Geo-estrategista italiano alimenta debate sobre a renúncia do Papa Bento XVI.

Por Maike Hickson – OnePeterFive, 23 de maio de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com: Um artigo publicado recentemente por um geo-estrategista e professor universitário italiano voltou a levantar questões sobre os motivos da surpreendente renúncia do Papa Bento XVI em 2013. Professor Germano Dottori, que é um professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade LUISS-Guido Carli, em Roma, escreveu um artigo no número 4/2017 do Limes, um jornal geo-estratégico, e que mais tarde foi usado pelo jornalista italiano Alessandro Rico, pelo comentarista e autor italiano Antonio Socci, bem como por Giuseppe Nardi, da Katholisches.de, na Alemanha.

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Ao discutir o papel da Igreja Católica em relação a considerações geo-estratégicas mais amplas – como a grande imigração para a Itália e os vínculos aparentemente crescentes com a Igreja Ortodoxa em Moscou – Dottori faz os seguintes comentários impressionantes e bem fundamentados (tradução gentilmente fornecida Por Andrew Guernsey):

Os conflitos entre a Igreja e os Estados Unidos não se tornaram menores, mesmo depois da morte de João Paulo II. Em vez disso, continuaram durante o pontificado do Papa Ratzinger, no decurso do qual, o que fez com que se tornassem exacerbados não foi apenas o investimento [político e estratégico] feito por Barack Obama e Hillary Clinton no islamismo político da Irmandade Muçulmana durante a chamada Primavera Árabe, mas também o firme desejo de Bento XVI de buscar uma reconciliação histórica com o Patriarcado de Moscou [sob o Patriarca Kirill], o que seria uma verdadeira coroação religiosa de um projeto geopolítico de integração euro-russa, que estava em suas intenções e era fortemente apoiado pela Alemanha e também pela Itália de Silvio Berlusconi – mas não por essa mais filo-americana [Itália], reconhecida por Giorgio Napolitano [Presidente italiano, 2006-2015].

A forma como isso terminou é bem conhecida por todos. Os governos Italiano e Papal foram simultaneamente atingidos por uma campanha escandalosa, coordenada e inusitadamente violenta e sem precedentes, envolvendo até mesmo manobras mais ou menos nubulosas no campo financeiro, com o efeito final sendo atingido em novembro de 2011 com a saída de Berlusconi do Palazzo Chigi e, em 10 de fevereiro [sic-11], 2013, com a abdicação de Ratzinger. No auge da crise, a Itália viu progressivamente seu acesso aos mercados financeiros internacionais fechados, enquanto o Instituto de Obras Religiosas (IOR) [Banco do Vaticano] foi temporariamente desligado do circuito Swift 4.

Apesar das consideráveis mudanças feitas tanto na política Italiana como no Vaticano, as dificuldades, no entanto, continuaram a persistir. Um fato que confirma a sua natureza estrutural e não permite na nossa previsão, nenhuma simplificação a curto ou médio prazo do contexto do qual nosso Governo terá que assumir no futuro as decisões mais importantes no campo de sua política externa.

Aqui, um especialista italiano em estudos geo-estratégicos afirma que tanto o governo Italiano sob Berlusconi quanto o papado de Bento XVI foram derrubados devido a manobras financeiras que colocaram os dois Estados em perigo. Alessandro Rico publicou, em 17 de maio, um artigo intitulado “Ratzinger costretto ad abdicare dal ricatto di Obama” (“Ratzinger forçado a abdicar devido à chantagem de Obama”), no jornal italiano La Verità – uma publicação que não tem nenhuma inclinação para o Catolicismo tradicional, mas, que, ao contrário, critica os católicos tradicionais e conservadores na mesma edição de 17 de maio (como observa Giuseppe Nardi). O próprio Rico coloca a declaração de Dottori em paralelo com a Carta Aberta de 20 de janeiro de 2017 ao Presidente Trump, publicada pelo jornal tradicionalista The Remnant, que pediu uma investigação sobre uma possível intervenção dos EUA contra o Papa Bento XVI. Como Rico aponta, o Papa Bento XVI, na época, se posicionou em oposição à colaboração do presidente Obama com a Irmandade Muçulmana, especialmente com o discurso do Papa em Regensburg, no qual criticou o fundamentalismo islâmico. Os Estados Unidos, como Rico juntamente com Dottori explicam, não eram favoráveis a uma aproximação papal com o Patriarcado de Moscou, o que poderia apoiar ainda mais uma aproximação européia com a Rússia. Uma base parcial para essa desejada aproximação poderia ser também uma rejeição do relativismo moral do Ocidente.

