Assim o Cardeal Caffarra viveu (e sofreu) seus últimos meses.

Numa visita que fiz ao Cardeal Cafarra em seu apartamento de Bolonha, o Cardeal reconheceu sentir-se vigiado e revelou ter informação de que suas comunicações estavam sendo interceptadas.

Por Gabriel Ariza, InfoVaticana, 12 de setembro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com – Poucos meses atrás, eu tive a oportunidade de visitar o Cardeal Carlo Cafarra em seu apartamento de Bolonha. Ele já havia publicado os Dubia e muitos franco-atiradores o identificavam já como “inimigo do Papa”, algo que, ele mesmo me confessou, fazia-o sofrer muitíssimo: “Eu preferiria que me acusassem de ter um amante homossexual do que ser acusado de inimigo do Papa.”

Devo dizer que me comoveu profundamente a simplicidade com que vivia o Cardeal. Cafarra ocupava um pequeno apartamento num dos edifícios do seminário de Bolonha. Um apartamento que necessitava de uma boa reforma, com as paredes cheias de buracos e fios pendurados, e um sistema de calefação bastante deficiente. Em Bolonha, uma cidade fria, Cafarra passava suas horas redeado de livros, cartas e papéis, e não deixava de responder a nenhuma das cartas ou e-mails que recebia de todas as partes do mundo. Eu me lembro daquele dia, por exemplo, que ele tinha que dar uma conferência para a Argentina por videoconferência, e pediu-me que lhe ajudasse a instalar o sistema no computador. Aproveitei para recomendar-lhe que instalasse o WhatsApp, assim eu pude me comunicar com ele a partir de então.

Tive a ocasião de falar com ele sobre as origens do Instituto João Paulo II, que inauguraria no dia 13 de maio de 1981, quando o Papa quase morreu assassinado por Ali Agka, e a carta que recebeu da Ir. Lúcia de Fátima, sobre a situação da Igreja, a crise gerada pela confusão na Amoris Laetitia e a publicação dos Dubia.

Uma das coisas que mais o inquietavam era a concepção que algumas pessoas têm do Papado. Recordo que ele apontou dois sintomas: o primeiro, quando Pio XII quis mudar a disciplina do jejum eucarístico, o Papa pediu a uma comissão teológica não que estudasse a mudança, mas que lhe dissessem se ele tinha legitimidade para realizar esta mudança. Tal era a sensação que tinha o Papa Pacelli sobre sua pequenez no papel de Sumo Pontífice. Outro dos sintomas era o juramento que fazem os cardeais. Caffarra dizia que até Paulo VI, os cardeais juravam dizer sempre a verdade, “e não aquilo que o Papa quer ouvir”. Depois da reforma de Montini, os cardeais juram defender o Papa com seu sangue. Sobre este aspecto, precisamente, ele me recomendou ler um grande intelectual: Josef Seifert.

Eu lhe comentei, então, que tinha ouvido que estavam vigiando-o, e que suas comunicações estavam sendo interceptadas. Ele me disse que sabia disso, que os quatro cardeais que tinham feito públicos os Dubia estavam sendo observados, que tinham suas comunicações interceptadas e que não podiam fazer muita coisa além de procurar alguma forma de comunicação mais segura. Era evidente que não lhe tirava a paz que algum curial pudesse conhecer os segredos mais íntimos de suas conversas: era um homem de Deus, e era Jesus Cristo o que saía de sua boca cada vez que falava.

Sobre os grampos no Vaticano

Os temores de Cafarra, ao contrário do que poderia pensar o leitor incauto, não são nada de novo, nem correspondem a peregrinas teorias da conspiração. Como explicava um dos vaticanistas mais ilustres, Edward Pentin, num artigo no Register, na época do escândalo Vatileaks, os grampos são muito comuns na Cúria Romana.

Pentin relata, por exemplo, como os oficiais do mais alto nível evitam dar detalhes de seu trabalho por telefone, não falam de nada no escritório ou deixam o celular fora do cômodo quando têm uma reunião confidencial. Os técnicos de TI do Vaticano, de fato, podem acessar os computadores de qualquer membro da Cúria, de forma remota, e ao não ser a Cidade do Vaticano exemplo de garantias processuais, a Gendarmeria [a Polícia Vaticana] pode utilizar este sistema sem necessidade de obter uma ordem judicial.

