Cidade do Vaticano (RV) – “Não basta reformar os livros litúrgicos para renovar a mentalidade (…), a educação litúrgica de Pastores e fiéis é um desafio a ser enfrentado sempre de novo”.” Depois deste magistério e depois deste longo caminho, podemos afirmar com segurança e com autoridade magisterial que a reforma litúrgica é irreversível”.
Ao encontrar na manhã desta quinta-feira na Sala Paulo VI os participantes da Semana Litúrgica Nacional italiana, o Papa Francisco falou sobre a irreversibilidade da reforma litúrgica, recordando – ao começar seu pronunciamento – os acontecimentos “substanciais e não superficiais” ocorridos no arco dos últimos 70 anos na história Igreja e em particular, “na história da liturgia”.
O Concílio Vaticano II e a reforma litúrgica – disse o Papa – são dois eventos diretamente ligados, “que não floresceram repentinamente, mas foram longamente preparados”, como testemunha o movimento litúrgico “e as respostas dadas pelos Sumos Pontífices às dificuldades percebidas na oração eclesial”. “Quando se percebe uma necessidade – observou – mesmo se não imediata a solução, existe a necessidade” de começar a fazer algo.
Francisco começa por citar, neste sentido, São Pio X, que dispôs uma reordenação da música sacra e a restauração celebrativa do domingo, além de instituir “uma comissão para a reforma geral da liturgia, consciente de que isto comportaria” um grande e longo trabalho, mas que daria “um novo esplendor” à dignidade e harmonia do “edifício litúrgico”.
Um projeto reformador que foi retomado mais tarde por Pio XII com a Enciclica Mediator Dei e a instituição de uma comissão de estudo, sem falar em decisões como “a atenuação do jejum eucarístico, o uso da língua viva no Ritual, a importante reforma da Vigília Pascal e da Semana Santa”.
O Concílio Vaticano II fez amadurecer mais tarde – recordou o Papa – “como bom fruto da árvore da Igreja, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium”, cujas linhas da reforma geral respondiam às necessidades reais e à concreta esperança de uma renovação, “para que os fiéis não assistam como estranhos e mudos espectadores a este mistério de fé, mas compreendendo-o por meio dos ritos e das orações, participem da ação sagrada conscientemente, piamente e ativamente (SC, 48)”.
O Papa recorda que “a direção traçada pelo Concílio encontrou forma, segundo o princípio do respeito da sã tradição e do legítimo progresso nos livros litúrgicos promulgados pelo Beato Paulo VI”, já há quase 50 anos “universalmente em uso no Ritual Romano.
E a aplicação prática, guiada pelas Conferências Episcopais para os respectivos países, está ainda em andamento, pois não basta reformar os livros litúrgicos para renovar a mentalidade”:
“Os livros reformados por norma dos decretos do Vaticano II, introduziram um processo que requer tempo, recepção dos fiéis, obediência prática, sábia atuação celebrativa por parte, antes, dos ministros ordenados, mas também dos outros ministros, dos cantores e de todos aqueles que participam da liturgia. Na verdade, o sabemos, a educação litúrgica de Pastores e fiéis é um desafio a ser enfrentado sempre de novo”.
“O próprio Paulo VI, um ano antes de sua morte – recordou o Papa – dizia aos Cardeais reunidos em Consistório: “Chegou o momento, agora, de deixar cair definitivamente os fermentos desagregadores, igualmente perniciosos em um sentido e em outro, e de aplicar integralmente nos seus justos critérios inspiradores, a reforma por nós aprovada em aplicação aos votos do Concílio”. E completou:
“E hoje ainda há trabalho a ser feito nesta direção, em particular redescobrindo os motivos das discussões realizadas com a reforma litúrgica, superando leituras infundadas e superficiais, recepções parciais e práticas que a desfiguram. Não se trata de repensar a reforma revendo as suas escolhas, mas de conhecer melhor as razões subjacentes, também por meio da documentação histórica, como de interiorizar os princípios inspiradores e de observar a disciplina que a regula. Depois deste magistério e depois deste longo caminho, podemos afirmar com segurança e com autoridade magisterial que a reforma litúrgica é irreversível”.
