Diocese de Frederico Westphalen: Nota pastoral sobre o risco da ideologia de gênero.

DOM ANTONIO CARLOS ROSSI KELLER

PELA GRAÇA DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA

BISPO DE FREDERICO WESTPHALEN (RS)

NOTA PASTORAL SOBRE O RISCO DA IDEOLOGIA DE GÊNERO NA BASE NACIONAL CURRICULAR COMUM, DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.

Caríssimos sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, fiéis leigos e pessoas de boa vontade da nossa Diocese de Frederico Westphalen (RS), dirijo-lhes esta Nota Pastoral a fim de alertá-los sobre um assunto de capital importância para o futuro de toda a Humanidade: a implantação da antinatural “ideologia de gênero” na Base Nacional Curricular Comum (BNCC), do Ministério da Educação, a ser, a partir de 2018, aplicada – obrigatoriamente – em todas as escolas de nível Fundamental e Médio[1]deste nosso amado, mas tão sofrido Brasil.

Ora, ainda que contrarie a mentalidade do “politicamente correto”, e, por isso sofra ácidas críticas, a Igreja, tem – como bem asseverou o Papa Bento XVI, em 19 de janeiro de 2013, especialmente por meio dos Bispos, enquanto “vigilantes” (episkopoi) da fé e da moral – a missão de precaver o Povo de Deus dos perigos iminentes. Falava, então, o Pontífice: “os Pastores da Igreja – a qual é ‘coluna e sustentáculo da verdade’ (1Tm 3,15) – têm o dever de alertar contra estas derivas tanto os fiéis católicos como qualquer pessoa de boa vontade e de razão reta”.

É, pois, com este propósito de servir ao bom Povo de Deus a mim confiado, por meio da Mãe Igreja, que escrevo esta Nota Pastoral com votos de que possa ela chegar – com saudações de bênção e paz – ao maior número de pessoas neste momento crucial da História.

1) Que é ideologia de gênero?

A ideologia de gênero, difundida a partir das décadas de 1960/70 do século XX, quer ensinar que a masculinidade (ser homem) e a feminilidade (ser mulher) não são determinadas pelo sexo biológico dado pela natureza, mas, sim, pela cultura ou pelo gênero. Este, fruto de mera construção social e linguística, ensina – em oposição à Biologia – três ou mais[2] variantes ao ser humano: ele poderia ser masculino, feminino ou neutro (nem um nem outro).

Ora, para fazer a sociedade aceitar, passivamente, tal ideologia que, se aplicada, destruiria por completo a humanidade[3], há um longo trabalho em curso. Visa levar à “desconstrução” cultural gradativa, mas firme, da sociedade, começando pela família e pela educação escolar. Primeiro, de um modo ambíguo para quem ouve, depois, de forma clara capaz de induzir cada ser humano a aceitar tamanha afronta à Lei natural física e moral presentes, qual marca do Fabricante, na natureza de cada homem e de cada mulher. Homem e mulher que não se contrapõem, mas, ao contrário, complementam-se de modo harmonioso.

Como não perceber, portanto, que a tentativa de inserção da ideologia de gênero na BNCC atende a interesses ideológicos colonizadores bem determinados, e não ao genuíno bom-senso do povo brasileiro que rejeitou, vigorosamente, tão nefasta ideologia em todos os âmbitos educacionais (nacional, estadual e municipal) nos quais ela, sorrateiramente e à força, tentou adentrar?

2) Fala o Santo Padre, o Papa Francisco

Dentre as várias exortações da Igreja, pela fala da autoridade suprema em matéria de fé e moral, o Santo Padre, atenho-me ao que expôs o Papa Francisco, na recente Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, em seu número 56, ao incluir dentre os vários desafios no campo educacional das novas gerações a malévola ideologia de gênero.

Lembra o Papa que tal ideologia “nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher. Prevê uma sociedade sem diferenças de sexo, e esvazia a base antropológica da família. Esta ideologia leva a projetos educativos e diretrizes legislativas que promovem uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente desvinculadas da diversidade biológica entre homem e mulher. A identidade humana é determinada por uma opção individualista, que também muda com o tempo.Preocupa o fato de algumas ideologias deste tipo, que pretendem dar resposta a certas aspirações por vezes compreensíveis, procurarem impor-se como pensamento único que determina até mesmo a educação das crianças. É preciso não esquecer que ‘sexo biológico (sex) e função sociocultural do sexo (gender) podem-se distinguir, mas não separar’. […] Uma coisa é compreender a fragilidade humana ou a complexidade da vida, e outra é aceitar ideologias que pretendem dividir em dois os aspectos inseparáveis da realidade. Não caiamos no pecado de pretender substituir-nos ao Criador. Somos criaturas, não somos onipotentes. A criação precede-nos e deve ser recebida como um dom. Ao mesmo tempo somos chamados a guardar a nossa humanidade, e isto significa, antes de tudo, aceitá-la e respeitá-la como ela foi criada” (destaques nossos).