O próprio Vallejo Balda, o sacerdote espanhol que passou 14 meses preso na Cidade do Vaticano, denunciou ter 25 ‘bugs’ (vírus que espionam e rastreiam a atividade do computador) diferentes em seu PC, e rapidamente a propaganda oficial acusou-o por causa disto de “paranoico”. Nada mais longe da realidade.

Eu mesmo vi como um motorista vigia a porta da casa de um importante cardeal, anotando quem sobe e quanto tempo passa com o purpurado. Surpreendeu, por certo, após a morte de Cafarra, a pressa com que se realizaram as exéquias e o enterro.

Estou certo de que Deus já está rindo com a fina ironia e o sentido de humor de seu bom servo, Carlo Cafarra.

9 comentários sobre “Assim o Cardeal Caffarra viveu (e sofreu) seus últimos meses.

  1. Existiriam indicios que após a renuncia(?) do papa Bento XVI e entrada do papa Francisco haveria um novo exército que teria vencido o anterior e doravante ocuparia com mãos de ferro o interior do Vaticano, como prova a midia globalista ter cessado o duro assedio policialesco contra os promotores das dubia, devido a não sei quantos “crimes” que perpetrara aquele e, após a eleição do novo pontífice, haver uma calmaria muito estranha, algo cabível apenas um “milagre”…
    Igualmente, D Burke pareceria aparentemente ter acuado e teria desistido do intento de levar ao papa Francisco a Correctio filialis, pois se ele e mais tivessem iniciado há bastante tempo estaria adequada, além de que estaria mais reticente que antes, não se duvidando de sofrerem ameças de forma velada, recordando o caso do Cardeal Caffarra da sua não autopsia, similar ocorrido com o papa João Paulo I, até hoje sob dúvida do porque disso e da urgencia em os enterrar.
    Interessante notar que a demora foi tal que grupos de leigos se anteciparam a eles; quem sabe esses mesmos grupos doravante serão os que deveriam manter o assedio em cima de supostos infiltrados dentro da Igreja promovendo os desvios doutrinarios, dando cobertura ao papa Francisco – esse estaria alinhado com eles, evidente!
    Apesar disso, possuimos varios meios, como o twitter e mais, mostrando que estamos atentos a possível perseguição e a um casual toque de recolher no Vaticano por supostos infiltrados, das pressões que submeteriam os resolutos em os denunciarem, além doutros descontentes silenciados!
    Não seria um bom recado aos eventuais impostores infiltrados que eles mesmos estão sendo patrulhados e agora publicamente questionados como suspeitos de serem os promotores e impostores dos desvios doutrinarios?

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  2. Basta lembrar que o Papa Francisco não aderiu ao aplauso que o atual arcebispo de Bologna pediu e organizou para o cardeal Carlo Caffarra no último dia do congresso eucarístico que contou com a presença do papa esse ano…

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  3. Nem depois de morto!!!
    No dia 6 de novembro em Roma, os grupos Pró Vida Italianos: Vita è, ProVita Onlus, e Fede&Cultura resolveram organizar uma homenagem ao Cardeal Cafarra por ele ter sido um grande expoente da causa Provida na Itália. Alugaram um carro com um outdoor que trazia a foto de João Paulo II e do Cardeal Caffarra.
    Mas assim que o caminhão carregando o outdoor se aproximoiu da Praça de São Pedro, foi parado bem na Via della Conciliazione e os organizadores levados à delegacia de polícia para interrogatório. Tão logo se deu o fato, a foto apareceu no Twitter onde se podia ler: “Carro homenageando o Cardeal Caffarra detido porque não está em linha com o Papa”.

    https://www.lifesitenews.com/news/truck-honoring-dubia-cardinal-stopped-by-police-while-circling-vatican

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  4. o que há de paralelo à Igreja, dentro da mesma, caia o quanto antes, a seita, a prostituta do Apocalipse. “…se o Senhor não abreviasse esses tempos, até mesmo os eleitos….”

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    1. aliás, receio que não tanto paralelo e sim a seita gnóstica tomou as rédeas mesmas da Igreja…a Igreja oficial está de tal forma aparelhada que já não se encontra o leme em mãos católicas

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