Após “repassar com a memória este caminho”, o Papa falou sobre alguns aspectos do tema que guiou a reflexão nestes dias do encontro do Centro de Ação Litúrgica: “Uma liturgia viva para uma Igreja viva”:
“A liturgia é “viva”, afirmou Francisco, e “sem a presença real do mistério de Cristo, não existe nenhuma vitalidade litúrgica. Como sem o batimento cardíaco não existe vida humana, da mesma forma, sem o coração pulsante de Cristo não existe ação litúrgica”. “E entre os sinais visíveis do invisível Mistério está o altar, sinal de Cristo pedra viva, descartada pelos homens mas que se tornou a pedra angular do edifício espiritual em que é oferecido a Deus vivo o culto em espírito e verdade”.
A liturgia – disse depois o Papa – “é vida para todo o povo da igreja. Por sua natureza, a liturgia é de fato “popular” e não clerical, sendo – como ensina a etimologia – uma ação para o povo, mas também do povo”:
“A Igreja em oração acolhe todos aqueles que têm o coração na escuta do Evangelho, sem descartar ninguém: são convocados pequenos e grandes, ricos e pobres, crianças e idosos, saudáveis e doentes, justos e pecadores. À imagem da “multidão imensa” que celebra a liturgia no santário do céu, a assembleia litúrgica supera, em Cristo, todo limite de idade, raça, língua e nação”.
“A dimensão “popular” da liturgia nos recorda que ela é inclusiva e não exclusiva, criadora de comunhão com todos, sem todavia homologar, porque chama cada um com a sua vocação e originalidade, a contribuir no edificar o corpo de Cristo”.
Não devemos esquecer – alertou o Papa – que a liturgia expressa a piedade de todo o povo de Deus e nela cada um contribui a edificar o corpo de Cristo.
A liturgia – disse o Papa analisando um terceiro ponto – é vida e não uma ideia a ser entendida. “Leva de fato a viver uma experiência iniciática. Ou seja, transformadora do modo de pensar e de comportar-se e não para enriquecer a própria bagagem de ideias sobre Deus”:
“A Igreja é realmente viva se, formando um só ser vivo com Cristo, é portadora de vida, é materna, é missionária, sai ao encontro do próximo, solícita de servir sem buscar poderes mundanos que a tornam estéril. Por isto, celebrando os santos mistérios, recorda Maria, a Virgem do Magnificat”.
Por fim, o Papa recorda que “não podemos esquecer que a riqueza da Igreja em oração enquanto “católica” vai além do Rito Romano que, mesmo sendo o mais difundido, não é o único’:
“A harmonia das tradições rituais, do Oriente e do Ocidente, pelo sopro do mesmo Espírito dá voz à única Igreja orante por Cristo, com Cristo e em Cristo, a glória do Pai e para a salvação do mundo”.
Ao agradecer a visita o Papa encoraja os responsáveis do Centro de Ação Litúrgica a prosseguir e a ajudar “os ministros ordenados, assim como os outros ministros, os cantores, os artistas, os músicos, a cooperarem para que a liturgia seja “fonte e ápice da vitalidade da Igreja””.
O pronciamento do Papa Francisco pode ser conferido na íntegra – no momento apenas em italiano – no link: https://goo.gl/BqSQb9
“a reforma litúrgica é irreversível”. Não é não.
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O papa Francisco cita S Pio X como reformador da liturgia, mas imaginemos as diferenças radicais entre as propostas e ações de ambos, pois nem de longe S Pio X prestigiaria quaisquer concessõezinhas ao relativismo, a casos particulares, com à atual misericordia, a qual mais se destinaria para apagar o conceito de pecado e induziria os católicos a se chafurdarem no lamaçal dos vicios!
De uns tempos para cá as homilias versam quase exclusivamente num Senhor Nosso Deus que a ninguém condena, inexiste inferno e conduziria um relaxamento total das práticas de uma doutrina exigente, nem pensar mais em rigidez doutrinaria, penitencia e sacrificios: pareceriam ter sido extintos!
.. “A liturgia – disse depois o Papa – “é vida para todo o povo da igreja. Por sua natureza, a liturgia é de fato “popular” e não clerical, sendo – como ensina a etimologia – uma ação para o povo, mas também do povo”.
Não estaria o papa Francisco hipervalorizando os leigos em detrimento da hierarquia da Igreja, como sucede nas seitas evangélicas, similarmente entre os ortodoxos ligados a governos e com as dioceses independentes entre si, um cisma composto de muitas seitas dentro do mesmo? Dessa forma se comportando, imaginemos como confundiriam as mentes dos fieis mais reflexivos e os mais desligados teriam apenas noções de fé e ainda assim seria subjetivista!