Ao falar sobre a pressão financeira que foi feita sobre o Vaticano em 2013, ao excluir o Estado Papal do sistema SWIFT – e que interrompeu as operações com cartão de crédito na Cidade do Vaticano e, portanto, nos museus do Vaticano – Rico também lembra: “Estranhamente, esta função [SWIFT] foi restabelecida imediatamente após a renúncia de Bento XVI”.

Recordamos, também, que, bem recentemente, em março de 2017, várias vozes influentes da Igreja Católica – entre elas o Arcebispo Luigi Negri e Ettore Gotti Tedeschi (ex-chefe do Banco do Vaticano) apoiaram o pedido e a suspeita do jornal The Remnant. Meu marido, o Dr. Robert Hickson, professor aposentado do Joint Military Intelligence College e da Joint Special Operations University, também aponta para a “importância da guerra financeira, especialmente no mundo cibernético, como parte da guerra fractal, em que uma pequena mudança (um “delta”) pode levar a um grande e desproporcional efeito”.

Antonio Socci, em sua própria publicação sobre esta nova revelação de Dottori, nos remete para outra entrevista que Dottori já havia dado à Zenit, em 13 de novembro de 2016. Dottori respondeu, então, quando perguntado sobre o recente escândalo do Wikileaks envolvendo a equipe de Hilary Clinton e sua influência sobre a Igreja Católica, como se segue (e, novamente, gentilmente traduzida por Andrew Guernsey):

Apareceram documentos dos quais emerge uma forte intenção da parte equipe de Hillary de provocar uma revolta no interior da Igreja para enfraquecer sua hierarquia. Eles usaram grupos de pressão e movimentos de base, seguindo um consolidado esquema usado pelas experientes revoluções das minorias. Ainda não chegamos na arma do crime, mas estamos perto. Embora eu não tenha provas, sempre pensei que Bento XVI foi levado à abdicação por um complô complexo, ordenado por aqueles que tinham interesse em bloquear a reconciliação com os Ortodoxos Russos, o pilar religioso de um projeto de convergência progressiva entre a Europa Continental e Moscou. Por razões semelhantes, acredito que a candidatura do Cardeal [Angelo] Scola para a sucessão de Bento XVI também foi interrompida, pois como o Patriarca de Veneza, ele havia conduzido as negociações com Moscou. Para ter certeza, no entanto, teremos que obter mais evidências. Através do Wikileaks também nos tornamos conscientes das operações de condicionamento psicológico recentemente exercidas contra o Papa Francisco. Mas ali também eles falharam miseravelmente, pois Bergoglio está renovando a Igreja, para fortalecê-la e, certamente, não para enfraquecê-la, como alguns queriam, e ele assinou um verdadeiro e próprio armistício com Kirill [de Moscou], em meio a tantas divisões tanto dentro das recíprocas esferas de influência. Logo abaixo da costa dos Estados Unidos, em Cuba [onde papa Francisco e o Patriarca Kirill assinaram um documento].

Enquanto Antonio Socci cita algumas dessas palavras do professor Dottori, ele explica que isso não significa que a súbita demissão do papa Bento XVI foi forçada. Aos olhos de Socci, o que nos mostra é que existe um “mistério colossal” que, em meio a muitas pressões, envolve a decisão do Papa Bento XVI, de finalmente, renunciar.

Coccopalmerio, o Cardeal formado na escola de Marco Pannella.

De que modo os radicais Marco Pannella e Emma Bonino, junto ao Partido Socialista Italiano (PSI), introduziram o divórcio na Itália?

Através da técnica do caso misericordioso: alguns casos de arrancar lágrimas que foram usados como alavanca.

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Cardeal Francesco Coccopalmerio.

E o aborto? Mesma estratégia do caso misericordioso. A mulher estuprada, a criança com uma doença terrível, o aborto clandestino. Fingindo lutar para resolver um problema, eles abriram as comportas do aborto livre, para todos, para sempre, e de qualquer maneira. Hoje se pode fazer um aborto simplesmente porque a criança não é desejada, porque é macho e não fêmea, porque tem lábio leporino, porque deveria nascer três meses mais tarde, e assim por diante.

Como é que pretendem introduzir a eutanásia?

Com o mesmo esquema do caso misericordioso: as situações-limite, no estilo Welby.

E a legalização das drogas? Através da luta pela maconha medicinal.

