Adiós, amigo.

Por FratresInUnum.com – Segundo Corrispondenza Romana, o Papa Francisco teria demitido hoje o Cardeal Gerhard Ludwig Müller, até então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ao término de seu mandato de 5 anos — para chefia de dicastérios, tal mandato é apenas “pro forma”, pois são quase sempre renovados.

el-cardenal-gerhard-muller

Müller se destacou recentemente por criticar os “intérpretes” mais heterodoxos de Amoris Laetitia, sempre buscando apresentar uma leitura do documento à luz do magistério precedente.

O mínimo pudor que o Papa Francisco tinha em relação aos “remanescentes” mais próximos de Bento XVI parece, definitivamente, ser coisa do passado.

 

 

 

 

Aparelhos que mantêm bebê vivo na Inglaterra serão desligados nesta sexta-feira.

Pais do pequeno Charlie, de 10 meses, queriam levar criança, que tem doença terminal, para tratamento nos EUA, mas perderam a batalha na Justiça.

O Estado de S.Paulo, 29 de Junho de 2017 | Londres – Serão desligados nesta sexta-feira, 30, os aparelhos que mantêm vivo o pequeno Charlie, bebê de 10 meses que se encontra em hospital de Londres devido a uma doença genética rara e terminal que, segundo os médicos, faz a criança sofrer muito.

Charlie Gard
O pequeno Charlie Gard, de 10 meses, está internado em Londres  Foto: Family of Charlie Gard via AP

A notícia foi anunciada nesta quinta-feira, 29, pelos pais do menino, Connie Yates e Chris Gard, que perderam a batalha judicial na Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH) para que Charlie continuasse respirando com ajuda de aparelhos. O casal tinha como objetivo levar o filho para os Estados Unidos para a realização de um tratamento experimental. Indignados e desesperados, os pais lançaram uma última acusação contras as autoridades britânicas e europeias.

“Nós, e principalmente Charlie, fomos terrivelmente abandonados durante todo o processo. Não foi permitido escolher se nosso filho poderia viver e nem quando e onde deveria morrer”, afirmou o casal no Facebook. Por outro lado, Yates e Gard agradeceram todas as pessoas que os apoiaram, ou desejando boa sorte ou doando dinheiro para atingir os 1,4 milhão de libras esterlinas que seriam usadas para levar o pequeno Charlie aos EUA.

Mas a ideia do casal de tentar salvar a criança agora não será mais colocada em prática devido a resposta negativa à viagem, determinando o desligamento dos aparelhos do bebê dada pelos juízes britânicos no começo do mês e da corte europeia na última terça-feira.

Charlie Gard
Chris Gard e Connie Yates, pais do bebê Charlie, queriam levá-lo para ser tratado nos EUA  Foto: Eddie Keogh/Reuters

Agora, Yates e Gard querem passar o tempo que resta com seu filho. “Ele nos deixará sabendo que foi amado por milhares de pessoas”, afirmaram. Enquanto isso, um porta-voz do Great Ormond Street Hospital, onde o menino está internado, respondeu que o estabelecimento médico “ajudará a família no que for necessário neste difícil momento e a ideia de desligar as máquinas já é antiga”. / Ansa 

O plano de “reinterpretação” da Humanae Vitae.

Por Roberto de Mattei, Corrispondenza Romana, 14-06-2017 | Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com: Mons. Gilfredo  Marengo, docente no  Pontifício Instituto João Paulo II, será o coordenador da comissão nomeada pelo Papa Francisco para “reinterpretar”,  à luz da Amoris Laetitia, a encíclida Humanae Vitae de Paulo VI, no cinquentenário de sua promulgação no ano vindouro.

humanae-vitaeAs primeiras indiscrições sobre a existência dessa comissão ainda “secreta”,  feitas pelo vaticanista Marco Tosatti, eram de boa fonte. Podemos confirmar que tal comissão existe, composta  por Mons.  Pierangelo Sequeri, presidente do Pontifício Instituto João Paulo II,  pelo Prof.  Philippe Chenaux, docente de História da Igreja na Pontifícia Universidade Lateranense, e por Mons. Angelo Maffeirs, presidente do Instituto Paulo VI de Bréscia. O coordenador  é Mons. Gilfredo Marengo, professor de Antropologia teológica do Pontifício Instituto João Paulo II e membro do Comitê Diretivo da revista CVII-Centro Vaticano II Studi e ricerche.

A comissão tem a tarefa  de encontrar nos arquivos do Vaticano a documentação relativa  ao trabalho preparatório da Humanae Vitae, desenvolvido ao longo de três anos, durante e depois do Concílio Vaticano II.

O primeiro  grupo de estudo do problema do “controle da natalidade” foi constituído por João XXIII em março de 1963 e expandido a 75 membros por Paulo VI. Em 1966, os “peritos” entregaram suas conclusões ao papa Montini, sugerindo abrir as portas à contracepção artificial. Em  abril  de  1967,  o documento reservado da comissão – aquele que deveria hoje servir de base para a “revisão” da encíclica – apareceu simultaneamente na França (no Le Monde), na Grã-Bretanha (no Tablet) e nos Estados Unidos (no National Catholic Reporter). No entanto, após dois anos de oscilações,  Paulo VI  publicou, em 25 de julho de 1968, a encíclica Humanae Vitae, confirmando a posição tradicional da  Igreja,  que sempre vetou a limitação artificial dos nascimentos. Tratou-se, segundo o filósofo Romano Amerio, do ato mais  importante de seu pontificado.

A Humanae Vitae foi objeto de uma contestação sem precendentes, proveniente não somente de teólogos e sacerdotes, mas também de alguns episcopados, a começar pelo  belga, capitaneado pelo cardeal-primaz Leo Suenens, que no Concílio havia exclamado em tom veemente: “Sigamos o progresso da ciência. Conjuro-vos, Irmãos. Evitemos um novo processo Galileu. Um só bastou à Igreja.” O cardeal Michele Pellegrino,  arcebispo de Turim, definiu a encíclica como “uma tragédia da história pontifícia”. Em 1969, nove bispos holandeses, entre eles o cardeal Alfrink, votaram a chamada Declaração de Independência, na qual convidavam os fiéis a refutar o ensinamento da encíclica Humanae Vitae.  Na mesma ocasião, o  Concílio Pastoral Holandês, com a abstenção dos  bispos, declarou-se a favor do Novo Catecismo, recusando as correções sugeridas por Roma e pedindo que a Igreja permanecesse aberta a “novas abordagens radicais” sobre temas morais não citados na moção final, mas que emergiam dos trabalhos do Concílio, como relações pré-matrimoniais, uniões homossexuais, aborto e eutanásia. 