Portanto, aceitar e/ou promover a ideologia de gênero é voltar-se, radicalmente, contra Deus, o Autor da natureza humana distinta, mas complementar do homem e da mulher (cf. Gn 2,24).

3) Pura ideologia anticientífica

Reporto-me apenas a uma recente e ilustrativa notícia exibida no site Aleteia[4] na qual se lê que: “Em 2011, um documentário transmitido em rede nacional na Noruega abalou a credibilidade dos defensores da ideologia de gênero nos países da Escandinávia”.

“O Conselho Nórdico de Ministros, que inclui autoridades da Noruega, da Suécia, da Dinamarca, da Finlândia e da Islândia, determinou a suspensão dos financiamentos até então concedidos ao Instituto Nórdico de Gênero, entidade promotora de ideias ligadas às chamadas ‘teorias de gênero’. A medida veio após a exibição, em 2010, do filme Hjernevask(‘Lavagem Cerebral’), que questionava os fundamentos científicos dessas teorias – que, de fato, não passam de teorias sem comprovação empírica”.

“A produção do sociólogo e ator Harald Eia contrapõe as afirmações dos defensores da teoria de gênero com outras de estudiosos das Neurociências e da Psicologia Evolutiva.Enquanto os teóricos do gênero afirmam que não há fundamento biológico nas diferenças de comportamento entre homens e mulheres e que elas se devem meramente a construções sociais, os outros cientistas mostram resultados de testes empíricos que constatam diferenças inatas nas preferências e comportamentos de homens e mulheres.”

“Os estudiosos das Neurociências admitem que a cultura exerce influência nos comportamentos, mas demonstram que os genes são determinantes para algumas condutas. Já os teóricos do gênero afirmam que “não veem verdade” nas pesquisas dos neurocientistas, embora toda a base dos seus estudos de gênero seja apenas teórica e não empírica.”

“No vídeo, a ‘filósofa do gênero’ Catherine Egeland, uma das entrevistadas, chega a afirmar que ‘não se interessa nem um pouco’ por esse tipo de ciência e que ‘é espantoso que as pessoas se interessem em pesquisar essas diferenças’ (!). (Destaque nosso)”

A pergunta a ser feita é: quem, em sã consciência, deixaria seus filhos – crianças e adolescentes – entregues a um currículo fundamentado em uma ideologia antinatural e anticientífica, como é a famigerada ideologia de gênero?

4) Uma exortação à respeitosa e firme reação

Diante do que, brevemente, acabo de expor só me resta pedir, com toda a convicção, a cada um(a) a quem esta Nota chegar, pelos tantos meios de que hoje dispomos, que, dentro da lei e da ordem, expresse o seu vigoroso “Não” à inserção da antinatural, anticientífica e impopular ideologia de gênero na BNCC, do Ministério da Educação. Uma das formas úteis de fazê-lo é pelo link colocado ao final desta Nota.

Nossa pecaminosa omissão certamente custará caro a crianças e adolescentes envoltos, obrigatoriamente, nas escolas, à doutrinação da ideologia de gênero a partir do ano letivo de 2018.

Neste espírito, abençoo a todos e a cada um com suas famílias e comunidades com votos de que a Mãe Aparecida, cujo tricentenário celebramos neste ano, e São José, defensor da Sagrada Família de Nazaré, intercedam pelo nosso tão sofrido Brasil.

Frederico Westphalen, 12 de setembro de 2017.

Memória Litúrgica do Santíssimo Nome de Maria

+ Antonio Carlos Rossi Keller

Bispo de Frederico Westphalen

[1] Cf. http://www.citizengo.org/pt-pt/node/87279, acesso em: 08/09/17.

[2] Há quem chegue a nomear cinco ou seis gêneros: “heterossexual masculino, heterossexual feminino, homossexual, lésbica, bissexual e indiferenciado” (J. Burgraff. Gênero (Gender) in Pontifício Conselho para a Família,Lexicon: termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas. Brasília: CNBB, 2014, p. 454 – excelente fonte de consulta e trabalho).