E o que faz o cardeal Francesco Coccopalmerio? A mesmíssima e idêntica estratégia (que lhe permite parecer como o bonzinho diante dos impiedosos, dos “doutores da lei”, da “intransigência” dos insensíveis…). O Evangelho não deixa margem à dúvidas; a indissolubilidade, para Cristo, é sem exceção. A Igreja, por 2000 anos, ensinou a mesma doutrina, mas, Coccopalmerio, com o apoio óbvio do Vaticano (as posições de Muller, Caffara, Burke, Ruini, Scola… foram silenciadas, enquanto as de Coccopalmiero amplificadas por todos os meios de comunicação do Vaticano), depois de ter dito, com evidente língua bifurcada, que “a doutrina não muda”, rebate tudo, baseando-se no caso misericordioso.

Ele cita o caso “de uma mulher que foi viver amasiada com um homem casado canonicamente, mas que foi abandonado por sua esposa com três crianças pequenas. Pois bem, essa mulher salvou o homem de um estado de profundo desespero, provavelmente até da tentação do suicídio; ela criou os três filhos dele às custas de muito sacrifício e a união deles, que gerou um novo filho, já dura dez anos. A mulher tem plena consciência de que eles vivem uma situação irregular. Ela gostaria sinceramente de mudar suas vidas. Mas, aparentemente, não pode. Se, de fato, ela resolvesse abandonar aquela união, o homem voltaria ao estado anterior, as crianças permaneceriam sem uma mãe. Deixar a união significaria, portanto, não cumprir importantes funções com relação às pessoas em si mesmas inocentes. Logo, é evidente que isso não poderia acontecer sem gerar uma nova culpa..”

Notamos imediatamente que o caso escolhido pelo Cardeal radical se presta bem ao objetivo que ele pretende alcançar. Ele não escolhe um homem que abandonou a mulher com três filhos (que é o que mais acontece!), mas o contrário! Acrescenta-se aí o fato de que a “antiga” mulher parece ter desaparecido no ar e, para complicar ainda mais o caso, conclui-se que ainda tem o filho caçula do casal tornando tudo emocionalmente difícil.

E agora? Vamos tentar analisar o caso misericordioso, questionando:

Por que o cardeal esquece de levar em consideração o que significa para os três filhos ter em casa a amante do pai?

Por que o mencionado cardeal “ Pannelliano” omite dizer que o nascimento de um novo filho, somado aos 3 da “antiga” esposa, quase sempre cria uma dolorosa situação de graduação entre os filhos (os da esposa “antiga” se tornam filhos de segunda classe, enquanto o último, com a amante, torna-se o de primeira classe)?;

Por que Coccopalmerio quer forçar os sacerdotes a julgar caso a caso, gerando uma confusão incrível (afinal, haverá sacerdotes que negarão o acesso à Comunhão, enquanto outros permitirão; sacerdotes que permitirão apenas se o homem foi abandonado, enquanto outros permitirão ainda que tenha sido o homem a abandonar sua esposa e três filhos)? Mas, por que essa casuística terrível, que Kasper e Bergoglio sempre negaram querer introduzir, que era típica da mentalidade dos fariseus e que hoje está se tornando regra com o beneplácito da Santa Sé?

Como o Cardeal pode se colocar em contraste com as palavras de Jesus, tão claras de modo que não precisam de seus argumentos monótonos e confusos?

Como não dar a entender que os casos misericordiosos sancionam o “divórcio Católico”? Por que ele se esquece de dizer que João Paulo II já havia ensinado que a única solução possível nesses casos é a de viverem juntos “more sororio” (como irmãos)?

Por que ele quer passar a idéia de que cabe à Igreja a tarefa de dar um juízo não sobre o pecado, mas sobre o pecador (na verdade, a lei eclesiástica e evangélica é igual para todos e de fato julga a quebra do vínculo matrimonial e o adultério em ato, não a pessoa, ao passo que a “escolha caso a caso” é, obviamente, arbitrária e pessoal)?

Por que ele quer que se acredite que você pode estar em plena comunhão com Cristo depois de ter rompido a comunhão com sua esposa e, possivelmente, os filhos? Por que ele finge que a Comunhão Eucarística é a única maneira de se participar na vida da Igreja?

Por que querem tirar do próprio Deus a prerrogativa, exclusiva Dele, de julgar casos individuais, pois só Deus tem o pleno conhecimento do coração humano, algo que nenhum padre pode ter?

A exclusão da Comunhão para os casais que vivem em estado de adultério não é, para a Igreja, um juízo definitivo sobre as pessoas, porque a Igreja não tem algum poder para condenar ao inferno ou prometer o paraíso: isso pertence exclusivamente a Deus. À Igreja pertence, ao invés, o dever de indicar com clareza qual é a lei de Deus.

Polonia semper fidelis.