“Em 1968 – recorda  o cardeal Francis J. Stafford – aconteceu alguma coisa de terrível na Igreja. No seio do sacerdócio ministerial, entre amigos, verificaram-se em toda parte fraturas que jamais se recomporiam, feridas que continuam a afligir toda a Igreja” (1968, o ano da prova,  in “L’Osservatore Romano”, 25 de julho de 2008).

Sobre o tema da contracepção, Paulo VI se expressou na Humanae Vitae de modo considerado infalível pelos teólogos, e, portanto, irreformável, não porque o documento tenha em si mesmo os requisitos da infalibilidade per se,  mas por reafirmar uma doutrina proposta desde sempre pelo Magistério perene da Igreja. Os teólogos jesuítas Marcelino Zalba, John Ford e Gerald  Kelly,  os filósofos Arnaldo Xavier da Silveira e Germain Grisez, e muitos outros  autores, explicam como a doutrina da Humanae Vitae deve ser considerada infalível, não em virtude de seu ato de promulgação, mas porque confirma o Magistério ordinário universal dos Papas e dos bispos no mundo.

Mons. Gilfredo Marengo, a quem o Papa Francisco confiou a tarefa de reler a Humanae Vitae, pertence, pelo contrário, à categoria dos prelados que estão convencidos de poder conciliar o  inconciliável. Em fim de setembro de 2015,  comentando no Vatican Insider os trabalhos do Sínodo sobre a família, ele convidou a “abandonar uma concepção do patrimônio doutrinário da Igreja como um sistema fechado, impermeável às perguntas e provocações daqueles aos quais a comunidade cristã é chamada a dar razões da própria fé, como anúncio e testemunho”. Em um artigo mais recente no  mesmo órgão, com o significativo título Humanae Vitae e Amoris laetitia: histórias paralelas (Vatican Insider, 23 de março de 2017), Mons. Marengo se pergunta se “o jogo polêmico ‘pílula sim–pílula não’, assim como o atual ‘comunhão aos divorciados sim–comunhão aos divorciados não’, não seja senão a aparência de um desconforto e de uma fadiga, muito mais decisiva no tecido da vida eclesial”. De fato, segundo Marengo,“cada vez que a comunidade cristã cai no erro de propor modelos de vida derivados de ideais teológicos demasiado abstratos e artificialmente construídos, ela concebe sua ação pastoral como a aplicação esquemática de um paradigma doutrinário”. “Certo modo de defender e receber o ensinamento de Paulo VI – acrescenta – foi provavelmente um dos fatores pelos quais (cita neste momento o Papa Francisco) ‘apresentamos um ideal teológico do matrimônio demasiado abstrato, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efetivas das famílias tais como são. Esta excessiva idealização, sobretudo quando não despertamos a confiança na graça, não fez com que o matrimônio fosse mais desejável e atraente; muito pelo contrário’ (Francisco). 

No entanto, se a antítese “pílula sim–pílula não”, bem como aquela de hoje “comunhão para os divorciados sim–comunhão para os divorciados não” é apenas “um jogo polêmico”, o mesmo princípio pode ser aplicado a todos os grandes temas da fé e da moral: “aborto sim–aborto não”, mas também “ressurreição sim–ressurreição não”, “pecado original sim–pecado original não”, e assim por diante. A mesma contraposição entre verdade e erro, bem e mal se torna a esta altura “um jogo polêmico”.

Deve-se notar que Mons. Marengo não propõe ler a Amoris Laetitia na linha da hermenêutica da continuidade. Ele não nega a existência de uma contradição entre os dois documentos: admite que Amoris Laetitia autoriza aquilo que a Humanae Vitae proíbe. Mas acredita que toda antítese teológica e doutrinária é relativizada e superada em uma síntese que consiga conciliar os opostos. A verdadeira dicotomia é entre abstrato e concreto, entre verdade e vida. Para Mons. Marengo, o que importa e imergir-se na prática pastoral, sem inclinar-se para “ideais teológicos demasiado abstratos e construídos artificialmente”. Será a prática, não a doutrina, a indicar as linhas de ação. Em suma, o comportamento nasce do comportamento. E nenhum comportamento pode ser submetido a avaliações teológicas e morais abstratas. Não existem “modelos de vida”, mas apenas o fluxo da vida, que acolhe tudo, justifica tudo, santifica tudo.

O princípio de imanência, fulminado por São Pio X na encíclica Pascendi (1907), é reproposto de maneira emblemática. Haverá algum pastor ou teólogo que em face deste programa de “reinterpretação” da Humanae Vitae tenha a coragem de pronunciar a palavra “heresia”?

Instituição católica quer indenização milionária por vídeo do Porta dos Fundos.

Esquete ‘Céu Católico’ faz piadas com Deus e é considerada ‘criminosa’ pelo Centro Dom Bosco.

O Estado de São Paulo, 26 de junho de 2017 – O canal Porta dos Fundos está sendo processado por uma instituição católica do Rio de Janeiro, o Centro Dom Bosco, que solicita uma indenização de cerca de R$ 5 milhões, tendo como base R$ 1 real para cada visualização no vídeo Céu Católico (4,8 milhões no momento em que a ação foi ajuizada; até a publicação desta matéria, o vídeo contava com mais de 4,920 milhões).

O Centro afirma estar amparado no artigo da constituição federal referente à inviolabilidade do direito à liberdade religiosa e no artigo do código penal sobre vilipêndio a culto. O processo está registrado na 46ª Vara Cível da Comarca da Capital, no TJ-RJ.

Na esquete do vídeo, Rubens (Luis Lobianco), um homem que acaba de morrer, chega ao céu e se depara com Deus (Fábio Porchat), que chama Hitler (Gregório Duvivier) para lhe mostrar como são as coisas no paraíso.

