilidade de infiltração maçônica entre os membros e as atividades da Ordem. O fato de que o verdadeiro texto desta carta tenha permanecido totalmente confidencial fala alto sobre a discrição e respeito pelo Santo Padre, tanto da parte do Cardeal Patrono como do Grão-Mestre, ainda que ambos tenham sido acusados de exatamente o contrário.

A humildade e cortesia de Fra’ Festing são típicos do homem. Ele serviu a Ordem e ao Papa muito bem, com total devoção e respeito às obrigações da lei e da sua posição. E agora, ele foi forçado a deixar seu posto para poder cumprir o seu dever. No entanto Boeselager -que se recusou a obedecer a uma ordem direta de seu soberano- e seus aliados triunfaram.

Esses aliados empreenderam uma sórdida campanha com vazamento de cartas do departamento do Cardeal Parolin, que acabaram tendo o triste e óbvio fim de armarem uma cilada pública na qual Fra’ Festing é retratado como alguém que supostamente “desafiou” os desejos explícitos do Papa. Na verdade, ainda de acordo com o confuso e mutável cronograma construído por seus amigos, ficou claro que Boeselager foi demitido bem antes da aparente intervenção(e ainda ilegítima) do Cardeal Parolin.

As tristes e severas conseqüências dessa cadeia de eventos são consideráveis. A legitimidade internacional da Ordem de Malta está agora em ruínas, a sua integridade constitucional e posição diplomática agora parecem irreparáveis.

O anúncio de hoje de um delegado apostólico a ser nomeado pelos representantes do Papa, essencialmente, significa a revogação total da soberania da Ordem. No entanto, as consequências para a própria Santa Sé podem, a longo prazo, serem igualmente graves ou até mais severas. O desrespeito pelo relacionamento mutuamente soberano entre a Santa Sé e a Ordem estabelece um precedente no direito internacional, que permanecerá pairando sobre as negociações da Secretaria de Estado com outros governos como uma bomba que ainda não explodiu.

Se a Santa Sé pode tão descaradamente inserir-se no governo interno de uma outra entidade soberana, cuja legitimidade decorre de um acordo mútuo sob a lei internacional e que agora não tem nenhuma defesa legal, então, caso aconteça que um outro órgão soberano, digamos assim, o governo da República Italiana, resolva ver a Santa Sé como uma formalidade semelhantemente anacrônica, Cardeal Parolin deveria então se preparar para encarar as ações citadas de hoje como um precedente legítimo quando o IOR, comumente chamado o Banco do Vaticano, vir sua soberana independência sob renovada pressão por parte de outros países ou organismos internacionais. O Papa Bento XVI disse que “uma sociedade sem leis é uma sociedade sem direitos”. A nua desconsideração pela lei demonstrada nas últimas semanas semeou uma colheita amarga para o corpo diplomático da Santa Sé colher no futuro.

Para aqueles menos preocupados com os aspectos diplomáticos e legais dessa situação, existe uma verdade enfática que emergiu de tudo isso. Agora ficou claro que apesar de todas as grandes esperanças de reforma da cúria que acompanharam a eleição do Papa Francisco, o Vaticano permanece sendo um lugar onde panelinhas e redes pessoais têm mais autoridade que a lei, e onde vazamentos e difamação continuam a fazer parte do negócio de cada  dia do governo.

O próprio Papa, como ele já declarou muitas vezes, não é um advogado e nem alguém conhecido por ter muito interesse em leis. Aqueles na Cúria que o impulsionaram a tomar essa decisão, deliberadamente, serviram-se dele, do Ofício Petrino, da soberania internacional da Santa Sé e naturalmente dos homens e mulheres da Ordem de Malta, e de modo incrivelmente mal. Eu suspeito que agora não é mais uma questão de “se”, mas de “quando”, eles acabarão vindo a se arrepender.

São Paulo: 5 dioceses em um mesmo município!

A maior cidade do país, que no dia 25/1/2017 comemora 463 anos de existência, se sobressai também pela diversidade eclesiológica. No entanto, a mídia parecer crer que o arcebispo de São Paulo representa todos os católicos paulistanos. 

Por Edson L. Sampel | FratresInUnum.com: A geografia eclesial do Brasil geralmente compreende uma enormidade de municípios, formando uma única diocese. Por exemplo, a Diocese de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul, compõe-se de dezenas de municípios.

Uma exceção à regra, em que se verifica o fenômeno inverso, é a cidade ou município de São Paulo, onde há 5 dioceses, a saber: a Arquidiocese de São Paulo, a Diocese de Santo Amaro, a Diocese de Campo Limpo, a Diocese de São Miguel Paulista e parte da Diocese de Osasco.

O termo “diocese” equivale à “Igreja particular”; é o gênero, do qual “arquidiocese” é espécie. Assim, diz-se corretamente que a Arquidiocese de São Paulo é uma diocese que se localiza no território da capital bandeirante. Juridicamente falando, salvo algumas situações raras, não ocorre nenhuma preponderância governamental de uma “arquidiocese” sobre uma “diocese”. Observe-se que a Igreja particular mais importante do mundo é a “Diocese de Roma”.

Os 5 bispos diocesanos que estão à frente de cada uma das dioceses do município de São Paulo titularizam o mesmíssimo grau de soberania e poder. Nenhum é maior que os outros. O bispo da Diocese de Campo Limpo, exemplificando, apenas deve obediência ao papa. Sem embargo, como uma das dioceses paulistanas, a Arquidiocese de São Paulo, ostenta o nome da cidade, toda vez que a imprensa secular  noticia algum posicionamento da arquidiocese acerca de determinado assunto, boa parcela dos munícipes e dos brasileiros, inclusive dos católicos incautos, creem que se fala em nome da Igreja ou do povo de Deus que está na cidade de São Paulo. Demais, a m&iacute ;dia, principalmente o jornalismo em papel, só concede espaço ao arcebispo de São Paulo. Grande injustiça! Em São Paulo existem 5 Igrejas particulares, isto é, 5 dioceses, com 5 bispos diocesanos plenipotenciários, com métodos e objetivos pastorais às vezes distintos! Um exemplo: na Arquidiocese de São Paulo ordenam-se homens casados para o diaconato permanente; o mesmo não sucede na Diocese de Santo Amaro, a qual não considerou oportuno instituir o referido ministério.

Recentemente, a Rede Globo de Televisão, no programa dominical “Antena  Paulista”, levou ao ar uma reportagem sobre o bairro de Santo Amaro, município autônomo até a década de 30, inclusive mais velho que a cidade de São Paulo. Entrevistado, o cura da catedral perdeu a oportunidade de explicar aos telespectadores que o extinto município de Santo Amaro corresponde hoje parte da Diocese de Santo Amaro, eclesialmente independente da Arquidiocese de São Paulo.

Edson Luiz Sampel

Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.

Membro do Conselho Diretor da Academia Marial de Aparecida (AMA).