Quanto ao papa Paulo VI parecia distoar da realidade dele, de seu desencanto ao final da vida apressado pelo amargor, por causa da quantidade de seus lamentos ao final do Vaticano II e admissão até de influente participação da maçonaria, e ele tinha razão:
É lamentável a divisão e a desagregação que, por desgraça, se encontra não em pouco setores da Igreja” (30 de agosto de 1973).
“A abertura ao mundo foi uma verdadeira invasão do pensamento mundano na Igreja” (23 de novembro de 1973).
Conforme escreve o historiador Ricardo De La Civerva, “a consciência da crise não abandonou Paulo VI até sua morte. Atribuía uma séria responsabilidade pessoal e pastoral a ela, que minava sua saúde e lhe fazia envelhecer prematuramente. Diante de seu confidente Jean Guitton disse, pouco antes de morrer, esta confissão dramática:
“Há uma grande perturbação neste momento da Igreja e o que se questiona é a fé. O que me perturba quando considero o mundo católico é que dentro do catolicismo parece às vezes que pode predominar um pensamento não católico, e pode suceder que este pensamento não católico dentro do catolicismo se converta, amanhã, como o pensamento mais forte. Porém nunca representará o pensamento da Igreja. É necessário que subsista uma pequena grei, por muito pequena que seja”.
Anos depois, Guitton comentava:
“Paulo VI tinha razão. E hoje nos damos conta. Estamos vivendo uma crise sem precedentes. A Igreja, e mais, a história do mundo, nunca conheceu crise semelhante. Podemos dizer, que, pela primeira vez em sua história, a humanidade em seu conjunto é contra a teologia”. (La hoz y la cruz, Edic. Fénix, 1996, pg. 84).
“A Igreja encontra-se em uma hora inquieta de autocrítica ou, melhor, de autodemolição. É como uma inversão aguda e complexa que ninguém esperava que ocorresse depois do Concílio… A Igreja está praticamente golpeando-se a si mesma”[43].
Estas últimas palavras revelam a origem do mal, mas o Papa não quer perceber isto. No dia 29 de junho de 1972, Paulo VI emite um julgamento idêntico:
“Por alguma fissura foi introduzida a fumaça de Satanás no templo de Deus: a dúvida, a incerteza, a problemática, a inquietude, a insatisfação saíram à luz… O que aconteceu? Confiamos-vos nosso pensamento: trata-se de um poder adverso, o Diabo, este ser misterioso, inimigo de todos os homens, este algo sobrenatural que veio envenenar e secar os frutos do Concílio ecumênico”[44].
[43] Em Amerio, Iota unum, número 7.
[44] Em Amerio, Ibid.
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Será que Papa se esqueceu que a igreja não é dele e nem do magistério? Será que ele esqueceu que é Nosso Senhor que tem o governo da igreja e de sua liturgia?
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Não me surpreenderei se, logo, o Bergóglio decidir que os ensinamento de Cristo estão (são) ultrapassados e inúteis.
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Já fiz essa experiência: qualquer pessoa NORMAL que é levada ao rito autêntico da Igreja – aquele mesmo que foi sempre o dela, desde não se sabe quando – prefere o rito autêntico ao vazio e esquálido rito Bugnini-Maçon-Montini.
Já levei alguns conhecidos à Missa tradicional, e nunca vi quem não tivesse ficado impressionado. Até mesmo as pessoas mais afastadas da Igreja (e muitas contra ela), perguntam: “Por que acabaram com ‘isso’? ‘Isso’ não podia acabar! Gostei…! É tão espiritual…! É tão diferente do que se vê por aí. Não sabia que na ‘igreja católica’ as pessoas tivessem algum senso do mistério e ‘mística’…É tão ‘mística’! Parece outra religião…”.
Por outro lado, dá pra entender que tipo de gente não gosta da Missa tradicional…Ela é incompatível com certa visão de mundo.
Quanto às declarações calamitosas do artigo, é preciso sempre lembrar que a Igreja enterrou todos os Césares, todos os ídolos e todos os mantiveram a verdade sob cativeiro. E há de enterrá-los de novo, como o devido desdém e um “graças a Deus”.
Um dia, todos estaremos mortos, mas hão de nascer ainda tantos e tantos “adoradores do Pai em espírito e verdade” , que, mesmo sozinhos, estarão diante de um altar dizendo: “Introibo ad altare Dei …”.
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Só uma perguntinha aos comentaristas que conhecem melhor as coisas: quando o papa diz “podemos afirmar com segurança e com autoridade magisterial que a reforma litúrgica é irreversível”, ele está falando com caráter de infalibilidade?