O homem então descobre que regras de conduta baseadas no antigo testamento seriam os critérios para a entrada no céu. Seu tio-avô, que o molestou quando criança, havia ido ao céu por ter se arrependido do que fez. Já sua mãe, que comia crustáceos (como lagostas e camarões) foi direto ao inferno, assim como seu pai, que trabalhou em dia santo e falou o nome de Deus em vão.

Ao fim do vídeo, o antigo líder fascista italiano Benito Mussolini também consta entre os nomes do céu, enquanto Gandhi, Martin Luther King e o papa João Paulo II teriam ido ao inferno.

Os autores do processo afirmam que o vídeo “atenta contra princípios consagrados em nossa constituição […], devidamente tipificado como crime em nosso Código Penal”.

Procurada pelo E+, a assessoria do Porta dos Fundos ainda não tinha mais informações sobre o caso até o fechamento desta matéria.

Confira também a nota enviada pelo Centro Dom Bosco ao E+:

“Procede, sim, a informação de que o Centro Dom Bosco entrou com um processo contra o ‘coletivo’ de humor Porta dos Fundos.

Estamos devidamente amparados no Artigo 5º da Constituição Federal (inviolabilidade do direito à liberdade religiosa) e no Artigo 208º do Código Penal (vilipêndio a culto).

O Centro Dom Bosco apresenta, em sua petição, jurisprudência nacional e internacional. Neste último caso, trata-se de uma notória decisão da Corte Européia de Direitos Humanos (caso Otto-Preminger-Institut x Áustria).

Temos total confiança em que tanto a indenização por danos morais quanto o pedido de retirada do ar do vídeo ‘Céu Católico’ (no site do Porta dos Fundos no Youtube) serão levados em consideração pela magistrada que julgará o processo.

No caso da indenização, trata-se de medida pedagógico-punitiva em vista da amplíssima difusão do referido vídeo do Porta dos Fundos, o qual atenta contra princípios consagrados em nossa Constituição. Cite-se também o fato de o conteúdo do vídeo estar devidamente tipificado como crime em nosso Código Penal.”

Conselho de Cardeais, coordenado por Maradiaga, propõe a descentralização da Igreja.

Por Hermes Rodrigues Nery

FratresInUnum.com, 26 de junho de 2017 – Em março de 2005, um sorridente Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, numa entrevista de televisão,1 dizia estar confiante de que um sopro do Espírito Santo “no momento oportuno”2, traria novamente uma abertura de janela, a exemplo do que ocorreu em 1958, com João XXIII, do mesmo modo, pois ele estava convicto de que haveria uma surpresa para a Igreja, no momento oportuno. Um papa latino-americano seria essa surpresa que Maradiaga (como também Leonardo Boff e tantos outros) tanto ansiavam?

el-cardenal-oscar-maradiaga
Cardeal Maradiaga

O fato é que Jorge Mário Bergoglio teve 40 votos, pouco mais de um mês depois daquela entrevista. E no conclave de 2013 recebeu “mais votos do que Ratzinger, em 2005. Ao fim são 88; só trinta cardeais não votaram nele”.3 Na mesma entrevista, Maradiaga se diz um entusiasta defensor da integração latino-americana, não somente econômica, mas política4, e tanto Maradiaga (o candidato a papa, preferido de Leonardo Boff, como ele mesmo expressou no programa de televisão, no dia da renúncia de Bento XVI5), quanto Bergoglio (eleito papa em 2013) eram defensores da integração latino-americana, do bloco regional conhecido por “Pátria Grande”, ideologicamente alinhado com o internacionalismo de esquerda.

Vendo entrevistas de Maradiaga e de Bergoglio no youtube5 (antes do conclave de 2013), percebe-se que o candidato a papa preferido por Boff, tem muito mais envergadura intelectual e desenvoltura de comunicação, e não se compreende por que Bergoglio acabou sendo escolhido pelas forças progressistas dentro da Igreja. Mesmo assim Maradiaga foi chamado a coordenar o grupo de cardeais comprometidos em realizar a reforma da cúria romana. Como presidente da Cáritas Internacional e membro do Religions for Peace, por que Maradiaga não conseguira força política suficiente para obter os votos necessários no conclave? Maradiaga não apoiara Zelaya, no golpe de 2009, em Honduras. Mas Bergoglio também não estava tão à esquerda no período da ditadura militar argentina, apesar dos jesuítas terem dado a guinada à esquerda depois da gestão de Pedro Arrupe. Mesmo Bergoglio não ter sido um explícito defensor da teologia da libertação, seu pensamento e ações enquanto atuou na Argentina, estavam em sintonia com a teologia do povo. Juan Carlos Scannone reconhece a influência da teologia do povo em Bergoglio, como uma das “quatro correntes da teologia da libertação”7, mas que – para ele –  “de forma alguma, teve algo a ver com a marxista”8, como a vertente defendida por Boff.   Mas Bergoglio e Maradiaga estiveram muito mais unidos depois do Habemus Papam de 2013, para que a agenda política do internacionalismo de esquerda e do globalismo das fundações internacionais e da ONU, se alargasse cada vez mais, causando, em vários momentos, perplexidade entre muitos católicos.

Um dos pontos fundamentais que unem Maradiaga a Boff, é o projeto de descentralização do governo da Igreja, defendido por Boff em artigo publicado um dia depois do Habemus Papam de 2013, dizendo que o papa Francisco, “com uma nova visão das coisas, a partir de baixo, poderá reformar a Cúria, descentralizar a administração e conferir um rosto novo e crível à Igreja.”9 Maradiaga foi nomeado por Bergoglio como chefe do Conselho de Cardeais, coordenando assim a chamada reforma da cúria romana; que, na verdade, seria a execução de uma profunda reforma da Igreja.

“Papa Francisco irá descentralizar o governo da Igreja, diz Leonardo Boff”10, foi a manchete do The Christian Post, uma semana após o início do seu pontificado. “Ele dará peso decisório ao Sínodo dos Bispos (cada três anos) e não apenas peso consultivo, criando mais autonomia às igrejas continentais e nacionais em nome da colegialidade”11, destacou Boff. E ainda, na mesma reportagem, acrescentou: “Como o papa Francisco enfatiza muito o tema dos pobres e da necessidade da justiça social e não da filantropia vai, obviamente, reforçar as novas democracias de cunho popular e que fazem políticas sociais voltadas para os pobres, como no Brasil, no Uruguai, na Venezuela e um pouco em todos os países onde se está consolidando este tipo novo de democracia”12.