Por FratresInUnum.com: Em 27 de maio, o padre Tymoteusz Szydło, filho da Primeira Ministra, Sra. Beata Szydło, foi ordenado sacerdote. Ele pertence à diocese de Bielsko-Żywiec.

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A Primeira Ministra e sua família.

No domingo de Pentecostes, 4 de junho, ele irá celebrar a sua primeira Missa Tradicional na Igreja da Santa Cruz em Cracóvia. A missa será celebrada sob os auspícios da Fraternidade de São Pedro.

Foto da semana.

Gricigliano, Itália, Sexta-feira Santa de 2017: No seminário do Instituto Cristo Rei e Sumo Sacerdote, é costume que a refeição da Sexta-feira Santa seja servida pelos superiores. Neste ano, entre eles apresentou-se o Cardeal Raymond Leo Burke, que estava presente para as cerimônias da Semana Santa.

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Burke, na última semana, foi duramente atacado pelo Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga — cujas aspirações nada católicas podem ser recordadas aqui — por conta dos dubia: “Aquele cardeal que sustenta isso é um homem desiludido, na medida em que desejava o poder e o perdeu”.

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Enquanto a corte bergogliana se afunda no ódio e na perseguição, não poupando nem Bento XVI, Burke, também na semana que se passou, fez um histórico pedido de que o Papa consagrasse a Rússia ao Imaculado Coração de Maria.

Reflexões da Sagrada Escritura: Lições de Fátima (III)

“Assim como pecado de um só, incorreram todos os homens na condenação, assim pela justiça de um só, recebem todos os homens a justificação que dá a vida. Assim como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim pela obediência de um só,muitos virão a ser justos” (Rom, V, 18 e 19).

Por Padre Élcio Murucci | FratresInUnum.com

O pecado original e a redenção

Outro ponto essencial da doutrina católica deturpado pelos mestres do novo cristianismo é o pecado original. Uma noção falsa sobre esse dogma de nossa Fé falseia o conceito de Redenção, verdade igualmente fundamental em toda a economia da salvação misericordiosamente estabelecida por Deus Nosso Senhor. Por isso, vamos aqui recordar o que todos sabeis, caríssimos filhos.

O pecado original é o pecado com que todos fomos concebidos, com exceção da Virgem Maria, dele isenta pelo especial privilégio da Conceição Imaculada, e de Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja concepção virginal o punha fora de lei do pecado, pecado aliás que vinha Ele destruir no mundo.

O pecado original consiste na ausência da graça santificante, ausência que nos faz inimigos de Deus, incapazes de entrar no Céu. Nós nascemos com esse pecado porque pertencemos à família de Adão, à progênie do primeiro homem. Adão foi criado por Deus com a graça divina e ainda adornado de outros dons também gratuitos, que  tornavam sua natureza de uma excelência superior à que de direito lhe seria devida. Essa graça santificante e esses dons preternaturais, Adão, segundo os desígnios de Deus, os transmitiria à posteridade, se obedecesse a um  mandato divino. Mas, ele desobedeceu, e como castigo desse pecado perdeu a graça santificante e os demais dons que enalteciam sua natureza.

Tornou-se inimigo de Deus, incapaz de entrar na vida eterna do Paraíso; e essa situação do primeiro chefe da família humana tornou-se a situação de toda a sua família, de toda a sua progênie, excetuadas as duas Pessoas que acima lembramos. Deus, no entanto, na sua infinita bondade, não quis que essa situação permanecesse irreparável. Enviou um Redentor, capaz de dar-Lhe uma reparação condigna, mesmo acima do que exigiria a justiça. Esse Redentor é Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, por obra do Espírito Santo, e nascido da Virgem Maria. Foi Ele, nosso Salvador, que com sua ignominiosa morte de Cruz, na qual consumou a obediência ao Pai Celeste, reparando a desobediência do primeiro homem, nos remiu, nos resgatou do cativeiro do demônio, nos restituiu a graça santificante, tornou-nos novamente capazes da amizade divina, da vida eterna do Paraíso no seio de Deus.

Tudo isso se encontra sintetizado na frase de São Paulo aos romanos: “Como pelo pecado de um só a condenação se estendeu a todos os homens, assim também por um só ato de justiça recebem todos os homens a justificação que dá a vida. Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão justos” (Rom. 5, 18-19).