Se não, como podemos entender isso? Se sim, o que estaria faltando?
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Tentarei lhe responder, sujeitando a v consultar um teólogo de renome, caso do Pe Elcio Murucci ou componente do fratres que tenha condições se houvesse alguma suposta dubiedade, capciosidade ou heresia nalgum decreto supostamente magistral ou nessa “autoridade magisterial” esse seu caso do papa Francisco e, se procedessem realmente do papa, deveriam ser infalíveis.
A primeira condição da infalibilidade pontifícia é a vontade de obrigar a Igreja universal a aceitar sob pena de sanções canônicas, como um dogma, embora no momento estejamos com muitas dúvidas a respeito de certos ensinamentos e atos do papa Francisco, caso de não resposta às dubia dos 4 cardeais e aos mais que os apoiam, assim como permissão e suposto apoio por silencio ou não desde certos sacerdotes bispos e cardeais de comportamentos de apóstatas ou infiltrados da maçonaria na Igreja, existindo varios nomeaveis.
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Há vários modos de um Papa empenhar sua autoridade, dentre eles, o modo mais formal se dá quando Ele define “ex cathedra” uma doutrina para ser crida e proíbe que se ensine qualquer outra. As fórmulas que se usam na definição, dita dogmática, são muito precisas e solenes “pronunciamos, declaramos e definimos” tal coisa.
No caso do atual ocupante da Santa Sé, a expressão usada possui um evidente caráter retórico e tem fins intimidatórios, como sói ele proceder. Pois ao clero pós-modernista apraz misturar esquizofrenicamente as estações, isto é, em certa frequência negam a doutrina da Igreja; noutra, invocam a autoridade da Igreja (como “antigamente”) para impor a doutrina furbesca que inventaram.
Penso que se deva atribuir esses devaneios pós-clericais a certa casta de demônios, especializada em pecados impuros; chama-se tal casta Columba-Gyrans, em português Pomba-Gira e em portunhol Puemba-Gira (em lugar de Paloma Gira).
Tudo isso de certo modo cumpre aquela passagem do Profeta: ”
Dominus miscuit in medio eius spiritum vertiginis”, o Senhor difundiu entre eles um espírito de vertigem,
e eles vagueiam (…) sem desígnio certo, como um bêbado que cambaleia em seu vômito.
(Isaías 19,14)
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Não, Teresa.
A infalibilidade está restrita a Fé e Moral e não inclui a imutabilidade litúrgica. Além disso, um pontífice não pode obrigar outro pontífice em matéria não doutrinal. Se o próximo papa (Tagle?) achar que a missa deve ser rezada em latim e versus Deum, assim será feito por mais que Francisco se revire no túmulo.
O que salta aos olhos é que Pio V, papa e santo, 450 anos atrás, já havia feito exatamente o mesmo em relação à missa tridentina, declarando-a, numa bula e não numa palestra, imutável ad aeternum.
Sabendo -se o destino que teve a missa tridentina à mão dos revolucionários do CVII, a recente declaração de Francisco oscila entre o irônico e o patético.
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Obrigada. Muito clara sua resposta.
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Será que por “irreversível” o Papa estaria confirmando os temíveis boatos sobre a nova “missa nova” ecumênica, a tal “Santa Memória”?
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O que me causou dúvida foi o parágrafo em que o Papa diz que a liturgia não é clerical.(?) Que é para o povo até entendo o sentido, mas que é do povo? Ser não clerical e do povo são afirmações que tenho dificuldade de compreender.
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“Podemos afirmar com certeza e com autoridade magisterial que a reforma litúrgica é irreversível”. Difícil compreender o que o Papa Francisco quis dizer com isso. É até meio irônico se lermos a declaração quase que como a “Constituição Quo Primum” de 1570 em que o Papa Pio V recorreu também à sua autoridade magisterial para declarar que a Missa de então não poderia ser revogada ou modificada.
Se o Papa Francisco parece assumir que a instrução papal de São Pio V era mutável, mutável também é a reforma do Beato Paulo VI, assim como mutável é o que agora Francisco diz ser imutável. Todos gozam exatamente da mesma autoridade papal. Logo, todo alarde em relação a isso é desnecessário.
O fato é que história não pode ser desfeita e nesse sentido a reforma é irreversível, mas isso não significa que estamos presos para sempre na sua situação atual. A questão central então é: Como esse processo deve continuar?