A descentralização do governo da Igreja, portanto, faz parte dessa estratégia de “reforçar as novas democracias de cunho popular”13, também dentro dos organismos e estruturas da Igreja, instrumentalizando-a para fins políticos, muitas vezes, contrários aos princípios e valores da doutrina social da Igreja. Não apenas Boff como ideólogo dessa subversão, mas também Maradiaga como executor de tão esperada revolução na Igreja, com um papa latino-americano na condução desse processo revolucionário, fazem da descentralização uma meta prioritária, para se chegar a uma Igreja dirigida por conselhos populares. Por isso Bergoglio curvou-se ao povo, pedindo-lhe a benção, quando apareceu pela primeira vez na loggia da Basílica de São Pedro, em 13 de março de 2013.

O conceito da descentralização emergiu, desde o início, como prioridade a ser alcançada no pontificado de Francisco, como se fosse a missão principal, a partir do qual todas as demais ações revolucionárias virão posteriormente. Sem a descentralização, o processo revolucionário estaria comprometido, daí a sua relevância. Por isso, Bergoglio incluiu – todas as vezes que pode – o conceito da descentralização, nos documentos e pronunciamentos-chaves de seu pontificado: na exortação apostólica Evangelii Gaudium, na exortação apostólica pós-sinodal (após o controverso Sínodo da Família de 2014-2015) e na decisão da XXª reunião do Conselho de Cardeais, em junho de 2017, etc.

Tratei desse assunto com o então presidente da CNBB, Dom Raymundo Damasceno, amigo do papa Francisco e um dos presidentes do Sínodo da Família, em uma entrevista concedida em Aparecida (SP)14.  Na ocasião, perguntei a ele: “…a Evangelii Gaudium que o sr. citou agora há pouco, traz uma questão, que é a discussão sobre a reforma da cúria romana, que traz em uma de suas partes o aceno à possibilidade de dar autoridade doutrinal para as conferências episcopais. Como o sr. vê este processo da reforma da cúria romana, como presidente de uma conferência episcopal?”15 Ao que ele respondeu: É uma questão que também não foi discutida, que está acenada na Evangelii Gaudium mas que não foi discutida, nem aprofundada.”16 E acrescentei: “’A partir da sua experiência, o que sr. tem a dizer sobre isso?’ Ao que ele afirmou: ‘Creio que muitas atribuições poderiam ser dadas às Conferências Episcopais, sem necessidade de  recorrer à Santa Sé, para tomar determinadas decisões de âmbito nacional. Situações que, realmente, não são de grande importância, que poderiam ser resolvidas  pelas Conferências Episcopais. Há muitas questões para as quais devemos recorrer à Santa Sé, e eu creio que muitas poderiam ser atribuições próprias da Conferência porque é algo do conhecimento delas, da esfera delas e que não entram em questões doutrinárias propriamente. São questões muitas vezes administrativas, que poderiam ser resolvidas pelas Conferências Episcopais.’”17 Dom Damasceno, portanto, estava inteiramente alinhado à proposta da descentralização, comungando as mesmas ideias, nesse sentido, com as de Leonardo Boff e Oscar Andrés Rodriguez Maradiaga.

A descentralização do governo da Igreja trouxe preocupações entre os católicos, especialmente ao final do Sínodo da Família. Ainda em Roma, em outubro de 2015, escrevi sobre estas apreensões, em meu artigo “Uma questão de método”18, destacando: “As fichas agora foram colocadas em seu desejo de ‘descentralização’, que havia sido acenado na exortação apostólica Evangelii Gaudium, mas afirmado com veemência no pronunciamento de 17 de outubro, como que determinando o tom e a saída política que parece pretender oferecer aos impasses que não pôde resolver durante os dois Sínodos (tanto do ano passado, quanto deste ano). Então, a solução seria mesmo política, bem ao gosto do estilo descrito por Piqué, delegando tão graves decisões, num primeiro nível, às igrejas particulares e, num segundo nível, de modo especial, às conferências episcopais. (…)  ‘Com a descentralização, estará desferindo assim um duro golpe à instituição do papado, com consequências bastante imprevisíveis. É isso o que tememos, pois não sabemos até que ponto ele está ou não disposto, e em que proporções. Ele próprio disse sentir a necessidade disso.’”19

No dia seguinte ao Habemus Papam de 2013, Leonardo Boff  escrevia em seu blog pessoal, com entusiasmo, sobre a revolução que Bergoglio seria capaz de fazer, especialmente a descentralização do governo da Igreja, altamente estratégica: a descentralização, vindo “de baixo”20.

Quando o Conselho de Cardeais coordenado por Maradiaga propôs, em junho de 2017, “transferir algumas competências da Cúria Romana para os bispos locais ou para as conferências dos bispos”21, sinalizou assim a disposição efetiva de Jorge Mário Bergoglio pela descentralização do governo da Igreja.

Além de chefe do Conselho de Cardeais, Maradiaga também ocupa duas posições-chaves, comprometidas com a revolução bergogliana na Igreja: como presidente da Cáritas Internacional e membro do Religions for Peace. Em 31 de outubro de 2016, a Cáritas Internacional firmou uma carta de intenções para trabalhar em conjunto com o Serviço Mundial da Federação Luterana, no evento ecumênico de Malmö, na Suécia, documento este assinado na presença do papa Francisco. “Já havíamos  nos encontrado, mas não de forma planejada. Desta vez, montamos uma estratégia com um mesmo testemunho cristão”22, afirmou Michel Roy, Secretário-Geral da Cáritas Internacional. Sobre esta estratégia, tanto Maradiaga quanto Boff estão não apenas sintonizados, mas cada um em sua frente de ação, mobilizados para intensificar o processo de descatolização da Igreja, acentuando cada vez mais a sua protestantização.

Hermes Rodrigues Nery é coordenador do Movimento Legislação e Vida.