[3] J. Scala. Ideologia de gênero: neototalitarismo e morte da família. São Paulo: Katechesis/Artpress, 2011 – obra referencial no tema.

[4]https://pt.aleteia.org/2017/09/08/documentario-noruegues-abala-credibilidade-da-ideologia-de-genero/, acesso em: 09/09/17.

9 comentários sobre “Diocese de Frederico Westphalen: Nota pastoral sobre o risco da ideologia de gênero.

  1. Em tempo: esqueci de esclarecer que os países nórdicos, aqueles que deram certo no plano econômico e político, ou seja, suas desigualdades sociais são bem diminutas tendo como referencial o nosso país, sempre foram os que mais defenderam a ideologia de gêneros. Correção feita.

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  2. ….daqui a pouco veremos as reações da CNBB e outras dioceses dizendo que a Carta Pastoral de dom Keller é um achaque aos ensinamentos de Jesus Cristo,que o que importa é o amor,e que ele é um ultraconservador que atenta contra os ensinamentos do Papa Francisco.

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  3. …”Preocupa o fato de algumas ideologias deste tipo, que pretendem dar resposta a certas aspirações por vezes compreensíveis, procurarem impor-se como pensamento único que determina até mesmo a educação das crianças. É preciso não esquecer que ‘sexo biológico (sex) e função sociocultural do sexo (gender) podem-se distinguir, mas não separar’. […] Uma coisa é compreender a fragilidade humana ou a complexidade da vida, e outra é aceitar ideologias que pretendem dividir em dois os aspectos inseparáveis da realidade. Não caiamos no pecado de pretender substituir-nos ao Criador. Somos criaturas, não somos onipotentes.
    O papa Francisco acima, de fato, está atacando com firmeza e sendo anti Ideologia de gênero – O EFEITO, NÃO A CAUSA – justamente por não CENSURAR COM RIGOR AS PROMOTORAS, AS ESQUERDAS, muito ao inverso, jamais as repreende – se não ainda por cima as prestigiaria – pois elas são suas intrépidas defensoras a qualquer custo e se valem de quaisquer meios para consecução dos fins de a implantar visando destruirem as familiar e a todos transformarem em ZUMBIS!
    Assim sendo, nesse caso, a pendencia está em não tentar DESMONTAR AS ESQUERDAS, causas primarias, sem a remoção das quais esse discurso estaria vazio; é contra aqui, mas à frente oculta as raízes dessa maldição, que adiantaria?
    Quem irá nos contradizer que a ideologia de gênero, assim como o aborto, pedofilia, eutanasia, homossexualismo em suas multiformes manifestações, a instigação do pansexualismo não estão nas agendas das esquerdas?
    Por que Sua Excia D Antonio Rossi Keller não convidaria a CNBB a tomar parte desse esforço e, se se indispusesse ao apelo, denunciaria tal instituição ao povo, ainda que o alijassem de compartilhar dela, ao menos seria uma voz que se ergueu do episcopado, respeitável com é, contra ela de sempre defender os esquerdistas, como sempre denunciamos?
    O mesmo se dá com as tantas manifestações na ruas “pela paz”, se às eleições acabam por votar nos anarquistas partidos socialistas ou comunistas, idem os promotores do caos, que adianta, senão um desfile de “enxugadores de gelo”, além de esses mesmos que são as vítimas, nunca em geral serem instruídos, desde os raros bispos nesse pormenor e mesmo pelos sacerdotes paroquiais?
    A situação em muitos lugares, nem em todos, evidente, está assim: fui me confessar hoje e ao dizer ao sacerdote bem idoso num determinado trecho “essa coisas são diabo”, ele respondeu: que isso, moço, que mané diabo, deixe isso prá lá, sô!
    Mais adiante de propósito tentei de novo: “sei que muitos hoje em dia nem crêem mais no diabo” e ele agora meio irritado: pare com isso; deixe esse negocio de diabo prá lá, esqueça isso, moço!…
    Réplica do Pe Oscar Quevedo II? O diabo non ekziste!

