Por Jeanne Smits[1], Réinformation TV, 17 de janeiro de 2018. Tradução: André Sampaio | FratresInUnum.com[2] – Muito próximo do soberano pontífice, Dom Víctor Manuel Fernández publicou, há poucos dias [em 14/01/2018, n.d.t.], um artigo no jornal argentino La Nacion[3], com o fim de denunciar a atitude dos cardeais Sarah e Müller, que agem, segundo ele, como se Francisco não fosse papa. Reitor da Pontifícia Universidade Católica Argentina, arcebispo ad personam por graça do papa reinante, autor de um livro intitulado Cura-me com tua boca: a arte de beijar[4], chamado familiarmente de “Tucho”, Fernández influenciou de maneira altamente significativa a elaboração de Amoris laetitia[5], como demonstra a correspondência entre escritos seus do passado e os trechos mais controversos da exortação apostólica[6] [arcebispo ad personam: título honorífico pessoal, não implicativo de jurisdição de uma arquidiocese]. Ele se encontra 100% alinhado com as novidades do papa Francisco. Ao atacar dois cardeais que são conhecidos por suas visões tradicionais, mas que nunca tacharam de inaceitáveis os ensinamentos em causa – nem mesmo por meio dos dubia[7] [cujos signatários foram outros cardeais] –, o prelado argentino deixa entrever uma escalada na obra de desestabilização.

Víctor Manuel Fernández com o então cardeal Bergoglio.
Um verdadeiro ataque contra os dois cardeais
O artigo leva este título: “As errôneas interpretações da mensagem do papa”. “Tucho” Fernández escreve: “Muitas vezes se supõe que todos os que exercem alguma tarefa em instituições católicas estejam executando ordens do papa toda vez que se pronunciam. Contudo, isso sequer ocorre com os cardeais do Vaticano, visto que seguem pensando e falando como desejam, como se Francisco não fosse papa”. Acusação gravíssima, posta nesses termos.
São especificamente citados os cardeais Gerhard Müller[8], prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, organismo do qual ele foi demitido sem deferências pelo papa, e Robert Sarah[9], ainda prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, mas cercado de pessoas que tomam decisões que destoam das suas diretrizes. Müller deveria ter sido demitido antes, sugere o arcebispo Fernández: “Acaso não nos perguntamos, muitas vezes, por que não era afastado o cardeal Müller, que não ocultava uma linha de pensamento bastante diferente [da do papa] e inclusive o criticava? E olhemos para o cardeal Sarah, que segue propondo que se volte a celebrar a missa de costas para o povo”.
O inspirador de Amoris laetitia teria afastado bem antes o cardeal Müller
Curiosamente, o artigo, em seu conjunto, parece constituir uma defesa do direito de toda pessoa a falar livremente e do entendimento de que um dirigente católico, em algumas de suas ações, não se vincula necessariamente ao papa. Assim, explica Fernández, o arcebispo Sánchez Sorondo[10] – outro argentino próximo de Francisco – age sozinho e sem requerer a permissão de ninguém quando convida figuras controversas – favoráveis a certas formas de eutanásia, ao aborto, ao controle da população – para reuniões da Pontifícia Academia das Ciências, da qual é chanceler, no Vaticano…
“Hoje, com Francisco, a Igreja usufrui de uma liberdade de expressão sem precedentes, e, para poder-se opinar, não é necessário estar pensando o que diria o papa. Agora, muitos católicos podem, irresponsavelmente, tratar Francisco como herege ou cismático, sem que lhes chegue sequer um pedido de esclarecimento da parte do Vaticano. Poucos anos atrás, receberíamos sanções graves por muito menos”, escreve Fernández.
Que arte de inverter os papéis, e de modo incoerente, além do mais! Como se pode justificar a ideia de que o papa, que efetivamente se mostrou “grato” ao cardeal Müller, deveria tê-lo afastado antes, se a liberdade é, nesse campo, a regra? Como se ousa dizer que aqueles que se preocupam com a integridade da doutrina católica gozam de uma (culpável?) indulgência da parte do pontífice, enquanto se revelam abundantes os casos de demissão, destituição, aposentadoria desses “perturbadores da ordem”, isso sem falar nas mostras de irritação extremada que familiares da Casa Santa Marta atribuem a Francisco?
Todo mundo fala livremente, mas acabamos por nos indagar, e com certo gracejo, se “Tucho” não estaria um tanto se pronunciando sob ordens.
[1] http://reinformation.tv/mgr-victor-manuel-fernandez-attaque-cardinal-muller-amoris-laetitia-smits-79347-2/
[2] https://fratresinunum.com/
[3] http://www.lanacion.com.ar/2100513-las-erroneas-interpretaciones-del-mensaje-del-papa
[4] https://fratresinunum.com/2015/01/12/arcebispo-reitor-e-beijoqueiro/
[5] http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20160319_amoris-laetitia.html
[6] https://fratresinunum.com/2016/05/25/amoris-laetitia-tem-um-escritor-fantasma-chama-se-victor-manuel-fernandez/
[7] https://fratresinunum.com/2016/11/14/bombastico-cardeais-divulgam-carta-e-questionamentos-sobre-amoris-laetitia-que-francisco-se-negou-a-responder/
[8] https://fratresinunum.com/tag/dom-gerhard-ludwig-muller/
[9] https://fratresinunum.com/tag/cardeal-robert-sarah/
[10] https://infovaticana.com/2017/08/08/sanchez-sorondo-arzobispo-amigo-los-poderosos-antinatalistas-jamas-celebra-misa-reza-breviario/