Notas:

  1.   Entrevista al Cardenal Rodríguez Maradiaga, 02/03/2005, Canal Sur Televisión: https://www.youtube.com/watch?v=84C7wVrjHvg, aos 05:00).
  2. Ibidem.
  3. Englisch, Andreas, Francisco, o Papa dos Humildes, p. 19, Universo dos Livros, 2013, São Paulo – SP.
  4. Entrevista al Cardenal Rodríguez Maradiaga, 02/03/2005, Canal Sur Televisión: https://www.youtube.com/watch?v=84C7wVrjHvg, aos 11:10).
  5. Leonardo Boff comenta renúncia de Bento XVI – Repórter Brasil (noite), 11 de fevereiro de 2013: https://www.youtube.com/watch?v=QAJVh1vnYek&hd=1
  6. Entrevista al Cardenal Rodríguez Maradiaga, 02/03/2005, Canal Sur Televisión: https://www.youtube.com/watch?v=84C7wVrjHvg; Cardinal Óscar Rodríguez Maradiaga – Witness:  https://www.youtube.com/watch?v=qOoRp7meNPk; Cardinal Oscar Rodriguez (Spanish): https://www.youtube.com/watch?v=hfI0Hv-q2r4; Cardinal Oscar Rodriguez (English):  https://www.youtube.com/watch?v=LWLtY2tKxSM; Con el papa Francisco entra aire fresco en el Vaticano: este vídeo no te dejarán indiferente: https://www.youtube.com/watch?v=9oE0X-XcT5M&index=8&list=RDbGqQX_SqgGs; Entrevista exclusiva del Cardenal Bergoglio, hoy Papa Francisco, con EWTN:  https://www.youtube.com/watch?v=NZ1ZczyyKwM; Jorge Bergoglio, Papa Francisco declara ante la justicia argentina por secuestro sacerdotes: https://www.youtube.com/watch?v=u8EoFlIbDPw
  7. Pittaro, Esteban, Aleteia, “A ‘Teologia do Povo’ no Papa Francisco, 29 de janeiro de 2014: https://pt.aleteia.org/2014/01/29/a-teologia-do-povo-no-papa-francisco/
  8. Ibidem.
  9. Boff, Leonardo, “O Papa Francisco, chamado a restaurar a Igreja”, site pessoal, 14 de março de 2013: https://leonardoboff.wordpress.com/2013/03/14/o-papa-francisco-chamado-a-restaurar-a-igreja/
  10.   Gigliotti, Amanda, Papa Francisco irá descentralizar o governo da igreja, diz Leonardo Boff, The Christian Post, 20 de março de 2013: http://portugues.christianpost.com/news/papa-francisco-ira-descentralizar-o-governo-da-igreja-diz-leonardo-boff-15269/
  11.  Ibidem.
  12.  Ibidem.
  13.  Ibidem.
  14.  Igreja e Sociedade segundo Dom Damasceno, Fratres in Unum, 4 de março de 2015: https://fratresinunum.com/2015/03/06/igreja-e-sociedade-atual-segundo-dom-damasceno/
  15.  Ibidem.
  16.  Ibidem.
  17.  Ibidem.
  18.  Nery, Hermes Rodrigues, Uma Questão de Método, Fratres in Unum, 26 de outubro de 2015.
  19.  Ibidem.
  20.  Boff, Leonardo, “O Papa Francisco, chamado a restaurar a Igreja”, site pessoal, 14 de março de 2013: https://leonardoboff.wordpress.com/2013/03/14/o-papa-francisco-chamado-a-restaurar-a-igreja/
  21.  Cardeais propõem descentralização de alguns aspectos do governo da Igreja, Canção Nova, com Agência Ecclesia, 14 de junho de 2017, https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/cardeais-propoe-descentralizacao-de-alguns-aspectos-governo-da-igreja/
  22.   Caritas Internacional: em conjunto com os luteranos, Radio Vaticano, Rádio Vaticano, 4 de novembro de 2016:http://br.radiovaticana.va/news/2016/11/04/caritas_internacional_em_conjunto_com_os_luteranos/1270083

Diretor da TFP italiana se pronuncia.

“A TFP originária e os Arautos do Evangelho são instituições diversas”

Afirma-o Montes, após a renúncia do fundador João Clá durante uma investigação vaticana e um vídeo no qual se dá crédito a teorias reveladas por um suposto demônio.

Por Domenico Agasso Jr, Vatican Insider, 15 de junho de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com – “Diante de certo número de notícias e vídeos veiculados pela mídia e por blogs predominantemente de inspiração católica sobre os Arautos do Evangelho, julgo necessário fazer um esclarecimento, em nome de numerosos sócios e fundadores da TFP brasileira e de pelo menos 28 organizações que se inspiram na obra de Plinio Corrêa de Oliveira em todo o mundo. Na verdade, o conhecido pensador e homem de ação católico brasileiro deu origem a uma realidade completamente diversa daquela dos Arautos do Evangelho” – afirma Juan Miguel Montes, diretor do escritório romano Tradição Família Propriedade (TFP), após as notícias dos últimos dias.

As notícias são a renúncia do fundador dos Arautos, João Scognamiglio Clá Dias, 77 anos, como superior geral (continua a ser “pai” do Instituto), enquanto o Vaticano (a Congregação para os Religiosos) investiga as excentricidades de cultos milenaristas e exorcismos realizados invocando o nome dos fundadores.

Em seguida, a difusão de um vídeo que mostra monsenhor João Clá dar crédito a perturbadoras teorias reveladas por um suposto demônio, com uma exaltação semidivina do fundador da TFP Plinio Corrêa de Oliveira e de sua mãe.

Embora “uma ordem judicial provisória lhes tenha dado a posse legal da TFP – declara Montes –, no Brasil e em alguns outros países, os Arautos do Evangelho não deram continuidade ao pensamento, às práticas e às ações que caracterizaram o mencionado Plinio Corrêa de Oliveira, fundador moral desta vasta família espiritual; em vez disso, eles se organizaram usando uma denominação que ele desconhecia antes de seu falecimento em 1995”.