O que ocorreu após o Concílio nem de longe deveria ter sido chamado de “longa jornada” como afirmou o Papa, não pelo menos em termos da Igreja e da Liturgia através dos séculos anteriores ao Vaticano II. Porém, a forma como a Sacrosanctum Concilium foi implementada sufocou a evolução orgânica da liturgia, por isso quando Bergoglio fala em “tempo, recepção fiel, obediência prática, implementação sábia” não nos resta outra coisa a não ser retomar àquilo que vinha sendo tratado como “reforma da reforma”.
Por mais que o Papa Francisco já tenha demonstrado uma certa aversão a esta expressão, desestimulando inclusive o Cardel Sarah a utilizá-la, o discurso do Papa não pode ser lido de outra forma que não leve em consideração a “reforma da reforma”. Praticamente todo católico de bom senso concordará que nestes 50 anos caminhamos da reforma para uma certa “deforma” e o quão difícil é falarmos de uma “forma” litúrgica. Você pode estar muito ou razoavelmente satisfeito com a liturgia da sua própria paróquia, mas em geral você não precisa nem sair da sua diocese para se espantar com determinadas celebrações. Pessoalmente, não sou um tradicionalista. Nem procuro a Missa na Forma Extraordinária. Até gostaria de ver a “nova Missa” enriquecida de alguns elementos do ritual antigo como recomendou o Papa Bento XVI e o Cardeal Sarah. Mas o que precisamos de fato é da recepção fiel e da obediência prática que estão cada vez mais escassas.
O nosso desafio hoje é entender o ensino do Concílio à luz de um processo que já estava em andamento antes da convocação do próprio Vaticano II. Não é uma volta ao passado. O próprio Summorum Pontificum, que também é um ato magisterial, promulgado há 10 anos por Bento XVI e que autoriza a celebração da Missa no rito anterior ao Vaticano II, não é sobre voltar os ponteiros do relógio, é sobre apontar para o futuro. A missa celebrada hoje no Rito antigo é muito diferente de como era celebrada antes do Concílio, não em rubricas mas na forma. Hoje ela não é mais apressada e superficial como tinha se tornado no passado. Para muitos ela tem trazido um frescor, uma dignidade e até uma maturidade frente às celebrações infantilizadas que se tornaram algumas.
A reforma da reforma não é uma restauração das rubricas, dos textos ou de práticas de qualquer ano específico do passado, mas a evolução mais sensível e sem pressa. O Papa Francisco disse que “A liturgia é viva por causa da presença viva de Cristo”, e “assim como sem pulsação não há vida humana, sem o coração pulsante de Cristo não há ação litúrgica”. Mas esse pulsar não pode ser descompassado, uma arritmia pode resultar em morte súbita. Se voltarmos ao texto do SC veremos que sua letra é bem consistente, uniforme e contínua e que pouco tem a ver com essas arritimias litúrgicas que adoecem o coração da Igreja.
Mesmo que não intencionalmente, o Papa Francisco dá à reforma da reforma uma nova chance de respirar, basta recorrer às fontes explícitas no seu discurso, algumas delas de anos anteriores ao próprio Concílio, vindas especialmente dos Papas Pio X e Pio XII.
A maioria das práticas litúrgicas artificial e apressadamente implantadas após o Concílio Vaticano II sufocaram aquilo que orgânicamente vinha surgindo desde o início do Movimento Litúrgico a partir do Século XIX com Próspero Guéranger, D. Lamberto Beuaduin, Romano Guardini, Odo Casel, Pio X e Pio XII… Todo esse movimento litúrgico deve iluminar a leitura da Sacramentum Concilium para se alcançar equilíbrio entre panliturgismo e subestimação do culto; piedade objetiva e subjetiva; comunitarismo e individualismo; celebração e culto da eucaristia; progressismo e conservadorismo.
A Sacrosanctum Concilium nos lembra que “assim como Cristo foi enviado pelo Pai, da mesma forma enviou os Apóstolos, repletos do Espírito Santo, não apenas para pregarem o Evangelho a toda a criatura (…) mas também para realizarem a obra da salvação que anunciavam, por meio do sacrifício e dos sacramentos, ao redor dos quais, se desenvolve toda a ação litúrgica. (…) Desde então, nunca mais a Igreja deixou de se reunir para celebrar o mistério pascal, lendo todas as passagens da Escritura que falavam dEle (Lc 24,27), celebrando a Eucaristia na qual se tornam presentes a vitória e o triunfo de sua morte, ao mesmo tempo, dando graças a Deus pelo seu dom inefável (2Cor 9,15) em Jesus Cristo, para o louvor da sua glória (Ef 1,12), pela força do Espírito Santo” (SC 6).