E para que não houvesse dúvida sobre o sentido das palavras de São Paulo, e sobre a verdade revelada, o Concílio Tridentino explanou, contra os erros dos protestantes, em um Decreto de sua Sessão V, toda a doutrina católica sobre o pecado original. Esse decreto consta de uma introdução, cinco cânones e uma consideração final sobre a condição especial de Maria Santíssima nesta matéria. Nos cânones, o Sacrossanto Concílio ensina que Adão, primeiro homem, pessoal e livremente transgrediu um preceito divino, e com essa transgressão perdeu a santidade e a justiça em que tinha sido constituído, e incorreu na ira e indignação de Deus, ficando sujeito à morte e ao cativeiro de demônio (cânon 1); que a prevaricação de Adão prejudicou não só a ele, mas a toda a sua descendência, a qual, por isso mesmo, perdeu a santidade e a justiça recebidas de Deus no seu progenitor; e mais ainda, que Adão transmite à sua posteridade não somente a morte mas o mesmo pecado que é a morte da alma (cânon 2). O cânon 3 declara que o pecado original se transmite pela geração e não por imitação, como queriam os protestantes, e que se apaga não por forças naturais, mas pelos merecimentos de Jesus Cristo que a Igreja aplica, quer às crianças como aos adultos, no Sacramento do Batismo; os cânones 4 e 5 afirmam que as crianças recém-nascidas devem ser batizadas para que nelas se apague o reato do pecado original, porquanto o Batismo apaga a própria culpa e não apenas a risca ou faz com que não seja imputada ao fiel.

Como vedes, caríssimos filhos, é a mesma doutrina que aprendestes nos vossos primeiros anos de infância, ou nas aulas de catecismo ou dos lábios de vossas mães. Também compreendeis que se trata de ponto essencial. É o dogma do pecado original que nos faz como que sentir as profundezas do amor com que Deus Nosso Senhor nos amou. Ele que dá a compreensão do que dizemos com inefável esperança na Santa Missa: “Deus qui humanam substantiam mirabiliter condidisti et mirabilius reformastis”. Pois realmente, se há um ato maravilhoso da onipotência divina ao criar os seres do nada, de longe o supera em maravilha a caridade com a qual Deus vem ao homem pecador para transformá-lo de inimigo em filho adotivo, em membro de sua família, conviva de sua mesa! Destruí o dogma do pecado original, e esvaziareis as alegrias com que a Igreja canta o “Exsultet” na vigília da Ressurreição.

Tudo isso, amados filhos, é verdade, e antigo como a Igreja, e não precisamos gastar tempo para vos convencer. Não obstante, os mestres do novo cristianismo tentam anular a base de todas essas consolações com seu conceito novo do pecado original. Para eles, o pecado original não é a desobediência voluntária de Adão, que acarretou para cada um dos seus descendentes a ausência da graça e o estado de pecado. O trecho de São Paulo aos romanos seria um  “gênero literário”, ou seja, uma maneira de expressar um pensamento diverso daquele que as palavras literalmente exprimem. O pecado original que nos contamina não seria o pecado de Adão, primeiro homem, mas o pecado do homem em geral, o pecado do mundo, o pecado da humanidade tomada como um todo!

Cremos que não é preciso insistir mais para se ver como tal doutrina interpreta arbitrariamente a Sagrada Escritura, não faz o menor caso do Magistério infalível, anula o caráter moral que há na Redenção, e prepara uma concepção gnóstica do Cristianismo.

Pobres filhos de uma sociedade que já não reconhece o mal.

 Por Dom Luigi Negri

Resultado de imagem para dom luigi negriQueridos filhos,

Quero chamá-los assim, mesmo que não os conheça. Mas, nas longas horas de insônia que seguiram ao anúncio deste terrível ataque, em que muitos de vocês já morreram e muitos ficaram feridos, eu os senti ligados a mim de uma forma especial.

Vocês vieram ao mundo, muitas vezes sem ser desejados, e ninguém lhes deu as “razões adequadas para viver”, como dizia o grande Bernanos a seus contemporâneos adultos. Vocês foram entregues ao mundo sob dois grandes princípios: que podiam fazer o que quisessem, pois cada desejo de vocês é um direito; e a importância de se ter o maior número possível de bens de consumo.

Vocês cresceram assim, acreditando que tivessem tudo. E quando vocês tinham algum problema existencial – antigamente se dizia assim – e o comunicavam aos seus pais, aos seus “adultos”, logo tratavam de agendar um psicanalista para resolver o problema. Eles só se esqueciam de dizer a vocês que existia o Mal. E o Mal é uma pessoa, não um conjunto de forças e energias. É uma pessoa. Esta pessoa estava escondida ali, durante o concerto. E a terrível asa da morte, que a acompanha, se apoderou de vocês.