Muitas pessoas “que acompanharam Plinio Corrêa de Oliveira durante décadas, tanto em estreita proximidade por parentesco familiar e/ou outras relações civis e institucionais, quanto o subscrito, que o representou em Roma nos últimos doze anos de sua vida, são testemunhas unânimes de que nada de parecido com o que se narra nos vídeos e nas notícias que circulam nestes dias sobre os Arautos do Evangelho, jamais aconteceu perante o fundador da TFP brasileira ou foi de seu conhecimento em qualquer uma das associações TFP.”

O Amor Divino Encarnado. No Brasil.

Por Belém, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, o que se viu, no pouco mais de uma semana em que o Cardeal Raymond Leo Burke esteve no país, foi uma multidão de fiéis abarrotando auditórios e igrejas, ávida por ouvir o purpurado americano. Apesar do desdém de boa parte de seus irmãos no episcopado por onde esteve, a passagem do Cardeal Burke pelo Brasil foi um estrondoso sucesso. Sobre isso tudo, conversamos com Sua Eminência:

Cardeal Burke, primeiramente, gostaríamos de agradecer a sua atenção para com nosso blog. FratresInUnum já traduziu para o português inúmeros discursos e entrevistas de Vossa Eminência e nos sentimos muito honrados em colaborar para tornar a sua defesa da Fé e Moral Católica conhecida em nosso país. 

burke entrevista 1
“As ovelhas seguem-no, pois lhe conhecem a voz” (Jo, 10, 4-5). Cardeal Raymond Leo Burke: afável e disponível para com todos.

FratresInUnum: Vossa Eminência está visitando o Brasil para a publicação de seu livro “O Amor Divino Encarnado”. O que desejou abordar em sua obra?

Cardeal Burke: Desejei abordar a nossa Fé na Eucaristia como o encontro com o Senhor ressuscitado que vem a nós no Santíssimo Sacramento, trazendo o céu à terra, dando-nos os dons do Espírito Santo. Em nossos dias, por conta dos abusos litúrgicos, gosto de enfatizar a atenção à natureza sagrada da Eucaristia. A Fé Eucarística sofreu enormemente em minha própria terra natal, nos Estados Unidos, onde cerca de metade dos católicos não acreditam mais na Presença Real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento — este é o centro da Fé Católica: quando não se crê mais nesta verdade, não se é mais Católico.

Assim, eu quis, usando dois documentos de papas recentes, a Carta Encíclica do Papa São João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, e a Exortação Apostólica Pós-Sinodal do Papa Bento XVI, Sacramentum Caritatis, oferecer uma séria reflexão que ajudará as pessoas a se renovarem em seu conhecimento sobre o Senhor Eucarístico e também em seu amor por Ele.

No mês que vem, o motu proprio Summorum Pontificum completa 10 anos. Qual a importância deste documento para o aumento do amor à Sagrada Eucaristia e como Vossa Eminência avalia a sua recepção e aplicação?

O documento é importantíssimo, pois após o Concílio Vaticano II se difundiu a ideia de uma nova Liturgia, em outras palavras, de uma Sagrada Liturgia completamente diferente daquela que a Igreja vinha celebrando há séculos. Por exemplo, a forma da Santa Missa permaneceu praticamente imutável desde os tempos de São Gregório Magno. Então, o que aconteceu foi que o rito da Missa, primeiramente, foi drasticamente atenuado, muitas de suas riquezas foram eliminadas, e o que tornou a situação ainda pior foram as experiências litúrgicas do rito.

E, assim, com tantas experiências mundanas, em que o homem é colocado no centro, perdeu-se o sentido de que a Missa é ação do próprio Cristo. É Cristo que age na Santíssima Eucaristia para fazer presente sacramentalmente o Seu Sacrifício no Calvário. Assim, o Papa Bento XVI expressou de maneira muito clara, em sua carta aos bispos por ocasião da promulgação do motu proprio Summorum Pontificum, que era sua esperança de que a celebração das duas formas do único Rito Romano restauraria o sentido do sagrado na Sagrada Liturgia. Parece estranho dizer, mas, desde a promulgação do motu proprio, houve uma certa resistência da parte de alguns bispos e padres, porém, da parte de outros bispos, padres e bravos fiéis, houve um grande sentimento de alegria por terem restaurada agora a bela forma da Missa tal como foi conhecida pelos séculos. E eu vejo, por onde vou para celebrar a forma extraordinária da Missa, que há sempre um grande número de fiéis, dentre eles muitos jovens e jovens famílias, e isso me mostra que a forma extraordinária do Rito Romano é importantíssima para comunicar o dom incomparável que é a Sagrada Eucaristia. Às vezes, ouvi dizer: “Ah, teremos a forma extraordinária somente até todos esses velhos morrerem!”. Sim, há pessoas mais velhas, como eu, que amam a forma extraordinária da Missa, mas há muitos, muitos jovens, que, ao contrário de mim, nunca a conheceram quando crianças, mas vieram a conhecê-la agora e são muito, muito ligados a ela.

Neste centenário de Fátima, de que forma a mensagem de Nossa Senhora se relaciona com a Sagrada Eucaristia e os temas tratados em seu livro? 

Ela se relaciona diretamente, pois Nossa Senhora trata fundamentalmente da apostasia dos nossos tempos, representada, primeiramente, no comunismo ateu, filosofia que nega a existência de Deus e propõe uma relação entre nós e o mundo que não respeita a ordem desejada por Deus, e também na apostasia que traz para Igreja uma perspectiva bastante mundana, e que começa a afetar os pastores da Igreja. Especialmente, no terceiro segredo, Nossa Senhora aborda essa apostasia, em particular a falha dos bispos em ensinar a Fé de forma concreta e em defendê-la.

burke entrevista 2Para chegar exatamente ao ponto que você está levantando, a Fé abordada por Nossa Senhora é fundamentalmente uma Fé Eucarística, vinculada à realidade da presença de Cristo conosco e com a Igreja e à necessidade de sermos obedientes a Cristo em todas as coisas. E isso muda completamente a perspectiva do católico leigo, e também muda a perspectiva de padres e bispos no entendimento de que todos estamos obedecendo a Cristo e construindo o reino de Deus na Terra, e restaurando todas as coisas em Cristo.