Por isso deve ser nosso desejo celebrar bem, com dignidade e amor a beleza do culto que recebemos desde o tempo dos primeiros mártires de nossa Igreja. De modo que possamos guardar “o precioso depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós”(2 Tm 1,14). “A Lei da Oração é a Lei da Fé!” Esse artigo de fé nos ensina que aquilo que nós rezamos, torna-se aquilo que cremos. Se rezamos bem, cremos bem!
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Curiosamente, um dia após o discurso litúrgico do Santo Padre, uma parte do teto de uma das igrejas mais antigas em Malta desabou e destruiu completamente o altar-mesa,de mármore, construído em 1989, o altar antigo permaneceu intacto.
Fonte: https://rorate-caeli.blogspot.com.br/2017/08/the-cranmer-table-and-its-danger.html?m=1
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LAM, interessante essa notícia! Veja também que saiu um comentário sobre esse acontecido.
O sombrio simbolismo do teto desmoronando na mais antiga igreja católica de Malta
http://www.sinaisdoreino.com.br/?cat=1&id=6584
Aliás, comentário muito bom desse texto. Talvez valesse até a pena, publicá-lo aqui no Fratres.
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Não consegui chegar ao fim do texto. Parece uma burla…
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Faz todo sentido a visão profética do Card. Pacell (futuro papa Pio XII) datada de 1931:
“As mensagens da Santíssima Virgem a Lúcia de Fátima preocupam-me. Esta persistência de Maria sobre os perigos que ameaçam a Igreja é um aviso do Céu contra o suicídio de alterar a Fé na sua liturgia, na sua teologia e na sua alma. Ouço a minha volta inovadores que querem desmantelar a Capela-Mor, destruir a chama universal da Igreja, rejeitar os Seus ornamentos e fazê-la ter remorsos do Seu passado histórico. Chegará um dia em que o mundo civilizado negará o seu Deus, em que a Igreja duvidará como Pedro duvidou. Ela será tentada a acreditar que o homem se tornou Deus. Nas nossas igrejas, os cristãos procurarão em vão a lamparina vermelha onde Deus os espera. Como Maria Madalena, chorando perante o túmulo vazio, perguntarão: Para onde O levaram?”
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Belíssima e verdadeira a sua colocação, Tiago. Escreva mais vezes no Fratres. É preciso visões e expressões como a sua.
É difícil ver por aqui quem enxergue desse jeito, embora tenha gente muito lúcida , culta e inteligente. Grandes defensores da verdade, da fé e da liturgia. Mas sempre um pouco amargos e com grande dificuldade de enxergar o que de bom ainda existe. E estou entre eles.
Devido aos grandes erros atuais tendemos a achar que tudo que é atual deve ser rejeitado. Mas não é bem assim. Só o Papa Bento XVI me parece atinar com o equilíbrio que reflete a verdade, como voce fez agora. Abraça o antigo, sem rejeitar o que há de bom de novo. Consegue aceitar algo do novo sem eliminar nada de valor do antigo. As suas opiniões foram as mais concordantes com as posições de Bento XVI que eu já vi.
Às vezes me vejo única, desagradando a todos, à tradicionalistas e à modernistas. E buscando sempre onde o pensamento de Bento XVI se materialize. Mas não acho. Por isso repito. Escreva mais no Fratres. Acho que muitos que lêem gostarão do que diz.
Mas se prepare, pode haver chumbo grosso.
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Na hora do perigo, não adianta ficar em cima do muro, ou não entender que tudo que a esquerda propõe ou apoia parece razoável na superfície, mas tem um motor revolucionário desintegrador no fundo, agindo no longo prazo para não ser detectado pelos inocentes úteis.
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Meu Deus! A cegueira é tamanha que se esquece de que “pelos frutos conhecemos a árvore”. O pontífice quer fazer uma ligação direta do mau fruto (Novus ordo) com a boa árvore (S. Pio V, S. Pio X, Pio XII e o verdadeiro magistério). Esquece das más obras realizadas por Bugnini e que o Concílio foi ambíguo o suficiente para se concluir pela alteração da missa, sem que isso fosse expressamente pedido. A Sacrossantum Concilium pedia a manutenção do Latim, o que não ocorreu…
Deus tenha misericórdia
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