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  4. Li uma vez que “o verdadeiro aristocrata sabe ser grosseiro quando necessário”. A história eclesiástica e profana estão repletas de exemplos.
    A mentalidade afetada do burguês liberal fica a medir palavrinhas e mesuras e rapés.
    Então, certos tipos de adversários devem ser desqualificados pura e simplesmente. Quem sabe, assim, eles acordem.
    O mimimi pode ter resultados extremamente contraproducentes.
    As pessoas mais ferozes que conheci eram amabilíssimas.
    Além disso, não se pode dizer que N. S. Jesus Cristo foi cordial com seus inimigos. A não ser que alguma versão da CNB do B, ou da Editrice Vaticana, tenha produzido uma versão ad usum delphini dos Evangelhos (para os ouvidos moles e moucos que andam por aí).

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  5. Que tal destacar do texto a passagem abaixo e postar nas redes sociais? Só uma observação: tive minha adolescência nos anos 1980 e os LGBTistas da época demonizavam o casamento e mais ainda a família. Hoje eles querem casar e até adotar. Comparando os da minha época com os de hoje, tenho até pena deles: foram cooptados pelo sistema para demandas de interesses puramente políticos e econômicos. E enquanto isso… o deputado federal Jean Willis passeia de primeira classe pelo Brasil todo, hospeda-se em hotéis refinados e ganha polposas ajudas de custo em seminários sobre ideologia de gênero, inclusive em PUCs… mas o que ele faz é só politicagem e assim vai mantendo seu mandato. As pessoas homossexuais são realmente pobres de tudo, inclusive de representantes em Brasília.

    FÉ E CIÊNCIA EM HARMONIA:

    (Pura ideologia anticientífica)

    Reporto-me apenas a uma recente e ilustrativa notícia exibida no site Aleteia[4] na qual se lê que: “Em 2011, um documentário transmitido em rede nacional na Noruega abalou a credibilidade dos defensores da ideologia de gênero nos países da Escandinávia”.

    “O Conselho Nórdico de Ministros, que inclui autoridades da Noruega, da Suécia, da Dinamarca, da Finlândia e da Islândia, determinou a suspensão dos financiamentos até então concedidos ao Instituto Nórdico de Gênero, entidade promotora de ideias ligadas às chamadas ‘teorias de gênero’. A medida veio após a exibição, em 2010, do filme Hjernevask(‘Lavagem Cerebral’), que questionava os fundamentos científicos dessas teorias – que, de fato, não passam de teorias sem comprovação empírica”.

    “A produção do sociólogo e ator Harald Eia contrapõe as afirmações dos defensores da teoria de gênero com outras de estudiosos das Neurociências e da Psicologia Evolutiva.Enquanto os teóricos do gênero afirmam que não há fundamento biológico nas diferenças de comportamento entre homens e mulheres e que elas se devem meramente a construções sociais, os outros cientistas mostram resultados de testes empíricos que constatam diferenças inatas nas preferências e comportamentos de homens e mulheres.”

    “Os estudiosos das Neurociências admitem que a cultura exerce influência nos comportamentos, mas demonstram que os genes são determinantes para algumas condutas. Já os teóricos do gênero afirmam que “não veem verdade” nas pesquisas dos neurocientistas, embora toda a base dos seus estudos de gênero seja apenas teórica e não empírica.”

    “No vídeo, a ‘filósofa do gênero’ Catherine Egeland, uma das entrevistadas, chega a afirmar que ‘não se interessa nem um pouco’ por esse tipo de ciência e que ‘é espantoso que as pessoas se interessem em pesquisar essas diferenças’ (!). (Destaque nosso)”

    A pergunta a ser feita é: quem, em sã consciência, deixaria seus filhos – crianças e adolescentes – entregues a um currículo fundamentado em uma ideologia antinatural e anticientífica, como é a famigerada ideologia de gênero?
    https://fratresinunum.com/2017/10/09/diocese-de-frederico-westphalen-nota-pastoral-sobre-o-risco-da-ideologia-de-genero/#respond

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  6. A Amoris Letitia confirma a teoria de gênero quando diz: “É preciso não esquecer que ‘sexo biológico (sex) e função sociocultural do sexo (gender) podem-se distinguir…” dentre outras aprovações, e imensa brandura e condescendência com a ideologia de gênero e a política de implantação criminosa dessa aberração. A APOSTASIA e infiltração maçônica na Santa Igreja é gritante, como sabemos.

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  7. A ideologia de gênero fere a ciência, a religião e especialmente a família. Ser feminino ou masculino não é uma construção social, é biológica. Você nasce feminino ou masculino com suas funções determinadas. Que Deus tenha misericórdia dessa sociedade doente.

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