Nossa Senhora em Fátima nos propõe um profundo programa de renovação espiritual e de uma vida mais intensa em Cristo, primeiramente, pela penitência, a importância de se praticar a penitência em nossas vidas, a importância da devoção dos primeiros sábados em reparação às ofensas feitas a Nosso Senhor, em especial no Santíssimo Sacramento, ofensas ao Sagrado Coração de onde provêm todas as graças para a Igreja.

Assim sendo, vejo meu livro como estando diretamente a serviço da mensagem de Nossa Senhora para os nossos tempos. Nós precisamos, inclusive a preço do sofrimento, buscar uma maior santidade em nossas vidas, e essa santidade provém fundamentalmente da Comunhão com Nosso Senhor na Sagrada Eucaristia.

É a sua primeira visita ao nosso país? Qual era a expectativa de Vossa Eminência antes de sua viagem e quais eram suas referências sobre o catolicismo no Brasil?

Sim, essa é minha primeira visita ao Brasil. Eu tinha uma grande expectativa porque, primeiramente, o Brasil é um país muito importante, não só no mundo, mas para a Igreja e a história do catolicismo mundial, e o Brasil é um lugar lindo e inspirador – basta olhar para todas as belíssimas igrejas aqui, e belas imagens e objetos sagrados, para perceber quão profundamente a Fé Católica está presente no Brasil. Portanto, estava esperando essa visita para me encontrar pessoalmente com a Igreja daqui. Eu a conheci indiretamente, pois ao longo dos anos tive contato com muitos seminaristas e padres brasileiros em Roma, e sempre percebi neles uma profunda Fé Católica e também uma grande alegria e entusiasmo em relação a esta mesma Fé, e agora eu vi pessoalmente, através das pessoas que participaram das Missas e dos eventos de lançamento do livro, que estão bastante comprometidas e que amam muito a Nosso Senhor e também a sua Igreja. Isso foi muito edificante para mim.

Eu sei que a Igreja aqui, como em todas as outras partes do mundo, sofreu bastante com a secularização que se originou de uma falsa interpretação do Concilio Vaticano II, que Bento XVI chama de interpretação da descontinuidade ou da ruptura, e sei que isso causou um grande sofrimento. Entretanto, detecto aqui, e acredito que isso seja um forte movimento, especialmente porque eu o vejo nos jovens, o desejo de restaurar a integridade da Fé Católica, da Liturgia Católica e da Disciplina Católica.

E agora, ao fim de sua viagem, o que mais chamou a atenção de Vossa Eminência?

Como disse, vim principalmente para fazer o lançamento do livro, mas nesses eventos tive contato com muitas pessoas e percebi essa grande sede de ouvir a Fé proclamada em toda sua riqueza. Fiéis que demonstram querer ouvir também a parte difícil da mensagem, e não simplesmente ouvir que tudo está bem. Principalmente, diante das tantas dificuldades que enfrentamos hoje em dia e do estado do mundo ateu, quando, inclusive na Igreja, ouve-se ideias confusas e às vezes erradas, vejo que as pessoas querem ouvir o que realmente Nosso Senhor nos ensina através da Igreja e qual deve ser a nossa atitude decorrente desse ensinamento.

Hoje em dia, nós, fiéis Católicos, muito frequentemente nos sentimos isolados, não só na sociedade, mas também na Igreja. Vossa Eminência poderia deixar uma palavra de confiança e esperança a bispos, padres, religiosos e leigos comprometidos em manter a Fé Católica viva em nossa época?

O que deve ser central para nós, mais importante para nós, é a nossa relação com Nosso Senhor Jesus Cristo que está vivo na Igreja, como Ele prometeu que estaria conosco até o final dos tempos. E nós devemos manter essa relação especialmente através da Sagrada Eucaristia e das nossas orações diárias, da nossa devoção, tanto ao Sagrado Coração de Jesus, como pela reza do Santo Rosário, que eu tinha intenção de mencionar anteriormente, esta grande devoção e poderosa oração incentivada por Nossa Senhora em Fátima. E, através de todas essas devoções e práticas, nós passaremos a perceber melhor e mais certamente a presença de Nosso Senhor em nossas vidas e responderemos com amor. Então, poderemos suportar qualquer isolamento, ridicularização e até a perseguição pela nossa fidelidade a Cristo, e abraçar isso alegremente por amor a Ele.

Isso tudo, é claro, é o maior ato de caridade que podemos oferecer aos nossos irmãos e irmãs, tanto na Igreja quanto no mundo: um forte testemunho da Verdade e do amor que conhecemos em Nosso Senhor Jesus Cristo.

Muito obrigado, Eminência!

* * *

A você que esteve presente, ou ao menos desejou estar, em algum dos eventos com o Cardeal Burke no Brasil: escreva, na caixa de comentários, o seu relato, o seu agradecimento à Sua Eminência. Faremos chegar a ele, em Roma, em um buquê espiritual junto com nossas orações.

Procura-se Francisco.

Por FratresInUnum.com | Com informações de Edward Pentin, National Catholic Register, 21 de junho de 2017 – Pela segunda vez consecutiva, parece que o Papa Francisco não se reunirá com os cardeais antes do consistório da próxima quarta-feira para a criação de cinco novos cardeais.

esconderijo[…]

A sala de imprensa da Santa Sé não respondeu às perguntas sobre se o encontro aconteceria, porém, fontes afirmam que o Papa poderia encontrar alguns cardeais individualmente.

No último consistório, em novembro passado, acredita-se que o Papa preferiu evitar um confronto com os quatro cardeais do dubia, que supostamente planejavam reapresentar o dubia no encontro, ou ao menos abordar o assunto.

Ciente de que os cardeais escreveram novamente há alguns meses, pedindo por uma audiência, e não tendo respondido, o Papa pode ter decidido novamente evitar qualquer encontro, embora, assim como ocorreu com Bento XVI em 2012, possa ser devido ao pequeno número de novos cardeais.

* * *

FratresInUnum.com pôde confirmar que a carta datada de 25 de abril de 2017, escrita pelo Cardeal Carlo Caffarra em nome dos 4 cardeais signatários do dubia, foi entregue em mãos ao Papa Francisco no dia 6 de maio de 2017. Não havendo, mais uma vez, qualquer resposta, os cardeais se viram, novamente, obrigados a tornar público o completo desprezo de Francisco por seus questionamentos e pedidos.