Meus filhos, vocês morreram assim, quase sem razões, do mesmo jeito como viveram. Não se preocupem, afinal ninguém os ajudou a viver; mas farão certamente um belo funeral, no qual se expressará ao máximo esta oca retórica laicista, com todas as autoridades  presentes – incluindo, infelizmente, até os religiosos –, todos de pé, em silêncio. Naturalmente, será um funeral em espaço aberto, mesmo para os que tem fé, já que hoje em dia o único templo é a natureza.

Robespierre riria de tudo isso, pois nem mesmo ele teve essa fantasia. Aliás, nas igrejas não se fazem mais funerais, pois, como diz agudamente o cardeal Roberto Sarah, agora nas igrejas católicas só se celebram os funerais de Deus. Os “adultos” não se esquecerão de colocar nas calçadas os seus bichinhos de pelúcia, as memórias de sua infância, de sua primeira juventude. E depois tudo será arquivado na retórica daqueles que não têm nada a dizer sobre tragédias, pois nada tem nada a dizer sobre a vida.

Espero que, nesse momento, pelo menos alguns destes gurus – culturais, políticos e religiosos – contenham as palavras e não nos atropelem com os discursos habituais,  dizendo que “não se trata de uma guerra de religião”, que “a religião é, por natureza, aberta ao diálogo e à compreensão”. Espero que haja um instante silencioso de respeito. Antes de tudo, pelas suas vidas, ceifadas pelo ódio do demônio, mas também pela verdade. Pois os “adultos” deviam, antes de tudo, ter respeito pela verdade. Podem não servi-la, mas devem ter respeito por ela.

Seja como for, eu que sou um velho bispo que ainda crê em Deus, em Cristo e na Igreja, vou celebrar a missa por todos vocês no dia do seu enterro, para que do outro lado – quaisquer que tenham sido suas práticas religiosas – vocês  encontrem o rosto querido de Nossa Senhora, e que, apertando vocês em seu abraço, os console desta vida desperdiçada, não por culpa de vocês, mas por culpa dos seus “adultos”.

Dom Luigi Negri é arcebispo de Ferrara, Itália. Texto publicado no dia 23 de maio de 2017, no jornal italiano Nova Bússola Cotidiana, a propósito do ato terrorista ocorrido na véspera, na Inglaterra)

* Tradução: José Carlos Zamboni – Opus Mater Dei, cuja gentileza agradecemos

Dom Fellay fala sobre as relações atuais da FSSPX com a Santa Sé.

Entrevista concedida por Dom Bernard Fellay, Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, a James Vogel em 21 de abril de 2017. Agradecemos a um gentil amigo pelas legendas.

Histórico e exclusivo: Dom Pestana e Fátima (parte 2).

Publicamos a segunda parte da entrevista concedida por Dom Manoel Pestana Filho, bispo de Anápolis, Goiás, de 1978 a 2004, seis meses antes de seu falecimento, a Anthony Tannus Wright, de FratresInUnum.com.

Ver também: 

Histórico e exclusivo: Dom Pestana e Fátima (parte 1).

Dom Pestana: + 8 de janeiro de 2011. RIP. A última entrevista: “Enquanto a luz do sacrário estiver acesa, sabemos que Alguém nos espera”.

Que devo fazer?

Por Cardeal Odilo Pedro Scherer – Arcebispo de São Paulo (SP)

Não é raro ouvir dizer que tudo mudou em questão de moral; que cada um faz a sua moral, que não existe uma moral válida para todos, nada é mau, nada é bom; até mesmo o que se tinha como mau, agora pode ser considerado bom e o que se tinha como moralmente bom, muitas vezes, acaba acusado como mau. Como assim? Afinal, ainda existem princípios de conduta moral? O que devemos fazer? O que devemos evitar?

A discussão sobre os princípios morais e sobre o que deve orientar nossas decisões e ações vem desde o momento em que o homem se descobriu um ser pensante e livre para fazer escolhas. E não cessará até que haja um ser humano neste mundo. Para nós, cristãos, há alguns princípios de conduta moral claros, que deveriam orientar nossas decisões e ações. Tentarei expor alguns, na brevidade que requer este artigo.

Quando Jesus, no “sermão da montanha”, recomendou ao povo – “ouvistes o que foi dito…. eu, porém, vos digo”, ele fez a interpretação da lei de Deus a partir do seu sentido originário, livre de distorções (cf. Mt 5, 38-48). O que se diz “por aí” pode representar o esforço humano das culturas, filosofias e religiões para interpretar o que seria o sentido da lei moral. Mas Jesus dá a interpretação que é conforme à vontade de Deus, ao agir de Deus e à dignidade e santidade de Deus. Portanto, vale para nós o ensinamento de Jesus como critério para o discernimento e para o agir moral. O que “dizem por aí” através de tantas interpretações contraditórias da lei moral deve ser sempre avaliado à luz desse “eu, porém, vos digo”, do ensinamento de Jesus.

No mesmo trecho do “sermão da montanha”, Jesus vai mais longe e pede que seus discípulos não se contentem com indicações morais cômodas, nem com a lei do menor esforço: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). A referência para o discernimento e o agir moral não é pequena nem fácil; a perfeição de Deus é única e nunca será alcançada plenamente pelo homem. Porém, a altíssima perfeição divina permanece para nós como referência segura para o certo e o errado, o bem e o mal, o justo e o injusto. Nunca será bom o que for contrário à perfeição de Deus, para a qual devemos tender sempre.

Esse critério não é diferente daquilo que Moisés, em nome de Deus, já havia recomendado ao povo, ao lhe comunicar os dez mandamentos: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2). A santidade de Deus diz respeito à sua dignidade suprema, sua misericórdia, justiça, amor e providência em relação ao homem e ao mundo. A santidade de Deus é a referência máxima para o discernimento e o agir moral da pessoa de fé; e será boa toda decisão e cada ação que estiver em sintonia com a dignidade e a santidade de Deus; mas nunca será bom o que for contrário à santidade de Deus e, por isso, deve ser evitado.

Os dez mandamentos da lei de Deus são indicações do caminho da perfeição e da santidade para o homem e, na medida em que os coloca em prática, ele age bem e se santifica, pois está em sintonia com a vontade de Deus. Mas o contrário dos mandamentos, com certeza, não é caminho bom e, claramente, deve ser evitado, não podendo ser tomado como critério para a decisão e a ação moral.

São Paulo nos oferece um outro critério moral muito importante quando ele escreve à comunidade de Corinto, onde havia problemas de imoralidade: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1Cor 3,16). O cristão, pelo Batismo, tornou-se “morada de Deus” e “habitação do Espírito Santo”, e isso lhe confere uma nova e altíssima dignidade, que ele sempre deverá ter em conta nas suas decisões e ações morais. Essas devem estar em conformidade com a sua própria dignidade e com a dignidade de Deus. Por isso, ele sempre deverá se perguntar: “será que minha ação combina  com o respeito devido a Deus e a mim próprio?” Esse é um critério claro e seguro para o discernimento e a ação moral.

Concluindo a sua reflexão, Paulo confronta cada um com a própria liberdade e com a responsabilidade pelas escolhas feitas: “Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1Cor 3, 22-23). O cristão pertence a Cristo e recebeu o seu Espírito; por isso, precisa levar em conta a sua relação com Cristo e seus ensinamentos.

Portanto, para as pessoas de fé, existem critérios morais firmes e conhecidos, que precisam ser levados em conta no discernimento e na ação moral. E o cristão já não poderá mais se orientar simplesmente “pelo que se diz por aí”: nos jornais, revistas, novelas, filmes, mídias sociais, discussões filosóficas ou ideológicas… Sua referência: deverá lembrar sempre o ensinamento de Jesus: “Eu, porém, vos digo”.

Cardeal Burke pede por consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria.

Por John-Henry Westen, LifeSiteNews – Roma, 19 de Maio de 2017 | Tradução: João Melo – FratresInUnum.com – O Cardeal Raymond Burke lançou uma convocação esta manhã aos fiéis católicos para que “trabalhem pela consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria”.

O Cardeal Burke, que é um dos quatro cardeais que pediram esclarecimentos ao Papa Francisco sobre a [exortação] Amoris Laetitia, fez seu apelo no Fórum da Vida de Roma [Rome Life Forum] no mês do centenário da primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima aos três pastorinhos.

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Burke é o ex-Prefeito da do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica e atual patrono da Ordem Militar e Soberana de Malta.

Em um longo discurso sobre “O Segredo de Fátima e a Nova Evangelização”, o Cardeal Burke, na presença do companheiro de dúbia Cardeal Carlo Caffarra, discursou para o bispo do Casaquistão Dom Athanasius Schneider e para mais de cem líderes pró-vida e pró-família de vinte países, dizendo que o triunfo do Imaculado Coração significaria muito mais do que o fim das guerras mundiais e dos desastres naturais que Nossa Senhora de Fátima previu.

“Terríveis que sejam os castigos físicos associados à rebelião de desobediência dos homens contra Deus, infinitamente mais terríveis são os castigos espirituais, pois são relacionados ao fruto do pecado grave: a morte eterna”, ele afirmou.

Ele demonstrou estar de acordo com um dos maiores especialistas em Fátima, Frère Michel de la Sainte Trinité, que afirmou que o triunfo prometido do Imaculado Coração de Maria sem dúvida se refere, primeiramente, à “vitória da Fé, a qual porá fim ao tempo da apostasia e à escassez de pastores da Igreja”.