Bonzinho ou durão? As duas faces do Papa Francisco.

IHU – Para a grande maioria, o Papa Francisco é o rosto da compaixão do catolicismo hoje.

Ele resgatou refugiados, abriu as portas do Vaticano aos sem-teto e disse aos católicos que não há pecado que Deus não perdoe.

Mas há algo mais que tem chamado a atenção para o pontífice argentino nos últimos dias: a disposição de mostrar a que veio e estabelecer as regras.

A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por Religion News Service, 19-06-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

Debaixo da face de compaixão do Papa, há um lado de aço, que ele lança mão principalmente em relação a sacerdotes, bispos ou cardeais que ele sente que estão prejudicando a missão da Igreja.

Isso ficou evidente no início deste mês, quando o Papa repreendeu duramente os sacerdotes da Diocese de Ahiara na Nigéria. Os sacerdotes se recusaram a aceitar a nomeação de 2012 de um bispo de outro clã.

Ao encontrar-se com o clero de Ahiara, ele ordenou que cada um dos sacerdotes se desculpasse por escrito, prometesse “total obediência” ao papado e aceitasse quem quer que fosse designado para a liderança a diocese.

Para completar, ele disse aos sacerdotes que se eles não enviarem a carta dentro de 30 dias, eles serão automaticamente suspensos. A disciplina papal não tem como ser muito mais rígida que isso.

O Papa ficou furioso porque as diferenças entre clãs estavam sendo colocadas antes da unidade e da missão da Igreja. Se há uma coisa que Francisco realmente não gosta, é que a Igreja seja usada para agendas políticas, sectárias ou tribais.

“Considerar Francisco ‘bonzinho’ é um ledo engano”, disse um dos seus assessores. O Papa, ele explicou, é uma pessoa “radical” que tem uma missão.

Um dia depois, em 9 de junho, Francisco foi duro novamente. O Vaticano anunciou que o Papa havia aceitado a saída do arcebispo Alfredo Zecca de Tucumán, na Argentina, por razões de saúde.

A carta afirmava que, aos 68 anos, ele não se aposentaria antes do previsto simplesmente, mas permaneceria como arcebispo “titular”, o que significa que, tecnicamente, ele ainda tem que servir.

Isso foi alguma punição? Zecca teria chateado o Papa por não ter defendido um de seus padres, Juan Viroche, uma voz forte contra traficantes locais.

Em outubro, Viroche foi encontrado enforcado, mas Zecca resistiu aos pedidos de que fosse colocada uma placa em sua homenagem na paróquia de Viroche. Pelo contrário, ele acreditou na versão oficial de que Viroche havia se suicidado. Muitos moradores locais suspeitam que o suicídio tenha sido encenado.

Em ambas as ocasiões percebe-se que Francisco tem uma verdadeira aversão à hipocrisia. O Papa já criticou os cristãos que levam uma “vida dupla” várias vezes, argumentando que é melhor ser ateu do que ser um “católico hipócrita”, que condena os outros, mas não pratica o que prega.

Ao contrário, o Papa quer uma Igreja inclusiva. Ele quer que os líderes católicos sejam pacifistas em suas sociedades e possam “atacar as feridas” da divisão. Ver um bispo fazendo o contrário ferveu seu sangue.

Há 18 meses, durante uma visita à África, Francisco fez um apelo no Quênia contra o “espírito do mal” que “nos leva à falta de unidade”. Em observações não escritas durante uma reunião com jovens em Nairobi, o Papa pediu que eles dessem as mãos como “sinal contra o mal do tribalismo”.

O Papa também demonstrou seu lado severo ao agir contra os Cavaleiros de Malta, uma antiga ordem cavalheirista católica, depois de seu então líder, Matthew Festing, ser acusado de despedir indevidamente um assistente idoso em um conflito sobre a distribuição de preservativos em projetos de saúde para os pobres.

Quando o Papa anunciou uma investigação sobre o assunto, a disputa fervilhou em um guerra fria entre Francisco e os que se opuseram à direção de seu papado, com o cardeal Raymond Burke – um dos críticos mais ferozes do Papa, que tinha sido considerado a ligação do Vaticano com a ordem -, com um papel fundamental na saga. O Papa venceu.

Em relação a repreensões, vale a pena lembrar que Francisco é um jesuíta, membro de uma ordem religiosa fundada pelo ex-soldado Santo Inácio de Loyola, que incorporou princípios militares em sua governança interna. Uma delas é a obediência.

Relativamente jovem, aos 36 anos, Jorge Bergoglio liderou os jesuítas na Argentina, período em que ele mais tarde confessou ter cometido erros devido a uma “maneira autoritária e rápida de tomar decisões”.

Embora muito tenha mudado desde então, parte dele ainda desempenha o papel de superior religioso.

Esta semana, vazou uma carta que revelava que o Papa quer que os cardeais que moram em Roma o informem quando saírem da cidade e para onde vão.

Escrita pelo cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio dos Cardeais, a carta pede que os prelados reavivem esta “nobre tradição” de informar o papado e o Vaticano sobre sua movimentação, principalmente por longos períodos.

Tal prática seria rotina para qualquer padre ou religioso morando em um mosteiro, convento ou seminário, mas mostra que o Papa quer responsabilidade de seus conselheiros mais próximos. Também é taticamente inteligente, pois garante que o Papa saiba se algum cardeal sair para alguma grande palestra ou fala que possa ser crítica para seu papado.

Durante todo o seu papado, Francisco procurou governar a Igreja colegialmente, criando um corpo consultivo de cardeais que se reuniu em Roma pela vigésima vez dessa semana.

Eles discutiram como delegar mais poder às igrejas locais, e o Vaticano também anunciou que queria ouvir a opinião dos jovens antes da grande reunião da Igreja para os jovens que acontecerá em 2018.

Seus defensores argumentam que o Papa precisa ser duro para implementar as reformas da Igreja, pois ele está enfrentando oposições internas.

A ironia, no entanto, é que para trazer o lado da Igreja mais misericordioso e centrado nas pessoas que ele tanto deseja, Francisco está tendo que exercer uma autoridade firme no processo.