Referindo-se à situação atual da Igreja à luz das revelações de Nossa Senhora de Fátima, Burke disse:

“O ensinamento integral e corajosamente da Fé é o coração do ministério dos pastores da Igreja: o Romano Pontífice, os bispos em comunhão com a Sé de Pedro e seus principais cooperadores, os padres. Por esta razão, o Terceiro Segredo é dirigido, com particular força, àqueles que exercem os cargos pastorais na Igreja. O fracasso deles em ensinar a fé de forma fiel aos ensinamentos e práticas constantes da Igreja, mesmo que com uma abordagem superficial, confusa ou mesmo mundana, e seu silêncio, colocam em risco mortal, no sentido espiritual mais profundo, precisamente aquelas almas às quais eles foram consagrados para cuidar espiritualmente. Os frutos envenenados do fracasso dos pastores da Igreja são percebidos na maneira de se adorar, de se ensinar e na conduta moral em desacordo com a Lei Divina”.

O chamado à consagração da Rússia é para alguns controverso, mas o Cardeal Burke tratou das razões para seu apelo de maneira simples e direta. “A consagração solicitada é ao mesmo tempo um reconhecimento da importância que a Rússia ainda possui nos planos de Deus para a paz e um sinal de profundo amor por nossos irmãos e irmãs russos”, ele disse.

“Certamente, São João Paulo II consagrou o mundo, incluindo a Rússia, ao Imaculado Coração de Maria em 25 de março de 1984”, o Cardeal Burke disse. “Mas, hoje, mais uma vez, nós ouvimos o chamado de Nossa Senhora de Fátima à consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração, de acordo com suas explícitas instruções”.

Uma menção explícita da Rússia na consagração, como requisitada por Nossa Senhora, era desejada pelo Papa São João Paulo II, mas não foi cumprida devido à pressão de conselheiros. Este fato foi confirmado recentemente pelo representante oficial do Papa Francisco no aniversário da celebração de Fátima na última semana em Karaganda, Casaquistão.

Referindo-se ao dia 13 de maio, o Cardeal Paul Josef Cordes, ex-presidente do Pontifício Conselho Cor Unum, relembrou de uma conversa que teve com o Papa São João Paulo II após a consagração 1984, ou “ato de entrega”, ocorrida no dia 25 de março, quando a imagem de Nossa Senhora de Fátima estava em Roma.

“Obviamente, por um longo período, [o Papa] lidou com aquela importante missão que a Mãe de Deus (ali) havia dado às crianças videntes”, Cordes disse. “Contudo, ele absteve-se de mencionar a Rússia de modo explícito porque os diplomatas do Vaticano insistentemente lhe pediram para não mencionar esse país, já que conflitos políticos poderiam talvez surgir”.

Àqueles que ainda objetam ao chamado pela consagração da Rússia, o Cardeal Burke relembrou as palavras do Papa São Paulo II, que em 1984, durante a consagração do mundo ao Imaculado Coração comentou: “O pedido de Maria não é algo para ser feito uma única vez. Seu apelo deve ser atendido geração após geração, em concordância com os sempre novos ‘sinais dos tempos’. (Seu apelo) deve ser retomado incessantemente. Ele deve para sempre ser tido como novo”.

Instruindo os fiéis, o Cardeal Burke ensinou que Nossa Senhora de Fátima “provê para nós os meios de sermos fiéis ao seu Filho Divino e a buscarmos Nele a sabedoria e a força para trazermos a Sua graça salvadora a um mundo profundamente perturbado”.

O Cardeal Burke destacou seis meios que Nossa Senhora deu aos fiéis em Fátima para que participem da restauração da paz no mundo e na Igreja:

  1. Rezar o Terço todos os dias;
  2. Vestir seu escapulário;
  3. Realizar sacrifícios pela salvação dos pecadores;
  4. Realizar reparações pelas ofensas ao seu Imaculado Coração por meio da devoção do primeiro sábado (do mês); e
  5. Configurar nossas próprias vidas sempre mais à de Cristo;
  6. Por último, ela pede ao Romano Pontífice, em união com todos os bispos do mundo, a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração.

“Por estes meios, ela prometeu que seu Coração Imaculado triunfará, trazendo almas a Cristo, seu Filho”, o Cardeal Burke acrescentou. “Voltando-se a Cristo, eles farão reparações pelos seus pecados. Cristo, pela intercessão de Sua Virgem Mãe, os salvará do inferno e trará paz a todo o mundo”.